TOME A SUA CRUZ E SIGA-ME
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho*
Jesus perguntou a seus discípulos; “Quem dizem os homens que eu sou?”
(Lc 9,24). Várias eram as opiniões, mas Ele desejava saber o que pensavam os
apóstolos. Pedro então respondeu:” Tu és o Messias”, isto é, o Cristo. Eis aí o
fundamento do poder de Deus sobre aquele que opera, em nome de Deus, uma
mudança decisiva da história humana, aquele que vem reconciliar os homens com
Deus, Pedro respondeu com precisão. Os judeus fervorosos colocavam no Messias a
esperança de uma extraordinária renovação dos corações, mais até do que uma
restauração nacional para Israel. Jesus desejava deixar clara qual era sua
missão, sua maneira de ser, sua mensagem. Era por isto que Ele ensinava,
doutrinando continuamente seus discípulos. Neste trecho do Evangelho se acha o
primeiro anúncio de sua paixão. Entretanto, um Messias sofredor foi um
escândalo para Pedro. Quantos seguidores de Cristo quereriam um Messias sem a
Cruz, as Bem-aventuranças sem sofrimentos, a amizade de Jesus sem a conversão
interior, uma história cristã sem a cruz. Pedro foi severamente repreendido
pelo Mestre divino e este foi claro: “Quem quiser vir após mim renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Nesta sentença de Jesus, porém, está explícito
que Deus não fica contente quando os homens sofrem, mas o que glorifica o Ser
Supremo é o amor e não o sofrimento em si. Em Cristo o auge da amargura
coincide misteriosamente com o cúmulo de seu imenso amor para com aqueles que
Ele veio salvar pela cruz redentora. Como ressaltam muitos teólogos estamos
diante de um grande mistério. Deus é Pai, mas permite os sofrimentos de seu
Filho amado pelos quais promove a redenção dos homens. Tal foi o caminho da
salvação traçado por Deus. Aí está a magna questão que Jesus apresenta a seus
seguidores: ou segui-lo verdadeiramente em tudo e salvar-se ou envergonhar-se
dele e de sua doutrina e perder-se por toda a eternidade. É necessário aderir a
tudo que Ele ensinou e Ele foi claro: “Tome a sua cruz”. É preciso conformar-se
inteiramente ao que Ele determinou e respeitar em tudo os desígnios divinos. O
cristão vive os sofrimentos permitidos por Deus no horizonte de um profundo
amor ao seu Senhor, Pai e Amigo. Cumpre se abandonar continuamente à sabedoria
de Deus que sabe o que é melhor para cada um. O certo é, porém, que Deus dá
sempre força e luz para levar com amor o sofrimento que se apresentar na vida
de quem tem fé. Nada porém de antecipar ou imaginar qualquer amargura futura,
mas, isto sim, quando ela vier acolhê-la amorosamente e com a graça divina
transformar os espinhos da vida em pérolas para a eternidade. Além disto, é
preciso compreender ao máximo todos os que passam longamente pelas provas
enviadas pelo Ser Supremo, ajudando o próximo a levar sua cruz. Servindo a
Igreja vista não como uma estrutura, mas servidora das almas que a compõem e
então qualquer sofrimento ganha um sentido profundo. Trata-se de testemunhar em
tudo Cristo que por todos sofreu, descobrindo nossa identidade de cristãos, demonstrando
o fundamento de nossa fé. Isto deve levar então a transmitir a todos que se
pode encontrar em Jesus uma parrava de vida
que oferece sentido a tudo que se pensa, se diz e se pratica. Infeliz é o
cristão que na hora em que é provado pelo sofrimento se desespera ou se
revolta. Na vida do autêntico fiel
refulge sempre o verdadeiro sentido de seu encontro pessoal com Cristo que
levou sua cruz até o Calvário. O papa São João Paulo II na sua carta Apostólica
na abertura do Novo Milênio escreveu:” Nosso testemunho seria bem frágil se não
fossemos os primeiros a testemunhar a verdadeira visão de Jesus Cristo”. Este
nos oferece um bom caminho para bem testemunharmos o divino Redentor, sua
Verdade completa. Ele indaga a cada um: “Vos quem dizeis que eu sou”? É uma
questão de fé, de implicação pessoal. A resposta não se encontra senão na
experiência do silêncio e da oração, pois se trata de algo pessoal, caminho que
souberam percorrer os santos e no qual sabem andar os verdadeiros seguidores de
Cristo. Que nossa prece torne sempre palpável a presença libertadora do amor de
Deus sobretudo nos momentos de provações. É assim que Deus continua a fazer
aliança com cada um que lhe é fiel através de sinais claros de sua presença, É
bom, porém, se lembrar continuamente que sofrer passa, o ter sofrido com Jesus
permanece para sempre. Deste modo, como falou São Paulo aos romanos, o Deus da
esperança oferece em plenitude na vida deste autêntico cristão a alegria e a paz (Rm 15,13) Este sapóstolo afirmou a Timóteo: “Se com
Cristo sofremos, com Ele também
reinaremos “(2 Tm 2,2)* Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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