terça-feira, 12 de outubro de 2021

 

VAI, TUA FÉ TE CUROU

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus, antes de iniciar sua viagem para Jerusalém, atravessou Jericó, situada no vale do Jordão. Saiu desta cidade acompanhado de uma multidão, pois inúmeros peregrinos iam como Ele para a Páscoa na cidade Santa. Eis aí o momento preciso no qual São Marcos situa o famoso episódio do cego Bar Timeu (Mc 10,46-52). Podemos analisar o que se passou examinando os fatos do ponto de vista da multidão, depois do ponto de vista de Jesus e, em terceiro lugar, segundo a visão de Bar Timeu, para depois fazermos total aplicação em nossa vida cristã. Para os circunstantes Bar Timeu era um sofredor, não somente um dependentes dos outros para suas longas caminhadas, pois como outros mendigos ele se punha a gritar, naturalmente incomodando a todos. Na nossa peregrinação nesse mundo quantos homens e mulheres, jovens e crianças estão à beira do nosso caminho estendendo as mãos pedindo um pouco de ajuda, de amizade, um olhar, um momento de diálogo, mas que são até impedidos de clamar e lamentar sua sorte numa sociedade de egoístas! Para Jesus a presença do cego Bar Timeu, porém vai ser a ocasião de contestar o egoísmo dos que pouco caso faziam daquele mendigo. Jesus pela sua atitude mostrará que no meio do povo é Ele quem dá exemplo de compaixão. Não obstante o alarido escuta a voz de Bar Timeu e chama à parte aquele mesmo que a multidão despreza, e querem calar, Aos olhos de Jesus ele será um privilegiado de seu amor. Jesus como de hábito se mostra um educador. Ele dá então o exemplo de uma caridade ativa, pois sem repreender aqueles que passam ignorando o cego, sem lhe dar a mínima atenção, diz simplesmente: “Chamai-o”. Os circunstantes se tornam assim os transmissores da caridade de Cristo. Quanto ao cego é sua fé que vai também ser educada. O Mestre, assim que ele chega, pergunta-lhe: “Que queres que eu te faça?” Pode parecer evidente o que ele desejava. Jesus, porém, sabia a importância das palavras para aquele homem. Bar Timeu nada podia captar nos olhos de Cristo, por isto se devia estabelecer uma comunicação entre eles. Jesus queria também dar ocasião para uma manifestação explicita de confiança: “Meu Mestre que eu volte a enxergar”. Através dos tempos quantos cegos se aproximam de Jesus mas que deveriam se postar diante dele como o cego Bar Timeu. Este ao ouvir falar que era Jesus quem passava não perde a oportunidade de Lhe solicitar o grande milagre. Era aquela a grande chance de sua vida! Já dizia um grande santo: “Temo a Jesus que passa e que pode não voltar”! Aquele doente não titubeara, pois, ao saber que Jesus o chamava, levantara-se de um salto e, jogando fora o seu manto, foi correndo até o poderoso Senhor. Tenhamos sempre a mesma atitude expondo sinceramente a Cristo nossas dificuldades, para poder sentir o seu poder divino para si, os familiares e demais amigos. Seja qual for a dificuldade Cristo tem solução para tudo. Jesus ensinará sofrer com a Igreja, pela Igreja, para a Igreja e a salvação do mundo. É preciso, contudo, depois se colocar no seguimento fervoroso do Mestre divino. Não julgar, sem razão, um marginal qualquer pessoa que de nós se aproximar, não sendo nunca um osbstáculo à graça de Deus na vida dos que nos cercam. Saibamos também levar outros cegos até o poderoso Redentor. Ele o Senhor, o Deus vivo quer sempre curar de tudo que nos separa dele, de tudo que nos cega e não deixa que vejamos a beleza da vida de Deus que está em nós. Com Bar Timeu somos chamados a clamar com força e com convicção a quem pode, realmente, salvar. Portanto, Ir sempre a Jesus com um profundo elã de confiança em busca de tesouros espirituais. Pedir também saúde do corpo para melhor servir o próximo no que lhe for preciso. Perceber que cumpre sempre detestar o pecado convictos de que há necessidade da cura dos olhos do coração, cura de toda cegueira espiritual. Assim cada um será o verdadeiro testemunho do poder do Salvador. Então a vida de cada um terá uma dimensão maravilhosa. Uma vivência em tudo segundo o ensinamento de Jesus e não conforme os ditames do mundo. Olhar o coração misericordioso de Jesus, invocando-o de uma maneira positiva num contato vivo com o Senhor, dizendo-Lhe “Jesus ajuda-me” e isto com aquela fé que demonstrou Bar Timeu. Procuremos valorizar o dom da fé. Foi essa fé de Bar Timeu que permitiu a Cristo cura-lo.  Jesus foi claro: “Vai, tua fé te salvou”. Cumpre se lembrar sempre que a fé do cristão não é algo que se pode adquirir ou ganhar pelo exercício da própria vontade ou dos próprios esforços. É, de fato, uma dádiva que se adquire através da prece humilde e constante. Recebida no batismo esta graça deve crescer continuamente e daí a prece “Senhor, aumenta a minha fé”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

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