quinta-feira, 13 de outubro de 2011

UM SER CONTINGENTE

UM SER CONTINGENTE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
De grande valia é a consideração sobre a condição humana como ser contingente, ou seja, existente, mas que poderia não existir, não tendo em si mesmo a razão de sua existência. Sua presença ou a sua ausência não causaria o menor abalo na ordem das coisas. Deus, ao contrário, é o Ser necessário, no qual a essência se confunde com a existência. Ele mesmo assim se revelou: “Eu sou o que sou” ( Ex 3,14). Ele é eterno e não criado como tudo mais que existe. Refletir nesta verdade filosófica e teológica é de suma importância, quando, num mundo materializado, divorciado de seu Criador, o homem quer se mostrar mais sábio do que o próprio Deus, desprezando acintosamente os preceitos divinos compendiados no Decálogo sagrado. Esquece-se que o domínio de Deus é universal, constante e irredutível, mas a empáfia humana quer sempre se sobrepor à sabedoria infinita e daí todas as desordens causadas pela rebelião contra o Ser Supremo. Entretanto, paciente exatamente por ser eterno, o Todo Poderoso não pune imediatamente os desvarios que campeiam por toda parte. Entretanto ninguém pode fugir do domínio de Deus, ninguém pode evitar a sua justiça, ninguém livrar-se-á do seu julgamento. Aliás, as conseqüências imediatas decorrentes do desprezo de qualquer um dos dez Mandamentos já mostram quão danoso é ir contra as ordens do Criador. A devassidão ocasionada, por exemplo, pelo abandono do sexto mandamento envolve quem a ela se entrega nos mais terríveis males do corpo e do espírito. O mesmo ocorre com a infração de todos os outros preceitos transmitidos pelo próprio Senhor e que se acham registrados na Bíblia. Transgredi-los é infalivelmente deparar desgraças, além de se colocar o homem no perigo de perder a felicidade eterna, se não se arrepender de seus desvarios. É uma insensatez, de fato, se julgar alguém mais sábio do que o Ser Supremo. É imprescindível, pois, evitar o pecado e conservar a alma limpa sem adesão, mínima que seja, a tudo que contraria os planos estabelecidos por quem só almeja a ventura de quem foi criado à sua imagem e semelhança. Tal o ideal sublime de quem tem bom senso e um mínimo de inteligência: praticar boas ações, dar bons exemplos e viver como filho de Deus na terra, fazendo o bem, aborrecendo os vícios. Em três palavras se podem sintetizar as obrigações para com Deus: obediência, adoração e amor. Ele pedirá rigorosas contas a cada um. Em compensação ele mesmo será a recompensa, a glória e felicidade daqueles que O obedecerem, adorarem, amarem e servirem: “Eu mesmo serei a tua recompensa (Gên 15,1). Todo cuidado é pouco porque a sedução dos prazeres, o deleite dos sentidos, exercem uma influência tão fascinante que muitos olvidam ser criaturas, e vivem como senhores absolutos, afrontando abertamente a Deus e postergando os valores que dignificam o ser pensante. Porque se despreza o Decálogo, todas as normas sociais são também violadas e se anarquiza toda a ordem. Tal é a causa das revoluções e das perturbações do ordenamento público; tal é a origem da desorganização da família e da insubordinação contra as autoridades constituídas. A humanidade parece procurar realizar o ideal de Satanás “não obedeço”, porque pensa ser semelhante ao Onipotente. Esse crime de Satanás foi, aliás, também o primeiro crime dos homens, quando Adão e Eva, gozando ainda todos os favores divinos, pretenderam ser iguais a Deus. Esqueceram que eram criaturas e quiseram colocar-se no lugar do Criador, desobedecendo as suas leis e violando os seus preceitos. As conseqüências dessa revolta é o que vemos e conhecemos por experiência própria, a miséria, os sofrimentos, a dor, a morte. Entretanto o homem, não obstante os transtornos trazidos pelo pecado, mostra-se ainda rebelde. É o orgulho infernal injetado nas veias da humanidade. E o homem esquece o seu verdadeiro lugar no universo, o lugar de criatura, esquecendo-se completamente do seu Criador. Entretanto, na sua infinita misericórdia Deus oferece oportunidade ao arrependimento e à correção de vida. Quem nele crê não pode abusar de sua clemência e jamais deve ratificar as abominações que surgem a cada passo na mídia, fugindo corajosamente de tudo que, ainda de longe o pudesse afastar de seu Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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