O CAMINHO DE EMAÚS
Côn.José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Aqueles dois discípulos de Jesus
os quais iam pelo caminho que os conduziria a sua aldeia natal não pressentiam
que passariam por momentos alternativos impressionantes. Com efeito, estavam
tristes, decepcionados com o que havia ocorrido com o seu Mestre
ignominiosamente morto sobre uma Cruz. Encontram-se, porém, com alguém que era
o mesmo Jesus que não se deu a conhecer, mas que lhes explicava as Escrituras
sobre os acontecimentos ocorridos em Jerusalém. Seus corações abrasavam-se
dentro deles, enquanto Cristo lhes falava. Depois, tendo sido tão fidalgos com
aquele desconhecido, convidando-O para ficar com eles, ao se porem à mesa Jesus
lhes abre os olhos. Foi quando Cristo tomou o pão, o abençoou, o partiu e lhes
fez entrega do mesmo. Jesus desaparece, mas que transformação na mente e no
coração daqueles seus dois seguidores! À melancolia, ao desânimo seguiram-se o
entusiasmo, a coragem. Tornam-se então importantes testemunhas de que Jesus
ressuscitara e vão a Jerusalém anunciar, também eles, que Cristo estava vivo. A
trajetória de Emaús é uma rota que todo homem alguma vez percorre na sua vida.
O caminho para Deus é uma vereda que pode se envolver em providenciais sombras
para que brilhem depois, ainda mais, as
virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. Deus, porém, está sempre
perto dos que o temem, iluminando sua peregrinação rumo ao céu. O principal é
que não prevaleçam as ilusões e o desânimo, mas reinem a tranquilidade, a
serenidade, a imperturbabilidade. Cumpre, contudo, não atingir o grau de
inquietação de Cléofas e seu companheiro aos quais assim recriminou Jesus: “Como sois sem
inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Seja como
for, o principal é estar atento às inspirações divinas, alimentando a fé na
oração e na Eucaristia, aguardando o momento no qual Deus intervirá para
afastar qualquer dubiedade ou incerteza. A pergunta feita por Jesus foi repleta
de significado: “O que ides conversando pelo caminho?” É preciso que se
examinem com cuidado a cada passo os próprios interesses, os questionamentos,
os propósitos que se têm em vista para poder deixar a palavra de Deus penetrar
nas trevas que podem envolver a quantos peregrinam nesta terra de exílio. O que
se deu um dia com Santa Teresa de Ávila esclarece o modo de agir do Ser Supremo.
No meio de tribulações, agitações interiores esta santa estava rezando, quando de repente tudo passou. Ela
então interrogou a Cristo: “Onde estavas, meu Senhor, enquanto eu tanto
padecia”. A resposta foi clara: “Teresa, estava em teu coração para que não
desfalecesses”. É preciso estar sempre consciente desta presença do Mestre
divino que nunca abandona os que O amam. Como ensinou São Paulo aos Efésios
caminhamos para Deus pelo caminho da fé em Cristo que está continuamente junto
de seus seguidores. É preciso, porém, não ficar em Emaús, mas sair anunciando
por toda parte que Jesus ressuscitou e está presente entre nós. A alegria desta
certeza deve ser levada para dentro de casa, para os lugares de trabalho, de
diversão sadia e, deste modo, outros
compreenderão como é feliz quem confia no Senhor Jesus. Este júbilo deve se
refletir nas palavras, nos gestos, no modo de ser, irradiando o fogo desta
presença divinal. Trata-se de uma partilha de grande repercussão na vida dos
que cercam um cristão autêntico. É necessário para isto cultivar em todas as
circunstâncias a calma. Os discípulos de Emaús, talvez, tenham deixado Jerusalém
um pouco precipitadamente com medo dos judeus e estavam envoltos em decepção.
Ao cristão cumpre ter coragem e nunca duvidar para poder levar, seja onde
estiver, as mensagem que fluem da Ressurreição de Cristo. Isto é tanto mais
importante quanto maior é a cegueira espiritual do contexto pós-moderno atual.
Neste impera o relativismo e não se admitem as verdades objetivas e o que nelas
é essencial. Estas verdades devem ser anunciadas sem dubiedades ou ambiguidades.
São Paulo na Carta aos Hebreus mostrou a necessidade de se estar penetrado pela
fé. Esta supõe a adesão a verdades
absolutas longe de todo e qualquer relativismo (Hb 1,4,2). Resta sempre esta
certeza de que todas as vezes que escutarmos Jesus nosso coração estará
abrazado, iluminado como aconteceu com os discípulos de Emaús. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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