SIGNIFICADO
DA TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dentre todos os pormenores que envolvem a Transfiguração
de Jesus no monte Tabor, se ressalte a ordem vinda do Pai: “Este é o meu Filho
amado, no qual ponho as minhas complacências: Escutai-O” (Mt 17,5). Aí o
sentido mais profundo deste episódio. Com efeito, celebrar a Transfiguração de
Jesus não é comemorar um acontecimento passado sem liame imediato com o
presente. É contemplar a união perfeita e indissolúvel da divindade e da humanidade
na pessoa do Verbo Eterno de Deus. Nele a humanidade inteira foi transfigurada
e chamada a uma união maravilhosa com sua divindade. Uma glória indescritível
reservada a todos aqueles que em Cristo se tornam participantes da vida divina
através da graça santificante. Trata-se do anseio salvífico da Trindade que
desejou conduzir os seres racionais até sua própria santidade e felicidade.
Para isto é preciso saber escutar Jesus, o Filho bem-amado, Palavra encarnada
que vivifica e aponta o caminho da perfeição. Isto supõe levar a sério as oito
Bem-aventuranças que o Mestre divino havia proclamado, vivendo intensamente
este roteiro que envolve em luz e santidade existencial. Tal foi a ordem do Pai
escutar a Jesus e este falou no desapego dos bens materiais, na mansidão, na
sede e fome de justiça, na misericórdia, na pureza de coração, na paz, na
justiça, na total fidelidade a Ele. São Mateus havia dito que o rosto de Jesus
“brilhou como o sol”. O rosto exprime bem a dignidade de uma pessoa, seu estado
de alma. Cumpre então na festa da Transfiguração de Cristo que cada um indague
a si mesmo qual o rosto que tem apresentado aos outros através do comportamento
político, social e, sobretudo, religioso. Comportamento daquele que carrega a sua
cruz, imitando Jesus que ao descer do Tabor falou a Pedro, Tiago e João sobre
sua Paixão e Morte. A cruz está no coração de toda a vida humana, mas é preciso
saber lidar com as tribulações terrenas para se chegar à glória eterna, como
sucedeu com Cristo. Este não deixou dúvida: “Se alguém quer caminhar após mim,
tome a sua cruz e me siga”. Como Pedro, gostaríamos de fixar na eternidade os
momentos felizes da vida. O Apóstolo fez uma proposta a Jesus: “Senhor, é bom que
fiquemos aqui. Se queres, farei três tendas: uma para ti, outra para Moisés e
outra para Elias”. Cristo, porém, não viera a esta terra para ser um
organizador de camping neste mundo, mas Sua preocupação era marchar para o Calvário
a fim de salvar a humanidade e para, assim, apontar a todos os acampamentos na
Jerusalém celeste. Ele viera para servir e dar sua vida objetivando a redenção
de uma multidão. Esta seria composta daqueles que buscariam uma glória eterna,
mas passando pelo Gólgota, amando-O, escutando-O, colocando seus ensinamentos
em prática. Aqueles que seriam fielmente
solidários com Ele apesar das contradições que um mundo materializado Lhe
oporia. Aqueles que trabalhariam com amor e esforço pela evangelização, exercendo
com responsabilidade um serviço eficiente dentro da Comunidade em que vive. São
João mostrou que quem afirma estar com Jesus “deve igualmente caminhar como ele
caminhou” (1 Jo 2,6) e Jesus havia dito que viera para servir e não para ser
servido. Ele mostrou um caminho de um amor que se doa totalmente. Tudo isto
significa uma transfiguração pessoal que leva à metamorfose de toda a sociedade
através da vida de cada dia, com simplicidade na família, no trabalho, nos lugares
sadios de diversão. Circunspeção em todas as circunstâncias da vida através de
gestos, palavras e obras, irradiando paz, felicidade. É preciso então coragem,
determinação sem nunca desfalecer. Lá no
Tabor uma nuvem luminosa envolveu Jesus, Moisés e Elias. Muitos comentaristas viram
nesta nuvem o símbolo da presença do Espírito Santo. Este deve sempre envolver
a vida de todo seguidor de Cristo para o ir transfigurando a cada instante. Deste modo, se estará sempre a escutar Jesus,
Palavra que é a Sabedoria eterna a iluminar e a dar sentido a toda uma
existência cristã. Deste modo se chegará ao repouso da visão beatífica. Este
fim último precisa então ser o baricentro de todas as atividades neste mundo.
Assim, o encontro com a Santíssima Trindade no Monte Tabor é como uma janela
aberta para o futuro. É uma garantia de que a opacidade de nosso corpo mortal e nossa alma se transfigurarão um dia lá na
vida eterna resplandecente como a luz. *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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