JESUS DE NAZARÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
.Nazaré, pequena aldeia na Galiléia, tornou-se importante depois dos eventos narrados no Novo Testamento. Foi em Nazaré que Maria recebeu a anunciação (Lc 1,26-38) e onde Jesus passou a juventude (Lc 2,30). Daí ele saiu quando começou sua vida pública (Mt 4,13). Por tudo isto era chamado “o profeta de Nazaré” (Mt 21,11; Atos 10, 38). Os próprios demônios também assim o cognominavam ((Mc 1,24). Na Cruz foi escrito “(Jesus Nazareno, Rei dos Judeus” (Jo 19,19). A São Paulo Jesus se identificará como nazareno (Atos 22,8). Por tudo isto não houve da parte de Cristo nenhuma falsidade ideológica, embora Ele tenha nascido em Belém. Aliás, seja dito que há muitos personagens, como mostra a História, que preferiram proclamar como sua terra o lugar onde foram concebidos e não onde nasceram. No caso de Jesus, estando completos os dias marcados por Deus para dar aos homens o Redentor prometido, foi em Nazaré que os primeiros raios da misericórdia divina acenderam os primeiros atos da salvação humana.
É aí que o alvorecer da redenção começou a iluminar os horizontes humanos. Nazaré, escondida entre montanhas é, por assim dizer, fechada para o lado da terra, enquanto está completamente aberta para o lado do céu, se acha apoiada na encosta de uma colina por entre ramagens de oliveiras, semelhante a um ninho suspenso nas alturas. Lugar ermo, calmo e aprazível, adaptava-se naturalmente aos grandes empreendimentos de Deus, que sempre manifesta a sua comiseração longe do reboliço e da desordem dos homens. Nessa localidade residia uma pobre e humilde virgem, prometida em casamento a um modesto operário de nome José, ambos descendentes da família real de Davi e da família sacerdotal de Aarão. Foi essa virgem escolhida pelo céu para dar à terra o Messias prometido, o Salvador que a humanidade esperava. A cena narrada por São Lucas é sublime. A bondade de Deus se revela em toda sua grandeza, tratando a humanidade com amor e carinhos que causam assombro e que já deixam entrever a admirável figura desse Pai celeste, do qual tantas vezes falará o Verbo Divino.
Escreveu S. Lucas: “O anjo Gabriel, foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem que era noiva dum homem chamado José da casa de Davi, e Maria era o nome da Virgem. Ao entrar para junto dela, disse: “Salve, ó cheia de graça, o senhor é contigo”. A estas palavras ela perturbou-se e perguntava-se o que significaria aquela saudação. Mas o anjo lhe disse: “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho ao qual darás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, dar-lhe-á o senhor Deus o trono de seu pai Davi, reinará eternamente na casa de Jacó e seu reinado não terá fim. Disse Maria ao anjo: “Como se realizará isso, pois eu não conheço homem algum?” Respondeu-lhe o anjo: “Virá sobre ti o Espírito Santo e a potência do Altíssimo te recobrirá, e por isso também o santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”. Mediante tudo isto a resposta de Maria não poderia ser outra: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,26-38).
Eis como se deu a concepção milagrosa de Cristo em Nazaré. A inteligência humana acha isto natural e fácil à onipotência divina, como percebe ser conveniente à sabedoria infinita, porque, se Jesus é verdadeiramente Deus, era justo que sua mãe fosse elevada acima de todas as mulheres e reunisse sobre a sua cabeça as duas mais belas coroas da terra, a pureza da virgem e a dignidade de mãe. A verdade é visível na narração de São Lucas. É de se admirar a sobriedade no diálogo do Anjo e de Maria, repleto de simplicidade e delicadeza. Neste trecho reluz algo da fisionomia de Maria, o tipo ideal de pureza, de humildade, de candura, de fé firme e forte. O “sim” de Maria fez com que no mesmo instante os céus se abrissem, e ela concebeu em seu casto seio o Verbo de Deus que se fez homem e veio habitar entre nós (Jo 1,14). Mistério adorável, onde se manifesta a infinita clemência de Deus. Os séculos cristãos reconheceriam a glória incomparável de Maria e todos seguidores de Cristo a amariam com um amor que não encontra outro superior a não ser o amor a Deus. O que ela disse: “Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada,” (Lc 1,48) foi uma profecia que a História da Igreja comprova. Cumpre sejamos agradecidos a Jesus, nosso único Salvador, nascido da Virgem Maria, à qual se deve todo louvor.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
JESUS, CENTRO DA HISTÓRIA
JESUS, CENTRO DA HISTÓRIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo é a luz que ilumina todo o homem (Jo1,9) e, vem a ser no mundo intelectual, moral e espiritual o que o sol é no mundo material. Mais ainda, é a razão de tudo, a causa de tudo, o fim de tudo: “Por meio dele o mundo foi feito (Jo 1,10). Tendo vindo a esta terra, Ele preside os séculos que O precederam como aqueles que vieram após Ele. Os tempos antigos O esperaram e o preparam Sua chegada; os tempos modernos marcham sob a Sua claridade e vivem de Sua vida. Dentre o povo hebraico, Deus escolheu uma família e a conduziu em terra estrangeira. A família de Abraão viveu também no Egito (Gên 12,10 ss), no meio da civilização mais apurada da época, voltando depois para a Palestina e formou-se, educou-se e de tal sorte se desenvolveu que constitui um povo. Deus serviu-se desse povo para mostrar progressivamente ao mundo a figura grandiosa de Cristo.
