segunda-feira, 13 de setembro de 2021

 

QUEM NÃO É CONTRANÓS ESTÁ A NOSSO FAVOR

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Uma lição de compreensão, bem longe de qualquer intransigência, deu Jesus a seus discípulos, quando   João, um dos doze, lhe disse: “Mestre, vimos um homem que em teu nome estava expulsando demônios e procuramos impedi-lo, pois afinal ele não era um dos nossos” (Mc 9, 28 e ss).  Quem assim falava era o discípulo que Jesus amava, um dos mais próximos do Mestre divino, que estava admirado pelo fato de que alguém, que não fazia parte dos Doze, pudesse fazer prodígios em nome de Cristo.   Isto manifestou que positivamente os apóstolos ainda se mostravam bem humanos, envoltos em ciúmes, mesquinharias. Jesus acabara de anunciar sua Paixão na qual Ele se faria o “último dos servidores”, desejando que seus seguidores estivessem sempre em estado de serviço e a não procurar os primeiros lugares. A reação de João, um dos melhores discípulos seus, refletia postura de dominação, vontade de poder, um anseio de ter um monopólio. Ele queria, com os outros Onze, ter apenas para eles o poder que o Mestre possuía. Era um claro sectarismo de grupo. Muitas vezes através dos tempos sob a aparência de defender o bem comum da comunidade a que se pertence, há, na verdade, no fundo, é a defesa dos próprios interesses.  Todo cuidado é pouco porque ao proteger vantagens adquiridas, muitos impedem a outros de agir fazendo o bem, quando na verdade o que se teme é que outros surjam como sombras no campo do apostolado. Não se pode impor um modo de servir Jesus, como sendo a única maneira de viver o Evangelho, desde que corretamente alguém esteja agindo de acordo com o que está na Bíblia e invoca corretamente o nome do Divino Redentor em nada violando a doutrina da Igreja. Isto pode ocorrer muitas vezes, por exemplo, com grupos bem intencionados de cristãos que se reúnem para rezar em nome do Senhor, para meditar a Palavra divina, para encontrar caminhos de uma melhor prática do Evangelho. Não se devem criar estruturas que impeçam se irradie a ação do Espírito Santo, mas cumpre incentivar o bem seja aonde for, quando nada de errado está sendo transmitido. Jesus mesmo deixou patente que ninguém que difunde a verdade, depois venha a contradizer esta verdade, falando mal dele (v, 39). É uma questão de bom senso, sob as luzes do Espírito Santo, saber bem avaliar o modo de agir dos outros que bem orientados podem chegar posteriormente a uma descoberta mais explícita de Cristo. Vale sempre o que Jesus afirmou: “Quem não é contra nós está a nosso favor”. Toda boa ação pode ser, de fato, o início que conduz à comprovação de uma entrega total a Deus. É certo que toda boa ação nunca fica sem recompensa. Muitos, às vezes, colocam inconscientemente uma barragem à ação de Deus. O principal é seguir a Jesus e não a uma determinada ideologia. A obra de Cristo se manifesta sempre, porém, por uma conversão de vida, levando a alma ao caminho da adesão àquilo que Jesus ensinou. A aceitação sincera do divino Redentor impede o mero endeusamento institucional. A mensagem evangélica vai além de meras expressões culturais por aprofundar a fé na Palavra que salva. Isto vem de uma penetração profunda na obra redentora do Filho de Deus patenteada vibrantemente no serviço ao próximo, pois Jesus foi claro ao dizer que Ele viera a este mundo para servir e não para ser servido. Quem o imita faz com que a mensagem evangélica, acima das expressões culturais, aprofunde fé na Palavra salvadora. Deste modo o anúncio do nome de Jesus é proclamado por alguém que exerce uma mediação humana, profética e carismática numa ação do Espírito Santo que leva sempre à unidade do amor. Ai se acha o cerne da mensagem evangélica que paira longe de critérios meramente intelectuais. O que se deve verificar é se algum falso profeta usa da palavra de Deus para atingir seus fins, para sua glória pessoal, pois estes não trabalham em nome de Jesus, mas para si mesmos e seus próprios nomes e negócios. Isto deve ser evitado.  Cumpre sempre, portanto, pedir a Deus discernimento. Jesus deixou, porém, claro o olhar que devemos ter para tratar tais pessoas. É preciso perspicácia para acolher ou recusar as mensagens difundidas através da mídia. Humildade para verificar se não há um liame comum, uma mesma fé, uma orientação que esteja inteiramente conforme a doutrina da Igreja, pois é necessário caminhar juntos para a perfeição do amor de Deus e do próximo. Jesus lançou um alerta para que se viva a vocação de Igreja, atinando com a essência das mensagens recebidas, pois, “quem não é contra nós está a nosso favor. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

)

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário