A SAGRADA FAMÍLIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Após
o Natal celebramos no domingo subsequente em uma mesma solenidade as três pessoas
que formam a Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Nós os festejamos não cada
um por eles mesmos, mas enquanto formam esta entidade particular que é a família
humana do Filho de Deus Um trio glorioso e santo devido os prodígios da graça
operados em cada um de seus membros como pela missão a eles destinada pelos
desígnios de Deus. A Sagrada Família é um modelo para todas as famílias cristãs
que devem viver os valores da vida familiar. Note-se a disponibilidade em
acolher os planos divinos e sua atitude de serviço para realizar o que lhes
pedia a vontade do Ser Supremo. O anúncio feito a Maria e a São José, o
nascimento de Jesus e depois a fuga para o Egito e a vida oculta em Nazaré, em
todas estas etapas a Sagrada Família foi no mais alto grau uma comunidade na
qual resplandeceu uma fé admirável, comunidade de oração contínua e na qual
brilhou sempre o senso do serviço dentro de casa ou na modesta carpintaria. Nela
se contemplam, de fato, as mais peregrinas virtudes, numa abertura ininterrupta
à presença e à obra de Deus em todos os momentos de sua existência. Nossas famílias,
na medida do possível, devem ser, como a família de Nazaré, comunidades de
fervor religioso numa atitude sempre serviçal. A aceitação dos preceitos divinos
e a obediência às inspirações do Ser Supremo precisam fluir da experiência
humana de um amor sinceramente revivido que une pais e filhos. Eis aí o caminho
no qual devem estar engajadas as famílias cristãs, caminho no qual rebrilhem a
graça divina e o verdadeiro amor. O distintivo da família cristã é querer
descobrir e desenvolver o amor mesmo de Deus no seio da dileção humana
individual, conjugal e familiar. É no cotidiano de nossas vidas que a graça
divina se manifesta. Maria e José não procuraram nada de extraordinário, mas
estavam abertos à obra extraordinária do Ser Suprem. Fizeram-se deste modo um
exemplar magnífico. Mais que toda outra realidade espiritual o sacramento do matrimônio,
que fundamenta a família cristã, é o modelo do humano aberto ao divino.
Formando uma comunidade de vida e de amor, a família cristã testemunha a aliança
fiel e fecunda que nosso Deus Trindade, Deus Uno e Trino, propõe aos
homens. Vivendo isto no cotidiano, no decurso de sua existência, a
família permite a seus membros realizar o verdadeiro amor que leva a uma
santidade profunda na vivência dos valores familiares. A Sagrada Família de
Nazaré recorda todas estas verdades e mostra como a família deve ser um
santuário do amor, da vida e da fé. O amor autêntico em ato é o coração da vida
e da vocação familiar. Em Nazaré Jesus aos 12 anos crescia em sabedoria e graça
se preparando para aos 30 anos começar sua vida pública. É no lar que se amadurecem
aqueles princípios básicos que rebrilharão na vida prática. É preciso valorizar
sempre o tempo de formação à luz das orientações do pai e da mãe, sobretudo
numa época na qual impera a aceleração da história, muitos esquecidos que o
tempo de Deus não é o tempo dos homens para um amadurecimento dos princípios
que devem orientar a conduta do cristão. Notável a educação progressiva de Jesus
ministrada por José e Maria. Como diz o evangelista “Jesus progredia em
sabedoria e graça diante de Deus e diante dos homens” (Luc 2,52). O Livro do
Eclesiástico lembra que “o Senhor glorifica o pai nos seus filhos, fortifica o
direito da mãe sobre eles” (Ec 3,2). A sabedoria que Jesus recebia na casa de Nazaré
foi sem dúvida fruto também de uma profunda influência de José e Maria
com sua presença sábia e afetuosa. Hoje mais do que nunca é preciso que a
família assuma com energia a missão educadora que Deus lhe confia. Educar é
introduzir na realidade o sentido do dever e da prática de todas as virtudes.
Nunca se ressalta demais o valor dos princípios recebidos em casa, mormente num
mundo no qual s maiores absurdos morais são difundidos pelos meios de
comunicação social Jesus, enquanto homem, vivia na casa de Nazaré aprendendo
naturalmente a ser virtuoso como eram constantemente José e Maria. Nada mais
valioso do que famílias santas, pois a família é o lugar da aprendizagem do
amor e do serviços, valores essenciais para que cada ser humano possa na idade
madura irradiar os princípios morais deixados por Jesus. Nas palavras e nos
silêncios de Maria e de José que acompanhavam Jesus na sua vocação de salvador
da humanidade, se descobre a profundada de um amor que sabe estar presente numa
educação que leva à responsabilidade de um serviço dedicado ao próximo, dando
cada um o melhor de si mesmo, devido a um trabalho de conversão contínua. A
família se torna então verdadeiramente uma Igreja doméstica resplandecendo à
luz oferecida por Jesus, Maria e José. Magníficas lições que fluem das
considerações sobre a família de Nazaré! * Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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