Esse povo começou recebendo de Deus uma crença, uma fé, a fé no único Deus verdadeiro, o Ser supremo, absoluto, eterno e necessário. Depois, no monte Sinai, Deus lhe deu uma lei, uma constituição, os dez mandamentos, a mais bela, a mais perfeita constituição que a humanidade possui. Finalmente lhe foi concedido um território na terra prometida a Abraão. Assim organizado, assim constituído, esse povo hebreu, encerrou-se em seu pequeno país como em um santuário, instruiu-se, educou-se, fortificou-se, e quando chegou o momento marcado pela Providência, Deus se serviu do cativeiro para lançá-lo no seio das grandes nações civilizadas do Oriente, levando nas mãos as Escrituras, nas quais estavam escritas as últimas profecias e delineados os últimos traços da imagem do Salvador, a fim de que essas nações também O aguardassem. Esse conhecimento acordou no espírito dos povos a lembrança da promessa feita aos nossos primeiros pais no paraíso, e para a Judéia se voltaram as esperanças da humanidade, pois de lá viria a salvação do mundo. Em Belém nasceu um dia o Messias e nele se processou a síntese universal dos acontecimentos humanos. Fora dele tudo é trevas, confusão e desordem; com Ele tudo é harmonia, luz, unidade e beleza. A existência humana na terra nos aparece então como aquele templo grandioso que S. João viu no Apocalipse, cujas linhas convergiam para o trono do Cordeiro imaculado, que é a luz vivente que tudo ilumina. Jesus é o caminho da humanidade, é a verdade das inteligências, é a vida das almas. Sendo Cristo a luz do mundo, o centro da história humana, é ele realmente o fim de cada um, o amor dos corações, a causa da existência dos que nele crêem. Em Jesus a infância vê o caminho que deve seguir na pureza, no respeito e na obediência; a mocidade encontra nele a verdade, a dedicação, a virtude e o amor, tudo o que entusiasma os corações nobres e as almas bem formadas; o pai e a mãe, o operário, o artista, todas as classes sociais, aprendem dele a paciência no trabalho, a coragem e a satisfação no cumprimento do dever, o valor do sacrifício, a reabilitação pela penitência, a esperança da vida feliz e eterna no reino de Deus. Todos, tomando as suas cruzes e seguindo o Cristo, com ele têm a plena certeza de que chegarão um dia à glória celeste, ao fim para que foram criados, porque Ele é origem de tudo. Como muito bem se expressou Karl Adam, o homem e Cristo são como a pergunta e a resposta; o problema e a solução. Quem nele depara a resposta a suas indagações e a solução de seus problemas está definitivamente salvo. É por Ele, com Ele e nele que, na unidade do Espírito Santo se rende ao Pai toda honra e toda glória. Como explicou São Paulo aos Filipenses: “Deus O exaltou e Lhe deu o nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus todo o joelho se dobre nos céus, na terra e abaixo da terra e toda língua proclame que Jesus Cristo é o senhor para glória de Deus Pai” (Fl 2, 9-11). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo é a luz que ilumina todo o homem (Jo1,9) e, vem a ser no mundo intelectual, moral e espiritual o que o sol é no mundo material. Mais ainda, é a razão de tudo, a causa de tudo, o fim de tudo: “Por meio dele o mundo foi feito (Jo 1,10). Tendo vindo a esta terra, Ele preside os séculos que O precederam como aqueles que vieram após Ele. Os tempos antigos O esperaram e o preparam Sua chegada; os tempos modernos marcham sob a Sua claridade e vivem de Sua vida. Dentre o povo hebraico, Deus escolheu uma família e a conduziu em terra estrangeira. A família de Abraão viveu também no Egito (Gên 12,10 ss), no meio da civilização mais apurada da época, voltando depois para a Palestina e formou-se, educou-se e de tal sorte se desenvolveu que constitui um povo. Deus serviu-se desse povo para mostrar progressivamente ao mundo a figura grandiosa de Cristo.
Esse povo começou recebendo de Deus uma crença, uma fé, a fé no único Deus verdadeiro, o Ser supremo, absoluto, eterno e necessário. Depois, no monte Sinai, Deus lhe deu uma lei, uma constituição, os dez mandamentos, a mais bela, a mais perfeita constituição que a humanidade possui. Finalmente lhe foi concedido um território na terra prometida a Abraão. Assim organizado, assim constituído, esse povo hebreu, encerrou-se em seu pequeno país como em um santuário, instruiu-se, educou-se, fortificou-se, e quando chegou o momento marcado pela Providência, Deus se serviu do cativeiro para lançá-lo no seio das grandes nações civilizadas do Oriente, levando nas mãos as Escrituras, nas quais estavam escritas as últimas profecias e delineados os últimos traços da imagem do Salvador, a fim de que essas nações também O aguardassem. Esse conhecimento acordou no espírito dos povos a lembrança da promessa feita aos nossos primeiros pais no paraíso, e para a Judéia se voltaram as esperanças da humanidade, pois de lá viria a salvação do mundo. Em Belém nasceu um dia o Messias e nele se processou a síntese universal dos acontecimentos humanos. Fora dele tudo é trevas, confusão e desordem; com Ele tudo é harmonia, luz, unidade e beleza. A existência humana na terra nos aparece então como aquele templo grandioso que S. João viu no Apocalipse, cujas linhas convergiam para o trono do Cordeiro imaculado, que é a luz vivente que tudo ilumina. Jesus é o caminho da humanidade, é a verdade das inteligências, é a vida das almas. Sendo Cristo a luz do mundo, o centro da história humana, é ele realmente o fim de cada um, o amor dos corações, a causa da existência dos que nele crêem. Em Jesus a infância vê o caminho que deve seguir na pureza, no respeito e na obediência; a mocidade encontra nele a verdade, a dedicação, a virtude e o amor, tudo o que entusiasma os corações nobres e as almas bem formadas; o pai e a mãe, o operário, o artista, todas as classes sociais, aprendem dele a paciência no trabalho, a coragem e a satisfação no cumprimento do dever, o valor do sacrifício, a reabilitação pela penitência, a esperança da vida feliz e eterna no reino de Deus. Todos, tomando as suas cruzes e seguindo o Cristo, com ele têm a plena certeza de que chegarão um dia à glória celeste, ao fim para que foram criados, porque Ele é origem de tudo. Como muito bem se expressou Karl Adam, o homem e Cristo são como a pergunta e a resposta; o problema e a solução. Quem nele depara a resposta a suas indagações e a solução de seus problemas está definitivamente salvo. É por Ele, com Ele e nele que, na unidade do Espírito Santo se rende ao Pai toda honra e toda glória. Como explicou São Paulo aos Filipenses: “Deus O exaltou e Lhe deu o nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus todo o joelho se dobre nos céus, na terra e abaixo da terra e toda língua proclame que Jesus Cristo é o senhor para glória de Deus Pai” (Fl 2, 9-11). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
O EMANUEL, DEUS CONOSCO
O EMANUEL, DEUS CONOSCO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O acontecimento mais importante da história universal foi, sem dúvida o nascimento de Cristo, a vinda do Filho de Deus à terra, o próprio Deus humanado, vivendo com os homens. Veio para oferecer a salvação a todos de boa vontade, ministrando a mais bela doutrina que jamais ecoou ou ecoará nesta terra. Abriu as portas de uma eternidade feliz e, dando a prova definitiva de seu amor, se fez o referencial dos maiores heroísmos de todos os tempos. Como este fato é o mais extraordinário de todos, os povos antigos, antes desse maravilhoso evento, o esperavam com ansiedade, o chamavam, o procuravam, e os povos modernos, depois dele realizado, são iluminados, libertos, civilizados, morigerados e santificados por ele. Daí a clássica divisão da História em antes e depois de Cristo. Em toda a parte e em todos os séculos antes de Jesus, se contempla palpitando a busca de uma redenção pelo sacrifício oferecido ao Ser Supremo; em toda parte e em todos os séculos o sangue foi derramado sobre os altares numa aspiração de atrair o perdão e a proteção do Todo-Poderoso. Esse fato religioso, constante e universal do sacrifício praticado por todos os povos, só tem uma explicação admissível, porque apenas uma é a verdadeira: desde