quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

 

          03     ELE VOS BATIZARÁ NO ESIRITO SANTO E NO FOGO

Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

João Batista diz claramente que Jesus batizaria com o Espirito Santo e com o fogo (Lc 3,16). Seu batismo era de conversão e penitência.  Deste modo, ele coloca à luz o foco em Jesus e anuncia sua missão. Ele era o   precursor e também o anunciador do Messias e de seu encargo redentor. Feliz João Batista que entreabre as portas do Novo Testamento, mas ele não podia ainda ver a grandeza da Revelação em Jesus, o qual batizaria no Espirito Santo e no fogo do amor do Pai e do Filho, fogo que era a força e o poder deste amor. Através do Espírito Santo a comunhão do batizado com Deus seria completa numa filiação total. Jesus batizaria com o fogo que imergiria na dileção trinitária. Ninguém apagara este fogo que brilharia no interior de quem recebesse o batismo de Jesus, vivendo intensamente esta realidade.  Este fogo, alegria dos corações, daria sentido à vida do batizado, de sua missão e tenderia a se propagar. Fogo do amor da Trindade por nós e em nós. Eis aí o que João Batista explicou sobre o batismo de Jesus, verdades nas quais nem sempre se reflete e das quais se deve viver. Jesus o Filho de Deus era santíssimo, sem nenhuma mancha de pecado. Ora, o batismo de, João Batista era um batismo de purificação. No entanto, Jesus se deixaria batizar por ele e o próprio Batista não sabia por que motivo, dado que ele conhecia que Jesus era o Messias. É que Jesus foi ser batizado por São Joao porque Ele representava naquele rito a humanidade inteira, humanidade pecadora e, desse modo, mostraria sua vocação de Messias, do enviado por Deus, caminho que O conduziria à morte na cruz e depois à ressurreição.  Portanto, não se pode ver no batismo de Jesus com o Espírito Santo e com o fogo como um fato isolado. É preciso vê-lo no conjunto de sua vida de sua vocação para bem O compreender. Da mesma maneira, nosso batismo não deve ser visto como algo separado de nossa vida, como espécie de parêntese, como um dia de festa particular. Nosso batismo deve ser visto e vivido no conjunto de nossa vida, de nosso caminho vocacional, isto é, fé da nossa união com Deus no cotidiano de nossa vida individual e comunitária. Devemos, portanto, nos interrogar do que temos feito de nosso batismo, como o temos vivido, como tem sido nossa vida de batizados, de discípulos de Jesus. O batismo nos lavou de todos as manchas do pecado, mas com a graça de Deus o batizado deve praticar o bem e evitar o pecado, exercendo influência santificadora em seu derredor. Por tudo isso, é de suam importância viver em plenitude a graça extraordinária do próprio batismo, cuja data deve ser comemorada com suma gratidão a Deus. O ser humano se acha ferido de uma fragilidade inata, o coração do homem, desde seu nascimento, é inclinado para o mal mais facilmente do que para o bem. O batismo não opera magicamente e cada um retém as sequelas do pecado original, mas o batismo oferece todas as forças necessárias para obter a vitória sobre as más inclinações. A luta do cristão se prolonga até sua passagem para a outra vida. Assim sendo, nunca se conscientiza demais de que o batismo é um renascimento para uma vida nova. Uma imagem pode nos ajudar a compreender o que quer dizer entrar na vida de Deus, ou seja a imagem do nascimento pelo batismo. Com efeito, o cristão passa a viver não só a vida biológica, que é frágil e limitada, mas passa viver também a vida mesma de Deis sob o influxo do Espirito Santo. Esta nova força de vida é uma força   para crer, para amar e esperar sem limitações. Não é no dia de nossa morte que entramos na vida eterna, mas desde o dia do nosso batismo. Pode-se falar no batismo como uma adoção, uma decisão livre de Deus de nos considerar como seus filhos bem-amados e de nos assemelhar a seu Filho único, Jesus Cristo, vivendo no fogo o Espírito Santo. Além disto, o batismo nos torna membros de um mesmo corpo, a Igreja, família de todos os que reconhecem o mesmo Deus, Uno e Trino. Irmãos e Irmãs em Jesus Cristo, os batizados participam então de uma missão, pois o batismo não é somente crer mas viver. Cada batizado pertence a Cristo. Por isto, ele se chama cristão e deve ser testemunha viva desta nobreza, manifestando o amor de Deus para com todos os homens. Trata-se dos liames da unidade que vão além dos limites da própria Igreja, para a qual se deve atrair os que a ela não pertencem. Eis porque os cristãos devem ser perante a face do Ser Supremo sem máculas e santos pelo fogo de seu amor e assim a muitos arrastar pra junto de Jesus. * Professo no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

 

01 OS REIS PROSTRADOS O ADORARAM

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

  Na solenidade da Epifania celebramos a manifestação do Senhor (Mt 2,1-12).  Trata-se da primeira revelação do poder de Jesus aos povos da terra. Os raios do Sol divino se levanta manifestando–se ao mundo que estava envolto nas trevas. Aparece  o plano universalista do Redentor, de sua missão tão vasta a ponto de abranger todo o mundo, não apenas o povo judeu. Uma estrela esteve a serviço do Rei de todas as nações, indicando um soberano que nasceu para remir todos os homens. Não nos importa saber de que parte vieram os magos, que, do longínquo oriente, eram representantes de todas as nações da terra sem se mostrarem revestidos de planos terrenos, de uma política humana. Apresentam-se sem imposições, guiados por um astro que os convidava a homenagear um pobre menino, cujo reino não era deste mundo, mas que estava aberto aos pagãos,. Os magos procuravam o lugar onde nasceria o rei cujo força era universal. Nos presentes por eles ofertados estava significado o mistério oculto em uma humilde criança. Aquele menino era Deus e por isto lhe ofertam incenso, era Rei e isto bem simbolizado no ouro trazido, era o Salvador que redimiria a humanidade pelo sacrifico de sua vida, donde a mirra que era oferecida, já lembrando inclusive o doloroso sacrifício do Calvário. Cumpre, porém admirar e também imitar a obediência dos Magos ao chamado divino, no qual era mostrada a vocação de todas as gentes. Tudo isto devido a uma fé profunda que reinava no coração daqueles agraciados reis da terra que empreendem uma longa viagem para adorar o Rei dos reis. Admirável a disponibilidade e sua prontidão em seguir a estrela numa confiança total em Deus. Nem se deve esquecer sua paciência e perseverança, quando momentaneamente a estrela desapareceu. Não desanimaram, indagaram e foram recompensados com o reaparecimento do meteoro que os levou até onde estava o Menino. Por tudo isto cumpre receber tão preciosas lições que devem levar a uma   total correspondência às inspirações divinas. Na narrativa de São Mateus aparece ainda uma personagem que contrastava com a bondade de Jesus, ou seja, Herodes o cruel. Surge claramente o conflito entre o Messias, “o rei dos Judeus que    acabara de nascer” (Mt 2, 2) e o Rei que apareceria como símbolo da recusa em acolher Cristo e sua mensagem salvífica. Jesus seria recebido pelos homens de boa vontade, mas seria rejeitado pelos governantes de seu povo. A partir de seu encontro com Jesus os Magos que se mostram homens repletos de notáveis virtudes rompem definitivamente com um soberano ambicioso que quer assassinar o Menino que eles vieram homenagear. Deus, contudo, os adverte não por uma estrela, mas por um anjo como Ele faz com seus eleitos. É sob o fundo teológico do texto de São Mateus que os detalhes por ele narrados tomam seu verdadeiro valor, oferecendo ensinamentos preciosos. O fato dos Reis magos voltarem para sua terra por outro caminho para evitar o impiedoso Herodes traz uma valiosíssima lição. É preciso sempre que os verdadeiros seguidores de Cristo evitem seus inimigos. Em nossos dias muitos são aqueles que se deixam contaminar pelos meios de comunicação social e seus programas que pregam exatamente o contrário do Evangelho de Jesus, não tendo a coragem de banir tudo que está em desacordo com a doutrina do Mestre divino. Os Magos, vindo do Oriente, eram sábios astrônomos que se colocaram em marcha para o Cristo Messias, e tendo-O encontrado romperam com quem O queria matar. A fuga das ocasiões que colocam a fé em perigo deve sempre ser a atitude do verdadeiro cristão. É de se notar que aqueles sábios viram na estrela um sinal, ligando-a ao astro a que se refere o Livro dos Números como um dos símbolos do Messias esperado: “Surgirá uma estrela de Jacó e surgirá um astro de Israel. (Num 24,17). Já os teólogos da Idade Média haviam notado que não se tratava de um corpo celeste ordinário, dado que seu brilho era intermitente e de um movimento descontínuo.  A mensagem messiânica de toda a cena é também sublinhada pelo texto do profeta Miquéias que os escribas citam imediatamente a Herodes: “E tu Belém, terra de Judá, já não és a mais pequena entre as principais cidades de Judá, porque de ti há de sair um Príncipe que regerá o meu povo, Israel” (Mi 5,1). Assim sendo, para São Mateus, a chegada dos Magos a Belém marca o cumprimento das promessas da antiga aliança e, ao mesmo tempo, anuncia o destino de Cristo. Os Magos chegando não viram senão um menino, mas o Evangelista se refere ao que a fé devia claramente ver naquela criança, a saber, o Pastor do povo de Deus. O texto de São Mateus deixa igualmente entrever o destino de Jesus que seria marcado pelo drama da descrença. Herodes só pensava no seu poder e se torna um perseguidor a quem interessava apenas a construção de cidades terrenas. Os escribas conheciam a fundo as Escritura, mas não agiram em consequência. Os estrangeiros, viajaram por que perceberam os sinais divinos no profundo de sua ciência. Jesus seria através dos tempos um sinal de contradição. Professor no Seminário de Mariana durante

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

 

A SAGRADA FAMÍLIA

 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Após o Natal celebramos no domingo subsequente em uma mesma solenidade as três pessoas que formam a Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Nós os festejamos não cada um por eles mesmos, mas enquanto formam esta entidade particular que é a família humana do Filho de Deus Um trio glorioso e santo devido os prodígios da graça operados em cada um de seus membros como pela missão a eles destinada pelos desígnios de Deus. A Sagrada Família é um modelo para todas as famílias cristãs que devem viver os valores da vida familiar. Note-se a disponibilidade em acolher os planos divinos e sua atitude de serviço para realizar o que lhes pedia a vontade do Ser Supremo. O anúncio feito a Maria e a São José, o nascimento de Jesus e depois a fuga para o Egito e a vida oculta em Nazaré, em todas estas etapas a Sagrada Família foi no mais alto grau uma comunidade na qual resplandeceu uma fé admirável, comunidade de oração contínua e na qual brilhou sempre o senso do serviço dentro de casa ou na modesta carpintaria. Nela se contemplam, de fato, as mais peregrinas virtudes, numa abertura ininterrupta à presença e à obra de Deus em todos os momentos de sua existência. Nossas famílias, na medida do possível, devem ser, como a família de Nazaré, comunidades de fervor religioso numa atitude sempre serviçal. A aceitação dos preceitos divinos e a obediência às inspirações do Ser Supremo precisam fluir da experiência humana de um amor sinceramente revivido que une pais e filhos. Eis aí o caminho no qual devem estar engajadas as famílias cristãs, caminho no qual rebrilhem a graça divina e o verdadeiro amor. O distintivo da família cristã é querer descobrir e desenvolver o amor mesmo de Deus no seio da dileção humana individual, conjugal e familiar. É no cotidiano de nossas vidas que a graça divina se manifesta. Maria e José não procuraram nada de extraordinário, mas estavam abertos à obra extraordinária do Ser Suprem. Fizeram-se deste modo um exemplar magnífico. Mais que toda outra realidade espiritual o sacramento do matrimônio, que fundamenta a família cristã, é o modelo do humano aberto ao divino. Formando uma comunidade de vida e de amor, a família cristã testemunha a aliança fiel e fecunda que nosso Deus Trindade, Deus Uno e Trino, propõe aos homens.  Vivendo isto no   cotidiano, no decurso de sua existência, a família permite a seus membros realizar o verdadeiro amor que leva a uma santidade profunda na vivência dos valores familiares. A Sagrada Família de Nazaré recorda todas estas verdades e mostra como a família deve ser um santuário do amor, da vida e da fé. O amor autêntico em ato é o coração da vida e da vocação familiar. Em Nazaré Jesus aos 12 anos crescia em sabedoria e graça se preparando para aos 30 anos começar sua vida pública. É no lar que se amadurecem aqueles princípios básicos que rebrilharão na vida prática. É preciso valorizar sempre o tempo de formação à luz das orientações do pai e da mãe, sobretudo numa época na qual impera a aceleração da história, muitos esquecidos que o tempo de Deus não é o tempo dos homens para um amadurecimento dos princípios que devem orientar a conduta do cristão. Notável a educação progressiva de Jesus ministrada por José e Maria. Como diz o evangelista “Jesus progredia em sabedoria e graça diante de Deus e diante dos homens” (Luc 2,52). O Livro do Eclesiástico lembra que “o Senhor glorifica o pai nos seus filhos, fortifica o direito da mãe sobre eles” (Ec 3,2). A sabedoria que Jesus recebia na casa de Nazaré foi sem dúvida fruto   também de uma profunda influência de José e Maria com sua presença sábia e afetuosa. Hoje mais do que nunca é preciso que a família assuma com energia a missão educadora que Deus lhe confia. Educar é introduzir na realidade o sentido do dever e da prática de todas as virtudes. Nunca se ressalta demais o valor dos princípios recebidos em casa, mormente num mundo no qual s maiores absurdos morais são difundidos pelos meios de comunicação social Jesus, enquanto homem, vivia na casa de Nazaré aprendendo naturalmente a ser virtuoso como eram constantemente José e Maria. Nada mais valioso do que famílias santas, pois a família é o lugar da aprendizagem do amor e do serviços, valores essenciais para que cada ser humano possa na idade madura irradiar os princípios morais deixados por Jesus. Nas palavras e nos silêncios de Maria e de José que acompanhavam Jesus na sua vocação de salvador da humanidade, se descobre a profundada de um amor que sabe estar presente numa educação que leva à responsabilidade de um serviço dedicado ao próximo, dando cada um o melhor de si mesmo, devido a um trabalho de conversão contínua. A família se torna então verdadeiramente uma Igreja doméstica resplandecendo à luz oferecida por Jesus, Maria e José. Magníficas lições que fluem das considerações sobre a família de Nazaré!  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

 

BEM-AVENTURADA AQUELA QUE ACREDITOU

Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

 Duas mulheres se cumprimentam no limiar da Nova Aliança: uma já idosa, a outra ainda jovem. (Luc 1,30-45).  Ambas sintetizam toda história santa. Em sua velhice Isabel representa bem o passar dos longos séculos de preparação para a vinda do Messias e Maria em sua juventude, sem mancha e sem ruga, anuncia a Igreja de Jesus. Elas têm em comum sua esperança e sua maternidade, mas sobretudo fazem que esta maternidade as engajem inteiramente no plano de Deus e as duas crianças que haveriam de nascer são filhas do impossível diante dos homens, pois Isabel era estéril e Maria antes havia decidido ficar virgem. Ambas demonstram que nada é impossível para Deus, não obstante a diferença entre as duas crianças que elas em si traziam, dadas as circunstâncias que as envolviam. Uma por milagre é o filho de Zacarias, a outra, também miraculosamente, é o Filho de Deus. No entanto, é Maria quem saúda primeiro e não sua prima, pois ela era a serva do Senhor que trazia o Servidor. Entretanto, desde que o som de sua voz chega a Isabel ela sente seu filho rejubilar seu seio. Nisto não há nada de extraordinário para uma mãe que estava no seu sexto mês, mas o notável é que o Espírito Santo é quem faz irrupção nela, e lhe desvela a mensagem simbólica deste movimento da criança no momento mesmo da chagada de Maria.  Isabel exclamou em alta voz numa dupla benção: “Bendita es tu entre as mulheres e bendito é fruto de teu ventre.  Como me é dado que venha a mim a mãe de meu Senhor’? Ela se situa no seu verdadeira lugar diante da jovem mãe do Messias. Ela percebeu que a exultação de seu filho era consequência da presença do Redentor esperado ansiosamente por todos, já que Maria trazia em si o Salvador da humanidade. Tudo isto resultado do encontro invisível de duas crianças extraordinárias. Jesus reveste sua mãe de sua dignidade de rainha, João desperta a sua mãe ao acolhimento do mistério das obras de Deus. Estava anunciado ao mundo que a desgraça causada por Eva estava para sempre superada e o Espírito Santo quis que o primeiro diálogo sobre a redenção do mundo fosse aquele de duas mulheres grávidas, imagens perfeitas da realização desta felicidade. A nota de notável ventura que completa a saudação de Isabel: “Bem-aventurada aquela que acreditou que que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”, reluz neste diálogo maravilhoso. A beatitude de Maria se enraíza na sua fé e Jesus mesmo proclamará isto solenemente no dia em que uma mulher na multidão elevará sua voz para lhe dizer: “Bem-aventurada a Mulher que te trouxe e te alimentou. Cristo então responderá acentuando algo essencial: “Tu queres dizer, a mulher que acolhe a palavra e a guarda”. Eis aí a felicidade de todos aqueles que edificam sua vida baseada na fé nas promessas de Deus. Todos nós temos necessidade de que a Igreja nos traga esta certeza de que haverá uma realização plena de tudo que foi dito da parte do Senhor e Cristo, invisivelmente está a ponto de crescer no mundo, na nossa comunidade, na nossa família e no coração de todos os que querem se aproximar das realidades divinas prometidas. Cristo veio, vem e virá. Veio na sua humildade, vem na sua intimidade através da Eucaristia e virá um dia na imensidão do clarão de sua glória. Entretanto porque a fé deve ser cultivada, porque a esperança deve rebrilhar em nossos corações, Maria que visitou Isabel, quer vir nos visitar da parte de Deus e clama para nós: “O Senhor está próximo!” E repetiremos inspirados nas a palavra de Isabel: “Donde nos vem a felicidade vir até nós tantas graças através da Mãe de nosso Senhor! Tudo isto a envolver num gaudio profundo que borbulhava no íntimo dos corações de Isabel e Maria repercutindo nas montanhas da Judéia.  Júbilo de Maria, uma mão que traz em si um filho que é o Messias prometido e que já antes de nascer era o peregrino divino que tudo abençoava por onde passava. Alegria de Isabel cujo filho rejubila no seu ventre com a presença de Jesus. Para participar desse gaudio, para gozar esta mesma alegria que reinava nos corações de Isabel e Maria é preciso, porém, abrir nossa mentes à fé e à ação constante de Deus em nossas vidas, Fazer-nos peregrinos com Jesus, estar unidos àquela que acreditou. Pelos caminhos da terra, em sua caminhada um cristão deve levar consigo sempre as dimensões da fé, ou seja, a união com Deus e o serviço aos outros que contemplamos em Maria   que foi-se colocar a serviço de sua prima santa Isabel  Estamos próximos do Natal e, por isto, a Liturgia fixa nosso olhar nestas  duas futuras mães com todas as  belas mensagens que estamos meditando, mostrando que as luzes divinas promanam da fé e  esperança que se enraízam no íntimo dos corações daqueles que sabem escutar os apelos de Deus. Estejamos sempre engajados   no caminho da confiança, da fé no acolhimento da salvação que Jesus veio nos trazer * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

 

QUE DEVEMOS FAZER?

