A COPA DAS ILUSÕES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Academia Mineira de Letras
A construção
de estádios faraônicos, com razão, vem revoltando a população brasileira. No
total, segundo foi noticiado nos meios de comunicação social, o governo federal
e o governo estadual das doze sedes já gastaram oito bilhões de cruzeiros. Este
dinheiro deveria ir para a Educação e para Saúde e está sendo claramente mal
empregado. As necessidades básicas do país são postas em segundo plano. Isto
numa nação de profundas desigualdades sociais e na qual a corrupção gangrena a
classe política. O pior é que onze por cento dos projetos de mobilidade urbana
não foram ainda concretizados e nem serão concluídos até o início da Copa do
Mundo. Justas, portanto, as ondas de protestos, sinal do “mau humor”
generalizado de um povo sofrido. São milhares de patrícios sem teto e até
passando fome. Adite-se que vinte dois por cento dos brasileiros vivem na
pobreza. Por outro lado, a classe média já está diante do fantasma da inflação.
É, porém, de pasmar a declaração dos organizadores deste torneio internacional
de que, com o início dos jogos, tudo vai se acalmar e o futebol será por
algumas semanas o ópio do povo. Será esquecida por uns dias a trágica condição
das crianças. A situação de milhares de meninos pobres e abandonados sendo
levados pelo desespero a toda sorte de comportamentos anti-sociais. Eles são
desprezados e humilhados, muitas vezes jogados nos institutos de correção sem
nenhum procedimento jurídico que lhes faculte a defesa. Nas Metrópoles são
assassinados sem qualquer piedade como se fossem animais em temporada de caça.
Massa de manobra, tornam-se vítimas dos inescrupulosos e se entregam a
violentos “arrastões”, se fazem veículos dos traficantes de droga, inseridos na
trama do crime organizado, quando não são envolvidos na mais degradante
prostituição. Flores emurchecidas, plantas precocemente carcomidas num mundo
aterrador. Drama social decorrente das péssimas condições das famílias
impossibilitadas de dar assistência e educação aos filhos devido o desajuste
social imperante. A verdade é que a brutal violação do direito do Menor ao
alimento, à formação moral, é obstáculo ao desenvolvimento nacional. As
seqüelas provenientes deste estado de coisas são uma mancha para um país que se
diz cristão. Adite-se que de cada cem crianças matriculadas na primeira série
do ensino fundamental, apenas vinte chegam a terminar a oitava série. No
entanto é construído, por exemplo, em Manaus um gigantesco estádio que será
mais uma obra de pouca ou nenhuma importância prática edificada pela
insensibilidade dos governantes. Para a maioria deles pouco importam os doentes
que sofrem no Brasil. O altíssimo preço dos remédios e as condições da rede de
atendimento da saúde pública clamam aos céus. O desespero toma conta, por
vezes, do cidadão impossibilitado de adquirir os medicamentos ou, tantas vezes,
vendo parentes e amigos falecerem nas filas dos hospitais, sobretudo nas
grandes cidades. Por tudo isto esta será uma Copa das ilusões, mesmo porque estarão
em campo jogadores que ganham somas astronômicas e gozam de todas as mordomias.
Acrescente-se a tudo isto que virão aí depois as Olimpíadas do Rio de Janeiro!
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