VIGIAI SEMPRE E ORAI
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Estamos
iniciando o Advento e a Liturgia nos leva a examinar a nossa vida cristã para
verificarmos se, de fato, a nossa atenção se concentra inteiramente na presença
de Jesus que deve envolver toda a nossa existência. Daí a necessidade da
vigilância e da oração, pois o Filho do homem, que veio no Natal, voltará um
dia e deverá nos achar firmes na sua presença (Lc 21, 25-28: 34-36). O perigo seria a
desatenção por força das preocupações terrenas e, sobretudo em nossos dias,
quando se vive o impacto das modificações tecnológicas dentro da história, É
preciso estar atentos aos sinais dos tempos. Vigilância porque o Senhor que
vem, voltará um dia e será preciso viver em função desta expectativa, mesmo
porque a volta de Cristo será surpreendente. Cumpre então estar vigilante na
fé. Trata-se então de viver um engajamento radical e uma renúncia a tudo que
possa desvirtuar nossa ação nesta marcha para estes dois encontros com Cristo.
Jesus veio a este mundo para instaurar o Reino de Deus e voltará para verificar
como vivemos vigilantes dentro desta realidade sublime. Todas as ações
realizadas à luz da gratuidade dos dons de Deus que exige da parte do cristão
plena consciência da seriedade de sua responsabilidade. Vigilância total para
uma correspondência ao amor do Filho de Deus que veio e virá e isto exige a
audácia da confiança, o abandono numa prece contínua que leva à disponibilidade
para servir sempre a justiça do Reino. Trata-se de uma esperança dinâmica que
deve induzir a excluir tudo que possa impedir acolher em plenitude o Reino que
o Filho do homem veio instaurar nesta terra. Jesus veio para fazer novas todas
as coisas e sua outra vinda nos fim dos tempos ilumina assim a esperança do
cristão sempre vigilante na oração, mesmo porque não se sabe quando será este novo
retorno. Este acontecimento final, inimaginável, vai além das descrições
simbólicas que a Bíblia nos apresenta e Jesus foi claro: “O Filho do homem virá
na hora em que vós menos esperais”. Assim sendo, a vigilância não ajuda em nada
a prever o dia da segunda vinda de Cristo, mas nos deve levar a viver o dia a
dia, o presente, abertos à expectativa futura na oração e assim esta vigilância
é essencial. Ela espera todo e crê tudo. Fruto da confiança em um Deus maior
que os projetos humanos, leva a aceitar o imprevisível como marca da liberdade,
da fé, da esperança e do amor a Deus. Isto numa trajetória que possibilita a
superar rupturas por vezes dolorosas que fazem parte da caminhada de cada um
neste mundo. O importante é aguardar o evento final, visando ter méritos diante
deste Jesus que veio e que voltará um dia Aí o papel da prece, da união
continua com Jesus, força espiritual, anazopiren,
numa generosidade contínua na prática do bem. Vigiar e orar na preparação da
celebração do mistério do Natal, discernir o nascimento do Filho de Deus até
nas situações de pobreza humana, de fragilidade social, de vulnerabilidade das
pessoas para perceber, em tudo, o encontro do tesouro que se oferece a todos nesta
expectativa da volta um dia do Filho do homem, caminhando cada um à luz do Senhor.
Daí a necessidade de orientar todas as aspirações para uma preparação condigna
das vindas de Cristo. Trata-se, portanto, de uma atitude que vai além da mera
previsão humana para ultrapassar as vicissitudes provenientes das transformações
sociais, indo além da mera previdência humana. Todo cuidado é pouco, tanto mais
que a sociedade atual é rica de possibilidades, mas também é complexa e pode
enganar os incautos com suas solicitações, propostas tantas vezes enganosas. Prever
é importante, mas a vontade de tudo dominar pode desviar a atenção do essencial
que é a glória prometida aos que forem sempre fiéis a Jesus. Não se pode deixar
dominar por aquilo que é passageiro, dado que é certíssima a outra vinda de
Jesus. Cumpre ter sempre a lâmpada da fé acesa e, como diz o salmista, esta lâmpada
é a Palavra que deve iluminar nossos passos, nossa caminhada terrena. Donde ser
necessário sempre meditar a Palavra de Deus e estar enraizado no Senhor. Vigar
e orar é crer que Jesus veio e voltará no fim dos tempos, devendo estar seu
discípulo imerso na esperança de suas promessas de vida eterna. Toda a vida, assim,
orientada para sua vinda no fim dos tempos. Vigilância e oração após encontrar
Jesus no seu Natal e O aguardar na consumação dos tempos. Fazendo disto prioridade
na própria existências. Jesus passa na vida de cada um discretamente e,
portanto, orar em todo o tempo. Atenção, pois, contínua à vida interior que
deve ser vida de prece, estando-se de vigia. Vigilância do verdadeiro cristão
que adere às realidades espirituais sem se refugiar erroneamente no imaginário,
mas crendo firmemente em tudo que Jesus ensinou e prometeu, acolhendo as
reponsabilidades inerentes à vida cristã. Isto com toda a lucidez interior,
tendo espírito crítico ante os apelos materiais, sendo profetas para todos na
realização um dia de tudo que o Filho do homem garantiu para seus seguidores. Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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