SANTA RITA DE CÁSSIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, palestra preparada para a reunião do JSC do dia 18 de maio de 2013
Grande glória de Viçosa ter Rita de Cássia por Padroeira.
Notável título de Rita de Cássia ser Padroeira de Viçosa.
Glória, sim, desta cidade por ser Santa Rita uma das mais famosas seguidoras de Cristo e, por isto mesmo, tão poderosa diante de Deus, tendo ela se tornado a advogada das causas impossíveis.
Pérola preciosa na coroa de méritos que Rita de Cássia ostenta por ser Viçosa um dos lugares do mundo onde ela é de modo especial amada e glorificada com manifestações realmente apoteóticas e dada a importância desta urbe famosíssima.
Por tudo isto, festivas são as horas do dia 22 de maio.
Seus méritos são festejados. Suas virtudes, proclamadas. Uma vida cristalizada em feitos imortais é revivida com carinho. Todos admirados com suas ações fundidas nos bronzes do heroísmo cristão. Seus atos se mostram cravejados de facetas adamantinas. Uma existência inigualável a refletir a beleza do Evangelho, a ostentar dotes celestiais, a fulgir toda a grandeza, toda a nobreza que comovem os corações e que a religião consagra. Estamos, de fato, homenageando uma heroina digna da escolha do Deus Altíssimo.
Poderosíssima intercessora. Venerada no mundo inteiro,
Por tudo isto, de fato, uma das maiores glórias de Viçosa: ter Rita de Cássia como Padroeira! Ela esposa, mãe, religiosa se celebrizou em todas as linhas do termômetro da perfeição cristã.
Uma cristã extraordinária e as jovens podem dela se orgulhar
Quando percorremos a História da humanidade contemplamos heroinas que se impuseram por merecimentos indiscutíveis e se se fizeram objeto de admiração e respeito.
Por seu gênio e engenho se destacaram rainhas como Catarina II, da Rússia; Vitória, da Inglaterra; Guilhermina, da Holanda e tantas outras soberanas ilustres.
Por seus dotes se impuseram George Sand, a escritora famosa; Margaret Kennedy, a aplaudida intelectual; Mary Mitchell, a culta astrônoma; Maria Montessori, a magistral pedagoga italiana.
Corajosas foram as mártires Inês, Maria Goretti, Águeda, Cristina, Cecília, Luzia, Perpétua, Felicidade entre inumeráveis outras testemunhas da virtude.
Fé profunda foi a da Cananéia do Evangelho a arrancar o milagre de Cristo só com o tocar na fímbria de suas vestes.
Grande o amor que Maria Madalena, Maria Cléofas, Verônica, Maria Salomé demonstraram ao divino Redentor por entre seus sofrimentos.
Notabilíssimo o patriotismo de Joana d’Arc; profunda a sabedoria de Santa Teresa; maravilhosa a dedicação à Igreja da parte de Catarina de Sena.
Sem fim seria o desenrolar das grandezas daquelas que se impuseram nas variadas provas do valor humano.
Rita de Cássia, porém, é como uma síntese de toda a magnitude feminina de todos os tempos, pois ostentou no mais alto grau as virtudes preconizadas pelo Filho de Deus e se tornou uma santa universal superando, assim, as demais personagens por maiores que tenham sido seus feitos exceção feita à Mãe de Jesus na qual brilhou a plenitude das graças divinas.
Através dos séculos objeto de veneração, de imitação se fez um espelho a ser continuamente mirado, um livro vivo para os discípulos de Cristo, uma mestra inigualável da conduta cristã; rainha de milhares de corações que amam o bem, a nobreza, tudo que mais engrandece o ser racional.
Sua sabedoria foi genial convertendo seu marido Paulo Fernando. Sua coragem foi olímpica suportando anos e anos de tortura, revelando paciência admirável ante um esposo cruel e sem princípios, seu algoz. Sua resignação foi estupenda diante do assassinato de seu consorte, que ela havia convertido, e perante a morte de seus dois filhos. Ela se mostrou muito mais forte que Resfa, pois viu o dedo de Deus a impedir maiores desatinos e entendeu a ação da Providência com raro descortínio. Entre ver seus filhos a vingarem a morte do pai, ela agradeceu à Providência os levar para o céu sem a mancha de tão grande crime.
Ela possuiu em alto grau a maior de todas as ciências, pois, queria conhecer a Cristo e apenas Cristo Crucificado, o que lhe mereceu aquele espinho na fronte. Este muito a martirizou, mas a levou à escola do sofrimento que purifica, santifica, glorifica.
