O MISTÉRIO FULGURANTE DA RESSURREIÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Refletir sobre a vitória de Cristo que triunfou da morte, ressuscitando imortal e glorioso, é penetrar fundo na "teologia ajoelhada", isto é, no pensamento teológico ligado à oração e à adoração. No dizer do Papa Bento XVI, cumpre sempre "quebrar aqueles circuitos que tantas vezes mantêm a razão prisioneira de si mesma, abrindo-a aos espaços do infinito". Cristo Ressuscitado abre para seu seguidor verdades que não se contramuram em terrenos horizontes, mas que devem levar o cristão a romper as barreiras do tempo e se imergir nas realidades eternas. Como Jesus, cada um conhecerá a morte, mas com Ele se verá um dia envolto em delícias eternas na Casa do Pai. Não se trata de uma simples superação dialética dos sofrimentos terrenos, mas de um conhecimento da manifestação das consequências do mistério pascal. Neste resplandece com todo fulgor o imenso amor divino, cuja insuperabilidade deve tocar intimamente quem tem fé. Não se pode esquecer então a mensagem escatológica do triunfo de Jesus o qual abre perspectivas alentadoras de uma esperança bem fundamentada da salvação que Ele oferece a todos. Por tudo isto, cumpre revalorizar cada vez mais a Vigília Pascal que convida a um silêncio frutuoso no aguardo dos alvores pascais. Como bem salientou o notável teólogo Paolo Martinelli, na Vigília Pascal “nos encontramos parados em frente ao mistério dos mistérios, pois a Palavra eterna do Pai, da qual todas as coisas foram feitas (Jo 1,3), não só morre, mas partilha o ser morto próprio dos falecidos. Jesus, deposto da cruz, é colocado no sepulcro sobre o qual é colocada uma grande pedra como lacre”. Eis porque o Sábado Santo é um dia de espera tranqüila, de reflexão serena. Horas de pesar e de expectativa. É preciso que o espírito do seguidor de Cristo não esteja fechado, lento a compreender a morte do Mestre, como aconteceu com os Apóstolos. É de bom alvitre dialogar com o Mestre e Senhor, passando tranquilamente este dia na contemplação, refletindo sobre tudo que Jesus falou sobre sua paixão e sobre os acontecimentos que precederam o desenlace final lá no Calvário. Jesus desceu à mansão dos mortos, como está num dos artigos do Credo. Ele quis partilhar a sorte dos haviam morrido e estavam longe de Deus. Não se trata aqui do inferno da condenação eterna dos pecadores impenitentes, mas da situação de todos aqueles que estavam mortos antes de Cristo. Com sua alma unida à sua Pessoa divina, Cristo alegrou nos infernos os justos que aguardavam seu Redentor para enfim terem acesso à visão beatífica. Depois de ter vencido pela sua morte, a morte e o diabo, que tem “o poder da morte” (Hb 2,14) ele levou aos justos a Boa Nova de que as portas do Céu lhes seriam abertas, conforme se lê no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Por tudo isto, a Sábado Santo relembra a vontade salvífica de Deus, realidade que deve levar cada um a cuidar sempre mais de sua salvação eterna, influenciando na liberdade dos outros para que todos se abram à inefável misericórdia divina. /Se é certo que não se deve alimentar uma falsa garantia sobre a conquista do céu, pois isto levaria fatalmente a não se temer o julgamento de Deus, é preciso, contudo, solidificar a confiança absoluta na bondade de Deus que é amor. Deste modo, o Sábado Santo incita a cada um a procurar sempre mais a comunhão com o Ser Supremo, dado que Cristo Ressuscitado oferece todos os meios para que se adentrar na Jerusalém Celeste. É o mistério da katábase e da anábase que se verifica claramente na Vigília Pascal. Ele desceu dos céus a esta terra e, depois, subiu novamente para junto do Pai no dia da sua admirável Ascensão. Após sua morte, ele desceu à mansão dos mortos para subir gloriosamente ressuscitado neste mundo, aparecendo aos Apóstolos. Aí está razão pela qual já ressoa na Vigília Pascal o que Jesus quer que todos mentalizem no Domingo da Páscoa: “Eu ressuscitei e estou contigo”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
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