sexta-feira, 3 de maio de 2013

A oração deve atingir o íntimo do coração

A ORAÇÃO DEVE ATINGIR O ÍNTIMO DO CORAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muitos orantes não alcançam o objetivo primordial da prece por se esquecerem de que uma oração que não atinja a profundidade do coração é útil, mas superficial. É benéfica porque não deixa de ser um esforço para entrar em contato com Deus. Pouco profunda, porque orar é falar, mas também saber escutar o Ser Supremo. Lemos na Carta aos Hebreus: “Por isso, como diz o Espírito Santo: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como no lugar da exasperação, no dia da prova no deserto, quando vossos pais me puseram à prova, numa experiência, não obstante tivessem visto as minhas obras” (Hb 3,10). Cumpre ouvir as mensagens divinas e colocá-las em prática. A primeira conseqüência desta atitude silenciosa é a purificação interior, uma vez que, quando ocorre a introspecção, logo o fiel percebe que estar na presença do Deus três vezes santo leva, de plano, a aborrecer todas as distorções que possam existir lá no íntimo de si mesmo. Este arrependimento ao qual se une a reta intenção de ser agradável em tudo a seu Senhor possibilita a verdadeira intimidade com Ele. Como gosta de repetir o Papa Francisco, “Deus não é uma espécie de empresa de logística que envia mensagens o tempo todo”. O fiel precisa estar conectado com Ele numa atitude receptiva. Dá-se, então, uma aproximação cordial que ilumina, fortifica e renova o modo de pensar e agir. Isto ocorre exatamente quando alguém reza com todo o seu ser. Acontece o papel transformador da oração. Disto resulta a calma, a tranqüilidade, a serenidade absolutas. Deus é luz que ilumina os que dele se aproximam com um coração repleto de sinceridade e de amor. A prece do coração consiste desta forma em encontrar o caminho que permite ao orante captar esta luminosidade. Permite-se, desta forma, que Deus mesmo santifique seu nome naquele que se volta para Ele. Orar outra coisa não é, de fato, senão acolher o Pai e participar de sua vida que ele oferece pela graça. Acolhê-lo é permitir que Ele nos comunique o Filho que passa a possuir o seu reino na alma de quem assim reza. O Espírito Santo ganha espaço para produzir entre o fiel e a Trindade Santa liames indestrutíveis. Dá-se, realmente, uma purificação fundamental, porque todas as manchas interiores, todas as desordens, todas as vulnerabilidades são confiadas Àquele que se torna o baluarte do cristão. Este repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). Envolto na luz divina, abertos os olhos sobre a realidade da fraqueza humana, se percebe ao vivo a infinita misericórdia de Deus na qual se imerge sem restrições, sem o jogo das circunstâncias que levam a mil distrações. É quando o coração conhece a autêntica liberdade. Isto porque se adquire, progressivamente, o hábito de se voltar continuamente para Deus, sobretudo, quando assim se caminha até Ele a partir daquilo que em cada um é obscuro, tenebroso, inquietante. O verdadeiro orante intui o movimento do Espírito Santo nele, agindo maravilhosamente, livrando-o da rede complexa das emoções, dotando-o c de paciência, perseverança. O principal é estar integrado conscientemente no dinamismo do Espírito. Trata-se de aprender a estar vigilante aos movimentos do próprio coração de tal modo que se possa estar unido voluntariamente à ação divina que age nos fiéis de boa vontade. São Paulo asseverou que o Espírito Santo vem a cada um com gemidos inexprimíveis. Sua ação, porém, normal não oferece idéias claras, nem luz ofuscante, ou proporciona seja o que for. Ele induz, isto sim, a estar voltado para as coisas do alto e não para as da terra. O cristão se vê liberto, não se sente escravo do mundo, não tomba no temor, mas se percebe, verdadeiramente, filho deste Deus que tanto o ama. Deste modo, fica, inclusive, afastada a ousadia de se querer controlar a Deus, fazendo-Lhe exigências descabidas. É quando o cristão roga os favores divinos, intercede por si e pelos outros, mas simplesmente colocando tudo nas mãos da Providência divina. Tem inclusive a certeza de que, se o benefício almejado não for da vontade sapientíssima do Todo-Poderoso, Ele dará algo muito melhor. * Professor no Seminário de Mariana durante40 anos.

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