A REALIDADE HUMANA
Côn .José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A dor e a morte acompanham o ser humano desde o seu nascimento. Estas duas realidades, ligadas entre si por traços comuns, para os que não têm fé, são causa de revolta e levam à angústia existencial. Em todas as idades, em todas as condições da vida humana, há lágrimas, tristezas e angustias. Tormentos físicos e morais imprevisíveis que a ciência mais avançada não consegue deter. Ainda que tenha uma inteligência vivaz, um coração magnânimo, uma saúde robusta não pode escapar aos aborrecimentos imponderáveis da existência e virá um dia em que a morte se apresentará e o lançará no fundo de uma sepultura. O cristão verdadeiro, à luz das verdades reveladas por Deus, sabe, porém, metamorfosear os sofrimentos em pérolas preciosas para a eternidade e, perante os padecimentos o acometem, implora a força divina e repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). Não se insurge contra a Providência e assim se dirige a seu Senhor: “Tua graça me basta, é ela que eu imploro”. Une-se ao Mártir do Calvário e enfrenta os dissabores com coragem, dando-lhes uma aplicação transcendental, vendo neles uma ocasião de purificação, de reparação das faltas próprias e alheias, cooperando na redenção da humanidade. O pecado original colocou o ser pensante, que se insurgiu contra seu Criador num vale de desgostos. Deus havia colocado nossos primeiros pais em um jardim de delícias, onde fruíam de toda a criação. Senhores da terra não permaneciam, entretanto, inativos, trabalhavam, diz a Bíblia, mas esse trabalho era desinteressado, executado por prazer e não por necessidade, era pacifico, sem suor, sem dor e sem fadigas. Foi somente depois do pecado que o labor humano se tornou cruciante. Criado à imagem de Deus, colocado em um paraíso, em um jardim delicioso, onde abundavam todos os bens, debaixo de um céu sempre puro, ameno e agradável, sem temer a morte, livre, feliz, tranqüilo, sem defeitos e sem enfermidades, tanto no espírito como no corpo, tal era a situação do homem primitivo na origem do mundo. A desobediência às ordens de Deus causou todo o transtorno que imperaria na História humana. Adão e Eva, contudo, não souberam conservar o estado glorioso em que foram criados. Deus, que os criara com o dom sublime da liberdade, lhes impôs um preceito simples e fácil de cumprir: «Podeis comer, disse ele ao primeiro homem, os frutos de todas as árvores do paraíso, mas não tocareis no fruto da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comerdes, morrereis», como se lê no Gênesis. Ele queria a livre homenagem da criatura. Era mais digno dele e dos seres pensantes que houvesse virtudes na terra, porque havendo virtudes, haveria merecimentos, haveria vitória, haveria glória. Este foi o motivo do teste ao qual os representantes do gênero humano foram submetidos. O homem, de fato, devia ter a honra de trabalhar para a sua própria grandeza e concorrer com a sua cooperação voluntária para o seu destino imortal. Para isso ele era livre. Adão e Eva não souberam, porém, corresponder aos dons do Criador. Desobedeceram, transgredindo suas ordens; tornaram-se culpados, atraíram sobre si o castigo merecido e arrastaram na punição de Deus todos os seus descendentes, arrastaram toda a raça humana, da qual eles são os pais. O demônio, simbolizado na serpente, afirmou insidiosamente: “Não, não morrereis. Deus sabe que, o dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, sereis semelhantes a Deus, conhecendo o bem e o mal.” O orgulho, a pretensão, a vaidade, começam a germinar pela primeira vez na alma até então inocente. Ser semelhante a Deus! Quanta pretensão! Conhecer o bem e o mal, ser senhor de tudo! Eis a empáfia a causa primordial da nossa desgraça e a causa ainda hoje de todas as nossas misérias individuais e sociais. O mundo seria um paraíso se esse pecado desaparecesse da terra, mas impossível é arrancá-lo do coração humano, onde o demônio depositou o primeiro germe, quando fez a nossa desgraça. Ao lado da justiça que castigou, apareceu a misericórdia que perdoou e prometeu a salvação. Dirigindo-se à serpente infernal, Deus lhe falou nestes termos: “Porei uma eterna inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua; ela um dia te esmagará a cabeça.” Foi assim que Deus prometeu ao homem um Salvador. Essa mulher misteriosa e ternamente prometida é a Virgem Maria, que esmagaria a cabeça da serpente infernal, graças a seu bendito Filho, que viria salvar a raça humana a qual Adão havia perdido. É sempre salutar firmar e meditar estas verdades. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
domingo, 16 de outubro de 2011
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