quinta-feira, 16 de maio de 2013

VIVER INTENSAMENTE A FÉ

VIVER INTENSAMENTE  A FÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se valoriza demais o precioso dom da fé pela qual se pode estabelecer um diálogo intenso com Deus. Desta sublime convivência com o Ser Supremo resulta a imperiosa necessidade de fazer frutificar esta crença beatificante. Isto significa irradiar por toda parte a ventura de poder dar à existência humana um sentido certo e duradouro. Com efeito, aquele que se entrega sem reservas ao amor divino através de uma real experiência de fé e se aparta da própria segurança, se torna um iluminado e pelo fato de estar inebriado num júbilo íntimo profundo anela que outros encontrem esta mesma felicidade. Aí está a magna missão do cristão, o qual como discípulo de Cristo, precisa difundir por toda parte como afetuoso é o Senhor Todo-Poderoso. Mostrar que os valores da fé se distinguem profundamente dos valores do mundo. Estes acabam por sufocar as indagações que borbulham lá no íntimo do ser racional e não satisfazem as aspirações fundamentais que palpitam dentro do coração humano. Obscurecido fica o destino final de quem foi criado para, além morte, conhecer a recompensa de seus atos na curso terreno. Apenas à luz da fé é possível triunfar das paixões desregradas que são tendências que animalizam e, em conseqüência, vencer o pecado que é uma irracional revolta contra o Criador de tudo. É que a autêntica vivência da fé comporta a obediência a quem sabiamente estabeleceu leis fora das quais a pessoa humana não alcança nunca sua maturidade. Isto exige evidentemente renúncias que redundam naquela paz que supera todas as riquezas e prazeres mundanos. Estes prazeres envolvem em escuridão, angústia existencial ao passo que a fidelidade à voz da consciência que clama por um procedimento de acordo com a vontade divina traz luz, serenidade, imperturbabilidade. O Papa Francisco advertiu: «Não se é cristão a tempo parcial, apenas em alguns momentos, em algumas circunstâncias, em algumas escolhas. Não se pode ser cristão assim; é-se cristão em todos os momentos. Totalmente!». De fato o júbilo que paira em quem crê em Jesus comporta momentos cruciais e deve impregnar todos os pensamentos e ações do discípulo do Redentor, tornando visível a todos que não pode ser infeliz “coração que ama a Cristo”. Seria contraditório ao cristão viver sem superabundância, sem extravasar a riqueza que se acha em sua alma.  Um dos erros mais calamitosos de um epígono do Filho de Deus é não compartilhar os bens espirituais que lhe advêm através da fé. É uma chaga que o batizado fixa em si próprio. É um opróbrio que se projeta sobre si mesmo. Por muito inconcebíveis e intrigantes que as mudanças bruscas de um exílio terreno possam ocasionar, é muito mais danoso não saber transformar as tribulações em momentos de crescimento espiritual para tornar o mundo melhor. Quem age com uma fé arraigada fica blindado perante as provações que Deus permite e que são inevitáveis ao longo da caminhada rumo à Casa do Pai.  A fé confere paciência por muito penosos e difíceis que sejam os sofrimentos nesta marcha para o céu. A fé, contudo, é penhor do amor, da amizade e das bênçãos daquele que habita na alma em estado de graça. Desta maneira, quem tem fé jamais se deixa possuir pela disfunção emocional que abafa o alento da vida que necessita existir através da primeira das virtudes teologais. De tudo isto resulta então a santidade vivida intensamente pelo cristão, o qual é sempre agradável a Deus que o ajuda e recompensa com consolações inenarráveis. Tanto isto é verdade que os grandes santos se regozijavam por entre aflições e repetiam com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). É lógico também que para se chegar a esta plenitude da luminosidade da fé é preciso a oração contemplativa e as preces que pedem que a fé seja cada vez mais aumentada. Cumpre, outrossim, uma união com Maria que recebeu aquele sublime elogio de Santa Isabel: “Bem-aventurada aquela que acreditou”. (Lc 1,45. Ela então fortalece a fé e torna suaves as preocupações, exuberante o júbilo e leva a sublimar as dificuldades cotidianas. Isto porque ela é “a mulher vestida de sol”(Ap 12. 1) que aclara neste vale de lágrimas todos que dela se avizinham, protegendo-os, sustentando-os, encorajando-os a exercer fielmente a vocação cristã sobre a rocha de uma fé inabalável.  Num momento de pulcra inspiração Giuliano Vigini mostrou que é deste modo que “o tu da fé pessoal se funde, reascendendo e amadurecendo, no nós da comunidade eclesial”. O cristão santificando sua vida pela fé, fazendo em tudo a vontade de Deus, fica então a serviço de todos os homens e da criação inteira e se torna o mais útil dos humanos e dos cidadãos desta terra.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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