o berço do mundo, o homem tendo cometido o pecado, ofendeu a infinita majestade de Deus. Esse pecado exigia uma expiação, e como entre o Criador e a criatura a distância é infinita, o homem pecador era incapaz de oferecer uma expiação equivalente à ofensa. Deus porém, misericordioso como é, decretou que a expiação do pecado seria feita pela imolação de uma única vítima, que substituiria o gênero humano prevaricador. Por um só foi a perdição; por um só viria a salvação. Tal foi o decreto divino promulgado desde a origem do mundo. O pai do gênero humano recebeu essa revelação quando, curvado sob o peso do anátema divino, sentia a desesperança invadir-lhe a alma. Consolado pela promessa do Redentor, ele a transmitiu à sua infeliz descendência, que se lançou a procura de uma vítima para pagar a sua dívida e remir o seu pecado. Esta idéia do Redentor tem no mundo antigo raízes profundas. A esperança de um Redentor promanou do céu ao mesmo tempo que a punição divina caia sobre os representantes da humanidade prevaricadora. Os diversos ramos da família humana, em suas peregrinações na terra, levaram consigo essa promessa feita sobre o berço da humanidade, e essa revelação primordial, se prolongou de eco em eco, ressoou não somente na tenda dos Patriarcas, mas ainda nas recordações pagãs como nas tradições do mundo bárbaro. Toda a antiguidade trouxe em seu seio a lembrança de uma imensa culpa e a esperança de um incomensurável perdão. Ela clamava por um libertador. Em Belém Ele nasceu para redimir a humanidade, dando uma resposta cabal a todas as aspirações que precederam sua chegada a esta terra. Aí está a razão da alegria que refulge no dia do Natal, preparado cuidadosamente durante as quatro semanas de Advento. Esta vinda do Salvador à terra tem sua culminância no dia de sua Ressurreição, quando ele deu a prova definitiva de sua divindade, ratificando gloriosamente a veracidade de toda a sua doutrina e de sua admirável obra salvífica. Refletir sobre o papel redentor do Messias prometido faz com que o cristão se conscientize ainda mais de suas obrigações para com um Deus que tanto deseja a felicidade total de seus filhos e filhas. Gratidão para com o Pai que enviou seu Filho à terra, para com este Filho que se sacrificou por todos e enviou o Espírito Santo para iluminar perenemente seus seguidores. Este reconhecimento deve se manifestar na vivência plena do Evangelho, na obediência irrestrita aos mandamentos de Deus, na correspondência persistente às luzes e inspirações da Terceira Pessoa da Trindade Santa. Embora se comemore no dia 25 de dezembro o nascimento de Jesus e isto deve ser feito com grande júbilo, após uma preparação condigna, o divino Infante precisa estar sempre presente dentro de cada coração e tal deve ser continuamente a prece humilde do cristão: “Menino Jesus por nós Encarnado, livrai-nos da mancha de todo pecado”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O acontecimento mais importante da história universal foi, sem dúvida o nascimento de Cristo, a vinda do Filho de Deus à terra, o próprio Deus humanado, vivendo com os homens. Veio para oferecer a salvação a todos de boa vontade, ministrando a mais bela doutrina que jamais ecoou ou ecoará nesta terra. Abriu as portas de uma eternidade feliz e, dando a prova definitiva de seu amor, se fez o referencial dos maiores heroísmos de todos os tempos. Como este fato é o mais extraordinário de todos, os povos antigos, antes desse maravilhoso evento, o esperavam com ansiedade, o chamavam, o procuravam, e os povos modernos, depois dele realizado, são iluminados, libertos, civilizados, morigerados e santificados por ele. Daí a clássica divisão da História em antes e depois de Cristo. Em toda a parte e em todos os séculos antes de Jesus, se contempla palpitando a busca de uma redenção pelo sacrifício oferecido ao Ser Supremo; em toda parte e em todos os séculos o sangue foi derramado sobre os altares numa aspiração de atrair o perdão e a proteção do Todo-Poderoso. Esse fato religioso, constante e universal do sacrifício praticado por todos os povos, só tem uma explicação admissível, porque apenas uma é a verdadeira: desde o berço do mundo, o homem tendo cometido o pecado, ofendeu a infinita majestade de Deus. Esse pecado exigia uma expiação, e como entre o Criador e a criatura a distância é infinita, o homem pecador era incapaz de oferecer uma expiação equivalente à ofensa. Deus porém, misericordioso como é, decretou que a expiação do pecado seria feita pela imolação de uma única vítima, que substituiria o gênero humano prevaricador. Por um só foi a perdição; por um só viria a salvação. Tal foi o decreto divino promulgado desde a origem do mundo. O pai do gênero humano recebeu essa revelação quando, curvado sob o peso do anátema divino, sentia a desesperança invadir-lhe a alma. Consolado pela promessa do Redentor, ele a transmitiu à sua infeliz descendência, que se lançou a procura de uma vítima para pagar a sua dívida e remir o seu pecado. Esta idéia do Redentor tem no mundo antigo raízes profundas. A esperança de um Redentor promanou do céu ao mesmo tempo que a punição divina caia sobre os representantes da humanidade prevaricadora. Os diversos ramos da família humana, em suas peregrinações na terra, levaram consigo essa promessa feita sobre o berço da humanidade, e essa revelação primordial, se prolongou de eco em eco, ressoou não somente na tenda dos Patriarcas, mas ainda nas recordações pagãs como nas tradições do mundo bárbaro. Toda a antiguidade trouxe em seu seio a lembrança de uma imensa culpa e a esperança de um incomensurável perdão. Ela clamava por um libertador. Em Belém Ele nasceu para redimir a humanidade, dando uma resposta cabal a todas as aspirações que precederam sua chegada a esta terra. Aí está a razão da alegria que refulge no dia do Natal, preparado cuidadosamente durante as quatro semanas de Advento. Esta vinda do Salvador à terra tem sua culminância no dia de sua Ressurreição, quando ele deu a prova definitiva de sua divindade, ratificando gloriosamente a veracidade de toda a sua doutrina e de sua admirável obra salvífica. Refletir sobre o papel redentor do Messias prometido faz com que o cristão se conscientize ainda mais de suas obrigações para com um Deus que tanto deseja a felicidade total de seus filhos e filhas. Gratidão para com o Pai que enviou seu Filho à terra, para com este Filho que se sacrificou por todos e enviou o Espírito Santo para iluminar perenemente seus seguidores. Este reconhecimento deve se manifestar na vivência plena do Evangelho, na obediência irrestrita aos mandamentos de Deus, na correspondência persistente às luzes e inspirações da Terceira Pessoa da Trindade Santa. Embora se comemore no dia 25 de dezembro o nascimento de Jesus e isto deve ser feito com grande júbilo, após uma preparação condigna, o divino Infante precisa estar sempre presente dentro de cada coração e tal deve ser continuamente a prece humilde do cristão: “Menino Jesus por nós Encarnado, livrai-nos da mancha de todo pecado”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
A hmanidade precisava de um Redentor
A HUMANIDADE PRECISAVA DE UM REDENTOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto histórico no qual Cristo veio ao mundo os povos, com exceção dos judeus, viviam nas trevas, e o conhecimento que tinham de Deus estava tão alterado, que, com razão, Bossuet, escreveu que tudo era Deus menos o verdadeiro Deus. O homem não sabia mais nem o que era, nem de onde viera, nem qual era o seu destino. A natureza com suas maravilhas que deviam patentear a existência do Criador, não impressionava mais as inteligências, e o homem só tinha adoração para os seres criados como ele. O espírito era entenebrecido pela ignorância, pelo erro e pelas paixões. A consciência estava em trevas e muitos filósofos perguntavam-se mutuamente se deviam praticar a virtude ou entregar-se ao vício. O coração, como a inteligência, estava corrompido e não conhecia o verdadeiro amor. A impudicícia tinha os seus altares e as suas sacerdotisas. Só o templo de Vênus, na cidade de Corinto, contava mil dessas infelizes. Os crimes contra a moral não eram condenados pela religião pagã, nem punidos pela lei, nem detestados pela opinião publica. A revelação, a natureza, a razão, todos esses astros que devem iluminar a vida do homem estavam como que apagados. As almas precisavam realmente daquele que é Caminho, Verdade e Vida. Haviam penetrado e conquistado o Ocidente as religiões ocidentais e os cultos mistéricos, que, exercendo sobre as massas uma força de atração sempre maior, desencaminhavam as mentes. Prosperavam ao mesmo