quinta-feira, 23 de setembro de 2021

 

QUE SE DEVE FAZER PARA ENTRAR NA VIDA ETERNA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Entre aqueles que abordaram Jesus enquanto Ele ia pelo caminho, de repente, surge um homem que, de joelhos, se pôs diante dele.  Estava agitado   Certamente iria solicitar a cura de algum doente ou   outro favor estupendo como os muitos que Cristo já fizera. Nada disto!  Ao Mestre divino aquele homem apresentava, inesperadamente, uma questão, em si, de grande importância: “Que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc 10,17-30) De plano, poderíamos pensar que Ele estava psicologicamente abalado, pois quem se julga equilibrado emocionalmente não tem necessidade de pensar com agitação numa vida eterna. Ou quem sabe se tratasse de alguém que tendo tudo para viver podia se dar ao luxo de sonhar com uma outra vida além túmulo. Entretanto, na verdade, estas explicações não passariam de um esclarecimento forjado. É preciso entender a questão apresentada como partindo de alguém realista, ou seja, tratava-se de alguém que, desde agora, queria um caminho seguro para atravessar com total êxito a morte, alguém que desejava com as coisas que passam construir desde já algo definitivo. Se penetramos a fundo no problema suscitado, passamos a perceber que, de fato, temos precisão de refletir em salvaguardar com boas ações o que virá após a morte e que vai durar para sempre.  A maturidade espiritual deve ser uma preocupação constante de quem crê na vida eterna, pois não sabemos nem o dia nem a hora em que deixaremos este mundo. Neste caso a questão então apresentada merece toda atenção. Um balanço no nosso trabalho apostólico, no cumprimento dos deveres de cada hora, o bom aproveitamento do tempo de vida que Deus vai concedendo a cada um. Jesus deixou uma orientação preciosa: observar os mandamentos, fazendo sempre o que agrada a Deus, o que é bom e digno de quem recebeu o batismo e vive imerso nas graças divinas Aquele homem de joelhos diante de Jesus pôde afirmar que praticava o que era do agrado de Deus, o que era bom e perfeito e isto desde sua juventude. Programa que, aliás, qualquer batizado deve seguir em todos os instantes de sua vida. Àquele que assim já procedia Jesus propõe algo mais além de sua fidelidade, uma nova sabedoria cristã, indo além do afeto às coisas terrenas, indo além do poder e da vontade de possuir o que é deste mundo, ou seja, um total desapego de tudo o que é desta terra, um apego somente ao que é sobrenatural e isto por amor inabalável e exclusivo do Divino Mestre e dos bens celestiais. Quem bem examina sua vida certamente deparará algo que ainda não é inteiramente de Deus. Isto, porém, ocorreu na existência de tantos santos que souberam explorar com discernimento o desapego de que falou Jesus a seu interlocutor. Não é fácil atingir o cume da perfeição cristã num seguimento radical do sábio Mestre. A todos, porém, cumpre examinar sempre como se tem observado o decálogo, constante inteiramente em professar as inspirações do Espírito Santo, sabedor de que quem não é   fiel no pouco não o será também no que Deus pedir a mais na trajetória rumo à vida eterna. Lealdade completa às diretrizes da Igreja, aos ensinamentos do Papa, longe das enganosas evidências de tudo que é hostil aos desígnios de Deus. Cristo completou seu ensinamento perante os apóstolos dizendo que condenável é, contudo, o endeusamento das riquezas deste mundo. É preciso todo cuidado em viver as Bem-aventuranças com corações voltados para a eternidade.   É preciso não se deixar absorver por algo terreno que comprometa a entrada no reino celeste. Seja como for, o principal é estar desligado afetivamente dos bens materiais para poder dizer na verdade que se é seguidor de Jesus. Este espera uma total renúncia daquilo que é terreno, passageiro, ilusório. Saibamos sempre fazer ecoar no fundo de nosso coração os apelos de Cristo. O personagem do Evangelho de hoje foi embora triste, exatamente por causa de seu apego a sua riqueza. É preciso dar sempre o primeiro lugar a Jesus e estar disposto a lhe oferecer sinceramente tudo que Ele pedir, a entregar a Ele sem reserva o que somos ou possuímos. Ultrapassar sempre uma visão limitada da fé, pois esta supõe uma adesão do ser humano a Deus, indo além do conformismo que impera na mente de tantos cristãos incapazes de dar um passo a mais na caminhada para a vida eterna, crescendo sempre na dileção a Deus. Deus quer não apenas um espírito sincero, mas também uma alma generosa aberta à grande afeição de seu Coração e a suas exigências profundas e radicais. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

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