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Dois grandes personagens nos oferecem subsídios para a preparação da vinda de Jesus: São João Batista (Luc 3,10-18) e São Paulo na carta aos filipenses (Fil 4,4-7). O Batista é o pregador da urgência e da decisão, estando apto a responder à questão que diversas grupos de pessoas lhe faziam: “Que devemos fazer? À multidão em geral João respondia simplesmente” Repartir”, visando sobretudo as roupas e a alimentação. Aos cobradores de impostos não impõe que abandonassem o seu trabalho, mas que eles não deviam procurar se enriquecer cobrando acima do que era justo pagar. Aos soldados ele alerta que eles não deviam aproveitar-se de seu poder e de suas armas para viver às custas dos cidadãos, nem denunciassem falsamente e que estivessem contentes com o soldo que recebiam. Tratava-se, portanto, da ascese de todos os dias ao nível do ter e do poder, mas isto não era senão uma das facetas da espiritualidade do Precursor. Com efeito, seu desejo de integridade e de generosidade se enraizava na profundidade de uma humildade radical diante de Deus, do seu plano divino e diante daquele que o iria colocar em prática, o Messias. Este era quem batizaria com o Espírito Santo e com o fogo.  A primeira recomendação ascética do Precursor é que se reste fiel dentro dos desígnios de Deus preparando a chegada do Messias dentro de uma profunda humildade, pois para ele isto era uma alegria muito mais do que um esforço e por isto ele dizia: “é preciso que Ele cresça e que eu diminua” A grandeza de alma de João Batista fará com que ele guarde esta humildade e este reflexo de diminuição de si mesmo qual ele verá Jesus escolher um estilo de vida totalmente diferente do seu. Na verdade o Messias mais forte do que ele colocará todos seus discípulos na escola de sua imensa doçura. Ele dirá a seus discípulos “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. Além de todo isto São Paulo na segunda leitura sem cessar de ser prático e realista desce dentro de nosso ser cristão até à raiz de suas decisões e comportamentos. O Apóstolo insiste na ascese da alegria, da alegria ancorada em Jesus e mantida corajosamente a despeito das provas, das incertezas pessoais, familiares ou comunitárias. Isto a despeito dos transtornos da doença, da incompreensão ou da solidão. Todos alegres não deixando desaparecer o sol da esperança dentro de si mesmo. Eis o brado de Paulo: “Regozijai-vos sem cessar no Senhor, eu vos repito, regozijai-vos”! Cumpre afastar qualquer inquietude. Ascese da confiança total apesar de se querer dar rumos ao próprio destino e de toda a comunidade na qual se vive. O segredo, segundo São Paulo é tudo pedir confiadamente a Deus, entregando-lhe todas as necessidades e todos os temores. Não se deixar dominar pelos receios, pois o Senhor está próximo querendo a todos envolver na fé, na esperança e no amor. Portanto, é preciso que o coração inquieto, tantas vezes envolto em tristezas vãs, é deixar se inundar na paz de Deus, paz que segundo São Paulo deve inundar ossos pensamentos ancorados em Cristo Jesus. Assim sendo, deve estar longe de nossas preces o negativismo em nossos sentimentos, nas nossas lembranças ou visão do futuro. Nada de desânimo ou de amargura em nossos gestos ou em nossas palavras que pode vir de lembranças mórbidas do passado, paralisando ou desvitalizando a prece no momento presente. O Senhor está próximo, o Senhor vai chegar e Ele vem até nós para nos cumular de todas as graças, abrindo seu caminho. Ele quer que sejamos felizes, Assim sendo é preciso perceber a inclusão na felicidade que Jesus oferece e afastar qualquer sentimento de exclusão. Jesus oferece solução para todos os problemas pessoais e comunitários. Trata-se da atualização da Boa Nova do Evangelho através de uma interpretação correta da comemoração da vinda de Cristo no seu Natal. Aqueles que iam escutar João Bastiste nas margens do Jordão estavam decepcionados e estavam ávidos de mensagem alvissareira e João Batista lhes mostrava o que deviam fazer. A resposta a seus questionamentos abria horizontes iluminados de expectativa para o futuro. Deste modo João Batista ia preparando o caminho para Jesus, oferecendo boas perspectivas a muitos frustrados e marginalizados em busca da verdade sobre Deus e sobre o que deviam, de fato, fazer. A simplicidade e objetividade das palavras do Precursor tocava profundamente a todos que iam até ele. Nada de prescrições complicadas, mas correções deveriam ser feitas. Sua mensagem era clara, a saber, que ninguém tivesse fome nem frio por causa de vestes insuficientes. Nada de injustiças, mas correção completa no cumprimento do dever específico de cada um. Em tudo, o bom senso deveria imperar. João Batista se mostrou sempre um notável comunicador e a sinceridade de suas respostas faziam seus conselhos aceitos, levando à mais total conversão. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

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quinta-feira, 25 de novembro de 2021

 

PREPARAR O CAMINHO DO SENHOR

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

É preciso com confiança prosseguir na marcha para o Natal, ou seja, “ Preparai o caminho do Senhor” (Lc 3,1-6). À maneira bíblica, como notam os intérpretes da Sagrada Escritura, São Lucas, situa o ministério do profeta Jesus, referindo-se aos reis e príncipes contemporâneos. Estes dados históricos que são confirmados pelas inscrições e crônicas da antiguidade servem sobretudo para precisar em que clima político e espiritual vão ressoar a mensagem de João Batista e, depois, a mensagem de Jesus. Os tempos são outros e a Judéia, depois de vinte anos, não é mais senão uma província do império romano. Tibério, o imperador, está longe, mas o prefeito Põncio Pilatos administra então o país com mão de ferro.  Quanto a Caifáz, o sumo sacerdote judaico, indicado pelos romanos para o cargo no qual está depois de dez anos, foi com sua diplomacia e sua astúcia que ele conservou sua posição mais política do que religiosa.  Na Galileia, como em Jerusalém, as manifestações nacionalistas eram severamente reprimidas e os filhos de Israel pressionados, humilhados pelo ocupante e isto sem um futuro político e, assim somente em Deus podiam colocar sua esperança. Uma espécie de sede espiritual crescia em certos grupos daqueles que criam no Ser Supremo. Escutava-se mesmo falar, na época de João Batista, de comunidades quase monásticas, reunindo homens, mulheres e jovens que eram criados, aqui e ali, não longe do Mar Morto e que guardavam as tradições ascéticas dos Essênios, movimento judaico antigo do segundo século antes de Cristo. Foi então que a palavra de Deus se fez ouvir a João, filho de Zacarias, no deserto, onde o Espírito Santo o havia conduzido. João deixou seu longo retiro no deserto e se pôs a pregar na região do Jordão, novamente populoso, e as multidões chegavam até ele para se fazer batizar. O rito do batismo não era, naquela época, uma novidade absoluta. Diversos movimentos religiosos o praticavam, por exemplo, na comunidade de Qumram, às margens do Mar Morto. Banhos cotidianos reservados aos membros dos essênios que exprimiam seu ideal de pureza moral no aguardo de uma purificação radical que deveria vir. Em muitos aspectos o batismo proposto por João se modelava segundo os usos correntes. Entretanto era oferecido a todos e não somente aos membros mais meritórios de uma seita e não era recebido somente uma vez, como último preparativo ao batismo no Espírito Santo que somente o Messias poderia ofertar. Além disto, o batismo do Jordão era ministrado pelo jovem profeta João em nome de Deus que o havia enviado. Sobretudo a seus olhos a conversão era pressuposto indispensável, pois os discípulos não deviam se contentar em proclamar seu ideal pelas abluções rituais. Era-lhes necessário se afastar de sua vida pecadora e se orientar resolutamente para Deus para fazer sua vontade e se preparar para o perdão dos pecados, desde que o Reino de Deus fizera irrupção no mundo. A força de convicção de João Batista era tal que ela evocava irresistivelmente uma outra grande voz profética ouvida cinco séculos antes e que trazia, da parte de Deus, uma mensagem de esperança e de conversão:” Desimpedi no deserto o caminho do Senhor. E aplainai na estepe a estrada para o nosso Deus (Isaias 40,3). Esta rota de que fala o profeta era rumo a Jerusalém a terra dos ancestrais. Era um itinerário para os pobres, para que Deus viesse a eles. Tratava-se de um caminho especial que Deus mesmo iria percorrer com seus pobres. Deus com eles vai atravessar o deserto, Deus com eles vai entrar no pais e sua gloria vai se revelar. Passando no deserto pela estrada de Deus os pobres de Israel encontrariam o caminho de sua própria liberdade. É exatamente isto que João Batista então anunciava. Note-se que ele não diz “Convertei-vos para possibilitar a vinda do Messias que haveria de vir”, mas “Convertei-vos porque Ele vem!” Isto é certo, é iminente e é necessário se colocar a caminho com Ele. É bem este o sentido do Advento que estamos vivendo com toda a Igreja. É preciso se preparar para o Natal para festejar o Filho de Deus que veio, que vem sem cessar no meio de nós. Acolher Jesus, o Messias de Deus, recebê-lo como Salvador é resolver partir com Ele; é tomar com Ele o trajeto salutar, porque Ele vem entre nós para nos conduzir ao pais da glória, isto é, do amor do Pai que deve ser o objetivo do mundo e da história dos homens. Jesus, o Filho de Deus, vem entre nós para compartilhar conosco em nossa caminhada com Ele, atravessando o deserto de nossa história coletiva ou de nosso percurso pessoal. * Professor no Seminário de Mariana 40 anos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

 

VIGIAI SEMPRE E ORAI

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Estamos iniciando o Advento e a Liturgia nos leva a examinar a nossa vida cristã para verificarmos se, de fato, a nossa atenção se concentra inteiramente na presença de Jesus que deve envolver toda a nossa existência. Daí a necessidade da vigilância e da oração, pois o Filho do homem, que veio no Natal, voltará um dia e deverá nos achar firmes na sua presença (Lc  21, 25-28: 34-36). O perigo seria a desatenção por força das preocupações terrenas e, sobretudo em nossos dias, quando se vive o impacto das modificações tecnológicas dentro da história, É preciso estar atentos aos sinais dos tempos. Vigilância porque o Senhor que vem, voltará um dia e será preciso viver em função desta expectativa, mesmo porque a volta de Cristo será surpreendente. Cumpre então estar vigilante na fé. Trata-se então de viver um engajamento radical e uma renúncia a tudo que possa desvirtuar nossa ação nesta marcha para estes dois encontros com Cristo. Jesus veio a este mundo para instaurar o Reino de Deus e voltará para verificar como vivemos vigilantes dentro desta realidade sublime. Todas as ações realizadas à luz da gratuidade dos dons de Deus que exige da parte do cristão plena consciência da seriedade de sua responsabilidade. Vigilância total para uma correspondência ao amor do Filho de Deus que veio e virá e isto exige a audácia da confiança, o abandono numa prece contínua que leva à disponibilidade para servir sempre a justiça do Reino. Trata-se de uma esperança dinâmica que deve induzir a excluir tudo que possa impedir acolher em plenitude o Reino que o Filho do homem veio instaurar nesta terra. Jesus veio para fazer novas todas as coisas e sua outra vinda nos fim dos tempos ilumina assim a esperança do cristão sempre vigilante na oração, mesmo porque não se sabe quando será este novo retorno. Este acontecimento final, inimaginável, vai além das descrições simbólicas que a Bíblia nos apresenta e Jesus foi claro: “O Filho do homem virá na hora em que vós menos esperais”. Assim sendo, a vigilância não ajuda em nada a prever o dia da segunda vinda de Cristo, mas nos deve levar a viver o dia a dia, o presente, abertos à expectativa futura na oração e assim esta vigilância é essencial. Ela espera todo e crê tudo. Fruto da confiança em um Deus maior que os projetos humanos, leva a aceitar o imprevisível como marca da liberdade, da fé, da esperança e do amor a Deus. Isto numa trajetória que possibilita a superar rupturas por vezes dolorosas que fazem parte da caminhada de cada um neste mundo. O importante é aguardar o evento final, visando ter méritos diante deste Jesus que veio e que voltará um dia Aí o papel da prece, da união continua com Jesus, força espiritual, anazopiren, numa generosidade contínua na prática do bem. Vigiar e orar na preparação da celebração do mistério do Natal, discernir o nascimento do Filho de Deus até nas situações de pobreza humana, de fragilidade social, de vulnerabilidade das pessoas para perceber, em tudo, o encontro do tesouro que se oferece a todos nesta expectativa da volta um dia do Filho do homem, caminhando cada um à luz do Senhor. Daí a necessidade de orientar todas as aspirações para uma preparação condigna das vindas de Cristo. Trata-se, portanto, de uma atitude que vai além da mera previsão humana para ultrapassar as vicissitudes provenientes das transformações sociais, indo além da mera previdência humana. Todo cuidado é pouco, tanto mais que a sociedade atual é rica de possibilidades, mas também é complexa e pode enganar os incautos com suas solicitações, propostas tantas vezes enganosas. Prever é importante, mas a vontade de tudo dominar pode desviar a atenção do essencial que é a glória prometida aos que forem sempre fiéis a Jesus. Não se pode deixar dominar por aquilo que é passageiro, dado que é certíssima a outra vinda de Jesus. Cumpre ter sempre a lâmpada da fé acesa e, como diz o salmista, esta lâmpada é a Palavra que deve iluminar nossos passos, nossa caminhada terrena. Donde ser necessário sempre meditar a Palavra de Deus e estar enraizado no Senhor. Vigar e orar é crer que Jesus veio e voltará no fim dos tempos, devendo estar seu discípulo imerso na esperança de suas promessas de vida eterna. Toda a vida, assim, orientada para sua vinda no fim dos tempos. Vigilância e oração após encontrar Jesus no seu Natal e O aguardar na consumação dos tempos. Fazendo disto prioridade na própria existências. Jesus passa na vida de cada um discretamente e, portanto, orar em todo o tempo. Atenção, pois, contínua à vida interior que deve ser vida de prece, estando-se de vigia. Vigilância do verdadeiro cristão que adere às realidades espirituais sem se refugiar erroneamente no imaginário, mas crendo firmemente em tudo que Jesus ensinou e prometeu, acolhendo as reponsabilidades inerentes à vida cristã. Isto com toda a lucidez interior, tendo espírito crítico ante os apelos materiais, sendo profetas para todos na realização um dia de tudo que o Filho do homem garantiu para seus seguidores. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

 

CRISTO REI, CUJA REALEZA NÃO É DESTE MUNDO.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Pilatos indaga a Jesus “Es tu o Rei dos judeus”? (Jo 18,333-37). De onde, porém, vem esta questão para Pilatos? Observe-se, inicialmente, que Ele era um homem de Estado, encarregado da segurança pública e para a isto tinha poderes especiais. Jesus, contudo, que não se envolvia neste jogo de poder, responde simplesmente que ele não tem milícias para o defender: “Meu reino não é deste mundo”. Pilatos que se apresentava com autoridade põe de novo a questão: “Então, tu és Rei”? Jesus percebe que este homem sobre o qual repousa tanta responsabilidade acabava de registrar uma notável realidade e replica: “É tu mesmo que dizes que eu sou rei”. Assim sendo era o homem que elaborara a questão e não mais o representante do império romano. Era algo que lhe vinha do mais profundo de si mesmo, lá onde Deus age, lá onde a verdade encontra seu caminho. Aliás, Jesus acentua: “Eu vim ao mundo para dar testemunho da verdade”. Aí estava a Boa Nova da qual Ele era o mensageiro. Seu reino, porém, não era deste mundo. Assim sendo, as duas realidades, o mundo no qual nós vivemos e o reino dos céus não são antagônicos. Cristo pela sua encarnação fez de nós um reino e Ele tem os seus olhos sobre nós e nos ama. Da parte dos homens, porém, pode ou não haver correspondência a este amor. Pelo batismo o cristão tem a responsabilidade de fazer germinar no mundo o reino dos céus, sendo profeta desta boa nova. É isto que vem recordar a festa de Cristo Rei, lembrando a responsabilidade do batizado em fazer crescer este reino celeste que Cristo veio implantar nesse mundo, Ele que é o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Ultimo, o Princípio e o Fim (Apóc. 22,13), o Soberano do universo. Jesus é rei não à amaneira do mundo, porque Ele veio para reinar nos corações e não para dominar os povos. Isto Pilatos não pôde compreender. Foi em nome da Verdade e do Amor que Jesus aceitou ser entregue ao poder inimigo, dominador e invasor de territórios terrenos, de riquezas deste mundo. Aquele que ama a Verdade escuta a sua voz e a segue, mas nem todos assim procedem. Eis aí a lição capital de Cristo Rei que exige submissão integral à fé. Isto sumamente importante para cada um de nós, mas ainda para salvação daqueles que não querem se submeter a este Rei. Em Jesus tudo se torna graça celestial, tudo se torna vida eterna, não obstante a luta contra as potências do mal, os poderes contrários ao seu reinado. A submissão a Cristo Rei não é uma submissão fatalista, uma falsa abnegação, mas uma questão de fé e amor em vistas ao Reino que o Filho de Deus veio implantar neste mundo. Os mártires compreenderam perfeitamente isto. Toda sua existência foi vivida não em função das coisas terenas, mas numa visão voltada para o céu. Disse Jesus “meu reino não é deste mundo” e esta sua palavra deve corresponder à realidade da vida do cristão. Contudo é preciso sempre se lembrar que o reino de Deus não se manifesta de uma maneira espetacular, através de grandes revelações religiosas que podem decepcionar causando ilusões. No Evangelho de hoje Jesus se posta diante de Pilatos de uma maneira bem humana e se situa maravilhosamente perante o dominador e se mostra senhor da situação. Deus reina na história quando os cristãos se mostram verdadeiramente cônscios de sua função nesse mundo e por toda a parte. Grande a responsabilidade do batizado por mostrar a força intrínseca do reino de Jesus, interferindo em sua vida e se irradiando no meio em que este cristão vive. Entretanto, cumpre sempre atribuir às luzes divinas, às graças do alto todo o bem que se faça dentro do reino de Jesus. São apelos, dons do Espírito Santo que levam a cumprir as obrigações de cristão. Nunca se deve esquecer o ensinamento de Cristo Rei: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5.A união coo este Rei  é necessária para o crescimento de seu reino neste mundo, pois somente assim   pelo vínculo da fé  e da graça, a  o  ração do fiel  se torna eficaz, porque  prece do súdito  unido ao seu soberano. Ele é, de fato, a verdade e a força que o mundo governa e a terra ilumina. Ao corpo dá saúde e paz ao coração. Com certeza absoluta Ele deve ser para os que propagam seu reino refúgio, abrigo e rochedo e quem é reto andará sempre na justiça.  Quem fielmente segue a Cristo Rei se torna para todos os que o veem um exemplo, do pobre se faz alívio, aos cegos oferece a luz, pois se faz tudo para todos.  Cristo Rei  aos santos dá nos céus o prêmio com sua glória os coroando. Felizes os que colocam seus passos nos passos deste Rei que a seus súditos cerca de carinho e compaixão, de bens saciando sua vida. Esse Rei é indulgente, favorável, paciente, bondoso e compassivo. Cristo pôs o seu trono lá nos céus e abrange o mundo inteiro seu reinado. Professor no Seminário de Maidana durante 40 anos.

 

 

 

 

 

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

 

FIM DO MUNDO E A VINDA DE CRISTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

         Neste domingo, penúltimo do Ano Litúrgico, o Evangelho de São Marcos, nos leva a meditar sobre o fim do mundo e a nova vinda de Cristo (Mar 13,24-32). Em todo capítulo 13 os discípulos são admoestados sobre o que infalivelmente acontecerá no fim dos tempos, não são somente as inevitáveis catástrofes que atingirão todo o mundo, mas, sobretudo, as perseguições que não deixarão de atingir os discípulos de Jesus, que terão que sofrer por causa de seu nome. No texto de hoje Jesus emprega uma linguagem especial, até mesmo estranha, para anunciar sua nova vinda. Esta linguagem já era empregada no Antigo Testamento, inclusive pelos profetas. Os doía primeiros versículos remetem ao que o Criador fez no quarto dia da criação (Gn 1,14-19), sol, lua e estrelas servindo para marcar os dias e os anos, e sua descrição indica o fim dos tempos, o termo da criação. Tais são os sinais da vinda do “Dia do Senhor”, isto é, do Grande dia de Deus como haviam anunciado os profetas (Is 13,10: Jer.10-11), A vinda do Filho do homem é predita no Antigo Testamento pelo profeta Daniel (Dn 7,113-14). O poder e a glória do Filho do homem, quando    Ele virá sobre as nuvens do céu, Ele a luz verdadeira, único luz definitiva. Os discípulos se alegrarão, os primeiros entre os eleitos de Deus a serem reunidos pelo Redentor, seu Senhor, vindo com grande poder e glória, mas antes deverão sofrer a perseguição por causa do nome de Jesus Os anjos serão os servidores do Filho do homem pela sua semelhança maior com os eleitos. A expressão “da extremidade da terra até à extremidade do céu” (v  l3,27), mostra bem que a glória com a qual o Filho do homem será revestido, o poder que Ele exercerá se estenderá sobre a terra como também, no céu no conjunto da criação. Quando isto vai acontecer, chegará tanto para os ouvintes de Jesus, seus discípulos, e também para os ouvintes de hoje, ou seja, para os que estiverem vivos. Ninguém sabe nem o dia nem a hora, só Deus o sabe. O certo é que todos morreremos, mas ninguém pode prever quando isto se dará. Portanto, é preciso velar para estarmos preparados, quando Deus assim o determinar, ou seja, estar dispostos para lhe abrir a entrada, assim que Ele bater à porta. Cumpre então viver na condição de quem está atento, numa postura de quem se acha à espera de seu Senhor na mais viva esperança. Não se deve entregar a uma vã inquietude, mas, isto sim, se abandonar nas mãos do Pai no que concerne o dia e a hora da vinda do Filho do homem (v. 23,13,32). O abandono ao Pai é o outro nome da fé. O Pai, o Filho e o Espirito Santo estão presentes e agindo no mundo e na história. Jesus inaugura o tempo de seus seguidores, de todos os seus discípulos. A eles Ele pede bem considerar a existência própria. O que dá sentido para quem se diz cristão é a relação profunda com o divino Redentor e não a sua situação no mundo que se torna algo exterior. Nisto consiste a conversão, ou seja, viver em função de Jesus e não de acordo com as injunções exteriores. Em todos os tempos o que deveria prevalecer é a Palavra de Jesus sobre o mundo algo externo no qual se vive a expectativa das promessas do Filho do homem e em virtude desta perspectiva tudo mais se torna então secundário. Jesus morreria na cruz e ressuscitaria, iria para junto do Pai, mas voltaria oferecendo a salvação a todos que vivessem a sua Palavra e isto se torna um grande presente de Deus que é preciso receber com amor. Donde ser necessário estar de fato atentos porque não se sabe nem o dia nem a hora da vinda de Jesus. Portanto, Jesus nos interpela sobre a realidade de nossa fé, de nossa união com Ele, e nos convida, desde agora, a nos preparar para o reencontro com Ele depois de deixarmos este mundo. Por isto se deve viver cada dia como se fora o último Isto significa que o cristão deve estar sempre preparado para em qualquer momento em que o Pai o chamar ele esteja em situação de comparecer ante o tribunal divino. Trata-se do estado de alerta no qual deve viver o autêntico discípulo de Cristo. É certo que nossa visão com relação à vinda definitiva do Filho do homem é feita muitas vezes de um certo temor, pois nem sempre pensamos nestas realidades. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

 

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

Côn. Jose Geraldo Vidigal de Carvalho*

A solenidade de Todos os Santos é uma etapa do ano litúrgico que pode induzir os incautos a um erro, ou seja, festejar o mistério celebrado, olhando unicamente para o céu. A tentação é forte de prestar atenção somente aos Santos que se acham no paraíso junto de Deus. Eles, de fato, são os frutos mais preciosos e maduros da árvore da perfeição espiritual. Atraem uma admiração abismada, mas que pode impedir vislumbrar a santidade e o engajamento na vida cotidiana dos santos que ainda labutam no cotidiano deste mundo terrestre. Entretanto o Evangelho nos orienta de maneira decisiva em outra direção e deve nos levar a evitar este erro (Mt 5,1-12). São Mateus na narrativa das bem-aventuranças   indica o caminho a seguir na vida para poder recolher os frutos da adesão integral na vivência do dia a dia nesta terra. A colheita será abundante se hoje somos efetivamente pobres em espírito, se temos fome e sede de justiça, se somos misericordiosos, tendo uma vida inteira pura, se construímos a paz. Além disto, se suportamos as injúria, as perseguições e os falsos testemunhos por causa da justiça, quando somos provados durante o nosso caminhar terreno. Aí está uma descrição viva da santidade como convém aos que se comportam como filhos de Deus que um dia gozarão dele por toda a eternidade   Trata-se de trilhar um caminho da perfeição cristã, no esforço cotidiano se tornar semelhantes ao Pai que está lá no céu. É a vivência completa da nossa vocação batismal. Dois os pilares a sustentarem este edifício da vocação à santidade: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O viver de quem foi batizado deve ser um caminho de uma conversão contínua, como aconteceu, por exemplo, com Santo Agostinho depois de sua mudança radical de atitude perante Deus. A vida cristã parte sempre de um chamado divino, de um encontro com a verdade de Cristo como aconteceu com Pedro e André às margens do mar da Galileia, ocasião em que estavam ocupados em suas atividades de pescadores. Eles souberam abandonar uma existência feita de fatos de cada hora para seguir a Verdade e se tornarem pescadores de homens, pregoeiros corajosos de uma Palavra capaz de transformar o mais íntimo do ser humano, tanto o coração dos sábios como o das pessoas simples e dos pequenos, uma Palavra salvadora para todos. A solenidade de Todos os Santos nos interroga antes de tudo sobre nossa vocação, sobre nossa capacidade de renunciar a nós mesmos, às nossas falsas seguranças e mesmo à ideia que nós fazemos daquilo que   é ser santo. Como Pedro e André, como tantos outros na milenar história da Igreja, devemos pedir sempre a Deus a coragem de saber abandonar os numerosos entraves da vida que a aprisionam nossa vocação para a santidade, a saber, as barreiras que se opõem às sábias exigências do Evangelho, como o egoísmo, o individualismo que limitam nossa real participação ativa no crescimento da comunidade na qual estamos inseridos, o terrível empecilho da guerra conosco mesmos e com os outros. Isto destrói as relações sinceras com o próximo. Adite-se a preguiça que nos impede de colocar à disposição dos outros nosso tempo e nossos talentos. Todos estes obstáculos anulam o espírito das beatitudes e são empecilhos na caminhada da santidade Além disto, por exemplo, a imagem bíblica de São Pedro na prisão deve levar a refletir nas consequências da disponibilidade até o sacrifício pessoal para seguir a Verdade como vemos também em tantos lances da existência dos outros santos. Antes da Paixão e Ressurreição de Jesus, Pedro era tímido, temeroso e mesmo sujeito a falhas clamorosas. Depois, porém, de receber o dom do Espírito de Pentecostes Ele se fez testemunha intrépida de uma liberdade particular, aquela lhe foi comunicada por Cristo, ou seja, liberdade com relação a lutar contra o pecado e o mal. Paradoxalmente o anúncio desta liberdade levou Pedro e Paulo para a prisão.  Em nossos dias aquele que tem a coragem demonstrada por estes Apóstolos e os demais santos através dos tempos, destemor para anunciar a liberdade das beatitudes, liberdade diante da hipocrisia, da ira, da injustiça social, do enriquecimento egoísta, são marginalizados, condenados e, até perseguidos. A estes é imposto silêncio por uma sociedade corrupta e pelos interesses mesquinhos dos homens perversos. No entanto, é a luta pela liberdade de ação que devemos proclamar, se bem compreendemos as beatitudes. Nenhuma injunção humana deve colocar um limite no caminho da perfeição cristã, pois o amor a Deus e ao próximo precisa ser total e desinteressado. Não se deve, porém se deixar iludir uma vez que o caminho da santidade não é fácil. A luta é empregando as armas oferecidas pelas bem aventuranças. Para nós, portanto, ser santo deve significar vencer graças ao poder extraordinário da Palavra de Jesus, * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

