QUEM NÃO É CONTRANÓS ESTÁ A NOSSO FAVOR
Côn. José
Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma lição de compreensão, bem longe de
qualquer intransigência, deu Jesus a seus discípulos, quando João, um dos doze, lhe disse: “Mestre, vimos
um homem que em teu nome estava expulsando demônios e procuramos impedi-lo,
pois afinal ele não era um dos nossos” (Mc 9, 28 e ss). Quem assim falava era o discípulo que Jesus
amava, um dos mais próximos do Mestre divino, que estava admirado pelo fato de
que alguém, que não fazia parte dos Doze, pudesse fazer prodígios em nome de
Cristo. Isto manifestou que
positivamente os apóstolos ainda se mostravam bem humanos, envoltos em ciúmes,
mesquinharias. Jesus acabara de anunciar sua Paixão na qual Ele se faria o
“último dos servidores”, desejando que seus seguidores estivessem sempre em
estado de serviço e a não procurar os primeiros lugares. A reação de João, um
dos melhores discípulos seus, refletia postura de dominação, vontade de poder,
um anseio de ter um monopólio. Ele queria, com os outros Onze, ter apenas para
eles o poder que o Mestre possuía. Era um claro sectarismo de grupo. Muitas
vezes através dos tempos sob a aparência de defender o bem comum da comunidade
a que se pertence, há, na verdade, no fundo, é a defesa dos próprios
interesses. Todo cuidado é pouco porque
ao proteger vantagens adquiridas, muitos impedem a outros de agir fazendo o
bem, quando na verdade o que se teme é que outros surjam como sombras no campo
do apostolado. Não se pode impor um modo de servir Jesus, como sendo a única
maneira de viver o Evangelho, desde que corretamente alguém esteja agindo de
acordo com o que está na Bíblia e invoca corretamente o nome do Divino Redentor
em nada violando a doutrina da Igreja. Isto pode ocorrer muitas vezes, por exemplo,
com grupos bem intencionados de cristãos que se reúnem para rezar em nome do
Senhor, para meditar a Palavra divina, para encontrar caminhos de uma melhor
prática do Evangelho. Não se devem criar estruturas que impeçam se irradie a
ação do Espírito Santo, mas cumpre incentivar o bem seja aonde for, quando nada
de errado está sendo transmitido. Jesus mesmo deixou patente que ninguém que
difunde a verdade, depois venha a contradizer esta verdade, falando mal dele
(v, 39). É uma questão de bom senso, sob as luzes do Espírito Santo, saber bem
avaliar o modo de agir dos outros que bem orientados podem chegar
posteriormente a uma descoberta mais explícita de Cristo. Vale sempre o que
Jesus afirmou: “Quem não é contra nós está a nosso favor”. Toda boa ação pode
ser, de fato, o início que conduz à comprovação de uma entrega total a Deus. É
certo que toda boa ação nunca fica sem recompensa. Muitos, às vezes, colocam
inconscientemente uma barragem à ação de Deus. O principal é seguir a Jesus e
não a uma determinada ideologia. A obra de Cristo se manifesta sempre, porém,
por uma conversão de vida, levando a alma ao caminho da adesão àquilo que Jesus
ensinou. A aceitação sincera do divino Redentor impede o mero endeusamento
institucional. A mensagem evangélica vai além de meras expressões culturais por
aprofundar a fé na Palavra que salva. Isto vem de uma penetração profunda na
obra redentora do Filho de Deus patenteada vibrantemente no serviço ao próximo,
pois Jesus foi claro ao dizer que Ele viera a este mundo para servir e não para
ser servido. Quem o imita faz com que a mensagem evangélica, acima das
expressões culturais, aprofunde fé na Palavra salvadora. Deste modo o anúncio
do nome de Jesus é proclamado por alguém que exerce uma mediação humana,
profética e carismática numa ação do Espírito Santo que leva sempre à unidade do
amor. Ai se acha o cerne da mensagem evangélica que paira longe de critérios
meramente intelectuais. O que se deve verificar é se algum falso profeta usa da
palavra de Deus para atingir seus fins, para sua glória pessoal, pois estes não
trabalham em nome de Jesus, mas para si mesmos e seus próprios nomes e negócios.
Isto deve ser evitado. Cumpre sempre,
portanto, pedir a Deus discernimento. Jesus deixou, porém, claro o olhar que
devemos ter para tratar tais pessoas. É preciso perspicácia para acolher ou
recusar as mensagens difundidas através da mídia. Humildade para verificar se
não há um liame comum, uma mesma fé, uma orientação que esteja inteiramente
conforme a doutrina da Igreja, pois é necessário caminhar juntos para a
perfeição do amor de Deus e do próximo. Jesus lançou um alerta para que se viva
a vocação de Igreja, atinando com a essência das mensagens recebidas, pois,
“quem não é contra nós está a nosso favor. Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
)
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