SOLENIDADE DE
TODOS OS SANTOS
Côn. Jose Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade de
Todos os Santos é uma etapa do ano litúrgico que pode induzir os incautos a um
erro, ou seja, festejar o mistério celebrado, olhando unicamente para o céu. A
tentação é forte de prestar atenção somente aos Santos que se acham no paraíso
junto de Deus. Eles, de fato, são os frutos mais preciosos e maduros da árvore
da perfeição espiritual. Atraem uma admiração abismada, mas que pode impedir
vislumbrar a santidade e o engajamento na vida cotidiana dos santos que ainda
labutam no cotidiano deste mundo terrestre. Entretanto o Evangelho nos orienta
de maneira decisiva em outra direção e deve nos levar a evitar este erro (Mt
5,1-12). São Mateus na narrativa das bem-aventuranças indica o caminho a seguir na vida para poder
recolher os frutos da adesão integral na vivência do dia a dia nesta terra. A
colheita será abundante se hoje somos efetivamente pobres em espírito, se temos
fome e sede de justiça, se somos misericordiosos, tendo uma vida inteira pura,
se construímos a paz. Além disto, se suportamos as injúria, as perseguições e
os falsos testemunhos por causa da justiça, quando somos provados durante o
nosso caminhar terreno. Aí está uma descrição viva da santidade como convém aos
que se comportam como filhos de Deus que um dia gozarão dele por toda a
eternidade Trata-se de trilhar um caminho da perfeição
cristã, no esforço cotidiano se tornar semelhantes ao Pai que está lá no céu. É
a vivência completa da nossa vocação batismal. Dois os pilares a sustentarem este
edifício da vocação à santidade: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo. O viver de quem foi batizado deve ser um caminho de uma
conversão contínua, como aconteceu, por exemplo, com Santo Agostinho depois de
sua mudança radical de atitude perante Deus. A vida cristã parte sempre de um
chamado divino, de um encontro com a verdade de Cristo como aconteceu com Pedro
e André às margens do mar da Galileia, ocasião em que estavam ocupados em suas
atividades de pescadores. Eles souberam abandonar uma existência feita de fatos
de cada hora para seguir a Verdade e se tornarem pescadores de homens,
pregoeiros corajosos de uma Palavra capaz de transformar o mais íntimo do ser
humano, tanto o coração dos sábios como o das pessoas simples e dos pequenos,
uma Palavra salvadora para todos. A solenidade de Todos os Santos nos interroga
antes de tudo sobre nossa vocação, sobre nossa capacidade de renunciar a nós
mesmos, às nossas falsas seguranças e mesmo à ideia que nós fazemos daquilo
que é ser santo. Como Pedro e André,
como tantos outros na milenar história da Igreja, devemos pedir sempre a Deus a
coragem de saber abandonar os numerosos entraves da vida que a aprisionam nossa
vocação para a santidade, a saber, as barreiras que se opõem às sábias
exigências do Evangelho, como o egoísmo, o individualismo que limitam nossa real
participação ativa no crescimento da comunidade na qual estamos inseridos, o
terrível empecilho da guerra conosco mesmos e com os outros. Isto destrói as
relações sinceras com o próximo. Adite-se a preguiça que nos impede de colocar
à disposição dos outros nosso tempo e nossos talentos. Todos estes obstáculos
anulam o espírito das beatitudes e são empecilhos na caminhada da santidade
Além disto, por exemplo, a imagem bíblica de São Pedro na prisão deve levar a
refletir nas consequências da disponibilidade até o sacrifício pessoal para
seguir a Verdade como vemos também em tantos lances da existência dos outros
santos. Antes da Paixão e Ressurreição de Jesus, Pedro era tímido, temeroso e
mesmo sujeito a falhas clamorosas. Depois, porém, de receber o dom do Espírito
de Pentecostes Ele se fez testemunha intrépida de uma liberdade particular,
aquela lhe foi comunicada por Cristo, ou seja, liberdade com relação a lutar
contra o pecado e o mal. Paradoxalmente o anúncio desta liberdade levou Pedro e
Paulo para a prisão. Em nossos dias
aquele que tem a coragem demonstrada por estes Apóstolos e os demais santos
através dos tempos, destemor para anunciar a liberdade das beatitudes,
liberdade diante da hipocrisia, da ira, da injustiça social, do enriquecimento
egoísta, são marginalizados, condenados e, até perseguidos. A estes é imposto
silêncio por uma sociedade corrupta e pelos interesses mesquinhos dos homens
perversos. No entanto, é a luta pela liberdade de ação que devemos proclamar, se
bem compreendemos as beatitudes. Nenhuma injunção humana deve colocar um limite
no caminho da perfeição cristã, pois o amor a Deus e ao próximo precisa ser
total e desinteressado. Não se deve, porém se deixar iludir uma vez que o caminho
da santidade não é fácil. A luta é empregando as armas oferecidas pelas bem
aventuranças. Para nós, portanto, ser santo deve significar vencer graças ao
poder extraordinário da Palavra de Jesus, *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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