 

AMAR A DEUS E AMAR O PROXIMO.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*  

No tempo de Jesus algumas pessoas mais esclarecidas em sua fé procuravam estabelecer uma hierarquia entre as múltiplas obrigações da Lei. Daí de um deles perguntou a Jesus “Qual o primeiro de todos os mandamentos?” (Mc 12, 28-34)  O  Mestre divino respondeu inicialmente citando o Deuteronômio (6,5) um belo texto que todos sabiam de cor, porque já no tempo de Jesus todos os judeus deviam recitá-lo ao menos duas vezes por dia: “Escuta Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único. Tu amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu pensamento e de toda tua energia”’. Para nós ocidentais hodiernos o coração serve sobretudo para amar, para um hebreu o coração tem também sua parte na atividade intelectual Deus dai-me um coração para compreender (Dt 29,3). Para os judeus do tempo de Jesus, o coração era às vezes consciência e memória, intuição e força moral. No coração ressoam todas as afeiçoes, mas é também no coração que as impressões e as ideias se transformam em decisões e em projetos. É sobretudo no coração que se enraízam a postura de quem crê e a fidelidade sincera a Deus, Assim sendo o coração no sentido bíblico, é assim o homem inteiro interior e lugar privilegiado da manifestação da fé. Deste modo, “Tu amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração” significa que toda a pessoa humana será mobilizada pelo amor de Deus, tendendo para Deus com o melhor de si mesmo. Jesus, contudo, ajuntou imediatamente, citando desta vez o Levítico (19,18): “Tu amarás o teu próximo como a ti mesmo” É o segundo mandamento sempre inseparável do primeiro e, entretanto, sempre distinto. Isto porque o amor do próximo não pode tomar o lugar do amor para com Deus, ou seja, o próximo não deve substituir Deus. Entretanto, os dois mandamentos são semelhantes porque o amor do próximo, como o amor por Deus devem mobilizar toda a pessoa e todas suas energias. Não se pode verdadeiramente se aproximar de Deus sem começar a amar tudo o que Deus ama. Mais se está perto de Deus, mais se torna próximo dos outros filhos de Deus. Santa Terezinha do Menino Jesus dizia que a caridade é tudo nesta terra e alguém é santo na medida em que ela é praticada. O escriba que interrogara Jesus responde então a Ele que o que Ele disserta era a pura verdade. Cristo vendo que seu interlocutor havia entendido perfeitamente o ensinamento lhe diz: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. Note-se que Jesus assevera que este escriba não está longe o que significa que ele ainda não praticava totalmente o que lhe fora falado, isto é, que cada um de nós deve se examinar para diagnosticar se vive na prática, em plenitude, o amor a Deus e ao próximo. Não basta proclamar que é verdade o que jorrou dos lábios de Cristo, querer dar um sentido à própria vida, ao seu trabalho, aos seus sofrimentos, enfrentando o turbilhão dos acontecimentos diários, mas é preciso ainda tudo fazer e aceitar com muito amor no coração, tudo fazendo para a glória de Deus e bem do próximo. Nada de se deixar levar pela engrenagem da rotina, pelas relações superficiais para com o Criador e suas criaturas. A fé em Deus deve nos conduzir à observância de seus mandamentos. Jesus leva a seu termo a plenitude da lei. Ele ama o Pai como Deus verdadeiro, nascido do Deus verdadeiro e, enquanto Verbo feito homem, Ele criou uma nova humanidade de Filho de Deus, irmãos que se amam sem restrições. O apelo de Jesus nos atrai para o amor de Deus invisível e humanamente inacessível e, ao mesmo tempo, é um caminho para nos permitir reconhecer o amor na vida na relação com os irmãos visíveis e presentes a nosso lado. Nossa união com Cristo, união de conhecimento e de amor, insuflado pelo Espírito Santo, deve nos levar ao cumprimento cabal dos deveres a Deus e a todos os seus filhos. Não basta conhecer os principais preceitos de Lei do Senhor, mas é preciso continuar sempre a avançar por transformar estes preceitos em realidade, pois a adesão plena a Deus se manifesta no caminho da vida de cada um. O perigo é se deixar levar pelos apelos mudamos que são sutis. Ídolos escondidos na própria personalidade, na maneira de viver, Eles devem ser procurados e destruídos São Tiago alertou sobre o amor pelas coisas do mundo hostil à vontade de Deus, pois quem ama as coisas do mundo é inimigo de Deus (Tiago 4,4).  Portanto, amar a Deus e ao próximo fielmente, sinceramente, constantemente! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

terça-feira, 12 de outubro de 2021

 

VAI, TUA FÉ TE CUROU

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus, antes de iniciar sua viagem para Jerusalém, atravessou Jericó, situada no vale do Jordão. Saiu desta cidade acompanhado de uma multidão, pois inúmeros peregrinos iam como Ele para a Páscoa na cidade Santa. Eis aí o momento preciso no qual São Marcos situa o famoso episódio do cego Bar Timeu (Mc 10,46-52). Podemos analisar o que se passou examinando os fatos do ponto de vista da multidão, depois do ponto de vista de Jesus e, em terceiro lugar, segundo a visão de Bar Timeu, para depois fazermos total aplicação em nossa vida cristã. Para os circunstantes Bar Timeu era um sofredor, não somente um dependentes dos outros para suas longas caminhadas, pois como outros mendigos ele se punha a gritar, naturalmente incomodando a todos. Na nossa peregrinação nesse mundo quantos homens e mulheres, jovens e crianças estão à beira do nosso caminho estendendo as mãos pedindo um pouco de ajuda, de amizade, um olhar, um momento de diálogo, mas que são até impedidos de clamar e lamentar sua sorte numa sociedade de egoístas! Para Jesus a presença do cego Bar Timeu, porém vai ser a ocasião de contestar o egoísmo dos que pouco caso faziam daquele mendigo. Jesus pela sua atitude mostrará que no meio do povo é Ele quem dá exemplo de compaixão. Não obstante o alarido escuta a voz de Bar Timeu e chama à parte aquele mesmo que a multidão despreza, e querem calar, Aos olhos de Jesus ele será um privilegiado de seu amor. Jesus como de hábito se mostra um educador. Ele dá então o exemplo de uma caridade ativa, pois sem repreender aqueles que passam ignorando o cego, sem lhe dar a mínima atenção, diz simplesmente: “Chamai-o”. Os circunstantes se tornam assim os transmissores da caridade de Cristo. Quanto ao cego é sua fé que vai também ser educada. O Mestre, assim que ele chega, pergunta-lhe: “Que queres que eu te faça?” Pode parecer evidente o que ele desejava. Jesus, porém, sabia a importância das palavras para aquele homem. Bar Timeu nada podia captar nos olhos de Cristo, por isto se devia estabelecer uma comunicação entre eles. Jesus queria também dar ocasião para uma manifestação explicita de confiança: “Meu Mestre que eu volte a enxergar”. Através dos tempos quantos cegos se aproximam de Jesus mas que deveriam se postar diante dele como o cego Bar Timeu. Este ao ouvir falar que era Jesus quem passava não perde a oportunidade de Lhe solicitar o grande milagre. Era aquela a grande chance de sua vida! Já dizia um grande santo: “Temo a Jesus que passa e que pode não voltar”! Aquele doente não titubeara, pois, ao saber que Jesus o chamava, levantara-se de um salto e, jogando fora o seu manto, foi correndo até o poderoso Senhor. Tenhamos sempre a mesma atitude expondo sinceramente a Cristo nossas dificuldades, para poder sentir o seu poder divino para si, os familiares e demais amigos. Seja qual for a dificuldade Cristo tem solução para tudo. Jesus ensinará sofrer com a Igreja, pela Igreja, para a Igreja e a salvação do mundo. É preciso, contudo, depois se colocar no seguimento fervoroso do Mestre divino. Não julgar, sem razão, um marginal qualquer pessoa que de nós se aproximar, não sendo nunca um osbstáculo à graça de Deus na vida dos que nos cercam. Saibamos também levar outros cegos até o poderoso Redentor. Ele o Senhor, o Deus vivo quer sempre curar de tudo que nos separa dele, de tudo que nos cega e não deixa que vejamos a beleza da vida de Deus que está em nós. Com Bar Timeu somos chamados a clamar com força e com convicção a quem pode, realmente, salvar. Portanto, Ir sempre a Jesus com um profundo elã de confiança em busca de tesouros espirituais. Pedir também saúde do corpo para melhor servir o próximo no que lhe for preciso. Perceber que cumpre sempre detestar o pecado convictos de que há necessidade da cura dos olhos do coração, cura de toda cegueira espiritual. Assim cada um será o verdadeiro testemunho do poder do Salvador. Então a vida de cada um terá uma dimensão maravilhosa. Uma vivência em tudo segundo o ensinamento de Jesus e não conforme os ditames do mundo. Olhar o coração misericordioso de Jesus, invocando-o de uma maneira positiva num contato vivo com o Senhor, dizendo-Lhe “Jesus ajuda-me” e isto com aquela fé que demonstrou Bar Timeu. Procuremos valorizar o dom da fé. Foi essa fé de Bar Timeu que permitiu a Cristo cura-lo.  Jesus foi claro: “Vai, tua fé te salvou”. Cumpre se lembrar sempre que a fé do cristão não é algo que se pode adquirir ou ganhar pelo exercício da própria vontade ou dos próprios esforços. É, de fato, uma dádiva que se adquire através da prece humilde e constante. Recebida no batismo esta graça deve crescer continuamente e daí a prece “Senhor, aumenta a minha fé”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

terça-feira, 28 de setembro de 2021

 

 

QUEM QUISER SER O PRIMEIRO, SEJA SUBMISSO A TODOS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Indiscreto o pedido que os filhos de Zebedeu, Tiago e João, fizeram a Jesus, uma solicitação especial, em particular, reservada, pois os dois irmãos temiam expressá-la claramente (Mc 10,35-45). O Mestre, contudo, os obrigaria a falar detalhadamente. Eles queriam estar a sua direita e a sua esquerda na glória vindoura, no esplendor de seu Reino. Pedido surpreendente! Eram eles os que foram entre os primeiros chamados, mas não tinham ainda compreendido o projeto salvífico de Cristo.  Eles pensavam que Jesus ia organizar um governo terrestre e já tratavam de garantir os melhores lugares, postos honoríficos no novo reino. No entanto, Jesus pela terceira vez, enfaticamente, havia predito sua paixão e morte: “O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens que o hão de matar, mas três dias depois de morto ressuscitará” (Mc 9,31) Não obstante, seus discípulos discutiam uma questão de preeminência! Jesus, contudo, mais uma vez com toda paciência vai lhes explicar a realidade de sua missão neste mundo. Interroga-os se eles beberiam do seu cálice ou se receberiam o batismo com o qual Ele é batizado. O cálice para aqueles homens que liam os Profetas não era apenas o símbolo dos sofrimentos, cálice amargo, mas o cálice de vertigem merecido pelo povo pecador, este cálice seria o próprio Jesus quem o beberia. No entanto, Jesus deixa claro que os apóstolos participariam de sua paixão, de seus sofrimentos, mas o sentar-se à sua direita ou esquerda era para aqueles para os quais tais lugares foram preparados. Aqueles discípulos, porém, ante a morte violenta, injusta, revoltante do Mestre parece que deixavam de lado os padecimentos, porque o senso do poder, da glória   daquele que eles seguiam para eles era mais importante e que, no serviço de Jesus, há bons lugares para conquistar e poder, posses, como recompensa. Pedagogo admirável Jesus, contudo, se serve deste episódio para, como educador da fé, calmamente, lançar lição que abrange o futuro e depois o presente. Para o que virá, de fato, os dois irmãos o seguirão nas veredas das tribulações até a morte como todos os seus discípulos quando forem chamados para a outra vida. Todos devem um dia morrer, mas a diferença dos que creem é que eles vão até o fim seguindo o Ressuscitado. Quanto ao presente qualquer recompensa só Deus o sabe e Jesus lança uma sentença definitiva: “Quem quiser ser o primeiro seja submisso a todos”. Os verdadeiros primeiros lugares não são aqueles que humanamente se imagina, mas esses se encontram no serviço do próximo, no dia a dia de cada um. Desejar o que é o melhor para nós, nossos parentes e amigos não é um mal em si, mas cumpre fazer tudo que se puder no cumprimento de nossas obrigações e de uma ajuda contínua aos outros, nunca querendo ser superiores a quem quer que seja. Querer triunfar na vida não é um mal, o erro seria desejar sobrepujar os outros. Desejar ir para o céu é um salutar anelo, errado seria viver em função dos valores do mundo, criando a ilusão de ser autêntico cristão. Jesus deixou claro para os apóstolos que os carismas o Pai é quem os dá a quem Ele quiser, mas é preciso saber aceitar a cruz, ou seja, ir até o fim no serviço aos outros e no esquecimento de si mesmo. Não há fé sem provações, vida cristã interior sem o desapego dos próprios interesses, É preciso se lembrar sempre do que disse Jesus: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos “. A prática constante da prece, a frequência aos sacramentos, sobretudo da confissão e da Eucaristia, aumentam o amor a Deus e impedem querer ser superior aos outros. Jesus foi o servo do Pai e, como tal, Ele constantemente prestou atenção às necessidades de quantos o seguiam. Ele intentava inculcar a Tiago e João esta realidade de se preocupar antes de tudo com os sacrifícios que o trabalho apostólico exigiria, deixando o julgamento nas mãos do Pai. Seus autênticos discípulos deveriam ser capazes de estarem unidos à cruz de todos os dias por amor, com um sorriso nos lábios. Cruz que se manifesta nos hábitos de um quotidiano voltado para o bem do próximo, na fadiga dos trabalhos apostólicos, nas dificuldades que a implantação do reino de Deus exige. Estar submisso a tudo isto sem nada querer exigir de Deus. O esforço para tentar se identificar com Cristo exige muita abnegação. Eis porque São João Paulo II explicava que a submissão de Jesus atingiu o seu ápice na sua morte na cruz, ou seja, no dom total de si mesmo. No entanto, Tiago e João estavam mais preocupados em glórias advindas de seu ministério e não no significado profundo de um ardoroso apostolado. Restava-lhes ainda um longo caminho num serviço constante a todos sem distinções de ricos ou pobres, cultos ou ignorantes, jovens ou idosos para a implantação do reino de Deus. Jesus estaria ensinando a Tiago e João, aos demais apóstolos e a todos que quisessem ser seus autênticos pregadores do Evangelho um apego salutar à cruz de cada dia, deixando tudo nas mãos do Pai e não na dependência de uma gratificação pessoal. * Professor no Seminário de Mariana durnte 40 anos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

 

QUE SE DEVE FAZER PARA ENTRAR NA VIDA ETERNA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Entre aqueles que abordaram Jesus enquanto Ele ia pelo caminho, de repente, surge um homem que, de joelhos, se pôs diante dele.  Estava agitado   Certamente iria solicitar a cura de algum doente ou   outro favor estupendo como os muitos que Cristo já fizera. Nada disto!  Ao Mestre divino aquele homem apresentava, inesperadamente, uma questão, em si, de grande importância: “Que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc 10,17-30) De plano, poderíamos pensar que Ele estava psicologicamente abalado, pois quem se julga equilibrado emocionalmente não tem necessidade de pensar com agitação numa vida eterna. Ou quem sabe se tratasse de alguém que tendo tudo para viver podia se dar ao luxo de sonhar com uma outra vida além túmulo. Entretanto, na verdade, estas explicações não passariam de um esclarecimento forjado. É preciso entender a questão apresentada como partindo de alguém realista, ou seja, tratava-se de alguém que, desde agora, queria um caminho seguro para atravessar com total êxito a morte, alguém que desejava com as coisas que passam construir desde já algo definitivo. Se penetramos a fundo no problema suscitado, passamos a perceber que, de fato, temos precisão de refletir em salvaguardar com boas ações o que virá após a morte e que vai durar para sempre.  A maturidade espiritual deve ser uma preocupação constante de quem crê na vida eterna, pois não sabemos nem o dia nem a hora em que deixaremos este mundo. Neste caso a questão então apresentada merece toda atenção. Um balanço no nosso trabalho apostólico, no cumprimento dos deveres de cada hora, o bom aproveitamento do tempo de vida que Deus vai concedendo a cada um. Jesus deixou uma orientação preciosa: observar os mandamentos, fazendo sempre o que agrada a Deus, o que é bom e digno de quem recebeu o batismo e vive imerso nas graças divinas Aquele homem de joelhos diante de Jesus pôde afirmar que praticava o que era do agrado de Deus, o que era bom e perfeito e isto desde sua juventude. Programa que, aliás, qualquer batizado deve seguir em todos os instantes de sua vida. Àquele que assim já procedia Jesus propõe algo mais além de sua fidelidade, uma nova sabedoria cristã, indo além do afeto às coisas terrenas, indo além do poder e da vontade de possuir o que é deste mundo, ou seja, um total desapego de tudo o que é desta terra, um apego somente ao que é sobrenatural e isto por amor inabalável e exclusivo do Divino Mestre e dos bens celestiais. Quem bem examina sua vida certamente deparará algo que ainda não é inteiramente de Deus. Isto, porém, ocorreu na existência de tantos santos que souberam explorar com discernimento o desapego de que falou Jesus a seu interlocutor. Não é fácil atingir o cume da perfeição cristã num seguimento radical do sábio Mestre. A todos, porém, cumpre examinar sempre como se tem observado o decálogo, constante inteiramente em professar as inspirações do Espírito Santo, sabedor de que quem não é   fiel no pouco não o será também no que Deus pedir a mais na trajetória rumo à vida eterna. Lealdade completa às diretrizes da Igreja, aos ensinamentos do Papa, longe das enganosas evidências de tudo que é hostil aos desígnios de Deus. Cristo completou seu ensinamento perante os apóstolos dizendo que condenável é, contudo, o endeusamento das riquezas deste mundo. É preciso todo cuidado em viver as Bem-aventuranças com corações voltados para a eternidade.   É preciso não se deixar absorver por algo terreno que comprometa a entrada no reino celeste. Seja como for, o principal é estar desligado afetivamente dos bens materiais para poder dizer na verdade que se é seguidor de Jesus. Este espera uma total renúncia daquilo que é terreno, passageiro, ilusório. Saibamos sempre fazer ecoar no fundo de nosso coração os apelos de Cristo. O personagem do Evangelho de hoje foi embora triste, exatamente por causa de seu apego a sua riqueza. É preciso dar sempre o primeiro lugar a Jesus e estar disposto a lhe oferecer sinceramente tudo que Ele pedir, a entregar a Ele sem reserva o que somos ou possuímos. Ultrapassar sempre uma visão limitada da fé, pois esta supõe uma adesão do ser humano a Deus, indo além do conformismo que impera na mente de tantos cristãos incapazes de dar um passo a mais na caminhada para a vida eterna, crescendo sempre na dileção a Deus. Deus quer não apenas um espírito sincero, mas também uma alma generosa aberta à grande afeição de seu Coração e a suas exigências profundas e radicais. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

