O MAIOR É O SERVIDOR DE TODOS
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho
Entre as grandes lições que
Jesus transmitiu a seus discípulos está aquela que Ele compendiou nesta
sentença: “Se alguém quer ser o primeiro que ele seja o último de todos e o servidor
de todos”, ou seja, o maior é aquele que está a serviço dos irmãos (Mc 9,
30-37), Na verdade, Ele quer que seu seguidor tenha a candura, a naturalidade, a
simplicidade de uma criança O maior diante
dele não é aquele que tem mais poder ou
saber, nem mesmo o que tem mais riqueza ou importância perante os homens. O maior
é aquele que humildemente reconhece suas falhas humanas e que tudo aquilo que
possui lhe vem gratuitamente de Deus e de cuja misericórdia ele tudo depende. Como
então ensinou o Mestre divino, a verdadeira grandeza é não se julgar superior
aos outros. Na família, na comunidade em que se vive a postura do verdadeiro cristão
é de serviço, de devotamento à felicidade de todos, de gratuidade, não se
julgando melhor que aqueles com os quais se convive. Trata-se do serviço
humilde e da humildade ativa, que permite acolher seja quem for como um irmão ou
irmã do divino Redentor. O gesto profético de Jesus tomando uma criança do meio
de seus discípulos e a acolhendo em seus braços quis justamente sublinhar este liame
entre a humildade e a capacidade do acolhimento. Acolher alguém em nome de
Jesus é dar ao Filho de Deus um lugar na própria vida, na obra de cada instante,
pois o que se faz ao próximo é a Ele que se faz. No pensamento de Jesus a criança é uma
parábola viva. É recebida sem se olhar se ela o merece, antes mesmo que ela
pudesse merecer alguma atenção, simplesmente porque ela tem necessidade de ser
protegida. Como registrou São Mateus foi taxativo o dito de Jesus: “O que
fizerdes ao menor de vossos irmãos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40), Uma
mensagem bem forte para os discípulos que pensavam em grandeza, prestígio,
potência e poder.Com efeito eles inquiriam entre si quem entre eles podia
ocupar o primeiro lugar. Cada um sonhava
ser melhor que o outro. Antecipavam entre eles uma gloriosa promoção que
aguardava o principal entre os escolhidos pelo Mestre divino. Por terem deixado
tudo e O seguido. Já se julgavam mais
importantes que todas as outras pessoas e um deles deveria ser o preferido pelo
Filho de Deus. Entretanto eles tinham o espírito e a ideia infeccionada bem
longe do que na verdade Jesus pensava para Ele mesmo e para os doze. Tratava-se
de uma circunstância chocante, porque Jesus acabava de lhes falar de sua Paixão
e da grande perseguição que breve iria tombar sobre Ele. Seus discípulos,
porém, agiram como se nada entendessem do discurso do Mestre. Era uma alocução difícil
demais para eles. Jesus falava uma coisa e eles entendiam outra bem diferente.
Uma falta de comunicação completa devido à carência de compreensão daqueles
interlocutores de Cristo. O pensamento de grandeza e de prestígio dos apóstolos
chocava com a realidade simples e modesta que os aguardava. Eis aí porque cabia
a Jesus dissipar as ilusões daqueles seus seguidores. Cumpria trazê-los para
uma justa perspectiva de um engajamento com Ele que era manso e humilde de
coração. Competia então a Cristo fazer com que aqueles seus seguidores
reformulassem seu ponto de vista para entrarem na rota para o Reino de Deus,
reino de humildade e de serviço aos outros. Eis por que perante aqueles
sonhadores de honras humanas Jesus tomou uma criança, testemunhando à mesma
ternura, afeto, respeito, ostensivamente a abraçando com carinho, afeto e respeito.
Olhando aquela criança, Jesus como que se via ele mesmo como num espelho. Fixemos
ainda uma vez esta criança, pequenina, simples. Para muitos um ser sem
importância, sem poder, sem qualquer magnificência humanamente atraente. O estado
de alma de Cristo era, porém, bem outro, pois seu coração, seu ideal, sua perspectiva
eram bem outra. O retrato falado de Jesus era alguém como aquela criança em sua
inocência, fragilidade, pobreza, mas irradiando tantos valores admiráveis.
Jesus quer que vejamos Deus na sua ternura, sua humildade, na sua discreta
presença. Aquele menino patenteava o Bem amado do Pai. Assim, o Todo poderoso
nos verá se possuirmos as virtudes daquele criança. Portanto, a figura daquela menino
que Jesus acolhera perante seus altivos discípulos transmitia lições
preciosíssimas Cumpre, portanto ser manso e humilde coração como Jesus e saber
captar esta sua mensagem de que o maior é aquele oque ostenta as virtudes de
uma criança, pois somente assim seremos capazes de poder de servi-lo na pessoa
de nosso irmãos. É preciso reter o ensino que Jesus transmitiu aos apóstolos
para ser um servidor através de todas as nossa ações, sem querer ser considerado
o primeiro de todos. Felizes aqueles que inclusive podem se engajar no serviço
da Igreja nas diversas oportunidades que o apostolado oferece e isto com muita
humildade no serviço aos outros. É bom que se lembre que o importante é que o
serviço não se mude em poder, buscando o reconhecimento dos outros, querendo
admiração pelo que se faça a bem dos irmãos e irmãs, sem querer ser incensado pelo
bem que se procurou fazer. Quem é verdadeiramente humilde na seara do Senhor
faz o que deve fazer o melhor que se possa, deixando sempre a recompensa para
Deus. * Professor no Seminário de Mariana
durante 40 anos
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