JESUS VENCEDOR DA MORTE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O episódio da
ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-45) evidencia também como Jesus é o vencedor
poderoso da morte. Esta diante dele não tem a última palavra. Ele se mostra
capaz de ressuscitar o grande amigo mesmo após quatro dias de seu falecimento.
Ele e somente Ele pode afirmar que era a ressurreição e a vida e que aquele que
nele cresse não morreria jamais. A condição basilar para que tal maravilha
aconteça é a fé que leva à participação de sua vitória, ou seja, o triunfo
sobre o último inimigo no dizer de São Paulo (1 Cor 15,26). Isto porque Ele é o
enviado do Pai para a redenção completa da humanidade. Esta derrota da morte
desejada por Deus foi anunciada nitidamente no Antigo Testamento. Lemos o que
profetizou Isaías, mostrando que o Senhor dos exércitos “aniquilará para sempre
a morte, e o Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e cancelará da
terra inteira o opróbrio de seu povo” (Is 25,6-8-9). Ao falar do julgamento do
povo judaico no tempo e no fim dos tempos Daniel assim se expressou: ”E muitos
dos que dormem debaixo da terra despertarão, este para a vida eterna, aquele
para o vitupério, para a infâmia eterna” (Dn 12,2). Impressionante a visão de
Ezequiel sobre os ossos dessecados. A promessa de Deus é peremptória: “Eu vou
abrir vossos túmulos e vos farei sair deles [...] Eu colocarei em vós meu
espírito e vós vivereis” (Ez 12-14). Portanto, a ressurreição de Lázaro é uma demonstração
do poderio do Ser Supremo que pode trazer à vida os que foram dominados pela
morte. Entretanto, uma reflexão aprofundada de todas estas passagens bíblicas
patenteia que se a ressurreição dos corpos se dará no último dia, quando Jesus
virá no esplendor de sua glória para julgar os vivos e os mortos, quem nele crê
deve conhecer uma contínua ressurreição do coração. Esta deve acontecer dia a
dia. Aquele que crê em Jesus conhecerá um dia a ressurreição, mas deve ter a
alma continuamente viva, possuindo a graça santificante. Neste aspecto razão
tem o poeta: “Mortos não são aqueles que jazem na tumba fria, mortos são os que
têm morta a alma e vivem todavia”. O cristão autêntico possui, desde já, uma
parte dos dons escatológicos, isto é, dos que lhe advirão no fim dos tempos,
quando também o seu corpo se unirá novamente à sua alma. Ele possui uma vida
sem fim que a morte física não pode nunca destruir e usufrui continuamente da
presença especial de Deus que habita nele desde o dia do Batismo. Eis porque
está na Carta aos Hebreus: “Ora a fé é a garantia dos bens que se esperam, a
prova das realidades que não se vê” (Hb 11,1).
Esta virtude é como que uma posse antecipada das realidades futuras, um
conhecimento seguro dos eventos celestiais. Em síntese, em Jesus a salvação
está realmente atualizada e aquele que escolheu associar-se a Ele já é um
vencedor e não pode ser nunca entregue irreversivelmente ao poder da morte. Claras
as palavras de Cristo a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida, Aquele que crê
em mim, ainda que venha a morrer, viverá e todo aquele que vive e crê em mim
não morrerá jamais. Crês nisto?” A condição é, portanto, uma crença inabalável
nele. Trata-se de uma aliança de amor de um pacto sublime graças à misericórdia
infinita de Deus. O salto no mundo da fé é que dispõe cada um a entrar nesta
aliança salvífica. A recompensa é a vida eterna. Desde agora, entretanto, há a
certeza de se estar unido a Deus em todos os momentos da trajetória terrena.
Deste modo, a ressurreição de Lázaro deve ser entendida como o som antecipado
dos sinos jubilosos do grandioso dia da Páscoa, quando se saudará a Cristo que
ressuscita imortal e impassível. Tudo isto envolve o fiel num hino de
esperança. Cumpre, contudo, agir como as irmãs de Lázaro, chamando sempre por
Jesus, pois sua presença muda tudo, é penhor de vida no tempo e por toda a
eternidade. Ele é o Deus dos vivos e não dos mortos. Por isto também é preciso
rezar a Ele pelos Lázaros que estão na tumba do pecado que é a morte da alma.
Orar para que seus corações ressuscitem. Para Jesus nada é impossível. Nunca esgotamos
as riquezas do amor do Coração do divino Redentor. Seu amor por todos,
sobretudo, para com os que estão nas trevas do erro não conhece limites. Ele
mesmo disse: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Lc 5,32). Nele, diuturnamente,
se deve confiar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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