O DOMINGO DA MISERICÓRDIA
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No dia 22 de fevereiro de 1931, Ir. Maria Faustina
Kowalska, mensageira da Misericórdia Divina, recebeu este pedido de Jesus: "Pinta uma Imagem de acordo com o
modelo que estás vendo, com a inscrição: Jesus, eu confio em vós". Quero
que essa Imagem [...] seja benta solenemente no primeiro domingo depois da
Páscoa, e esse Domingo deve ser a Festa da Misericórdia. O conteúdo desta Imagem está intimamente
ligado à Liturgia do segundo Domingo da Páscoa. O Evangelho desse Domingo narra
a aparição de Jesus ressuscitado no Cenáculo e a instituição do Sacramento da
Reconciliação. Esta união está ainda sublinhada pela Novena, com o Terço da
Misericórdia Divina, começando na Sexta-Feira Santa. Com providencial solicitude pastoral o
bem-aventurado papa João Paulo II estabeleceu que no Missal Romano, depois do
título "Segundo Domingo da Páscoa", fosse acrescentado "ou da
Misericórdia Divina". A misericórdia identifica-se com a compaixão e o
perdão. É um dos temas principais da Bíblia por vários motivos. Em primeiro
lugar porque Deus se mostra sempre misericordioso e, depois, porque ele se faz
deste modo um protótipo para o homem, segundo a diretriz de Cristo: “Sede
misericordiosos como o Pai celeste é misericordioso” ( Lc 6, 36). Isto de tal
forma que a dileção do Todo-Poderoso só
permanece naqueles que têm esta atitude. Da parte do Ser Supremo é a miséria
humana que lhe proporciona a ternura, a piedade, a clemência, a bondade, o
perdão. Deus quer sempre a salvação do pecador e, por que sua comiseração é eterna ( Sl 107,1) só aquele que se torna
empedernido no erro não conhece os eflúvios da dileção divina. Há uma passagem
no Livro do Êxodo realmente admirável: “Javé é um Deus de ternura e de graça,
lento em irar-se e rico em misericórdia e fidelidade ( Ex 34,6) Tocantes os
termos do salmista: “Javé é ternura e graça, lento para a ira e copioso em
misericórdia; não contende eternamente, não guarda rancor para sempre; não nos
trata conforme as nossas culpas ... Como a ternura dum pai para com seu filho,
terno é Javé para com que o teme; ele
sabe de que fomos plasmados, lembra-se de que pó nós somos’(Sl 103, 8
ss.13 s.)Isto não significa que Ele passe recibo nos erros humanos, mas, diante
do arrependimento, que Ele inclusive proporciona com suas inspirações está
sempre pronto a desculpar aquele que se afastou de um de seus preceitos. Assim
sendo, a indulgência de Deus está intimamente conexa com a conversão. É o que
patenteia o profeta Isaías: “ Que o mau se converta a Javé que terá piedade
dele, ao nosso Deus, pois ele perdoa copiosamente”(Is 55,7). Só o
empedernimento do pecador impede a volta ao Criador (Is 9,16; Jr 16,5.13).
Vindo a este mundo, Jesus mostrou esta dupla face da misericórdia de Deus para
com o homem e do homem arrependido que recebe os raios da piedade divina. Os
pecadores eram os preferidos do Redentor, que os levava ao arrependimento.
Entre tantos outros fatos a cena da pecadora contrita narrada por são Lucas ( 7, 36 ss) é sumamente elucidativa. A mulher
cheia de pecados que se pôs a lavar os pés de Jesus, que os osculou, que os
perfumou conheceu de perto a benevolência do meigo Rabi da Galiléia que afirmou
ao fariseu indelicado que as numerosas faltas daquele miserável eram perdoados
porque ela muito amou, ou seja, dado que ela se arrependera. Depois,
voltando-se para a pecadora Jesus proclama: “Teus pecados estão perdoados”( Lc
7, 48). Na parábola do filho pródigo ele retratou de maneira maravilhosa a
indulgência do Pai celeste. O Apóstolo Paulo entendeu muito bem as palavras do
Mestre, pois apresenta Deus como “o Pai
das misericórdias”( 2 Cor 1,3). Foi a compaixão divina que dele teve dó ( 1 Cor
7,25; 2 Cor 4, 1). Na carta aos Romanos
Paulo mostra onde estava o grande erro dos judeus, ou seja, eles desconheciam a
misericórdia de Deus, pensando que poderiam alcançar a remissão de suas culpas
através da justiça alicerçada nas obras, na mera prática da Lei mosaica. O
Apóstolo mostra então que eles também são pecadores e, portanto, necessitavam
da piedade divina pela justiça da fé. Todos os homens, de fato, devem ser
atraídos à órbita imensa da magnanimidade do Ser Supremo ( Rm 11, 32). Este
Deus misericordioso, porém, exige, segundo o ensinamento de Cristo, que o homem
O imite. Isto aliás como condição para a entrada no Reino do céu ( Mt 9,13).
Todos serão julgados de acordo com a misericórdia que tiverem praticado ( Mt
25, 31-46). Eis por que São Paulo aconselhava aos filipenses a se porem acordes “no mesmo sentimento, no
mesmo amaor, numa só alma, num só pensamento, nada fazendo por competição e
van-glória, mas com humildade, julgando cada um os outros superiores a si
mesmo, nem cuidando cada um só do que é
seu, mas também do que é dos outros”. Conclui então num momento da mais
profunda inspiração”: “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus”( Fil 2
2- 5). Não menos incisivas as palavras de São Pedro: “Sede todos unânimes,
compassivos, chieios de amor fraternal, misericordiosos e humildes de espírito.
Não pagueis mal por mal, nem injúria por injúria; ao contrário, bendizei,
porque para isto fostes chamados, isto é, para serdes herdeiros da bênção”( 1
Pd 3, 8-9). Daí a sentença de São João: “O amor de Deus só permanece naqueles
que exercem a misericórdia ( 1 jo 3,17).* Professor no Seminário de Mariana
durante 40 anos.
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