terça-feira, 19 de outubro de 2021

 

AMAR A DEUS E AMAR O PROXIMO.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*  

No tempo de Jesus algumas pessoas mais esclarecidas em sua fé procuravam estabelecer uma hierarquia entre as múltiplas obrigações da Lei. Daí de um deles perguntou a Jesus “Qual o primeiro de todos os mandamentos?” (Mc 12, 28-34)  O  Mestre divino respondeu inicialmente citando o Deuteronômio (6,5) um belo texto que todos sabiam de cor, porque já no tempo de Jesus todos os judeus deviam recitá-lo ao menos duas vezes por dia: “Escuta Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único. Tu amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu pensamento e de toda tua energia”’. Para nós ocidentais hodiernos o coração serve sobretudo para amar, para um hebreu o coração tem também sua parte na atividade intelectual Deus dai-me um coração para compreender (Dt 29,3). Para os judeus do tempo de Jesus, o coração era às vezes consciência e memória, intuição e força moral. No coração ressoam todas as afeiçoes, mas é também no coração que as impressões e as ideias se transformam em decisões e em projetos. É sobretudo no coração que se enraízam a postura de quem crê e a fidelidade sincera a Deus, Assim sendo o coração no sentido bíblico, é assim o homem inteiro interior e lugar privilegiado da manifestação da fé. Deste modo, “Tu amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração” significa que toda a pessoa humana será mobilizada pelo amor de Deus, tendendo para Deus com o melhor de si mesmo. Jesus, contudo, ajuntou imediatamente, citando desta vez o Levítico (19,18): “Tu amarás o teu próximo como a ti mesmo” É o segundo mandamento sempre inseparável do primeiro e, entretanto, sempre distinto. Isto porque o amor do próximo não pode tomar o lugar do amor para com Deus, ou seja, o próximo não deve substituir Deus. Entretanto, os dois mandamentos são semelhantes porque o amor do próximo, como o amor por Deus devem mobilizar toda a pessoa e todas suas energias. Não se pode verdadeiramente se aproximar de Deus sem começar a amar tudo o que Deus ama. Mais se está perto de Deus, mais se torna próximo dos outros filhos de Deus. Santa Terezinha do Menino Jesus dizia que a caridade é tudo nesta terra e alguém é santo na medida em que ela é praticada. O escriba que interrogara Jesus responde então a Ele que o que Ele disserta era a pura verdade. Cristo vendo que seu interlocutor havia entendido perfeitamente o ensinamento lhe diz: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. Note-se que Jesus assevera que este escriba não está longe o que significa que ele ainda não praticava totalmente o que lhe fora falado, isto é, que cada um de nós deve se examinar para diagnosticar se vive na prática, em plenitude, o amor a Deus e ao próximo. Não basta proclamar que é verdade o que jorrou dos lábios de Cristo, querer dar um sentido à própria vida, ao seu trabalho, aos seus sofrimentos, enfrentando o turbilhão dos acontecimentos diários, mas é preciso ainda tudo fazer e aceitar com muito amor no coração, tudo fazendo para a glória de Deus e bem do próximo. Nada de se deixar levar pela engrenagem da rotina, pelas relações superficiais para com o Criador e suas criaturas. A fé em Deus deve nos conduzir à observância de seus mandamentos. Jesus leva a seu termo a plenitude da lei. Ele ama o Pai como Deus verdadeiro, nascido do Deus verdadeiro e, enquanto Verbo feito homem, Ele criou uma nova humanidade de Filho de Deus, irmãos que se amam sem restrições. O apelo de Jesus nos atrai para o amor de Deus invisível e humanamente inacessível e, ao mesmo tempo, é um caminho para nos permitir reconhecer o amor na vida na relação com os irmãos visíveis e presentes a nosso lado. Nossa união com Cristo, união de conhecimento e de amor, insuflado pelo Espírito Santo, deve nos levar ao cumprimento cabal dos deveres a Deus e a todos os seus filhos. Não basta conhecer os principais preceitos de Lei do Senhor, mas é preciso continuar sempre a avançar por transformar estes preceitos em realidade, pois a adesão plena a Deus se manifesta no caminho da vida de cada um. O perigo é se deixar levar pelos apelos mudamos que são sutis. Ídolos escondidos na própria personalidade, na maneira de viver, Eles devem ser procurados e destruídos São Tiago alertou sobre o amor pelas coisas do mundo hostil à vontade de Deus, pois quem ama as coisas do mundo é inimigo de Deus (Tiago 4,4).  Portanto, amar a Deus e ao próximo fielmente, sinceramente, constantemente! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário