AMAR
A DEUS E AMAR O PROXIMO.
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
No tempo de Jesus algumas pessoas
mais esclarecidas em sua fé procuravam estabelecer uma hierarquia entre as
múltiplas obrigações da Lei. Daí de um deles perguntou a Jesus “Qual o primeiro
de todos os mandamentos?” (Mc 12, 28-34)
O Mestre divino respondeu
inicialmente citando o Deuteronômio (6,5) um belo texto que todos sabiam de
cor, porque já no tempo de Jesus todos os judeus deviam recitá-lo ao menos duas
vezes por dia: “Escuta Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único. Tu amarás o
Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu
pensamento e de toda tua energia”’. Para nós ocidentais hodiernos o coração
serve sobretudo para amar, para um hebreu o coração tem também sua parte na
atividade intelectual Deus dai-me um coração para compreender (Dt 29,3). Para os
judeus do tempo de Jesus, o coração era às vezes consciência e memória,
intuição e força moral. No coração ressoam todas as afeiçoes, mas é também no
coração que as impressões e as ideias se transformam em decisões e em projetos.
É sobretudo no coração que se enraízam a postura de quem crê e a fidelidade
sincera a Deus, Assim sendo o coração no sentido bíblico, é assim o homem
inteiro interior e lugar privilegiado da manifestação da fé. Deste modo, “Tu
amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração” significa que toda a pessoa
humana será mobilizada pelo amor de Deus, tendendo para Deus com o melhor de si
mesmo. Jesus, contudo, ajuntou imediatamente, citando desta vez o Levítico
(19,18): “Tu amarás o teu próximo como a ti mesmo” É o segundo mandamento
sempre inseparável do primeiro e, entretanto, sempre distinto. Isto porque o
amor do próximo não pode tomar o lugar do amor para com Deus, ou seja, o
próximo não deve substituir Deus. Entretanto, os dois mandamentos são
semelhantes porque o amor do próximo, como o amor por Deus devem mobilizar toda
a pessoa e todas suas energias. Não se pode verdadeiramente se aproximar de
Deus sem começar a amar tudo o que Deus ama. Mais se está perto de Deus, mais
se torna próximo dos outros filhos de Deus. Santa Terezinha do Menino Jesus dizia
que a caridade é tudo nesta terra e alguém é santo na medida em que ela é
praticada. O escriba que interrogara Jesus responde então a Ele que o que Ele
disserta era a pura verdade. Cristo vendo que seu interlocutor havia entendido
perfeitamente o ensinamento lhe diz: “Tu não estás longe do Reino de Deus”.
Note-se que Jesus assevera que este escriba não está longe o que significa que
ele ainda não praticava totalmente o que lhe fora falado, isto é, que cada um
de nós deve se examinar para diagnosticar se vive na prática, em plenitude, o amor
a Deus e ao próximo. Não basta proclamar que é verdade o que jorrou dos lábios
de Cristo, querer dar um sentido à própria vida, ao seu trabalho, aos seus
sofrimentos, enfrentando o turbilhão dos acontecimentos diários, mas é preciso ainda
tudo fazer e aceitar com muito amor no coração, tudo fazendo para a glória de
Deus e bem do próximo. Nada de se deixar levar pela engrenagem da rotina, pelas
relações superficiais para com o Criador e suas criaturas. A fé em Deus deve
nos conduzir à observância de seus mandamentos. Jesus leva a seu termo a
plenitude da lei. Ele ama o Pai como Deus verdadeiro, nascido do Deus
verdadeiro e, enquanto Verbo feito homem, Ele criou uma nova humanidade de Filho
de Deus, irmãos que se amam sem restrições. O apelo de Jesus nos atrai para o
amor de Deus invisível e humanamente inacessível e, ao mesmo tempo, é um caminho
para nos permitir reconhecer o amor na vida na relação com os irmãos visíveis e
presentes a nosso lado. Nossa união com Cristo, união de conhecimento e de
amor, insuflado pelo Espírito Santo, deve nos levar ao cumprimento cabal dos
deveres a Deus e a todos os seus filhos. Não basta conhecer os principais
preceitos de Lei do Senhor, mas é preciso continuar sempre a avançar por
transformar estes preceitos em realidade, pois a adesão plena a Deus se manifesta
no caminho da vida de cada um. O perigo é se deixar levar pelos apelos mudamos
que são sutis. Ídolos escondidos na própria personalidade, na maneira de viver,
Eles devem ser procurados e destruídos São Tiago alertou sobre o amor pelas
coisas do mundo hostil à vontade de Deus, pois quem ama as coisas do mundo é inimigo
de Deus (Tiago 4,4). Portanto, amar a
Deus e ao próximo fielmente, sinceramente, constantemente! *Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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