PESCADORES DE ALMAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Aventura sublime: de pescadores de peixes a pescadores de almas! Os primeiros discípulos de Jesus que admirados haviam presenciado a pesca milagrosa, mais espantados ficaram quando Jesus disse a Pedro: “Não tenhas medo, doravante serás pescador de homens”. Conclui o Evangelista Lucas que depois de conduzirem os barcos para a terra, deixaram tudo para seguirem a Cristo (Lc 5,1-21). Foi um ato corajoso movido pela fé, pois eles mal conheciam o Mestre divino e sabiam, apenas que Ele era um novo pregador na Galiléia, com palavra repleta de autoridade, que fizera algumas curas em Cafarnaum. Diante , porém, do fato maravilhoso de uma pesca, para eles inteiramente improvável, sobretudo pela hora do dia e num momento inteiramente fora de propósito, ocorreu para aqueles rudes pescadores a lógica de uma profunda confiança. Eles haviam obedecido a uma ordem estranha para quem era acostumado àquela tarefa e que não haviam nada conseguido durante toda a noite, mais propícia para uma pescaria: “Lançai as redes”. Uma ordem que transformou suas vidas e tocou seus corações. Novas perspectivas surgem para Simão e os filhos de Zebedeu, Tiago e João, cuja existência recebe então um sentido, um rumo profundamente transformador. Algo maravilhoso se passou então na mente dos primeiros apóstolos que nem de longe poderiam vislumbrar o que lhes aconteceria no futuro numa mudança radical de vida. Através dos tempos milhares abandonariam tudo para, imitando estes corajosos pescadores, se lançarem a um apostolado vibrante aderidos aos sucessores dos apóstolos e na vivência eficiente do batismo que torna o cristão partícipe do múnus profético e régio do divino Redentor. A Igreja sempre precisaria de pescadores de almas, como aconteceria depois com São Paulo e centenas de outros conscientes da urgência de anunciar por toda parte a Boa Nova da salvação de Deus. Jesus está sempre à procura de sacerdotes e colaboradores leigos para as mais diversas pastorais e quer generosidade, desprendimento, coragem, disposição para que o Reino de Deus se torne sempre uma venturosa realidade. Cumpre, assim, alimentar a vocação para o apostolado através da Palavra revelada a qual dá uma nova dinâmica para a proclamação da fé. Isto consiste em deixar o Espírito Santo falar através de uma existência integralmente impregnada pelo Evangelho. Ninguém sabe a hora em que Jesus quer agir através de cada um de seus discípulos e é preciso a disponibilidade dos primeiros apóstolos para cooperar na conversão dos irmãos. É importantíssima esta revisão de vida, pois conduz a um discurso edificante em mensagens oportunas, atos e preces pela obra da evangelização. Inúmeros são aqueles que querem dar um sentido a suas vidas e a mudarem profundamente, se tornando católicos praticantes e convictos. Jesus, realmente, conta com a boa vontade de todos que O amam e querem fazê-lo conhecido e mais amado. Tornar-se pescadores de almas, seguindo a Cristo, é sempre uma postura necessária e que chama à responsabilidade todo batizado. Cumpre não hesitar e cada um, de acordo com seus dotes e carismas pessoais, pode e deve colaborar generosamente no projeto missionário da Igreja no meio em que vive, a saber, no lar, no trabalho, na escola, nos lugares de diversão. Jesus chama a cada batizado para esta tarefa sublime e este apelo é fecundo, pois cria a capacidade de responder, corresponder e segui-lo sem desfalecimentos. Este seguimento é um dom não menor que o próprio chamado divino. Faz despertar um apostolado que ilumina não só a própria vida, mas a existência de todos que estão à volta do verdadeiro cristão. É que este convite de Cristo não pressupõe uma predisposição à correspondência ao mesmo, mas oferece, isto sim, a possibilidade de ser apóstolo. Trata-se de um “sim”, de uma adesão que devem ser como um eco impossível de ser contido, pois Jesus mesmo disse que veio para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância e Ele espera a cooperação de seus epígonos para que todos que realmente O conheçam e amem. Para isto é preciso estar sempre com Jesus para poder exercer um papel ativo pela sua causa. Há, de fato, uma diferença entre estar com Cristo e lutar por Cristo. É inútil, com efeito, proclamar as maravilhas do Filho de Deus se Ele fica à distância. Tanto isto é verdade, que os discípulos que assistiram a maravilhosa pesca não poderiam apenas proclamar por toda parte o que haviam presenciado, mas se puseram imediatamente a seguir Jesus. Inúmeros são aqueles que muito falam, mas pouco agem, exatamente porque não vivem profundamente unidos ao Mestre divino e não podem repetir com São Paulo: “Já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive em mim” (Gl 2.19-20). Apenas deste modo pode o cristão ser um verdadeiro pescador de almas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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