SANTÍSSIMA TRINDADE, NOSSO DESTINO.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Saímos de Deus. Um dia, a Ele voltaremos. Esta foi a grande revelação de Cristo. Aí esta o núcleo mesmo da religião. Eis porque a Trindade é o dogma central de nossa vida. É nossa beatitude que está em jogo quando professamos o mistério trinitário. Sem este, a religiosidade se desarraiga e perde sua profundidade e sua força salutífera. Este dogma deve polarizar a vida cristã. O Concílio Ecumênico Vaticano II mostra que “unidos, pois, a Cristo na Igreja e marcados pelo Espírito Santo, que é penhor da nossa herança, somos, na verdade, chamados filhos de Deus e o somos de fato, mas ainda não aparecemos com Cristo na glória, na qual seremos semelhantes a Deus, porquanto O veremos como é”. Santo Tomás explica que as processões trinitárias são a razão e a causa da produção das criaturas, bem como de todo o retorno destas à sua origem. É dentro desta perspectiva que se pode conceituar o mundo criado conforme o dito joanino: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio em Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e nada do que foi feito, foi feito sem Ele”. Este universo criado, grandioso, mas limitado, por que marcado pela finitude essencial é a pulquérrima exteriorização da idéia divina. Mas no cosmos, ao borbulhar de um amor eterno, o homem recebeu a plenitude do Espírito de Deus e está destinado à visão e ao gozo eterno das Pessoas divinas. É esta a maravilhosa História da Salvação por meio da Encarnação da Segunda Pessoa e da vinda do Paráclito. A Igreja situa-se nessa faixa como sacramento do retorno humano para a Trindade. É a comunidade congregada na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Por toda a eternidade veremos o Pai na luz do Filho, amando-os com o amor intenso do Espírito Santo. Felicidade sem fim. Venturosa inenarrável! Eis porque, nesta terra, por uma devoção interior e pessoal, devemos continuamente já viver em função do Deus três vezes santo. Santo Anselmo nos ensina que “de nada serve crer na Santíssima Trindade, se não se tende religiosamente para Ela”. A esperança de um dia estar sempre com Deus é força nas lutas neste exílio terreno. É o que confortava São Paulo: “Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura em nós”. O mesmo apóstolo então mostrava que, fortes na fé, aguardamos “a esperança bem-aventurada e a manifestação do grande Deus e Salvador nosso Jesus Cristo” [...] “Será Ele que transfigurará nosso corpo abatido, para que seja conforme o seu corpo glorioso”. Enquanto peregrinamos no exílio nos unimos a nossos irmãos já de posse da glória num mesmo louvor da Santíssima Trindade Até que chegue o dia claríssimo da eternidade, “quando Cristo aparecer e se der a gloriosa ressurreição dos mortos, a luz de Deus iluminará a Cidade celeste e o Cordeiro será sua luz”. Será este o momento máximo da história pessoal de cada fiel, porque, doutrina o Concílio, “então toda a Igreja dos Santos na suma beatitude da caridade adorará a Deus e ao Cordeiro que foi imolado (Apoc. 5,12), proclamando numa só voz: “Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro o louvor e a honra, e a glória e o poder pelos séculos dos séculos” (Apoc. 5,13-14). Enquanto não surge o grande momento da manifestação do Senhor, em cada Missa da qual participamos, e, sempre que o Espírito Santo nos inspirar, repitamos cheios de fé, esperança e muito amor: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos. Os céus e a terra proclamam a Tua glória. Hosana no mais alto dos céus”. Crer na Trindade é apoiar-se nas Três Pessoas divinas, firmar-se nelas, refletindo no comportamento diário a sabedoria e a dileção de Deus. Acreditar neste Deus-Amor que nos criou, nos salvou e nos santifica. Experimentar Deus Uno e Trino e vê-lo presente nos outros, até que se concretize a volta ao Pai pelo Filho no Espírito Santo. * Diretor Espiritual do JUC
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