CONFIANÇA NA PROVIDÊNCIA DIVINA
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Cristo
incentivou sempre a confiança absoluta na Providência Divina, uma vez que o Pai
sabe muito bem tudo o que cada um precisa (Mt 6, 24-34). Crer na Divina
Providência é saber que Deus age em tudo e tem um cuidado especial de cada uma
de suas criaturas. Isto não é nem fatalismo, como ensinam os discípulos de
Maomé, nem magia, como se o Ser Supremo devesse intervir cada vez que o ser racional
se depara com momentos de provações. A fé na Divina Providência é antes de tudo
um apelo a todos para cooperar na Sua obra, de uma maneira confiante e
responsável, mesmo porque grande parte das desgraças que advêm são resultado
exatamente da maneira desastrada do agir humano. É isto evidente, por exemplo,
no que tange a fome no mundo, na má distribuição da renda. Pelo trabalho, pelas
ações virtuosas, pelas preces e até pelos sofrimentos dos quais ninguém está
livre neste vale de lágrimas quem tem fé pode agir tornando o mundo melhor. Foi
o que aconselhou São Paulo aos Filipenses: “Fazei tudo sem murmurações e sem
críticas para serdes irrepreensíveis e íntegros, filhós de Deus sem macula, no
meio desta geração perversa e corrupta. No meio dela deveis resplandecer como
luzeiros no mundo’ (Fl 2, 14-16). Dois
conhecidos provérbios ilustram este pensamento do Apóstolo: “Ajuda-te e o céu
te ajudará”; “O homem põe e Deus dispõe”. Trata-se, de fato, da participação
humana no governo divino do universo. Pela sua Divina Providência, Deus deixa a
cada um sua parcela de responsabilidade e concede ao ser humano o mérito de sua
cooperação. O Concílio Vaticano II na Constituição Apostólica “Gaudium et Spes”,
ensinou que as coisas são estabelecidas segundo sua constância e verdade
própria e suas leis específicas (GS 36). Elas, entretanto ficam autônomas. O
homem realmente foi criado para dominar e submeter a terra como está no início
da Bíblia (Gn 1,28). Isto significa que ele se tornou assim providente para ele
mesmo e sua responsabilidade é particular diante de Deus e de todos os outros
homens. Muitos problemas ecológicos resultam do mau uso da liberdade humana. O
mesmo se diga de tantas outras catástrofes e sofrimentos como os ocasionados
pelas drogas e outros vícios. Portanto, o ser racional deve estar consciente dos
males que ele mesmo causa a si e aos outros.
Entretanto, pelas boas obras pode o homem contrabalançar as desgraças
que ocorrem e suas preces têm um valor imenso para que menos males aconteçam em
seu derredor e pelo mundo afora. Com razão, afirmou Elisabeth Leseur: “Uma alma
que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Na verdade, nós não sabemos o bem que
fazemos, quando praticamos o bem. Foi o que compreendeu magnificamente Santa
Teresinha do Menino Jesus que, no fundo de seu Carmelo, espalhava rosas nesta terra
de exílio, o que ela continua a fazer lá do céu. Adite-se que várias vezes
adversidades que surgem são um alerta de Deus, como se lê no Livro de Judite:
“O Senhor nos açoita, não para castigar-nos, mas nos advertir” (Jd 8,27). Foi o
que afirmou São Paulo na Carta aos Romanos: “Tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm
8.28). Este Deus, mesmo diante das infelicidades causadas pelo ser humano, sabe
tirar o bem como ocorreu com a morte de seu Filho lá no Calvário, da qual
resultou a Redenção da humanidade. É sabedoria, portanto, transformar os
espinhos da vida em pérolas preciosas e é, por isto, que Jesus aconselhou:
“Buscai antes de tudo reino de Deus e sua justiça e todas as coisas vos serão
dadas por acréscimo”. Quem assim age tendo sempre em mira este Reino de Deus
sabe se utilizar de todos os bens que estão a sua volta, jamais sendo ingrato
para o grande Benfeitor, malbaratando tudo que dele se recebe. Desta postura
resulta a confiança absoluta no Pai que está nos céus. A questão é que o pecado
se inseriu no coração dos seres racionais e estes se esquecem de que somente
quando se está em paz com Deus é que os males se diluem e se pode melhorar o
mundo. Trata-se da conversão interior mesmo diante das coisas materiais.
Quantas doenças resultam do mau uso do que se recebe da Providência Divina,
como, por exemplo, tantas enfermidades advindas do excesso do comer e do beber.
Tal deve ser a conduta de quem confia na Providência Divina: viver a vida do
melhor modo possível, bem usufruindo de tudo que se recebe de Deus, nunca
empregando seus dons para praticar o que é diretamente contra os dez Mandamentos da Lei divina. Cumpre procurar a
harmonia perfeita e definitiva do amor de Deus o qual encherá totalmente de
felicidade todos os instantes da vida de cada um, vida assim passada bem de
acordo com os planos traçados pela Sua providência para o bem próprio e de todo
o mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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