Sua persistência em se consagrar a Deus a levou a vencer todos os obstáculos e quebrou todas as barreiras, dado que encontrou em Santo Agostinho, São João Batista e São Nicolau Tolentino uma trindade poderosa a introduzi-la no convento das agostinianas. A exemplo de Abraão, ela esperou contra toda a esperança (Rm 4,18).
Ninguém mais mortificada do que ela dentro do Convento em Cássia! Ninguém mais obediente! Lá está, até hoje, aquela famosa parreira, que desabrochou viçosa de um galho seco que ela regou a mando de uma Superiora desassisada, mas que lhe provou a humildade e a obediência. Milhares de peregrinos contemplam lá aquele poço que lhe deu, não apenas a água material pela qual expressava a prática da virtude, mas gestos de grandeza interior a esplender em ação tão simples.
Rosas a desabrocharem em seu jardim de Rocca Porena em pleno inverno bem simbolizam o perfume das peregrinas virtudes desta santa admirável a fazer através dos tempos cair pétalas de bênçãos sobre seus devotos.
Desçamos a detalhes sobre sua vida
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Infância e adolescência
O coração é tomado de entusiasmo quando se recorda sua infância naquela localidade encravada nas belas montanhas da Úmbria, onde seus virtuosos pais, Antônio e Amata Mancini, souberam plasmar a religiosidade da filha querida. Esta lhes transmitiam a certeza de uma união íntima com Deus e todos encantava pela sua piedade. Jovem, nunca se deixava levar por tudo que é tão comum à vaidade feminina, pois Rita queria apenas ser uma açucena delicada, uma rosa purpúrea, um lírio nacarado para Deus, pouco se importando com os olhares humanos.
Esposa inigualável
Tornou-se depois modelo de esposa e mãe com aqueles fatos já rememorados. Mary Stuart a pérola da Escócia foi prisioneira dezoito anos de sua ignóbil prima Isabel, Rita, a pérola da Itália, por tempo semelhante foi torturada por aquele marido desastrado. Como foi mostrado, ela converte seu esposo. Lágrimas de mulher santa eram preces ardentes que penetraram o céu, eram chamas de amor, cascatas de luz. Esposa mártir ela se abraçou ao cadáver de Paulo Fernando e o banhou de lágrimas de amor e dor. Imitou então a Jesus e perdoou seus inimigos.
Mãe devotada
João Tiago e Paulo seus filhos vão em seguida martirizar ainda mais o seu coração, pois alimentavam sentimentos de vingança. Pobre mãe! Noites intranqüilas! Momentos de susto! Agonia prolongada! Pélago de tristeza! Oceano de sofrimento! Ela, porém, reza. Qual outra Branca de Castela diz a eles que os preferiria mortos a contemplá-los cometendo tão horrípilo crime pagando sangue com sangue, fazendo justiça com as próprias mãos. Rita, porém, é uma santa mãe e verá suas súplicas atendidas, inscrevendo página aurífera nos anais dos triunfos maternos. Deus encaminhou os acontecimentos e acidentalmente seus filhos que haviam se arrependido dos seus maus propósitos, expiram em paz, vítimas da peste que então ali grassara! Sofre o coração de Rita, mas ela aceita este pesar julgando-o muito melhor do que a catástrofe de os ver morrer impenitentes. Oferece por eles o sacrifício da separação. Que mãe admirável!
Os triunfos que mulheres valorosas alcançam todos os dias a despeito das crises mais arriscadas serão sempre um monumento que a Igreja ostentará com ufania. Entre eles este de Rita superando sofrimentos físicos e morais.
Religiosa modelar
Viúva, correu ela a abraçar a cruz de Cristo retirando-se do mundo. Entregar-se-ia à ascese mais aguda por amor ao divino esposo.
