JESUS FEZ BEM TODAS AS COISAS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho
No
Evangelho
de hoje contemplamos diante de Jesus um surdo mudo. O divino Taumaturgo fazendo
dois gestos terapêuticos e proferindo uma ordem salvadora: “Abre-te”, operando
então uma cura admirável. (Mc 7,31-38) Tratava-se de um homem que tinha dois órgãos de comunicação
fechados: a palavra e a audição. Era para sarar esses males que se pedia a
Jesus lhe impusesse as mãos, abrindo-lhe os ouvidos
e lhe desatando a prisão da língua. Então o surdo mudo passou a falar
expeditamente, corretamente, com justeza. Vivamente admirados os que
presenciaram este notável acontecimento proclamavam: “Ele tem feito bem todas
as coisas. Faz os surdos ouvir e falar os mudos.” É de se notar o fato de que
pessoas caridosas haviam conduzido o doente até àquele médico divino. Eles não podiam
nada fazer por si mesmos, mas sabiam do poder extraordinário que Cristo possuía, a total capacidade de o
curar e libertar das doenças todos os que delas padeciam. Notável a atitude
tomada por Cristo que recebe com ternura o surdo mudo, levando-o à parte,
mostrando que patrocinava um encontro privado, por assim dizer, coração a
coração, operando o extraordinário milagre de sua cura. Do grande tesouro do
amor de Deus participaram os circunstantes ao presenciar fato tão admirável.
Num contexto, como o atual, no qual se multiplicam os incrédulos, tendo muitos
perdido a fé, é bem que se lembre que a evangelização não consiste tanto em
procurar novos métodos para difundir a doutrina pregada pelo Filho de Deus, mas
em oferecer um encontro com Deus, falando aos corações descrentes, para que
ouvidos se abram, línguas de desatem. Cumpre, porém, se lembre sempre que Jesus
é o único Senhor e Salvador. Jesus é
aquele que fez bem, admiravelmente, todas as coisas como o atestaram seus
contemporâneos. Não fez nada pela metade e não deixou coisa alguma de lado para
completar depois. Seu seguidor deve tudo fazer com a máxima perfeição possível
na prece, no contato com os outros, inclusive com os familiares, no trabalho,
no apostolado. Ser sempre diligente espiritualmente e em todas as ações,
vivendo a mensagem da encíclica do Papa Francisco “Ser todos Irmãos”(Frateli tutti), certos de
que a ferramenta para unir a humanidade é a cultura da fraternidade. Quem
admira Jesus, que fez bem todas as coisas, deve ser severo consigo mesmo, mas
manso e humilde perante todos os irmãos. Aquele que imita Jesus pratica com a
máxima perfeição possível o que deve fazer não para causar boa impressão aos
outros ou por mera vaidade ou outras intenções meramente terrenas, mas porque
Deus não ama as más ações ou o que é mal feito. Lemos na Bíblia que toda obra
de Deus é perfeita (Deut 31,4). O Senhor por intermédio de Moisés declarou ao
povo de Israel: “Vós não me oferecereis
qualquer oferenda que tenha defeito, pois ela não me seria de meu agrado (Lev
22,20), Daí total aplicação àquilo que se esteja fazendo para que tal ação seja
do agrado divino. Vemos pela narrativa de São Marcos que Jesus ao operar a cura
do surdo mudo agiu com sumo capricho, pois Ele
colocou os dedos nos ouvidos do surdo e tocou
depois sua língua com o dedo humedecido
de saliva. Era assim que se procedia na medicina, não só em Israel, mas ainda em todo o mundo greco-romano. Jesus, completou tudo isto olhando o céu, para bem significar àquele pobre homem de onde lhe viria sua cura. O poder de Deus iria se manifestar.
Jesus suspirou, bem significando com isto o gemido da humanidade sofredora,
o longo pranto de todos os doentes crônicos, lembrando a profecia de Isaias
sobre o Servo de Deus: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as
nossas doenças” (Isaias 53, 4-5). Depois vem a palavra que completa a cura,
palavra que São Marcos conservou tal qual no aramaico popular que Jesus falava:
“Effata!”. Abre-te, era uma ordem. Esta palavra de Cristo curou o corpo e abriu
os ouvidos e soltou a língua do surdo mudo. Effata, abre- te, diz Jesus a todo
aquele que se fecha na sua solidão e carrega todo o sofrimento, como, por exemplo, rancor
interior. É o mesmo que Ele diz a todo
aquele que se acha fechado no seu passado e que carrega o fardo das
lembranças maléficas; a todo aquele que espera ser amado, mas se mostra irado
contra os outros; a todo aquele que sofre mais do que ele mesmo,
que é mais mudo, mais surdo, menos compreensível, porque decepciona os irmãos. Effata- abre-te, sobretudo à palavra de teu
Deus que vem oferecer força, que vem enriquecer
a cada hora, contanto que haja espaço à
esperança,. Effata- abre-te a toda
mensagem que Jesus sempre propõe. * Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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