03 ELE VOS BATIZARÁ NO ESIRITO SANTO E NO FOGO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
João Batista diz
claramente que Jesus batizaria com o Espirito Santo e com o fogo (Lc 3,16). Seu
batismo era de conversão e penitência.
Deste modo, ele coloca à luz o foco em Jesus e anuncia sua missão. Ele
era o precursor e também o anunciador
do Messias e de seu encargo redentor. Feliz João Batista que entreabre as
portas do Novo Testamento, mas ele não podia ainda ver a grandeza da Revelação
em Jesus, o qual batizaria no Espirito Santo e no fogo do amor do Pai e do
Filho, fogo que era a força e o poder deste amor. Através do Espírito Santo a
comunhão do batizado com Deus seria completa numa filiação total. Jesus batizaria
com o fogo que imergiria na dileção trinitária. Ninguém apagara este fogo que
brilharia no interior de quem recebesse o batismo de Jesus, vivendo
intensamente esta realidade. Este fogo,
alegria dos corações, daria sentido à vida do batizado, de sua missão e
tenderia a se propagar. Fogo do amor da Trindade por nós e em nós. Eis aí o que
João Batista explicou sobre o batismo de Jesus, verdades nas quais nem sempre
se reflete e das quais se deve viver. Jesus o Filho de Deus era santíssimo, sem
nenhuma mancha de pecado. Ora, o batismo de, João Batista era um batismo de
purificação. No entanto, Jesus se deixaria batizar por ele e o próprio Batista
não sabia por que motivo, dado que ele conhecia que Jesus era o Messias. É que
Jesus foi ser batizado por São Joao porque Ele representava naquele rito a
humanidade inteira, humanidade pecadora e, desse modo, mostraria sua vocação de
Messias, do enviado por Deus, caminho que O conduziria à morte na cruz e depois
à ressurreição. Portanto, não se pode
ver no batismo de Jesus com o Espírito Santo e com o fogo como um fato isolado.
É preciso vê-lo no conjunto de sua vida de sua vocação para bem O compreender.
Da mesma maneira, nosso batismo não deve ser visto como algo separado de nossa
vida, como espécie de parêntese, como um dia de festa particular. Nosso batismo
deve ser visto e vivido no conjunto de nossa vida, de nosso caminho vocacional,
isto é, fé da nossa união com Deus no cotidiano de nossa vida individual e
comunitária. Devemos, portanto, nos interrogar do que temos feito de nosso
batismo, como o temos vivido, como tem sido nossa vida de batizados, de
discípulos de Jesus. O batismo nos lavou de todos as manchas do pecado, mas com
a graça de Deus o batizado deve praticar o bem e evitar o pecado, exercendo
influência santificadora em seu derredor. Por tudo isso, é de suam importância
viver em plenitude a graça extraordinária do próprio batismo, cuja data deve
ser comemorada com suma gratidão a Deus. O ser humano se acha ferido de uma
fragilidade inata, o coração do homem, desde seu nascimento, é inclinado para o
mal mais facilmente do que para o bem. O batismo não opera magicamente e cada
um retém as sequelas do pecado original, mas o batismo oferece todas as forças
necessárias para obter a vitória sobre as más inclinações. A luta do cristão se
prolonga até sua passagem para a outra vida. Assim sendo, nunca se conscientiza
demais de que o batismo é um renascimento para uma vida nova. Uma imagem pode
nos ajudar a compreender o que quer dizer entrar na vida de Deus, ou seja a
imagem do nascimento pelo batismo. Com efeito, o cristão passa a viver não só a
vida biológica, que é frágil e limitada, mas passa viver também a vida mesma de
Deis sob o influxo do Espirito Santo. Esta nova força de vida é uma força para crer, para amar e esperar sem
limitações. Não é no dia de nossa morte que entramos na vida eterna, mas desde
o dia do nosso batismo. Pode-se falar no batismo como uma adoção, uma decisão
livre de Deus de nos considerar como seus filhos bem-amados e de nos assemelhar
a seu Filho único, Jesus Cristo, vivendo no fogo o Espírito Santo. Além disto,
o batismo nos torna membros de um mesmo corpo, a Igreja, família de todos os
que reconhecem o mesmo Deus, Uno e Trino. Irmãos e Irmãs em Jesus Cristo, os
batizados participam então de uma missão, pois o batismo não é somente crer mas
viver. Cada batizado pertence a Cristo. Por isto, ele se chama cristão e deve
ser testemunha viva desta nobreza, manifestando o amor de Deus para com todos
os homens. Trata-se dos liames da unidade que vão além dos limites da própria
Igreja, para a qual se deve atrair os que a ela não pertencem. Eis porque os
cristãos devem ser perante a face do Ser Supremo sem máculas e santos pelo fogo
de seu amor e assim a muitos arrastar pra junto de Jesus. * Professo no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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