segunda-feira, 28 de abril de 2014

O CAMINHO DE EMAÚS
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Aqueles dois discípulos de Jesus os quais iam pelo caminho que os conduziria a sua aldeia natal não pressentiam que passariam por momentos alternativos impressionantes. Com efeito, estavam tristes, decepcionados com o que havia ocorrido com o seu Mestre ignominiosamente morto sobre uma Cruz. Encontram-se, porém, com alguém que era o mesmo Jesus que não se deu a conhecer, mas que lhes explicava as Escrituras sobre os acontecimentos ocorridos em Jerusalém. Seus corações abrasavam-se dentro deles, enquanto Cristo lhes falava. Depois, tendo sido tão fidalgos com aquele desconhecido, convidando-O para ficar com eles, ao se porem à mesa Jesus lhes abre os olhos. Foi quando Cristo tomou o pão, o abençoou, o partiu e lhes fez entrega do mesmo. Jesus desaparece, mas que transformação na mente e no coração daqueles seus dois seguidores! À melancolia, ao desânimo seguiram-se o entusiasmo, a coragem. Tornam-se então importantes testemunhas de que Jesus ressuscitara e vão a Jerusalém anunciar, também eles, que Cristo estava vivo. A trajetória de Emaús é uma rota que todo homem alguma vez percorre na sua vida. O caminho para Deus é uma vereda que pode se envolver em providenciais sombras para que brilhem  depois, ainda mais, as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. Deus, porém, está sempre perto dos que o temem, iluminando sua peregrinação rumo ao céu. O principal é que não prevaleçam as ilusões e o desânimo, mas reinem a tranquilidade, a serenidade, a imperturbabilidade. Cumpre, contudo, não atingir o grau de inquietação de Cléofas e seu companheiro aos quais  assim recriminou Jesus: “Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Seja como for, o principal é estar atento às inspirações divinas, alimentando a fé na oração e na Eucaristia, aguardando o momento no qual Deus intervirá para afastar qualquer dubiedade ou incerteza. A pergunta feita por Jesus foi repleta de significado: “O que ides conversando pelo caminho?” É preciso que se examinem com cuidado a cada passo os próprios interesses, os questionamentos, os propósitos que se têm em vista para poder deixar a palavra de Deus penetrar nas trevas que podem envolver a quantos peregrinam nesta terra de exílio. O que se deu um dia com Santa Teresa de Ávila esclarece o modo de agir do Ser Supremo. No meio de tribulações, agitações interiores esta santa estava  rezando, quando de repente tudo passou. Ela então interrogou a Cristo: “Onde estavas, meu Senhor, enquanto eu tanto padecia”. A resposta foi clara: “Teresa, estava em teu coração para que não desfalecesses”. É preciso estar sempre consciente desta presença do Mestre divino que nunca abandona os que O amam. Como ensinou São Paulo aos Efésios caminhamos para Deus pelo caminho da fé em Cristo que está continuamente junto de seus seguidores. É preciso, porém, não ficar em Emaús, mas sair anunciando por toda parte que Jesus ressuscitou e está presente entre nós. A alegria desta certeza deve ser levada para dentro de casa, para os lugares de trabalho, de diversão sadia e, deste modo,  outros compreenderão como é feliz quem confia no Senhor Jesus. Este júbilo deve se refletir nas palavras, nos gestos, no modo de ser, irradiando o fogo desta presença divinal. Trata-se de uma partilha de grande repercussão na vida dos que cercam um cristão autêntico. É necessário para isto cultivar em todas as circunstâncias a calma. Os discípulos de Emaús, talvez, tenham deixado Jerusalém um pouco precipitadamente com medo dos judeus e estavam envoltos em decepção. Ao cristão cumpre ter coragem e nunca duvidar para poder levar, seja onde estiver, as mensagem que fluem da Ressurreição de Cristo. Isto é tanto mais importante quanto maior é a cegueira espiritual do contexto pós-moderno atual. Neste impera o relativismo e não se admitem as verdades objetivas e o que nelas é essencial. Estas verdades devem ser anunciadas sem dubiedades ou ambiguidades. São Paulo na Carta aos Hebreus mostrou a necessidade de se estar penetrado pela fé. Esta supõe a adesão a  verdades absolutas longe de todo e qualquer relativismo (Hb 1,4,2). Resta sempre esta certeza de que todas as vezes que escutarmos Jesus nosso coração estará abrazado, iluminado como aconteceu com os discípulos de Emaús. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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