MANIFESTAÇÕES
PSICÓTICAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Academia Mineira de Letras*
Entre os lances proporcionados
pela Copa do Mundo de futebol no Brasil, sem dúvida, entrou nos anais deste
esporte a cena grotesca de um atleta, numa atitude vampírica, ter ferido um
adversário dentro de campo. Só não foi algo inédito porque este mesmo jogador
já havia sido punido por ter outras vezes cometido a mesma inusitada atitude.
Cumpre notar que se trata de uma afecção psicológica cujos sintomas levam simbolicamente
a um conflito psicossomático. Na raiz da questão há, sem dúvida, uma
repercussão de algo da infância deste estranho esportista. Trata-se de uma nevrose
histérica, vindo da conseqüência de uma obsessão, ou seja, resultado de um pensamento
ou impulso, persistente ou recorrente, indesejado e aflitivo, e que advém à
mente involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo ou de suprimi-lo.
Neste caso se tem uma idéia fixa, mania que aflora em determinadas
circunstâncias. Na disputa de uma bola surge então um estímulo que guia a uma
ação inteiramente descabida em se tratando de um ser racional que deveria
proceder de uma maneira normal. Isto ocasiona manifestações compulsivas que
levam a atos indesejáveis aos olhos da ética e da sociedade. As idéias
obsessivas têm um caráter repetitivo que a punição não consegue estancar. O
referido atleta suspenso para atuar em muitas partidas de seu clube em duas
ocasiões similares, apesar disto, não possui o autocontrole para evitar tal
falta de consequências imprevisíveis para sua carreira e, portanto, para seu
porvir. Ainda que desonroso o gesto condenável volta se dar, deixando o
indivíduo envolto em confusão mental. Sua maneira de agir é fruto de um
conflito original que conduz a uma transferência agressiva desproporcionada
dentro, por exemplo, de uma partida de futebol. O consciente fica dominado pelo
inconsciente e daí o esdrúxulo do caso que causa indignação de pessoas normais
diante dos fatos indesejáveis. Como numa disputa esportiva estas pessoas não têm
à mão arma alguma com a qual possa ferir os outros surgem então agressões por vezes
violentas até esta de dar uma mordida, resultante de um desejo incoercível de
violência que se manifesta de uma maneira grotesca perante quem as presencia. A
cosmovisão destes indivíduos é a de um mundo perigoso que é preciso ser
enfrentado com meios mirabolantes. O ser humano é a única criatura capaz de uma
agressão irracional. Ele tem o triste privilégio do desabrimento insensato.
Esta brutalidade existencial do homem é tanto mais séria quando se considera que
está também comprovado pela ciência que não há nenhuma prova fisiológica de uma
estimulação espontânea para a violência cuja origem seja somente orgânica.
Assim, existem elementos psicológicos que incrementam os ímpetos belicosos. Se
estes são patológicos há os recursos da psicologia e da psiquiatria.
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