quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O COMPLEXO MUNDO DO TRABALHO

O COMPLEXO MUNDO DO TRABALHO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Desde a Revolução Industrial o trabalho humano ganhou dimensões tais que transformou o panorama econômico do mundo. Tudo a girar em torno da aceleração produtiva. Acumulação do capital se tornou uma realidade. De plano, agravou-se o abismo entre ricos pobres, fenômeno que, posteriormente, se ampliou  e fez surgir  nações poderosas e outras legadas à pobreza. Desordem distributiva visível entre as classes sociais. Desequilíbrio, objeto do estudo dos cientistas sociais e dos economistas a buscarem explicações, soluções e a apontarem caminhos de um desenvolvimento sustentável que trouxesse a verdadeira harmonia sócio-econômica.  O capitalismo selvagem se viu frente a frente com o marxismo. No inicio deste milênio, com o esvaziamento marxista e as desgraças ocasionadas pelos excessos do capitalismo, percebe-se uma tendência a uma opção pela maior valorizarão do trabalho em si e um maior respeito à dignidade da pessoa humana. Pois bem, em momento algum, através de sua doutrina social, a Igreja se omitiu e os princípios por ela exarados se apresentam até hoje como a sólida  segurança de um  desenvolvimento mais humano e eqüitativo..A carta magna dos trabalhadores foi a Rerum Novarum de Leão XIII. Esta encíclica chamou claramente a atenção para a pessoa que realiza um trabalho, o qual não poderia ser considerado uma mercadoria na alheta dos marxistas. Clamava  o Papa pela justiça social e pelos direitos dos operários que deveriam ter um salário justo, podendo se associar na defesa de uma classe que não deveria ser explorada. Pio XI alertou sobre a situação deprimente do proletariado e patenteou que  uma iníqua distribuição dos bens temporais não podia estar de acordo com a vontade de Deus. Pio XII prosseguiu na mesma linha e ecoa até hoje o que ele sintetizou numa sentença fulgurante: “O supérfluo dos ricos pertence aos pobres”. A economia de cada nação deveria oferecer as condições materiais na qual pudesse se desenvolver plenamente a vida individual dos cidadãos. A doutrina deste sábio Pontífice preparou a Mater et Magistra de João XXIII. Neste documento uma orientação luminosa: “ A presença do Estado no campo econômico, por mais ampla e profunda que seja, não pode ter como meta reduzir cada vez mais a esfera da liberdade da iniciativa pessoal dos cidadãos; pelo contrário deve garantir a essa  esfera a maior latitude possível, protegendo efetivamente, em favor de todos e de cada um, os direitos essenciais da pessoa humana”. Paulo VI, sobretudo na encíclica Populorum progressio exaltou magnificamente o aspecto criador inato a toda atividade humana, enquanto o homem colabora com Deus na construção de um mundo melhor. Com a sabedoria que o caracterizou o bem-aventurado João Paulo II nos seus escritos  aprofundou todos estes aspectos e afirmou solenemente o  princípio da prioridade do trabalho face ao capital, salientando-se sua encíclica Laborem exercens. Bento XVI na sua mensagem para o dia primeiro de janeiro de 2013 fustigou as ideologias do liberalismo radical e a tecnocracia, defendendo a dignidade do trabalhador. Criticou então o crescimento econômico ao preço da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil e dos direitos e deveres sociais. Estes deveres, insistiu ele, são fundamentais para a plena realização dos outros direitos e deveres cívicos e políticos. Diante de uma ameaça visível ao direito ao trabalho, incentivou então a todos a procurar políticas corajosas e inovadoras. Eis suas palavras textuais: ”A realização deste objetivo ambicioso tem por condição uma apreensão renovada do trabalho fundada sob princípios éticos e valores espirituais que levam a reforçar sua concepção como bem fundamental para a pessoa, a família e a sociedade”. Portanto, na visão da Igreja o trabalho deve sempre assegurar a dignidade essencial de cada um num mundo no qual haja mais solidariedade com uma distribuição mais equânime da riqueza que não pode ficar concentrada nas mãos de uns poucos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



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