Sua entrada no Convento das agostinianas que não poderiam receber senão virgens está repleta de misteriosa intervenção de seus santos protetores. Nada de novo o fato de eles lhe abrirem as portas da vida religiosa por um ato milagroso. Com efeito, se um anjo fechou a boca dos leões na cova em que Daniel fora lançado para ser por eles devorados ( Dan 6,23); se Felipe foi guiado pelo espírito de Deus junto ao carro que conduzia o mordomo-mor da Rainha da Etiópia (Atos 8, 26 s); se os corvos alimentaram a Elias sobre as margens do Carith (I Reis 17,6) impossível não foi que Rita penetrasse no mosteiro de Roca Porena estando fechadas as portas. Ela poderia dizer às religiosas: “Não vos revolteis contra o braço do Senhor. Eu fui trazida aqui pelo Deus Poderoso que me arrancou dos perigos do mundo, me foi escudo e proteção. Dirigida por meus protetores Agostinho, Nicolau Tolentino e João Batista escapei dos precipícios que cercam o Mosteiro e devassei com eles estas muralhas e agora quero triunfar de vossas recusas, pois aspiro pelos tabernáculos do Senhor”! Com estas ou outras palavras Rita humildemente venceu a resistência das agostinianas. É que os pensamentos de Deus não são os pensamentos dos homens, nem os Seus caminhos, as veredas humanas (Is 55,8).
Ei-la agora entre as esposas do Cordeiro. Ninguém mais a separará de sua união profunda com a Trindade Santa. O Senhor é sua herança definitiva, é a sorte venturosa que lhe tocou em partilha.. Quem poderá agora deter as lavas deste vulcão aceso no coração de Rita? Ela se dilatava aos rigores da cruz e parecia antecipar a estes gozos inefáveis precursores da eternidade feliz, se aperfeiçoando através do sofrimento e da integral imitação do Crucificado. Ela encontrava nele esta felicidade que é o encanto das almas elevadas e puras. As atrações do mundo haviam de há muito perdido o sentido para ela que bem sabia que tais atrativos nunca conduzem à verdadeira beatitude. Coisa alguma faria arrefecer sua fidelidade a Cristo. Ela repetia com o Apóstolo: “Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”( Gl 6,14).
Prova terrível de sofrimento
Rita, porém, não podia contentar-se com estes testemunhos já de si, porém, tão expressivos do amor com que Cristo distingue seus eleitos. Tão intimamente unida às dores de Jesus seu amor a Ele arrancou, de fato, um dos espinhos da Coroa do Crucificado. Na sua fronte estará para sempre o sinal de sua associação total ao Mártir do Gólgota. Ei-la ornada com um diadema que lhe afiança uma coroa de glória no céu. O sofrimento é sua herança na terra, mas na Casa do Pai ela estará bem perto do Cordeiro Imolado. Por tudo isto jamais o sorriso se apartou de Rita que realizou o sublime paradoxo da alegria no sofrimento.
Eis porque no seu leito de morte ela pede em pleno rigor do inverno que lhe tragam rosas de seu jardim. Lá as encontraram. Rosas cheias de espinhos, mas ressumbrando perfume. Bem o símbolo de sua vida nesta terra.
O amor então lhe arrebatou o coração e bem podemos aquilatar os últimos arroubos de seu entusiasmo à vista da pátria celeste.
Entrada gloriosa no céu
Dia 22 de maio de 1456 os sinos do Mosteiro misteriosamente se põem a tocar como a proclamarem: Rita acaba de entrar no céu! Eis o hino da vitória! Agora ela assume seu lugar no paraíso de onde derramaria bênçãos sobre bênção para seus devotos. Deixa esta terra a heroina de peregrinas virtudes e doravante a voz da epopéia sagrada é a única digna de lhe cantar os merecimentos. A ela cabe somente a coroa da imortalidade. Posuit in capite eius coronam - Deus colocou sobre sua cabeça uma coroa, é o que está escrito lá em Cássia junto à urna que conserva o corpo intacto da grande serva do Senhor. O preço de seus sacrifícios é o salário da glória eterna.
É assim que se fraguam os ânimos varonis, se acrisolam os espíritos abalizados, se abalizam os gigantes da fé, se agigantam os santos da Igreja, se santificam as almas puras dignas de Deus, se deificam as eleitas do Eterno e se eternizam as filhas do Pai do céu.
Ó santa admirável, Rita de Cássia. Ó Padroeira ilustre e poderosa ante o trono de Deus!
Se Cristo afirmou: “Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus” (Mt 10,32), que prestígio não é o de Rita que em toda a sua vida optou por Jesus e Jesus crucificado e, na verdade, em três estados de vida, ou seja, como esposa, mãe e religiosa. Tudo isto com rasgos de amor e total submissão à vontade divina.
