DIANTE DO CRUCIFIXO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Diante do Crucifixo cumpre uma reflexão sobre a morte do Filho de Deus. Morrer é sempre um instante decisivo na vida de cada um, mas morrer de amor, banhado em sangue, é uma apoteose digna, de fato, de um Deus! O Calvário se tornou pela morte de Jesus o vértice imponente do Universo, o ponto sagrado e culminante onde as gerações de todos os tempos se encontram. Aí as duas alianças se realizaram. Do altar propiciatório, no qual, num torvelinho de dor e aflição, a Vítima divina foi imolada, sobiu ao Todo-Poderoso a oblação daquela vítima que saldou a dívida da humanidade pecadora. Ante a morte de um Deus a natureza toda se comoveu, enchendo-se o mundo todo de pavoroso assombro. A terra se viu abalada nos seus fundamentos estremeceu. Mortos ressuscitaram, marulhou o mar, erguendo vagalhões. Coriscaram os raios, trovões seguiram um relampejar insistente. Um Deus, enquanto homem agonizou e morreu. Processou-se a grande guinada na embarcação da humanidade. Soou a hora da liberdade. Ao longo ecoaram os fragores estridentes de cadeias injuriosas que se despedaçaram para humilhação do inimigo da linhagem humana. Raiou a redenção! Personagens tem havido em todos os tempos que deixaram sua marca na História. São os grandes benfeitores nos mais diversos campos de atividade que contribuíram para o progresso da humanidade. Homens e mulheres de prol que fundiram seus atos nos bronzes da virtude, do saber, da benemerência. Eles se fazem contemporâneos de todas as gerações. O nome deles se perpetua (Ecl 46,150). Há na vida destes gênios momentos que perduram na memória dos pósteros pela grandiosidade de um gesto decisivo e nobre. Quando lançava na longínqua Grécia sua teoria do princípio da liberdade do pensamento acima da conveniência pessoal, do conforto e da reputação, Sócrates era admirável. No instante, porém, em que estendido num leito, enquanto o veneno lhe ia paralisando o corpo ele fica firme em suas idéias aquele foi um momento importantíssimo para a civilização e a cultura. É que a razão enfrentava a morte e triunfava! Mais tarde no dia 14 de março de 44, quando em pleno senado romano Júlio César morria assassinado o mundo vivia momentos dramáticos. Com efeito, a grande obra política de um estadista eminente era interrompida e quinze anos de guerras ensangüentariam as crônicas do mundo antigo. Na estrada de Damasco fulge um raio. Cai por terra um homem valoroso. Momento decisivo para a História. Saulo o perseguidor dos cristãos se torna Paulo, o apaixonado por Jesus Cristo, o doutor das gentes. O Evangelho iria ser difundido mundo todo por um Apóstolo incansável. Dia 4 de outubro de 1226, aos quarenta e cinco anos de idade, estendido no chão, coberto com uma túnica velha, cingido por uma corda grosseira, braços abertos morria o poeta da natureza, Francisco de Assis. A morte ganhava foros de irmã e perdia toda sua terribilidade, pois entre cânticos de seus epígonos era recebida por Francisco com júbilo e alegria. 1430 foi o ano em que ardia numa fogueira o corpo de uma jovem chamada Joana d’Arc. Modifica-se a Europa. O entusiasmo pela vitória da pátria de que ela fora uma paladina indomável e agora mártir, levaria a França a domínio de conseqüências perenes na vida do mundo. No fundo de um gabinete um homem sagaz se envolve nas teorias da vontade de Nietszche e Schopenhauer, na geopolítica de Hashofer, nas histórias cíclicas de Spengler. Ele mergulha nestas idéias e, instante triste para as gerações de então, porque surge o diabólico Hitler que desencadearia uma conflagração mundial e uma perseguição ignominiosa aos judeus. Naquela época já soara para o mundo outro momento decisivo quando um personagem estranho fazia dos textos de Karl Marx sua Bíblia. Surge ante todos Lenin impregnado de idéias atéias e o comunismo durante décadas desgraçaria o Leste europeu e outras partes do globo.Estes alguns dos momentos decisivos para a humanidade. Entretanto, nenhum deles, apesar de todas as suas conseqüências, superou o que se deu um dia na Cruz, num drama singular que se tornou o fato mais importante da História, porque naquela hora se realizou a redenção humana. É que Jesus Cristo por entre a convulsão da natureza expirou e nele o Pai recapitulou todas as coisas. Tudo que é por Ele, tudo que participa da vitória de que sua Cruz seria símbolo perpétuo, perduraria. Tudo que O contradissesse, mais dia menos dia, ruiria por terra. Passariam os grandes homens, dar-se-iam as grandes transformações sociais, operar-se-iam progressos científicos inimagináveis e Cristo crucificado e morto permaneceria e permanecerá sempre. Eis a realidade grandiosa de que nos fala o Crucifixo! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
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