A HUMANIDADE PRECISAVA DE UM REDENTOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto histórico no qual Cristo veio ao mundo os povos, com exceção dos judeus, viviam nas trevas, e o conhecimento que tinham de Deus estava tão alterado, que, com razão, Bossuet, escreveu que tudo era Deus menos o verdadeiro Deus. O homem não sabia mais nem o que era, nem de onde viera, nem qual era o seu destino. A natureza com suas maravilhas que deviam patentear a existência do Criador, não impressionava mais as inteligências, e o homem só tinha adoração para os seres criados como ele. O espírito era entenebrecido pela ignorância, pelo erro e pelas paixões. A consciência estava em trevas e muitos filósofos perguntavam-se mutuamente se deviam praticar a virtude ou entregar-se ao vício. O coração, como a inteligência, estava corrompido e não conhecia o verdadeiro amor. A impudicícia tinha os seus altares e as suas sacerdotisas. Só o templo de Vênus, na cidade de Corinto, contava mil dessas infelizes. Os crimes contra a moral não eram condenados pela religião pagã, nem punidos pela lei, nem detestados pela opinião publica. A revelação, a natureza, a razão, todos esses astros que devem iluminar a vida do homem estavam como que apagados. As almas precisavam realmente daquele que é Caminho, Verdade e Vida. Haviam penetrado e conquistado o Ocidente as religiões ocidentais e os cultos mistéricos, que, exercendo sobre as massas uma força de atração sempre maior, desencaminhavam as mentes. Prosperavam ao mesmo tempo as superstições religiosas mais extravagantes, como a astrologia, a magia, a teugia, a necromancia. Na filosofia imperava um pragmatismo bem longe da metafísica o qual colocava a atenção na sabedoria prática da vida. Os epicuristas professavam um hedonismo de fundo materialista, sendo para eles o prazer o bem supremo. Os estóicos consideravam como escopo de toda a filosofia a perfeição, mas com uma doutrina panteístico-monista, envolta num fatalismo que acreditava no poder cego e imutável do Destino. Não havia mais patriotas cheios de entusiasmo pela coisa pública e os corações dos cidadãos se entregavam ao sentimento de impotência e a depravação geral tinha sido difundida. Adoravam a Júpiter, o incestuoso, a Vênus, a deusa da luxuria, a Bachus, o deus da orgia, e a muitos outros. Os vícios eram admitidos. Tantos eram os deuses, quantas eram as execráveis paixões humanas. O mal tinha penetrado nos costumes, nas almas, nas famílias, na sociedade, na mentalidade das nações, e crescia sempre, protegido pela opinião pública, pelo governo. Urgia a chegada do Redentor. Apesar, contudo, de todo este caos, e também por causa dele, havia algo de positivo naquela época que facilitaria a chegada do Salvador de tantas misérias. O judaísmo da Diáspora e seu monoteísmo influenciavam rumo a uma mudança radical. Havia a unificação política do mundo no Império Romano e a penetração helenística no Oriente e parte do Ocidente era algo positivo. O comércio mundial, intenso, por mar e por terra, tornava possível uma rápida troca de idéias e facilitaria a difusão do Evangelho. Não obstante sua segregação, os hebreus exerciam sobre o mundo pagão circundante uma notável influência ética e religiosa. Um conceito mais puro da divindade, uma moralidade superior causavam funda impressão sobre as pessoas mais sérias. Um bom número de pagãos passou a aceitar o monoteísmo e a observância de certos preceitos. No meio deste tementes a Deus de que falaria os Atos dos Apóstolos (Atos 10,2;13,50;16,14) o cristianismo encontrou um terreno particularmente favorável, pois oferecia aquilo que o coração humano no fundo desejava. Neste sentido se pode entender o que disse São Paulo: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, sujeito à Lei, a fim de redimir aqueles que estavam sob a Lei, para que conhecêssemos a adoção de filhos (Gl 4, 4-5). Com a chegada do Redentor, o mundo conheceria novos tempos e sua doutrina revolucionaria os costumes e daria rumos luminosos à trajetória humana nesta terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
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