A IGREJA NO MUNDO PÓS-MODERNO
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Num contexto consumista no qual impera o liberalismo econômico a Igreja que condenou as teses do comunismo ateu prega a procura da igualdade de oportunidades e de direitos e pugna pelos benefícios sociais. Defende uma equânime distribuição e redistribuição das riquezas e reprova a concentração dos bens nas mãos de uns poucos. A doutrina social do magistério eclesiástico aborda com perfeição as magnas questões que afligem a sociedade. Diante do fenômeno da pobreza, se de um lado condena o paternalismo paralisante, ensina que cumpre a promoção do pobre pelo pobre mesmo, abrindo as portas para um trabalho digno. Todos devem poder enfrentar a vida por meio de uma profissão qualquer. A ajuda aos doentes precisa ir até o ponto de que ele recupere a saúde para poder ter forças e se entregar a um labor produtivo. É claro que nas moléstias crônicas a Igreja batalha para que a aposentadoria por invalidez seja suficiente para arcar com as despesas atinentes à manutenção da vida. Bem se sabe que, por exemplo, os vicentinos primam por uma notável assistência aos doentes e procuram captar recursos para suas obras caritativas. Eles também demonstram assim que os mais necessitados são o tesouro da Igreja. Aliás, o Papa Francisco patenteou sempre este interesse pelos marginalizados e, sem esta dedicação aos pobres, afirmou “construiremos uma Igreja medíocre, morna e sem força”! A caridade como esmola é urgente como socorro imediato ao necessitado. Cumpre implantar por toda parte a cultura da solidariedade. Nunca se insiste demais nas correções na vida dos cristãos que vivem no luxo e nos gastos desnecessários, esquecidos daqueles que passam por dificuldades. São os que adoram o dinheiro e o consumo, em vez de auxiliar os outros, dissipam o que têm com o supérfluo. É a vivência de um materialismo destrutivo e que impede entesourar para o céu, pois ao invés de se ir ao encontro da miséria alheia se desperdiça com o inútil, o não necessário. Cumpre, então, sobrrtudo também evitar o hedonismo, alimentado, pela propaganda que incrementa a compulsão pela compra inútil. Por tudo isto, é preciso a projeção da transcendência espiritual na existência do discípulo daquele que asseverou: “O que fizerdes ao menor de vossos irmãos foi a mim que o fizestes”. O referencial de todo ato caritativo é Cristo visto na pessoa do próximo. Isto é hoje tanto mais imperioso, porque se vive num mundo que aliena Deus, menoscaba os valores e estimula a ganância. Eis a razão pela qual a Igreja mais do que nunca incentiva o combate esclarecido pelo progresso ético, educacional, profissional. Devem ser valorizados os Cursos técnicos que oferecem um mercado de trabalho utilíssimo em vários setores da sociedade, Esta precisa de competentes enfermeiros, eletricistas, fotógrafos, cabeleireiros, de especialistas em marketing, em informática, em contabilidade, em corte e costura, enfim em tantas outras atividades que não requerem um Curso Superior. Há inclusive, oferecido por entidades ligadas às pastorais paroquiais, cursos para garçons, para funcionárias domésticas, para diaristas. Estão, felizmente, voltando às Escolas de Ensino Médio os Cursos de Magistério, de Secretariado que habilitam com eficiência pessoas que não podem, por razões diversas, freqüentarem uma Universidade. É imprescindível incorporar todas as pessoas, quanto antes, à comunidade através de uma educação que lhes possibilite ascensão no mundo do trabalho. Isto é possível quando se age com aquele amor pregado por Cristo no Cenáculo, dileção que gera retidão, justiça e impregna as relações sociais de uma espiritualidade que ultrapassa todas as barreiras. O impacto do imperialismo cultural dos países capitalistas e das classes ricas, somente assim, poderá ser enfraquecido. Entender-se-á também que não há populações inferiores só por não se identificarem com os padrões ditos civilizados dos países do primeiro mundo. Deste modo se estará caminhando para um novo conceito de desenvolvimento que não seja a mera prática de idéias ilusórias transmitidas pelo capitalismo internacional as quais reforçam a dependência. Somente, desta maneira, se dirá que, com toda a verdade, que se é cristão, porque não se está de acordo com a corrupção, com a imoralidade, com tudo que se contrapõe ao Evangelho. As forças do bem são ontologicamente mais fortes que as do mal. Estas forças bem dirigidas mudarão a fisionomia do mundo dito pós-moderno. Somos todos responsáveis pela transformação da sociedade hodierna. Enquanto, porém, aquele que é cristianizado compactuar com a mentalidade materialista reinante, ele não apenas trai o Evangelho como contribui para piorar a situação mundial. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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