CIVILIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No momento em que se multiplicam os maiores absurdos dentro das Escolas e, recentemente, no mês de setembro um aluno a dar uma “voadora”, ou seja, golpe violento com os dois pés, numa professora e outro de dez anos assassinando sua mestra e se suicidando em seguida, é de bom alvitre que se reveja a noção de educação, cortesia, gentileza, boas maneiras; civilidade; cavalheirismo.
Multiplicam-se as explicações dadas pelos experts em ciências psicológicas para apontar as causas dos desvarios juvenis, mas se esquece, muitas vezes, por parte dos educadores, em casa e nos colégios, de perceber os primeiros sintomas de anomalia na falta de sensibilidade da criança, do adolescente e do jovem em geral.
Esta ausência de sensibilidade se reflete na conduta incivil, desaforada. Com efeito, a maneira selvagem pode sinalizar algo irregular que se passa lá no íntimo daquele ser humano cuja agressividade se desdobrará em atos incoerentes, bestiais, brutais, cruéis. Até mesmo, se for devidamente corrigida, impedir que se desencadeie uma série de atitudes bruscas. A delicadeza é sempre, de fato, sinal de quietude interior.
Quantas vezes nas entradas dos colégios, antes que sejam abertas as portas, alunos se aglomeram, como se fossem donos do passeio, obrigando os transeuntes a passarem pela rua, podendo estes ser atropelados e isto acontecendo inclusive com pessoas idosas. A algazarra é, outrossim, indício de desequilíbrio e os gritos irritantes molestam e incomodam.
Quantas casas têm suas paredes avariadas pelos riscos de lápis e outros objetos escolares, mostrando que a violência está lá dentro de quem prática tais atos condenáveis. É certo que muitos levam para as Escolas os defeitos adquiridos ou não corrigidos em casa, mas cabe aos pedagogos orientar as mentes em formação.
Quem traceja estas linhas ficou apavorado quando certo dia uma mãe veio se queixar: “Cuidei com tanto carinho de minha filha agora adolescente. Pedi a ela para me lavar um copo e ela me disse: “Não sou sua empregada”! (sic) Uma outra a clamar: “Hoje fui dar uma orientação a meu filho e ele me respondeu: “Cuide de tua vida que eu cuido da minha” (sic).
Estes são aqueles que depois na sociedade vão praticar os crimes que aterrorizam os que vivem no contexto atual. Incutir desde a mais tenra idade no espírito dos jovens a necessidade do respeito aos valores que dignificam a pessoa humana é de suma importância. Isto leva ao aperfeiçoamento no modo de pensar, de ser e de agir. Não se trata de transformar em robôs seres humanos, mas de se formar um cidadão livre e consciente.
Como bem se expressou a renomada pedagoga Vera Rudge Wemeck “A educação conduz ao respeito pela pessoa, à posse de si mesmo, à autodeterminação. É necessário não apenas um aprimoramento do processo racional para o conhecimento da verdade, mas também um aperfeiçoamento da sensibilidade e do sentimento para a apreensão correta do valor”. Merece reflexão também o que disse o notável cientista social Luis Fernando Bernardes Vidigal: “Vivemos em contexto histórico que precisa urgentemente de um choque de civilidade. Um verdadeiro absurdo o desrespeito de alunos para com os professores e para com os pais. O mundo lamentavelmente se transformou e as estratégias de abordagem do novo aluno são condenáveis. A resposta a esse novo aluno, que não possui valores ou respeito para com os outros, não está sendo adequada em muitas Escolas. É preciso uma combinação de orientação, acompanhamento e corretivo da parte dos profissionais da educação, mas também é necessário o envolvimento direto dos pais, que muitas vezes não sabem o que fazer e precisam ser também orientados. Enfim, a Escola e o Lar devem responder à nova realidade de forma mais eficaz, visando manter os valores perenes, pois, estes sim, não devem nunca ser postergados”.
Isto significa patentear a dignidade do ser humano que, seja aonde for, deve ser reverenciado.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
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