O ANO LITÚRGICO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Igreja, Mãe e Mestra, desde o início do cristianismo sabiamente foi organizando o Calendário Litúrgico para comemorar os mistérios da fé, assim como a memória de Maria e dos santos. O Ano Litúrgico começa no primeiro domingo do Advento com a preparação para o Natal, seguindo-se os demais Tempos Litúrgicos. Através do ano, o Domingo, segundo a tradição dos Apóstolos é o principal dia da semana, no qual os fiéis têm a obrigação de participarem do Santo Sacrifício da Missa. A principal data do Ano Litúrgico é a comemoração da Páscoa, o maior dia do ano. A sequência de leituras bíblicas que se repetem a cada três anos nos domigos e solenidades são dividas em ano A, B e C. No ano A lêem-se as leituras do Evangelho de São Mateus, no ano B, o de São Marcos e no ano C, o de São Lucas, como acontece neste ano de 2013. O Evangelho de São João é lido em ocasiões especiais, sobretudo nas Festas mais importantes. Nos dias da semana no Tempo Comum há leituras diferentes para os anos pares e para os anos ímpares, com exceção do Evangelho que se repete de ano a ano. É assim que, de três em três anos, aqueles que participam da liturgia diária terão praticamente lido toda a Bíblia. As leituras, inclusive os salmos, estão de acordo com os tempos litúrgicos, a saber, no Advento ajudam na preparação para a solenidade do Natal, quando também se dirigem os pensamentos para a segunda vinda de Cristo no fim dos tempos, ditos escatológicos. O tempo do Natal vai de 25 de dezembro até a festa do Batismo de Jesus. O tempo da Quaresma, época de especial conversão e penitência, vai de quarta-feira de Cinzas até Quinta-feira Santa, quando começa o tríduo Pascal. O Tempo Pascal estende-se até o domingo de Pentecosts e depois continua o Tempo Comum até o Advento. Neste período se celebram também várias festividades em homenagem à Virgem Maria com leituras especiais. Como salienta a CNBB, "o Tempo comum não é tempo vazio, é tempo de a Igreja continuar a obra de Cristo nas lutas e nos trabalhos pelo Reino." (Documento 43, 132). Por isto também neste período a Liturgia apresenta as Leituras bíblicas numa catequese admirável. Sábios, portanto, os critérios da escolha das Leituras através do ano. O calendário litúrgico cristão se torna uma celebração atualizada da salvação. Quando se relaciona a sinfonia do tempo cósmico com o tempo da história, se pode perceber que o tempo judaico e o tempo cristão se tornaram aquele da recordação das intervenções de Deus na história humana. Eis aí o aspecto de memorial que estrutura a concepção da liturgia na sua relação com o tempo. As festas não são apenas marcas na roda inexorável da sucessão das horas, ritmada pelo decurso de estações e fatos cósmicos. Elas são momentos chaves, permitindo à comunidade reencontrar a lembrança da presença de Deus. O ciclo lunar permaneceu um referencial para determinar o momento das festas especialmente a de Páscoa, celebrada no primeiro domingo depois da lua cheia do equinócio de março. Toda celebração litúrgica comemora e festeja o mistério pascal, mesmo si cada festa específica, como a da Transfiguração, se ligue mais a uma de suas facetas. O ano litúrgico combina as duas, seu epicentro é constituído pela Páscoa, mas todo o resto do ano se desenvolve segundo um programa que tem em conta os limites da capacidade humana de entrar neste mistério divino. Nenhuma festa do ano litúrgico não se compreende sem a referência pascal, mesmo as festas dos santos nas quais a Igreja “proclama este mistério nos seus santos que sofreram com Cristo e são glorificados com ele” (SC n 104). É que viver a realidade da Ressurreição de Cristo consiste em fazer penetrar a eternidade de Deus no tempo humano. É inscrever a existência de cada um na perspectiva escatológica. Em cada dia do ano litúrgico, a liturgia eucarística e a liturgia das horas introduzem uma porosidade entre a vida presente e a vida eterna e leva os batizados a viverem o mistério pascal. Eis porque a morte não aparece então mais do que uma derradeira etapa da conformação com Cristo a qual foi iniciada no batismo. Nesta trajetória terrena a presença Deus transfigura assim o tempo dos fiéis e todas as atividades humanas. Pelo batismo e pela sua iniciação permanente na vivência de Cristo os cristãos são constituídos portadores do sacramento no qual renasceram para a vida sobrenatural. O ponto capital, portanto, do ano litúrgico é permitir aos fiéis terem sempre consciência do mistério pascal nesta vida, esperando que a escatologia realize a plenitude da mesma. Ao longo de sua história a liturgia não cessou nunca de ser a pedagoga desta sublime experiência que vai conhecendo através dos diversos ciclos litúrgicos a contínua novidade e grandeza de cada verdade da fé comunitariamente celebrada. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
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