QUEM
QUISER SER O PRIMEIRO, SEJA SUBMISSO A TODOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Indiscreto o pedido que os filhos de
Zebedeu, Tiago e João, fizeram a Jesus, uma solicitação especial, em
particular, reservada, pois os dois irmãos temiam expressá-la claramente (Mc
10,35-45). O Mestre, contudo, os obrigaria a falar detalhadamente. Eles queriam
estar a sua direita e a sua esquerda na glória vindoura, no esplendor de seu
Reino. Pedido surpreendente! Eram eles os que foram entre os primeiros
chamados, mas não tinham ainda compreendido o projeto salvífico de Cristo. Eles pensavam que Jesus ia organizar um governo
terrestre e já tratavam de garantir os melhores lugares, postos honoríficos no
novo reino. No entanto, Jesus pela terceira vez, enfaticamente, havia predito
sua paixão e morte: “O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens que o
hão de matar, mas três dias depois de morto ressuscitará” (Mc 9,31) Não
obstante, seus discípulos discutiam uma questão de preeminência! Jesus,
contudo, mais uma vez com toda paciência vai lhes explicar a realidade de sua
missão neste mundo. Interroga-os se eles beberiam do seu cálice ou se receberiam
o batismo com o qual Ele é batizado. O cálice para aqueles homens que liam os
Profetas não era apenas o símbolo dos sofrimentos, cálice amargo, mas o cálice
de vertigem merecido pelo povo pecador, este cálice seria o próprio Jesus quem
o beberia. No entanto, Jesus deixa claro que os apóstolos participariam de sua
paixão, de seus sofrimentos, mas o sentar-se à sua direita ou esquerda era para
aqueles para os quais tais lugares foram preparados. Aqueles discípulos, porém,
ante a morte violenta, injusta, revoltante do Mestre parece que deixavam de
lado os padecimentos, porque o senso do poder, da glória daquele que eles seguiam para eles era mais
importante e que, no serviço de Jesus, há bons lugares para conquistar e poder,
posses, como recompensa. Pedagogo admirável Jesus, contudo, se serve deste episódio
para, como educador da fé, calmamente, lançar lição que abrange o futuro e
depois o presente. Para o que virá, de fato, os dois irmãos o seguirão nas
veredas das tribulações até a morte como todos os seus discípulos quando forem
chamados para a outra vida. Todos devem um dia morrer, mas a diferença dos que
creem é que eles vão até o fim seguindo o Ressuscitado. Quanto ao presente
qualquer recompensa só Deus o sabe e Jesus lança uma sentença definitiva: “Quem
quiser ser o primeiro seja submisso a todos”. Os verdadeiros primeiros lugares
não são aqueles que humanamente se imagina, mas esses se encontram no serviço
do próximo, no dia a dia de cada um. Desejar o que é o melhor para nós, nossos
parentes e amigos não é um mal em si, mas cumpre fazer tudo que se puder no
cumprimento de nossas obrigações e de uma ajuda contínua aos outros, nunca
querendo ser superiores a quem quer que seja. Querer triunfar na vida não é um
mal, o erro seria desejar sobrepujar os outros. Desejar ir para o céu é um
salutar anelo, errado seria viver em função dos valores do mundo, criando a
ilusão de ser autêntico cristão. Jesus deixou claro para os apóstolos que os
carismas o Pai é quem os dá a quem Ele quiser, mas é preciso saber aceitar a
cruz, ou seja, ir até o fim no serviço aos outros e no esquecimento de si
mesmo. Não há fé sem provações, vida cristã interior sem o desapego dos
próprios interesses, É preciso se lembrar sempre do que disse Jesus: “O Filho
do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate
de muitos “. A prática constante da prece, a frequência aos sacramentos,
sobretudo da confissão e da Eucaristia, aumentam o amor a Deus e impedem querer
ser superior aos outros. Jesus foi o servo do Pai e, como tal, Ele
constantemente prestou atenção às necessidades de quantos o seguiam. Ele
intentava inculcar a Tiago e João esta realidade de se preocupar antes de tudo
com os sacrifícios que o trabalho apostólico exigiria, deixando o julgamento
nas mãos do Pai. Seus autênticos discípulos deveriam ser capazes de estarem
unidos à cruz de todos os dias por amor, com um sorriso nos lábios. Cruz que se
manifesta nos hábitos de um quotidiano voltado para o bem do próximo, na fadiga
dos trabalhos apostólicos, nas dificuldades que a implantação do reino de Deus
exige. Estar submisso a tudo isto sem nada querer exigir de Deus. O esforço para
tentar se identificar com Cristo exige muita abnegação. Eis porque São João
Paulo II explicava que a submissão de Jesus atingiu o seu ápice na sua morte na
cruz, ou seja, no dom total de si mesmo. No entanto, Tiago e João estavam mais
preocupados em glórias advindas de seu ministério e não no significado profundo
de um ardoroso apostolado. Restava-lhes ainda um longo caminho num serviço constante
a todos sem distinções de ricos ou pobres, cultos ou ignorantes, jovens ou
idosos para a implantação do reino de Deus. Jesus estaria ensinando a Tiago e
João, aos demais apóstolos e a todos que quisessem ser seus autênticos
pregadores do Evangelho um apego salutar à cruz de cada dia, deixando tudo nas
mãos do Pai e não na dependência de uma gratificação pessoal. * Professor no Seminário de Mariana durnte 40
anos.
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