segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

REFLEXÕES SOBRE A RENÚNCIA DO PAPA




REFLEXÕES SOBRE A RENÚNCIA DO PAPA
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No turbilhão das mais variadas notícias e comentários atinentes à renúncia de Bento XVI o significado mais profundo deste gesto pontifício fica obnubilado. Nobreza e desprendimento fulgem na atitude deste sucessor de Pedro. Num contexto histórico no qual se verifica uma metamorfose do conceito de valores por força do relativismo imperante e no qual, por isto mesmo, o referencial ético fica comprometido, fulgem a dignidade e a modéstia de um Pastor e de um dos maiores pensadores hodiernos. É evidente que isto resulta da irradiante espiritualidade de quem vive o que fala e escreve deste os tempos de sua trajetória como professor abalizado e, posteriormente, como Mestre de toda a cristandade. Alicerçado na sua visão de Igreja e do mundo pós-moderno, o Papa percebeu que suas limitações físicas o impediam de exercer uma missão tão espinhosa e que a glória de Deus e o bem das almas estavam acima de todas as honras que retinha no cargo que exercia.  Deixa o pontificado com serenidade e muita humildade. Fez refulgir diante da humanidade uma fé profunda nas realidades que transcendem este mundo e, não tendo apego ao poder, ao deixá-lo, vai agora imergir ainda mais na contemplação intensa daquelas verdades que irradiou por toda parte. Lega uma lição maravilhosa para todos que se escravizam às vaidades terrenas e seus símbolos mistificadores. Patenteou aos homens e mulheres de hoje que cumpre enfrentar a realidade face a face para, sob as luzes divinas, tomar sempre destemidamente as resoluções mais acertadas. Há na postura de Bento XVI um convite a que se penetre fundo no sentido da renúncia. Esta não é, como muitos julgam erroneamente, sinal de debilidade, de fuga do dever a cumprir, mas, ao contrário, é sinal de fortaleza, quando há o reconhecimento dos limites impostos pela saúde e pela idade. Além disto, é preciso continuamente que cada um deixe de lado o egoísmo e seus interesses pessoais. Como isto deveria, sobretudo, tocar os políticos de toda parte, muitos deles narcisistas, laborando apenas pelos seus interesses pessoais e pouco se importando com o bem comum. Muitos homens públicos, infelizmente, se especializaram na arte de extorquir os outros e o patrimônio que pertence a todos os cidadãos. Bento XVI renuncia a seus direitos de Sumo Pontífice, mas, livre das ocupações e preocupações de um cargo tão afanoso, terá ainda mais tempo para, já nesta terra, prosseguir degustando as delícias da eternidade. Por isto, como ele mesmo declarou, estará ainda mais perto de todos os fiéis pelos quais estará orando na presença do Ser Supremo com o qual estará em tertúlias mais prolongadas. Fica então também uma mensagem de desapego para todos que neste mundo pós-moderno vivem num ambiente impregnado por todas as aliciações da economia de mercado no qual o que vale é ter coisas materiais e não o  viver na plenitude da valorização interior. O Cardeal Joseph Ratzinger cumpriu magnificamente sua missão como Papa e será sempre lembrado pelo equilíbrio e pela dedicação com que sabiamente conduziu a nau de Pedro como Mestre e Pastor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
      

      



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