Seu corpo incorrupto é como um sinal que se levanta diante dos pórticos da Igreja para glorificar uma heroina que força o tempo e as gerações que a sucederam a perpetuar sua memória. Em toda parte em que é invocada ela se mostra a protetora dos males do corpo e da alma. Curas maravilhosas, prodígios sem conta. Como os males interiores e invisíveis são os que mas atormentam e matam, os corações dos tristes, dos deprimidos, dos aflitos, dos perseguidos, dos desesperados só na invocação do nome de Rita acham a consolação, o remédio, o alívio, o bálsamo o lenitivo. Ela é, realmente, a Santa das causas ou coisas impossíveis. Seu culto se espalhou rapidamente por toda a Europa e daí para outras partes do mundo. Em 1628 o papa Urbano VII lavrou o decreto de sua beatificação. Pôr permissão dos Sumos Pontífices mesmo antes de sua canonização inúmeras Igrejas já lhe eram consagradas. Glorioso foi o dia 24 de maio de 1900, quando Leão XIII a canonizou consagrando assim a devoção de que ela já era alvo em tantos lugares.
No céu Santa Rita está adornada com duas capas reluzentes: uma de ouro que é o manto das religiosas agostinianas, outra de variegadas cores, indicando que é rainha e esta gala lhe é outorgada pela cidade de Viçosa, da qual é indiscutivelmente rainha. Disto temos uma prova a mais vendo esta multidão a tomar inteiramente a Praça Silviano Brandão proclamando ser ela desta cidade a soberana.
Qual dos dois mantos mais gloriosa torna Rita no céu? O das agostinianas ou o que os viçosenses lhe dão?
Ambos a fazem igualmente ilustre, porque o manto da realeza que lhe damos se assentou sobre o hábito de religiosa, o brocado sobre o burel. O hábito de Santo Agostinho é uma das mais vistosas e bizarras galas que se trajam no paraíso, mas sobre esta gala em Rita no mesmo céu se apresenta o manto real que Viçosa lhe dá. Este, com efeito, realça aquele pois revela a grandeza de ter sido ela agostiniana e, ao mesmo tempo, a fazendo uma soberana. Além do mais, o manto real que lhe oferecemos está todo ele reluzente de fios de ouro de nossos afetos, de nossos louvores, da imitação de suas virtudes aqui na terra.
Glória, portanto, de Rita o ser Padroeira de Viçosa!
Responsabilidade do viçosense
Se assim é, envolvamos-nos em esperanças. Lá do alto ela está a proteger sua cidade, venham ou não reformas de base ou sem base. Viçosa estará sempre na trilha do progresso, do desenvolvimento. Há de reinar paz nas famílias e ordeira há de ser sempre a urbe dedicada a Rita.
Grande responsabilidade a do viçosense: tornar cada vez mais ornamentado o manto de sua soberana lá no céu. Crianças a guardarem o lírio da pureza. Jovens a conservarem intacto seu coração longe das insídias do maligno. Mães a imitarem o seu devotamento aos filhos. Pais carregando com perseverança a cruz de cada dia. Esposas a salvarem seus consortes na paciência, na tolerância. Todos estampando em sua existência um pouco da celestial grandeza de sua Padroeira.
Cada um tem uma missão a exercer na sociedade. É a trincheira sagrada onde vitórias são obtidas, é a arena das grandes lutas. Fidelidade ao dever de cada dia, à santidade, à virtude é o que pede Rita a seu devoto.
Deste modo ela aceitará os votos que se elevam até ela lá no céu e terá motivos renovados para proteger e amparar a quantos assim a louvam de coração sincero.
Há de proteger o JSC para que continue sua trajetória apostólica admirável e iluminará o coral do JSC que estará abrilhantando na Praça Silviano Brandão a solenidade do dia 22 de maio durante todo o tempo da Procissão.
Entornará ela novas ondas de bênçãos sobre aqueles que promovem o seu culto, cercando a cidade de Viçosa de ilustração e glórias, Viçosa a atestar sempre que só na virtude há nobreza, só na Religião há heroísmo.
Apêndice
Na gloriosa história de Viçosa merece destaque especial a Capela situada à Rua dos Passos, carinhosamente chamada por muitos de Igrejinha dos Passos, pois segundo as melhores fontes foi neste local que nasceu esta urbe universitária. Ali se constituiu o patrimônio primeiro da futura Paróquia de Santa Rita de Cássia. Dia 8 de março de 1800, o Padre Francisco José da Silva, por provisão episcopal foi autorizado a erigir uma ermida sob invocação de Santa Rita. Por isto o nome primitivo de Viçosa era Santa Rita do Turno , Capela filial de Rio Pomba e elevada a freguesia pelo decreto de 14 de julho de 1832 com as filiais São José do Barroso e Conceição do Turvo. Depois passou a ser chamado de Viçosa em homenagem a D. Antônio Fereira Viçoso.