ANGELOLOGIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Denomina-se angelologia o tratado acerca de anjos, cuja existência aparece claro na Bíblia. A Igreja, firmada na palavra de Deus, afirma a existência de um mundo invisível mais belo e mais perfeito que o mundo visível. No início, antes da criação do homem, Deus criou os Anjos, puros espíritos, naturezas simples. Eles imaculados não somente na inteligência que não pode ser surpreendida pelo erro, mas ainda na vontade que não pode ser perturbada pela violência das paixões. Tudo neles comedido e justo, tanto o amor do bem como o ódio do mal. Não sujeitos às inconstâncias ou às hesitações, porque as suas inteligências, livres e desembaraçadas das formas sensíveis e corporais, são imensamente superiores às nossas, conhecendo diretamente a Deus, cuja imagem radiante se reflete como em um espelho crêem em seus raciocínios, só fazem o que querem, e pretendem poder viver sem Deus. Enquanto uma grande parte dos Anjos, guiados pelo arcanjo S. Miguel, reconheceu os direitos absolutos do Criador e a adoração que todas as criaturas lhe devem, muitos outros espíritos angélicos se deixaram arrastar pela revolta de Lúcifer. Com sua punição surgiram os abismos infernais, onde foram precipitados para sempre, e daí a origem dos demônios, ou seja, anjos decaídos. Deus fez o Anjo e alguns anjos se fizeram demônios. Deus, sendo o supremo Bem, não pode fazer senão o que é bom, e os Livros Sagrados afirmam que todas as obras divinas são boas e excelentes. Na aurora da vida, ao amanhecer da existência, todos os Anjos, como foi dito acima, eram puros, santos e felizes, e porque alguns abusaram da liberdade, desse dom divino que lhes foi dado, tornaram-se perversos. São malfeitores que, não se podendo igualar a Deus, se vingam no homem, que está destinado a ir gozar da glória desse reino celeste que eles perderam para sempre. A hostilidade do demônio contra o homem é uma verdade conhecida. O mau é naturalmente inimigo de tudo o que não se parece com ele. O maligno detesta a virtude; ele procura surpreendê-la; a observa, a persegue até que ela degenere e, se não consegue corrompê-la, procura fazê-la sofrer. Tal é a história antiga, a história moderna, a história dos homens e a história dos demônios. O perverso que arrasta os outros para o pecado, o libertino que dá escândalos, os pecadores públicos são o instrumento e os mensageiros do espírito mau. O demônio é um ente maléfico, é a causa primordial da desgraça e dos pecados humanos.
São Pedro deixou uma séria admoestação: “Sede sóbrios e vigiai! O vosso adversário, o diabo, rodeia-vos como o leão que ruge à procura de quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé” (1 Pd 5,2-3). Jesus nos fala sempre do espírito das trevas, cujo desejo é fazer mal aos homens. Inúmeras são as passagens da Bíblia que nos previne da existência desse ente maldito. Sim, é uma verdade e um dogma de nossa fé a existência dos demônios. Cumpre pedir a Deus que nunca sejamos vencidos por eles e que, nesta luta da virtude contra o vicio, do mal contra o bem, onde está em jogo a glória eterna, a coroa do reino dos céus, não sejamos seduzidos nem pelo orgulho, nem pela sensualidade, nem pelo prazer, a fim de que possamos entrar vitoriosos nessa bem-aventurança divina que os espíritos infernais perderam para sempre. É preciso, porém, confiar na proteção dos anjos bons, invocando sempre São Miguel e, também, o Anjo da Guarda.
Lembremo-nos, portanto que os anjos são simples e indivisíveis, porque são espíritos. A morte que nos separa, o tempo que afeta os elementos do nosso corpo, não tem ação sobre eles, nem força alguma pode ferir a sua perfeita unidade. Se eles não podem igualar a imensidade de Deus pela universidade, eles a imitam pela agilidade de seus movimentos. A nossa alma pode nos dar uma idéia dessa agilidade dos espíritos angélicos. O nosso pensamento suprime as distâncias e se transporta instantaneamente de uma extremidade do mundo a outra. Assim os anjos. Eis porque os artistas os representam com asas, para indicar a prontidão e a rapidez em que executam as ordens do Eterno, e os representam com rostos infantis, para mostrar a inocência e a imortal juventude que lhes é própria. Os espíritos bons formam três ordens distintas, divididas em nove coros: os Serafins, os Querubins e os Tronos; as Dominações, as Virtudes e as Potências; os Principados, os Arcanjos e os Anjos. A angelologia mostra como Deus é admirável em suas obras, e como os céus cantam a Sua glória. Eis aí o conceito que devemos ter dos Anjos; tal é a doutrina da Igreja. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
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