tempo as superstições religiosas mais extravagantes, como a astrologia, a magia, a teugia, a necromancia. Na filosofia imperava um pragmatismo bem longe da metafísica o qual colocava a atenção na sabedoria prática da vida. Os epicuristas professavam um hedonismo de fundo materialista, sendo para eles o prazer o bem supremo. Os estóicos consideravam como escopo de toda a filosofia a perfeição, mas com uma doutrina panteístico-monista, envolta num fatalismo que acreditava no poder cego e imutável do Destino. Não havia mais patriotas cheios de entusiasmo pela coisa pública e os corações dos cidadãos se entregavam ao sentimento de impotência e a depravação geral tinha sido difundida. Adoravam a Júpiter, o incestuoso, a Vênus, a deusa da luxuria, a Bachus, o deus da orgia, e a muitos outros. Os vícios eram admitidos. Tantos eram os deuses, quantas eram as execráveis paixões humanas. O mal tinha penetrado nos costumes, nas almas, nas famílias, na sociedade, na mentalidade das nações, e crescia sempre, protegido pela opinião pública, pelo governo. Urgia a chegada do Redentor. Apesar, contudo, de todo este caos, e também por causa dele, havia algo de positivo naquela época que facilitaria a chegada do Salvador de tantas misérias. O judaísmo da Diáspora e seu monoteísmo influenciavam rumo a uma mudança radical. Havia a unificação política do mundo no Império Romano e a penetração helenística no Oriente e parte do Ocidente era algo positivo. O comércio mundial, intenso, por mar e por terra, tornava possível uma rápida troca de idéias e facilitaria a difusão do Evangelho. Não obstante sua segregação, os hebreus exerciam sobre o mundo pagão circundante uma notável influência ética e religiosa. Um conceito mais puro da divindade, uma moralidade superior causavam funda impressão sobre as pessoas mais sérias. Um bom número de pagãos passou a aceitar o monoteísmo e a observância de certos preceitos. No meio deste tementes a Deus de que falaria os Atos dos Apóstolos (Atos 10,2;13,50;16,14) o cristianismo encontrou um terreno particularmente favorável, pois oferecia aquilo que o coração humano no fundo desejava. Neste sentido se pode entender o que disse São Paulo: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, sujeito à Lei, a fim de redimir aqueles que estavam sob a Lei, para que conhecêssemos a adoção de filhos (Gl 4, 4-5). Com a chegada do Redentor, o mundo conheceria novos tempos e sua doutrina revolucionaria os costumes e daria rumos luminosos à trajetória humana nesta terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto histórico no qual Cristo veio ao mundo os povos, com exceção dos judeus, viviam nas trevas, e o conhecimento que tinham de Deus estava tão alterado, que, com razão, Bossuet, escreveu que tudo era Deus menos o verdadeiro Deus. O homem não sabia mais nem o que era, nem de onde viera, nem qual era o seu destino. A natureza com suas maravilhas que deviam patentear a existência do Criador, não impressionava mais as inteligências, e o homem só tinha adoração para os seres criados como ele. O espírito era entenebrecido pela ignorância, pelo erro e pelas paixões. A consciência estava em trevas e muitos filósofos perguntavam-se mutuamente se deviam praticar a virtude ou entregar-se ao vício. O coração, como a inteligência, estava corrompido e não conhecia o verdadeiro amor. A impudicícia tinha os seus altares e as suas sacerdotisas. Só o templo de Vênus, na cidade de Corinto, contava mil dessas infelizes. Os crimes contra a moral não eram condenados pela religião pagã, nem punidos pela lei, nem detestados pela opinião publica. A revelação, a natureza, a razão, todos esses astros que devem iluminar a vida do homem estavam como que apagados. As almas precisavam realmente daquele que é Caminho, Verdade e Vida. Haviam penetrado e conquistado o Ocidente as religiões ocidentais e os cultos mistéricos, que, exercendo sobre as massas uma força de atração sempre maior, desencaminhavam as mentes. Prosperavam ao mesmo tempo as superstições religiosas mais extravagantes, como a astrologia, a magia, a teugia, a necromancia. Na filosofia imperava um pragmatismo bem longe da metafísica o qual colocava a atenção na sabedoria prática da vida. Os epicuristas professavam um hedonismo de fundo materialista, sendo para eles o prazer o bem supremo. Os estóicos consideravam como escopo de toda a filosofia a perfeição, mas com uma doutrina panteístico-monista, envolta num fatalismo que acreditava no poder cego e imutável do Destino. Não havia mais patriotas cheios de entusiasmo pela coisa pública e os corações dos cidadãos se entregavam ao sentimento de impotência e a depravação geral tinha sido difundida. Adoravam a Júpiter, o incestuoso, a Vênus, a deusa da luxuria, a Bachus, o deus da orgia, e a muitos outros. Os vícios eram admitidos. Tantos eram os deuses, quantas eram as execráveis paixões humanas. O mal tinha penetrado nos costumes, nas almas, nas famílias, na sociedade, na mentalidade das nações, e crescia sempre, protegido pela opinião pública, pelo governo. Urgia a chegada do Redentor. Apesar, contudo, de todo este caos, e também por causa dele, havia algo de positivo naquela época que facilitaria a chegada do Salvador de tantas misérias. O judaísmo da Diáspora e seu monoteísmo influenciavam rumo a uma mudança radical. Havia a unificação política do mundo no Império Romano e a penetração helenística no Oriente e parte do Ocidente era algo positivo. O comércio mundial, intenso, por mar e por terra, tornava possível uma rápida troca de idéias e facilitaria a difusão do Evangelho. Não obstante sua segregação, os hebreus exerciam sobre o mundo pagão circundante uma notável influência ética e religiosa. Um conceito mais puro da divindade, uma moralidade superior causavam funda impressão sobre as pessoas mais sérias. Um bom número de pagãos passou a aceitar o monoteísmo e a observância de certos preceitos. No meio deste tementes a Deus de que falaria os Atos dos Apóstolos (Atos 10,2;13,50;16,14) o cristianismo encontrou um terreno particularmente favorável, pois oferecia aquilo que o coração humano no fundo desejava. Neste sentido se pode entender o que disse São Paulo: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, sujeito à Lei, a fim de redimir aqueles que estavam sob a Lei, para que conhecêssemos a adoção de filhos (Gl 4, 4-5). Com a chegada do Redentor, o mundo conheceria novos tempos e sua doutrina revolucionaria os costumes e daria rumos luminosos à trajetória humana nesta terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sábado, 22 de outubro de 2011
oO PECADO ESCRAV IZA E DESTRÓI
O PECADO ESCRAVIZA E DESTRÓI O SER HUMANO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No Evangelho Jesus argüia as multidões: “Por que não julgais o que é justo?” (Lc 12 57). Saber discernir o que é reto é se submeter inteiramente aos mandamentos divinos. Desobedecer a Deus é cometer o pecado que escraviza e destrói o ser humano. O pecado é o que mais de negativo existe no comportamento humano: é um não dado à Sabedoria eterna, que estabeleceu uma ordem ética à qual o ser racional deve livremente se submeter. Na atitude de quem se recusa a obedecer um dos dez itens do Decálogo, há três pontos que devem ser salientados: a perda de Deus - hamartia; a oposição a Ele - anomia; a dívida para com Sua justiça - adikia. O Criador é amor e o pecado é o não amor. Esta postura tem repercussões sociais profundas, pois qualquer infração às normas divinas é anti-social uma vez que acarreta sempre prejuízos a alguém e à harmonia geral. O pecado, de fato, escraviza e destrói o ser humano. A prevaricação moral como decisão livre afeta a dimensão do homem, inclusive a sua fundamental dimensão comunitária”. É óbvio que há deslizes leves e outros graves, dependendo da espécie de violação legal, do conhecimento e do consentimento. É mais pernicioso mentir, lesando conscientemente direitos alheios, do que faltar a verdade em assuntos de somenos importância. Há circunstâncias que fazem um ato pecaminoso mais ponderoso: infringir o sexto mandamento com uma pessoa casada é um adultério. A condição ou aborrecimento do mal cometido é condição essencial para que haja a remissão do erro. Implícita deve estar a resolução ou o propósito de lutar. Isto não quer dizer que o sacramento da Penitência confere a impecabilidade. Apenas Deus é imaculável. A fragilidade humana é uma realidade inegável. São Paulo deixou este alerta: “Aquele, pois, que crer estar de pé (possuindo a graça divina), veja não caia (no pecado)”.. Ao se confessar a declaração das culpas é necessária, conforme o ensinamento da Igreja. A 16 de junho