A CHAVE DA SOLUÇÃO DOS CONFLITOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A primeira atitude daqueles que vivem um desentendimento é não privilegiar o conflito para não acentuar a discórdia. Os aspectos opostos a outros por parte de cada pessoa, os quais são fontes das tensões, precisam ser solucionados não com uma síntese que ignore as razões das partes, mas numa visão superior que leve a uma unidade. Quando cada um se firma no princípio de que está absolutamente certo e o outro totalmente errado não se chega nunca a uma concórdia. Prevalece o desacordo. Entretanto, para que se chegue a um novo caminho cumpre um auto-exame de ambas as partes, dado que no momento no qual se passa a reconhecer que o ser humano não é infalível se acha aberta a via para a compreensão e para o perdão cordial. Trata-se de não enfatizar as falhas alheias, porque, seja quem for, tem suas carências. Como tantas vezes tem repetido o Papa Francisco, “o cristão deve construir pontes e não muros”. De fato, se uma pessoa se empareda irredutível no seu modo de pensar, bloqueia qualquer passagem para uma situação harmoniosa. Fica impedida a troca de idéias. O ideal é encontrar uma diversidade reconciliada para que entre os cônjuges, entre pais e filhos, entre mestres e alunos, entre os amigos se possa sempre caminhar lado a lado deparando a unidade na verdade. Nada mais saudável do o respeito ao perfil caracterológico do outro para se compreender suas atitudes, tendo cada um consciência de que possui qualidades e defeitos. Apenas assim se encontrará a maneira pela qual um possa ajudar o outro sem passar recibo no que está errado, mas entendendo que é possível que brilhe em qualquer circunstância a luz da superação do problema em tela. Cumpre que as partes em litígio saibam um escutar o outro, pois tantas vezes o que ocorre é desinformação. Afastadas a prepotência, a exasperação da linguagem comunicativa, meio caminho está aberto para uma conciliação. Nunca se deve querer mudar a identidade do outro, mas sim oferecer todos os meios para um diálogo, uma aproximação. É necessário saber, como bem se expressou o atual Papa, que “algumas pessoas vêem sempre o copo meio cheio, e outras, ao contrário, meio vazio”. Portanto, trata-se, em tantas ocasiões, de uma questão psicológica fruto de uma mentalidade que deve ser captada para que se possa perceber o ponto de vista alheio. Não é fácil saber o limite da visão do semelhante, se não há uma predisposição para atinar com sua cosmovisão. O ponto de partida deve ser, em tudo, a acolhida cordial e nunca uma tomada de posição prévia. As problemáticas existenciais são complexas e exigem discernimento de parte a parte. A tudo isto se acrescente que o significado das palavras mal decodificado pode levar a não se atinar com que o outro está realmente dizendo. Nada mais desejável que se esteja falando a mesma linguagem. Seja como for, uma condição da parte de qualquer pessoa para evitar situações conflituosas é o perfeito equilíbrio do corpo e do espírito, um bom estado físico e mental. Há sempre uma tendência para transferir para os outros os próprios problemas e defeitos. É preciso, portanto, cuidado no julgamento para que possa haver um consenso. Nos seres humanos há obscuridade e luz, esta é que deve prevalecer, aquela não pode ser acentuada. Nada desgasta mais, quer o homem, quer a mulher, do que a animosidade sem motivo ou que deveria ser evitada. O segredo da vida é transformar a agitação em cooperação. Nada mais necessário do que baixar o nível de defensividade, abolindo definitivamente acusações mútuas. A interação emocional é de vital importância em toda parte. Atitudes negativas devem ser evitadas, pois causam ressentimentos, aumentam a taxa de absenteísmo e reduzem o nível de energia positiva. É preciso inclusive que no afã de se resolver uma pendência não se empregue qualquer atitude que pode se configurar como suborno afetivo. Sem sinceridade nada de positivo se constrói. Assim qualquer tipo de elogio desproporcionado ao invés de resolver pode agravar o mal estar entre duas pessoas. . É preciso, isto sim, sempre a busca de reforços interpessoais, como a atenção que se manifesta nos mínimos detalhes, incluindo não se querer dominar o outro a partir da suposição, a priori, de que ele está errado. Sábio o conselho bíblico: “Reprime o furor e deixa a cólera; não te exasperes, para não seres levado ao mal” (Sl 37,8). Com calma tudo se resolve. Nunca se deve esquecer que, quanto mais espontâneo alguém for e quanto mais investir em si próprio como ser humano, maiores serão as chances de se dar bem com todas as pessoas, impedindo os conflitos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário