QUE SE
DEVE FAZER PARA ENTRAR NA VIDA ETERNA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Entre aqueles que abordaram Jesus
enquanto Ele ia pelo caminho, de repente, surge um homem que, de joelhos, se
pôs diante dele. Estava agitado Certamente iria solicitar a cura de algum
doente ou outro favor estupendo como os
muitos que Cristo já fizera. Nada disto!
Ao Mestre divino aquele homem apresentava, inesperadamente, uma questão,
em si, de grande importância: “Que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc
10,17-30) De plano, poderíamos pensar que Ele estava psicologicamente abalado, pois
quem se julga equilibrado emocionalmente não tem necessidade de pensar com agitação
numa vida eterna. Ou quem sabe se tratasse de alguém que tendo tudo para viver
podia se dar ao luxo de sonhar com uma outra vida além túmulo. Entretanto, na
verdade, estas explicações não passariam de um esclarecimento forjado. É
preciso entender a questão apresentada como partindo de alguém realista, ou
seja, tratava-se de alguém que, desde agora, queria um caminho seguro para
atravessar com total êxito a morte, alguém que desejava com as coisas que
passam construir desde já algo definitivo. Se penetramos a fundo no problema
suscitado, passamos a
perceber que, de fato, temos precisão de refletir em salvaguardar com boas
ações o que virá após a morte e que vai durar para sempre. A maturidade espiritual deve ser uma
preocupação constante de quem crê na vida eterna, pois não sabemos nem o dia
nem a hora em que deixaremos este mundo. Neste caso a questão então apresentada
merece toda atenção. Um balanço no nosso trabalho apostólico, no cumprimento
dos deveres de cada hora, o bom aproveitamento do tempo de vida que Deus vai
concedendo a cada um. Jesus deixou uma orientação preciosa: observar os
mandamentos, fazendo sempre o que agrada a Deus, o que é bom e digno de quem
recebeu o batismo e vive imerso nas graças divinas Aquele homem de joelhos
diante de Jesus pôde afirmar que praticava o que era do agrado de Deus, o que
era bom e perfeito e isto desde sua juventude. Programa que, aliás, qualquer
batizado deve seguir em todos os instantes de sua vida. Àquele que assim já
procedia Jesus propõe algo mais além de sua fidelidade, uma nova sabedoria
cristã, indo além do afeto às coisas terrenas, indo além do poder e da vontade
de possuir o que é deste mundo, ou seja, um total desapego de tudo o que é
desta terra, um apego somente ao que é sobrenatural e isto por amor inabalável
e exclusivo do Divino Mestre e dos bens celestiais. Quem bem examina sua vida
certamente deparará algo que ainda não é inteiramente de Deus. Isto, porém,
ocorreu na existência de tantos santos que souberam explorar com discernimento
o desapego de que falou Jesus a seu interlocutor. Não é fácil atingir o cume da
perfeição cristã num seguimento radical do sábio Mestre. A todos, porém, cumpre
examinar sempre como se tem observado o decálogo, constante inteiramente em
professar as inspirações do Espírito Santo, sabedor de que quem não é fiel no pouco não o será também no que Deus
pedir a mais na trajetória rumo à vida eterna. Lealdade completa às diretrizes
da Igreja, aos ensinamentos do Papa, longe das enganosas evidências de tudo que
é hostil aos desígnios de Deus. Cristo completou seu ensinamento perante os
apóstolos dizendo que condenável é, contudo, o endeusamento das riquezas deste
mundo. É preciso todo cuidado em viver as Bem-aventuranças com corações
voltados para a eternidade. É preciso
não se deixar absorver por algo terreno que comprometa a entrada no reino
celeste. Seja como for, o
principal é estar desligado afetivamente dos bens materiais para poder dizer na
verdade que se é seguidor de Jesus. Este espera uma total renúncia daquilo que
é terreno, passageiro, ilusório. Saibamos sempre fazer ecoar no fundo de nosso
coração os apelos de Cristo. O personagem do Evangelho de hoje foi embora
triste, exatamente por causa de seu apego a sua riqueza. É preciso dar sempre o
primeiro lugar a Jesus e estar disposto a lhe oferecer sinceramente tudo que
Ele pedir, a entregar a Ele sem reserva o que somos ou possuímos. Ultrapassar
sempre uma visão limitada da fé, pois esta supõe uma adesão do ser humano a
Deus, indo além do conformismo que impera na mente de tantos cristãos incapazes
de dar um passo a mais na caminhada para a vida eterna, crescendo sempre na
dileção a Deus. Deus quer não apenas um espírito sincero, mas também uma alma generosa
aberta à grande afeição de seu Coração e a suas exigências profundas e
radicais. *Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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