BEM-AVENTURADA AQUELA QUE ACREDITOU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Duas mulheres se cumprimentam no limiar da
Nova Aliança: uma já idosa, a outra ainda jovem. (Luc 1,30-45). Ambas sintetizam toda história santa. Em sua
velhice Isabel representa bem o passar dos longos séculos de preparação para a
vinda do Messias e Maria em sua juventude, sem mancha e sem ruga, anuncia a
Igreja de Jesus. Elas têm em comum sua esperança e sua maternidade, mas
sobretudo fazem que esta maternidade as engajem inteiramente no plano de Deus e
as duas crianças que haveriam de nascer são filhas do impossível diante dos
homens, pois Isabel era estéril e Maria antes havia decidido ficar virgem.
Ambas demonstram que nada é impossível para Deus, não obstante a diferença
entre as duas crianças que elas em si traziam, dadas as circunstâncias que as
envolviam. Uma por milagre é o filho de Zacarias, a outra, também
miraculosamente, é o Filho de Deus. No entanto, é Maria quem saúda primeiro e
não sua prima, pois ela era a serva do Senhor que trazia o Servidor.
Entretanto, desde que o som de sua voz chega a Isabel ela sente seu filho
rejubilar seu seio. Nisto não há nada de extraordinário para uma mãe que estava
no seu sexto mês, mas o notável é que o Espírito Santo é quem faz irrupção
nela, e lhe desvela a mensagem simbólica deste movimento da criança no momento
mesmo da chagada de Maria. Isabel
exclamou em alta voz numa dupla benção: “Bendita es tu entre as mulheres e
bendito é fruto de teu ventre. Como me é
dado que venha a mim a mãe de meu Senhor’? Ela se situa no seu verdadeira lugar
diante da jovem mãe do Messias. Ela percebeu que a exultação de seu filho era consequência
da presença do Redentor esperado ansiosamente por todos, já que Maria trazia em
si o Salvador da humanidade. Tudo isto resultado do encontro invisível de duas
crianças extraordinárias. Jesus reveste sua mãe de sua dignidade de rainha,
João desperta a sua mãe ao acolhimento do mistério das obras de Deus. Estava
anunciado ao mundo que a desgraça causada por Eva estava para sempre superada e
o Espírito Santo quis que o primeiro diálogo sobre a redenção do mundo fosse
aquele de duas mulheres grávidas, imagens perfeitas da realização desta
felicidade. A nota de notável ventura que completa a saudação de Isabel: “Bem-aventurada
aquela que acreditou que que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas
da parte do Senhor”, reluz neste diálogo maravilhoso. A beatitude de Maria se
enraíza na sua fé e Jesus mesmo proclamará isto solenemente no dia em que uma
mulher na multidão elevará sua voz para lhe dizer: “Bem-aventurada a Mulher que
te trouxe e te alimentou. Cristo então responderá acentuando algo essencial:
“Tu queres dizer, a mulher que acolhe a palavra e a guarda”. Eis aí a felicidade
de todos aqueles que edificam sua vida baseada na fé nas promessas de Deus.
Todos nós temos necessidade de que a Igreja nos traga esta certeza de que haverá
uma realização plena de tudo que foi dito da parte do Senhor e Cristo, invisivelmente
está a ponto de crescer no mundo, na nossa comunidade, na nossa família e no
coração de todos os que querem se aproximar das realidades divinas prometidas.
Cristo veio, vem e virá. Veio na sua humildade, vem na sua intimidade através
da Eucaristia e virá um dia na imensidão do clarão de sua glória. Entretanto
porque a fé deve ser cultivada, porque a esperança deve rebrilhar em nossos corações,
Maria que visitou Isabel, quer vir nos visitar da parte de Deus e clama para
nós: “O Senhor está próximo!” E repetiremos inspirados nas a palavra de Isabel:
“Donde nos vem a felicidade vir até nós tantas graças através da Mãe de nosso
Senhor! Tudo isto a envolver num gaudio profundo que borbulhava no íntimo dos
corações de Isabel e Maria repercutindo nas montanhas da Judéia. Júbilo de Maria, uma mão que traz em si um
filho que é o Messias prometido e que já antes de nascer era o peregrino divino
que tudo abençoava por onde passava. Alegria de Isabel cujo filho rejubila no
seu ventre com a presença de Jesus. Para participar desse gaudio, para gozar
esta mesma alegria que reinava nos corações de Isabel e Maria é preciso, porém,
abrir nossa mentes à fé e à ação constante de Deus em nossas vidas, Fazer-nos
peregrinos com Jesus, estar unidos àquela que acreditou. Pelos caminhos da
terra, em sua caminhada um cristão deve levar consigo sempre as dimensões da
fé, ou seja, a união com Deus e o serviço aos outros que contemplamos em
Maria que foi-se colocar a serviço de
sua prima santa Isabel Estamos próximos
do Natal e, por isto, a Liturgia fixa nosso olhar nestas duas futuras mães com todas as belas mensagens que estamos meditando, mostrando
que as luzes divinas promanam da fé e
esperança que se enraízam no íntimo dos corações daqueles que sabem
escutar os apelos de Deus. Estejamos sempre engajados no caminho da confiança, da fé no
acolhimento da salvação que Jesus veio nos trazer * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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