quinta-feira, 30 de maio de 2013

PASSAR ALÉM DO VISÍVEL

PASSAR ALÉM DO VISÍVEL
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No mundo agitado de hoje, felizmente, são inúmeros os seguidores de Cristo que almejam uma sadia experiência de Deus, passando além do visível, vencendo a barreira daquilo que impede usufruir em plenitude as verdades reveladas. O ser humano é capaz de penetrar pela fé as realidades espirituais. Pode sair do que é material para se imergir no mundo sobrenatural afim de que, assim iluminado, cumpra com sucessso sua missão neste mundo sem se prender a ilusões terrenas. Trata-se de passar para um outro lado como bem se expressou o Papa Bento XVI.  Segundo este sábio Pontífice, é possível a travessia “com a qual saímos dos nossos modos habituais de pensar e viver e ultrapassamos o mundo meramente material para chegar ao essencial, ao além, rumo àquele Deus que, de sua parte, veio aquém, em direção a nós”. O homem tem, de fato, possibilidade de superar seus limites, pois não está preso nos horizontes mundanos. Assim sendo, lhe é viável descobrir uma dimensão do infinito. A fé, realmente, oferece uma abertura maravilhosa para degustar um pouco da felicidade infinita de Deus. Esta virtude teologal não retira quem crê de sua condição humana, mas, ao contrário, lhe dá ensejo de atingir sua plenitude. Esta experiência faz reconhecer que a situação do ser finito é por vezes precária, difícil e cumpre, então, descobrir a dimensão de profundidade do infinito que palpita em cada um para não se deixar abater por entre as circunstâncias da vida. É preciso, em consequência, uma total disponibilidade para acolher os dons celestiais que projetam o cristão na consciência da presença de Deus que nele age em todas as suas ações. Há no mais íntimo do ser racional um desejo profundo de estar com Deus e isto é parte integrante de sua natureza. O bulício exterior é que obnubila esta atração interior. Esta é o que há de mais sagrado e vital naquele que foi criado à imagem e semelhança de seu Criador. O mundo quando se torna uma instituição perversa, contrária ao espírito de Deus e seus ensinamentos, abafa esta tendência natural para o Ser Supremo. Jesus foi claro ao assim se dirigir ao Pai, referindo-se a seus seguidores: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como eu na sou do mundo. Consagra-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17, 15-17). Acontece é que não se procura um momento de silêncio para refletir nestas sentenças luminosas do Filho de Deus. O epígono do Redentor deve ser consagrado na verdade e isto supõe e inclui a santificação espiritual interior que conduz à intimidade com o Pai, através do Filho na luz do Espírito Santo. É o esforço que deve ser feito para se atingir a maturidade espiritual. A condição essencial é então encontrar instantes para uma oração mais contemplativa e menos discursiva e mesmo os mais atarefados podem deparar espaços no seu dia a dia para poder estar com o seu Deus, se estabelecendo firmemente nele. É então que se depara a energia para vencer os numerosos obstáculos que se opõem a esta tertúlia sublime, não obstante as aliciações externas. Disto resulta aquela ventura que o mundo não pode oferecer e o cristão, na plenitude de sua correspondência à graça, se torna eficiente em todos os seus empreendimentos, fazendo-se um profissional competente, serviçal, irradiando a beatitude que traz consigo. Pode, desta maneira, desfrutar tudo de bom que existe em seu derredor e conhecer a autêntica felicidade. Desta forma o que recomendou São Paulo aos Efésios se realiza, ou seja, alcançar “a medida da plena estatura de Cristo” (Ef 4,13). Não se deixa o cristão assim se dominar pelo mundo, mas se volta para Deus no interesse mesmo do mundo, pois “uma alma que se eleva, eleva a terra inteira”. Entende-se então a máxima verídica: “Se és cristão, tens o mundo nas mãos”. Une-se o cristão a Deus para atrair todos para Ele. Quem vive o seu batismo transcende o mundo  para fazer luzir o divino no humano. Bem se pode compreender como isto é importante para a sociedade em geral e, sobretudo, para a Igreja. Tal fiel se torna apto para vencer as tentações, o poder do mundo, o maligno e suas manobras ardilosas. Por isto ajuda na obra de retificação da caminhada humana dentro da história que fica impregnada da energia  espiritual de quem vive em plenitude o Evangelho. Percebe o autêntico cristão sua responsabilidade perante a comunidade que precisa ser revitalizada com seu progresso espiritual. Concretiza-se o que Cristo falou: “Vós sois a luz do mundo”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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