 

A UNIDADE E A FIDELIDADE DOS CÔNJUGES CRISTÂOS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus deixou clara e categórica a exigência cristã da unidade e da fidelidade dos esposos cristãos (Mc 10,2-16)   Esta clareza e taxatividade devem tanto mais ser ressaltadas quando se considera o contexto atual. Com efeito, para muitos é chocante as palavras do Mestre divino: “Todo o que repudiar sua mulher e casa com outra comete adultério contra ela: e se uma mulher repudia o seu marido e casa com outra, comete adultério”, Ele aliás alertou: “não separe o homem o que Deus uniu”. Não obstante o grande número de casais que vivem santamente, o sacramento do matrimônio, é público e notório que há casais que se separaram, que se divorciara e inúmeras são as feridas nas consciências de muitos cristãos e como sofrem os filhos cujos pais romperam os laços matrimonias legítimo! É óbvio que estas pessoas devem ser ajudadas na medida do possível, mas sem deturpar o que Jesus abertamente ensinou. Um meio valiosíssimo para preservar a unidade e a fidelidade dos cônjuges cristãos é a preparação eficiente para recepção do sacramente do matrimônio. Aqueles que já convolaram núpcias, mas se encontram com problemas familiares devem procurar soluções justas para firmar e reafirmar sua relação conjugal, imitando aqueles que anos e anos veem mantendo a união prometida no dia do casamento. Para viver plenamente o que Jesus ensinou sobre a unidade e fidelidade matrimonial é preciso força espiritual, preces ardentes dentro e fora do lar. Esta dimensão religiosa se baseia também no que Cristo asseverou dizendo que pelo matrimônio os batizados não são dois, mas uma só carne e sua ordem expressa foi esta: “Não separe, portanto, o homem do que Deus uniu” Isto mostra como o homem e a mulher, pelo casamento, deverão estar bem de acordo entre eles em tudo e sempre. Foi Deus que os uniu. É Deus que lhe dará luz e força para permanecerem unidos. Trata-se de um engajamento total neste tripé sagrado: unidade, fidelidade e fecundidade. Isto é possível quando há o esforço sincero de transformar o amor mútuo no amor mesmo de Deus. Este Deus que é amor é verdadeiramente único, fiel e fecundo. Deste modo maravilhosamente fica sublimado a dileção sincera o que os cônjuges manifestam um ao outro. Eis aí o que quer expressar o que Jesus disse ao falar em “o que Deus uniu”.   Refletir sobre isto é importante, porque o amor humano é limitado se ele é deixado a si mesmo sem esta força sobrenatural sem a presença do Deus Todo Poderoso. O homem e a mulher precisam muitas vezes se ultrapassar a si mesmos  e até mesmo em algumas circunstâncias serem heróis, mas com a graça divina é possível manter a unidade e fidelidade prometidas ao receber o santo sacramento do matrimônio. O Espírito Santo presente no coração dos cônjuges transforma o amor humano que é limitado no amor imenso do Ser Supremo. É este Espírito divino que dá a verdadeira dimensão do amor que deve reinar entre os batizados  unidos pelo sacramento do matrimônio e imersos nesse oceano infinito do amor divino. Há então a percepção da fortaleza interior ofertada pela graça divina que é mais potente do que as forças humanas. Torna-se assim possível praticar em plenitude o amor conjugal. Na escola de Jesus se aprende a dialogar, a perdoar sempre, a sacrificar um pelo outro a própria vida. Deste modo, as infidelidades devidas às fraquezas humana são superadas porque   sólido é o fundamento que uniu dois corações através do sacramento do matrimônio. O projeto de Deus há de sempre prevalecer não obstante as fraquezas humanas e, por vezes o endurecimento das mentes que se deixam dominar   pelos males que afligem os incautos.  O liame que deve unir os cônjuges é objeto de ataques de rara violêncis em nossos dias e se multiplicam em certos países os processos atinentes ao divórcio, afetando, portanto, o plano estabelecido pelo Criador. Deve-se sempre lembrar que
Deus não pode nem se enganar, nem enganar os homens e, assim sendo, a unidade e a fidelidade conjugais são imprescindíveis para a felicidade no lar. O que Deus estabeleceu deve ser aceito em sua globalidade e em todas as suas dimensões. Eis porque a presença do Ser Supremo é fundamental para a vivência cristã dos que contraíram o matrimônio.   Deus deve ser colocado no centro do amor conjugal. São três vontades que devem interagir:  a do homem, a da mulher e a de Deus. É esta presença do Todo Poderosa Senhor no seio da família que une duravelmente os corações.  Eis por que a oração é imprescindível para a durabilidade do amor conjugal e o que Deus uniu o homem não separará! *`Professor no Seminário de Mariana durante 40 aos.      

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

 

QUEM NÃO É CONTRANÓS ESTÁ A NOSSO FAVOR

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Uma lição de compreensão, bem longe de qualquer intransigência, deu Jesus a seus discípulos, quando   João, um dos doze, lhe disse: “Mestre, vimos um homem que em teu nome estava expulsando demônios e procuramos impedi-lo, pois afinal ele não era um dos nossos” (Mc 9, 28 e ss).  Quem assim falava era o discípulo que Jesus amava, um dos mais próximos do Mestre divino, que estava admirado pelo fato de que alguém, que não fazia parte dos Doze, pudesse fazer prodígios em nome de Cristo.   Isto manifestou que positivamente os apóstolos ainda se mostravam bem humanos, envoltos em ciúmes, mesquinharias. Jesus acabara de anunciar sua Paixão na qual Ele se faria o “último dos servidores”, desejando que seus seguidores estivessem sempre em estado de serviço e a não procurar os primeiros lugares. A reação de João, um dos melhores discípulos seus, refletia postura de dominação, vontade de poder, um anseio de ter um monopólio. Ele queria, com os outros Onze, ter apenas para eles o poder que o Mestre possuía. Era um claro sectarismo de grupo. Muitas vezes através dos tempos sob a aparência de defender o bem comum da comunidade a que se pertence, há, na verdade, no fundo, é a defesa dos próprios interesses.  Todo cuidado é pouco porque ao proteger vantagens adquiridas, muitos impedem a outros de agir fazendo o bem, quando na verdade o que se teme é que outros surjam como sombras no campo do apostolado. Não se pode impor um modo de servir Jesus, como sendo a única maneira de viver o Evangelho, desde que corretamente alguém esteja agindo de acordo com o que está na Bíblia e invoca corretamente o nome do Divino Redentor em nada violando a doutrina da Igreja. Isto pode ocorrer muitas vezes, por exemplo, com grupos bem intencionados de cristãos que se reúnem para rezar em nome do Senhor, para meditar a Palavra divina, para encontrar caminhos de uma melhor prática do Evangelho. Não se devem criar estruturas que impeçam se irradie a ação do Espírito Santo, mas cumpre incentivar o bem seja aonde for, quando nada de errado está sendo transmitido. Jesus mesmo deixou patente que ninguém que difunde a verdade, depois venha a contradizer esta verdade, falando mal dele (v, 39). É uma questão de bom senso, sob as luzes do Espírito Santo, saber bem avaliar o modo de agir dos outros que bem orientados podem chegar posteriormente a uma descoberta mais explícita de Cristo. Vale sempre o que Jesus afirmou: “Quem não é contra nós está a nosso favor”. Toda boa ação pode ser, de fato, o início que conduz à comprovação de uma entrega total a Deus. É certo que toda boa ação nunca fica sem recompensa. Muitos, às vezes, colocam inconscientemente uma barragem à ação de Deus. O principal é seguir a Jesus e não a uma determinada ideologia. A obra de Cristo se manifesta sempre, porém, por uma conversão de vida, levando a alma ao caminho da adesão àquilo que Jesus ensinou. A aceitação sincera do divino Redentor impede o mero endeusamento institucional. A mensagem evangélica vai além de meras expressões culturais por aprofundar a fé na Palavra que salva. Isto vem de uma penetração profunda na obra redentora do Filho de Deus patenteada vibrantemente no serviço ao próximo, pois Jesus foi claro ao dizer que Ele viera a este mundo para servir e não para ser servido. Quem o imita faz com que a mensagem evangélica, acima das expressões culturais, aprofunde fé na Palavra salvadora. Deste modo o anúncio do nome de Jesus é proclamado por alguém que exerce uma mediação humana, profética e carismática numa ação do Espírito Santo que leva sempre à unidade do amor. Ai se acha o cerne da mensagem evangélica que paira longe de critérios meramente intelectuais. O que se deve verificar é se algum falso profeta usa da palavra de Deus para atingir seus fins, para sua glória pessoal, pois estes não trabalham em nome de Jesus, mas para si mesmos e seus próprios nomes e negócios. Isto deve ser evitado.  Cumpre sempre, portanto, pedir a Deus discernimento. Jesus deixou, porém, claro o olhar que devemos ter para tratar tais pessoas. É preciso perspicácia para acolher ou recusar as mensagens difundidas através da mídia. Humildade para verificar se não há um liame comum, uma mesma fé, uma orientação que esteja inteiramente conforme a doutrina da Igreja, pois é necessário caminhar juntos para a perfeição do amor de Deus e do próximo. Jesus lançou um alerta para que se viva a vocação de Igreja, atinando com a essência das mensagens recebidas, pois, “quem não é contra nós está a nosso favor. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

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