segunda-feira, 3 de março de 2014

CONFIANÇA NA PROVIDÊNCIA DIVINA

CONFIANÇA NA PROVIDÊNCIA DIVINA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo incentivou sempre a confiança absoluta na Providência Divina, uma vez que o Pai sabe muito bem tudo o que cada um precisa (Mt 6, 24-34). Crer na Divina Providência é saber que Deus age em tudo e tem um cuidado especial de cada uma de suas criaturas. Isto não é nem fatalismo, como ensinam os discípulos de Maomé, nem magia, como se o Ser Supremo devesse intervir cada vez que o ser racional se depara com momentos de provações. A fé na Divina Providência é antes de tudo um apelo a todos para cooperar na Sua obra, de uma maneira confiante e responsável, mesmo porque grande parte das desgraças que advêm são resultado exatamente da maneira desastrada do agir humano. É isto evidente, por exemplo, no que tange a fome no mundo, na má distribuição da renda. Pelo trabalho, pelas ações virtuosas, pelas preces e até pelos sofrimentos dos quais ninguém está livre neste vale de lágrimas quem tem fé pode agir tornando o mundo melhor. Foi o que aconselhou São Paulo aos Filipenses: “Fazei tudo sem murmurações e sem críticas para serdes irrepreensíveis e íntegros, filhós de Deus sem macula, no meio desta geração perversa e corrupta. No meio dela deveis resplandecer como luzeiros no mundo’ (Fl 2,  14-16). Dois conhecidos provérbios ilustram este pensamento do Apóstolo: “Ajuda-te e o céu te ajudará”; “O homem põe e Deus dispõe”. Trata-se, de fato, da participação humana no governo divino do universo. Pela sua Divina Providência, Deus deixa a cada um sua parcela de responsabilidade e concede ao ser humano o mérito de sua cooperação. O Concílio Vaticano II na Constituição Apostólica “Gaudium et Spes”, ensinou que as coisas são estabelecidas segundo sua constância e verdade própria e suas leis específicas (GS 36). Elas, entretanto ficam autônomas. O homem realmente foi criado para dominar e submeter a terra como está no início da Bíblia (Gn 1,28). Isto significa que ele se tornou assim providente para ele mesmo e sua responsabilidade é particular diante de Deus e de todos os outros homens. Muitos problemas ecológicos resultam do mau uso da liberdade humana. O mesmo se diga de tantas outras catástrofes e sofrimentos como os ocasionados pelas drogas e outros vícios. Portanto, o ser racional deve estar consciente dos males que ele mesmo causa a si e aos outros.  Entretanto, pelas boas obras pode o homem contrabalançar as desgraças que ocorrem e suas preces têm um valor imenso para que menos males aconteçam em seu derredor e pelo mundo afora. Com razão, afirmou Elisabeth Leseur: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Na verdade, nós não sabemos o bem que fazemos, quando praticamos o bem. Foi o que compreendeu magnificamente Santa Teresinha do Menino Jesus que, no fundo de seu Carmelo, espalhava rosas nesta terra de exílio, o que ela continua a fazer lá do céu. Adite-se que várias vezes adversidades que surgem são um alerta de Deus, como se lê no Livro de Judite: “O Senhor nos açoita, não para castigar-nos, mas nos advertir” (Jd 8,27). Foi o que afirmou São Paulo na Carta aos Romanos: “Tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28). Este Deus, mesmo diante das infelicidades causadas pelo ser humano, sabe tirar o bem como ocorreu com a morte de seu Filho lá no Calvário, da qual resultou a Redenção da humanidade. É sabedoria, portanto, transformar os espinhos da vida em pérolas preciosas e é, por isto, que Jesus aconselhou: “Buscai antes de tudo reino de Deus e sua justiça e todas as coisas vos serão dadas por acréscimo”. Quem assim age tendo sempre em mira este Reino de Deus sabe se utilizar de todos os bens que estão a sua volta, jamais sendo ingrato para o grande Benfeitor, malbaratando tudo que dele se recebe. Desta postura resulta a confiança absoluta no Pai que está nos céus. A questão é que o pecado se inseriu no coração dos seres racionais e estes se esquecem de que somente quando se está em paz com Deus é que os males se diluem e se pode melhorar o mundo. Trata-se da conversão interior mesmo diante das coisas materiais. Quantas doenças resultam do mau uso do que se recebe da Providência Divina, como, por exemplo, tantas enfermidades advindas do excesso do comer e do beber. Tal deve ser a conduta de quem confia na Providência Divina: viver a vida do melhor modo possível, bem usufruindo de tudo que se recebe de Deus, nunca empregando seus dons para praticar o que é diretamente contra os dez  Mandamentos da Lei divina. Cumpre procurar a harmonia perfeita e definitiva do amor de Deus o qual encherá totalmente de felicidade todos os instantes da vida de cada um, vida assim passada bem de acordo com os planos traçados pela Sua providência para o bem próprio e de todo o mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



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