O LEGADO DO PAPA BENTO XVI
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Diante da decisão do Papa Bento XVI de renunciar a partir do dia 28 de fevereiro o importante é, sem dúvida, que se reflita sobre o legado que o sucessor de bem-aventurado João Paulo II deixa para a História. Além de seu acendrado amor à Igreja, com sua invejável cultura, Ele soube sabiamente interpretar o Vaticano II apresentando orientações condizentes a este contexto pós-moderno. Bento XVI é um dos maiores intelectuais do mundo contemporâneo e se tornou um dos mais notáveis pontífices da História da Igreja, um Pastor de almas dedicado, a exemplo de São Paulo, fazendo-se tudo para todos para a todos salvar. Ele ofereceu à Igreja e ao mundo uma extraordinária lição de um estilo pastoral o qual revelou um serviço eclesial que patenteou um Pontífice inteiramente atento a todas as necessidades dos homens e mulheres de todas as nações, raças e crenças. Tal foi sempre sua postura em suas alocuções, nas suas viagens apostólicas na Itália e em outros paises, nos livros que publicou e, sobretudo, nas suas três monumentais encíclicas: “Deus é amor”; “Spes Salvi “ sobre Esperança cristã e “Caridade na Verdade”. Ele soube recolher a herança deixada pelo seus predecessores e, com seu modo de ser doce e reservado, com suas palavras moderadas e profundas, com seus gestos medidos, mas incisivos fez um trabalho apostólico de uma relevância tal que superará todas as declarações tendenciosas daqueles que querem uma Igreja desestruturada e que pregam uma teologia libertária, bem longe da verdadeira libertação preconizada na Bíblia. Ele sempre soube escutar a palavra e a vontade divinas, se deixou guiar continuamente pelas luzes do Espírito Santo. Por isto ele foi um profeta que sempre falou de Deus com uma fidelidade, com um destemor dos grandes personagens bíblicos. Com coragem apontou sempre os erros do mundo hodierno, criticou a violência que pretende ter uma justificação religiosa, execrando sem cessar o relativismo e o hedonismo. Procurou corrigir os desvios éticos com prudência, mas com inflexibilidade. No centro de seu pensamento nunca deixou de estar presente a questão da relação entre a fé e razão, entre a religião e a renúncia à violentação da liberdade religiosa. Não houve neste pontificado uma involução como certos comentaristas apressados estão propalando, nem ele foi um mero pontífice de transição, mas, isto sim, foi um papa de progressão, que impulsionou um movimento histórico ou marcha para diante da grei de Cristo, resguardando com firmeza os princípios que fundamentam uma fé esclarecida, baseada no amor de Deus pelo homem e que encontra na cruz do Redentor e na sua ressurreição sua máxima expressão. É que para Bento XVI a fé nunca foi uma questão a ser solucionada, mas um dom que deve ser redescoberto dia a dia, trazendo alegria e a plenitude da paz. As especulações sobre as causas da renúncia do Papa são fruto de interpretações fantasiosas. Na sua declaração o Papa foi claro: “No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice”. É um papa que deixará marcas positivas na história. Cabe agora aos fiéis rezarem para que os Cardeais, iluminados pelo Espírito Santo, escolham o novo Papa que prosseguirá impulsionando a Evangelização no mundo como o fez com galhardia e muito talento Bento XVI. Até lá haverá o abuso indevido dos termos conservador, progressista e quejandos, rotulando aquele que supostamente será o 265o sucessor de Pedro * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário