terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

OS SOFRIMENTOS DE JESUS

OS SOFRIMENTOS DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cumpre ao cristão sempre se lembrar de que foi por causa dos sofrimentos de Jesus que o Pai escuta o clamor de todos que padecem na trajetória por este vale de lágrimas e vem ao encontro dos que se acham nas regiões da dor e do desamparo. Eis por que é importante se refletir sobre os padecimentos do Redentor, penetrando fundo na razão de ser de tudo que ele sofreu, não apenas para que se aumente a gratidão a Ele por seu amor sem limites, mas também para que se tirem lições preciosas de seus tormentos. Dentre os padecimentos de Cristo se ressalte sua agonia no Getsêmani. Aí Ele teve uma antevisão próxima de tudo que lhe ocorreria e a amargura mais intensa penetrou todo o seu ser. Foi uma angústia antecipada de tudo que aconteceria durante sua paixão e morte e daí suas perturbações. São Mateus relatou: “Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres. (Mt 26,39).  Não se tratou de um instante de debilidade da parte de Jesus, mas, naquela hora, Ele sabia que se angustiava terrivelmente não por si, mas por aqueles que Ele redimiria. Não havia em sua alma um só recanto onde a aflição não penetrasse .Com efeito, Ele  se entregaria a um mar de terríveis aflições para sanar a enfermidade de uma multidão. Foi o que explicou São Paulo: Cristo se ofereceu uma só vez para tomar sobre si os pecados de muitos”!" (Hb 9,28) Como se tratava de ofensas ao Ser Supremo que deveriam ser reparadas, imenso o sofrer que O aguardava. Santo Inácio de Antioquia decodificou bem o pensamento de São Paulo e mostrou aos fiéis de Smyrna que  “tudo Jesus padeceu por nós foi para que fôssemos salvos”. De fato, na Horto das Oliveiras a tristeza se apossou dele para que Ele nos doasse a sua alegria, ou, como dizia Santo Ambrósio,  Ele “desceu até à angústia da morte, para nos fazer voltar à vida com seus passos”. Tudo  que se passou com Ele, realmente,  tem como referência todos os homens., dado que Ele não tinha motivo algum para se entristecer por si próprio., Quando então se contempla a Paixão de Cristo, mergulhado numa fé profunda, o cristão retira para sua vida conclusões vivenciais de extraordinária repercussão.  Jesus assumiu a dor exclusivamente por misericórdia, por amor, mas o que lhe ocasionou tanto sofrer no corpo e na alma foram os pecados de uma humanidade que se desviou se seus destinos eternos numa revolta consciente contra Deus. O fato de ter carregada uma cruz e nela morrendo foi um gesto de dileção que deve comover quem medita na imensidade da maravilhosa dileçãodo do Filho de Deus. A tristeza de Jesus no Horto das Oliveiras e depois tudo que sofreu durante sua Paixão e Morte  devem ser para o cristão motivo de alento e de alerta. Alento, sim, porque o Filho de Deus deixou os esplendores de sua glória e não foi indiferente à desgraça de suas criaturas. Ele quis conhecer não só as dores físicas, mas ainda as que são mais atrozes, as angústias do espírito. Quando atroar no batizado o fantasma do desalento e do desamparo, quando a morte vier ao seu solar e lhe roubar um ente amado, nos instantes de solidão, que solidão sempre visita o ser humano, no momento do pesar, da aflição, saiba, quem tem fé, que sempre que há alguém que sofreu muito mais. Este é Jesus que compreenderá o amargor de toda lágrima, o desalento do ser humano. Alerta, porque foram os pecados dos homens, os crimes e todas as aberrações morais que o transformaram na Vítima de expiação. Cumpre a seus discípulos romper com tudo aquilo que foi a causa do sofrer do Mestre, mesmo porque, no abandono que a ausência de Deus causa, a exclamação será esta: Porque abandonei a Deus, todos os males vieram ao meu encontro. Aliás, Cristo no Horto das Oliveiras via com um só olhar o desenrolar da História. Todas as rebeldias do gênero humano, todas as recusas das almas aos apelos de seu amor. A ausência de Deus nos corações era então ali reparada. A sentença profundamente teológica de Pascal deve repercutir no íntimo dos corações, quando coloca nos lábios de Cristo estas palavras: “Eu pensei em ti na minha agonia, derramando todas as gotas do meu sangue por ti”. Lembremos-nos do que asseverou São Pedro: “Jesus carregou nossos pecados em seu corpo sobre a Cruz” (1 Pd 2,14). Ali no Getsêmani, Cristo mirava os homens insensíveis, imersos em desgraças, porque não tomariam conhecimento de uma presença inefável de Deus, o que deveria orientá-los, mas, o que era mais doloroso, nem mesmo a consciência desta terrível ausência, o que os deveria atemorizar.  Por tudo isto meditar nos sofrimentos de Jesus é profundamente salutar* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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