segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A COPA DAS ILUSÕES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Academia Mineira de Letras
A construção de estádios faraônicos, com razão, vem revoltando a população brasileira. No total, segundo foi noticiado nos meios de comunicação social, o governo federal e o governo estadual das doze sedes já gastaram oito bilhões de cruzeiros. Este dinheiro deveria ir para a Educação e para Saúde e está sendo claramente mal empregado. As necessidades básicas do país são postas em segundo plano. Isto numa nação de profundas desigualdades sociais e na qual a corrupção gangrena a classe política. O pior é que onze por cento dos projetos de mobilidade urbana não foram ainda concretizados e nem serão concluídos até o início da Copa do Mundo. Justas, portanto, as ondas de protestos, sinal do “mau humor” generalizado de um povo sofrido. São milhares de patrícios sem teto e até passando fome. Adite-se que vinte dois por cento dos brasileiros vivem na pobreza. Por outro lado, a classe média já está diante do fantasma da inflação. É, porém, de pasmar a declaração dos organizadores deste torneio internacional de que, com o início dos jogos, tudo vai se acalmar e o futebol será por algumas semanas o ópio do povo. Será esquecida por uns dias a trágica condição das crianças. A situação de milhares de meninos pobres e abandonados sendo levados pelo desespero a toda sorte de comportamentos anti-sociais. Eles são desprezados e humilhados, muitas vezes jogados nos institutos de correção sem nenhum procedimento jurídico que lhes faculte a defesa. Nas Metrópoles são assassinados sem qualquer piedade como se fossem animais em temporada de caça. Massa de manobra, tornam-se vítimas dos inescrupulosos e se entregam a violentos “arrastões”, se fazem veículos dos traficantes de droga, inseridos na trama do crime organizado, quando não são envolvidos na mais degradante prostituição. Flores emurchecidas, plantas precocemente carcomidas num mundo aterrador. Drama social decorrente das péssimas condições das famílias impossibilitadas de dar assistência e educação aos filhos devido o desajuste social imperante. A verdade é que a brutal violação do direito do Menor ao alimento, à formação moral, é obstáculo ao desenvolvimento nacional. As seqüelas provenientes deste estado de coisas são uma mancha para um país que se diz cristão. Adite-se que de cada cem crianças matriculadas na primeira série do ensino fundamental, apenas vinte chegam a terminar a oitava série. No entanto é construído, por exemplo, em Manaus um gigantesco estádio que será mais uma obra de pouca ou nenhuma importância prática edificada pela insensibilidade dos governantes. Para a maioria deles pouco importam os doentes que sofrem no Brasil. O altíssimo preço dos remédios e as condições da rede de atendimento da saúde pública clamam aos céus. O desespero toma conta, por vezes, do cidadão impossibilitado de adquirir os medicamentos ou, tantas vezes, vendo parentes e amigos falecerem nas filas dos hospitais, sobretudo nas grandes cidades. Por tudo isto esta será uma Copa das ilusões, mesmo porque estarão em campo jogadores que ganham somas astronômicas e gozam de todas as mordomias. Acrescente-se a tudo isto que virão aí depois as Olimpíadas do Rio de Janeiro!






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