O SANTO DE DEUS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho
Depois
que Jesus falou sobre o pão da vida houve acentuada rejeição entre os discípulos
e muitos já não andavam mais com Ele. Foi quando Jesus indagou aos doze se eles
também O queriam abandonar. Notável a resposta
que em nome de todos lhe deu Simão Pedro: “Para quem iremos nós? Tu tens
palavras de vida eterna, e nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus” (Jo
6,60-69). Jesus não obrigaria a adesão a ele, forçando a liberdade de cada um.
A adesão a ele deveria ser de fato fruto da fé em suas palavras e isto por ser
ele o todo poderoso Filho de Deus. A fidelidae a ele devia, portanto, fluir da
realidade sublime de sua doutrina e de sua profunda santidade, dado que ele e o
Pai, embora fosse duas pessoas distintas, possuíam a mesma natureza divina. Daí
uma oblação integral a ele, sabendo que não haveria nenhum absurdo no que ele
afirmara ao dizer que era o pão da vida, procedendo do céu e dando vida ao
mundo. Tratava-se de um amor mútuo
oferecido e recebido em função da vida em plenitude, fruto de uma verdadeira
dileção Tudo isto alicerçado nesta realidade: de ser ele, de fato, o santo de
Deus, que tudo podia, levando a uma crença fundada na divindade de quem se dizia
o pão da vida. Jesus, portanto já havia manifestado para os doze a grandeza e a
profundidade do amor verdadeiro.do qual a Eucaristia seria um prova
extraordinária. Participação maravilhosa, fruto de uma escolha gratuita: “Fui
eu que vos escolhi e estabeleci no amor de Deus” (Jo 15,16). Assim sendo, ele
nos deu a capacidade de amá-lo. e de ser por ele amado. Isto torna o cristão
feliz quando vive esta realidade sublime. Esta disposição de se voltar para
Deus, torna o ser humano profundamente feliz quando ele está cônscio desta excepcional
prerrogativa que o eleva acima de todos os outros seres terrenos. Se Deus nos
mandasse amá-lo sem nos dar a aptidão de assim agir, terrível seria a situação
humana. Entretanto, o homem tem a capacidade de amar o Ser Supremo, ainda que
isto exija esforço, embora isto seja bom para a criatura racional. Eis porque o
Senhor dá o mandamento do amor a Ele, o que é o verdadeiro caminho da
realização plena do ser humano. Quando amamos a Deus somos felizes, dando
frutos e frutos que permanecem para sempre. Se a manifestação da dileção a Deus
se torna difícil é ir até Jesus, repetindo com os Apóstolos, “Senhor a quem
iríamos nós, só vós tendes palavras de vida eterna”. Aí está a grande questão que Jesus apresenta a quem se diz ser seu
discípulo. O ensinamento de Jesus ultrapassa o entendimento humano. Os judeus
da época não compreenderam o alcance da palavra do Mestre divino, mesmo tendo vistos
os prodígios que operava, não podiam aceitar a ideia de que Ele daria seu corpo a comer e seu
sangue a beber. Por isto muitos o abandonaram, dado que não entendiam o que Ele
dizia e, assim, não mais o podiam seguir. Os Apóstolos mesmos estavam perplexos
e cabia então a eles decidir se iam ou não também O deixar de lado.Pedro que
toma a palavra, mostrando ser impossível deixar o Mestre bem amado e o silêncio
dos outros confirma a postura de todos. Pedro deixava claro que somente Jesus
tinha palavras de vida eterna e que Ele era o Santo de Deus, Portanto, não
compreendiam o que Jesus dizia, mas sabiam que Ele era o Senhor, o Messias e
ponto final! Eles continuariam a caminhar com Jesus na fé e na confiança. Este
texto nos leva então a questões importantes, ou seja, o que venha a ser o
mistério da Eucaristia. Para cada um de nós, o que é a Hóstia consagrada para
nossas vidas? É verdadeiramente o Corpo de Cristo? Como se transforma o nosso
coração quando nós comungamos? Em função da Eucaristia como temos vivido? Isto
sobretudo no que diz. Sobretudo, ao amor ao próximo, ao perdão cordial, ao bem
que devemos praticar para cos irmãos. Sempre há algo supérfluo que pode ser
partilhado, quando impera o desapego das coisas materiais. Nunca se deve dizer
a Jesus, ao Santo de Deus, que não queremos ir um pouco mais longe com Ele. Cumpre
estar sempre disposto a dar o passo da fé e aceitar plenamente sua palavra e
não somente a que nós compreendemos com nossa inteligência ou que convém a
nossos interesses pessoais. É preciso caminhar verdadeiramente com Ele ultrapassando
nossos raciocínios humanos. É preciso ter não uma mentalidade fechada à Palavra
salifica e vivificante de Jesus, mas se entregar inteiramente a Ele. É que Ele,
e somente Ele, tem palavras de vida eterna. Todas as ações de Cristo foram
manifestações de seu poder, de sua glória e de sua divindade Todos os seus
milagres, seu batismo no Jordão, suas pregações, sua Transfiguração, O mostram
como sendo Filho de Deus e. mesmo os espíritos maus o reconheciam como o Santo
de Deus. Cristo, porém, continua a se manifestar ao mundo de hoje, e devemos
fazê-lo conhecido e amado. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos
.
2.
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