de 1972 a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé recordava que “a confissão individual é íntegra, bem como a absolvição permanecem o único modo ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, a não ser que a impossibilidade física ou moral escuse de algum modo a confissão”. O sacerdote exerce um tríplice papel. Ele é Juiz e, na verdade quantos, às vezes, pensam estar numa triste situação espiritual e, no entanto, necessitam apenas de pequenos ajustamentos vivenciais. Médico ele cura enfermidades da alma. Nem sempre o mesmo remédio pode ser aplicado a idêntico tipo de doença, sendo morte para um o que é saúde para o outro. É o que se dá também na esfera religiosa e cumpre ao confessor, habilmente, diagnosticar o que se passa com quem o procura em busca de paz interior, oferecendo o medicamento adequado. Mestre, ele guia e aponta as veredas salvíficas. Eis por que as absolvições comunitárias, sem a confissão individual, a não ser em casos extraordinários, além de serem contrárias ás disposições da legislação eclesiástica, fazem um mal terrível, privando o fiel de benefícios que uma reta orientação lhe traz para sua vida cristã. A confissão que é cercada do mais rigoroso dos sigilos, é uma fonte de riqueza incalculável. Se teologicamente é a única via para se recuperar a graça santificante perdida, psicologicamente até mesmo um Voltaire, juntamente com inúmeros médicos e sábios, lhe reconhecem a valia. Vasquez de Melo declarou: “O sacramento penitencial é a primeira cátedra da psicologia e ética que se conheceu no mundo”. Tranqüilidade íntima é o que aufere quem, bem disposto, se aproxima deste manancial de salvação. O dom específico que dele advém é uma força medicinal que cura a ferida do pecado, é uma energia a fortificar para os embates futuros, levando à adesão ao bem e à verdade. Aquele que cometeu apenas faltas leves, muito lucra, participando das mercês da comiseração do Todo-Poderoso, pois recebe uma nova infusão do Espírito Santo e um conseqüente revigoramento para perseverar nas trilhas lucíferas da verdadeira nobreza. Tanto para os justos como para os pecadores é um apelo à perfeição, estímulo para que se busque a Deus, freio ao desregramento, guarida no instante de tempestade.Luzes e os favores de Deus, capazes de conduzir o homem aos páramos da mais inebriante eutimia é o que resulta de uma boa Confissão.Contudo, somente os que crêem podem, com gratidão e confiança, haurir tais benesses e compreender a magnitude de um sacramento que tanto engrandece quem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Decepcionado com a cultura hodierna, enganado pelo materialismo reinante, perplexo, dilemático, o homem que vive nesse paradoxal início de milênio precisa deste recurso sobrenatural. Nunca, como hoje, o Sacramento da Penitência é tão necessário, para libertar o pecador e impedir a destruição dele e da sociedade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No Evangelho Jesus argüia as multidões: “Por que não julgais o que é justo?” (Lc 12 57). Saber discernir o que é reto é se submeter inteiramente aos mandamentos divinos. Desobedecer a Deus é cometer o pecado que escraviza e destrói o ser humano. O pecado é o que mais de negativo existe no comportamento humano: é um não dado à Sabedoria eterna, que estabeleceu uma ordem ética à qual o ser racional deve livremente se submeter. Na atitude de quem se recusa a obedecer um dos dez itens do Decálogo, há três pontos que devem ser salientados: a perda de Deus - hamartia; a oposição a Ele - anomia; a dívida para com Sua justiça - adikia. O Criador é amor e o pecado é o não amor. Esta postura tem repercussões sociais profundas, pois qualquer infração às normas divinas é anti-social uma vez que acarreta sempre prejuízos a alguém e à harmonia geral. O pecado, de fato, escraviza e destrói o ser humano. A prevaricação moral como decisão livre afeta a dimensão do homem, inclusive a sua fundamental dimensão comunitária”. É óbvio que há deslizes leves e outros graves, dependendo da espécie de violação legal, do conhecimento e do consentimento. É mais pernicioso mentir, lesando conscientemente direitos alheios, do que faltar a verdade em assuntos de somenos importância. Há circunstâncias que fazem um ato pecaminoso mais ponderoso: infringir o sexto mandamento com uma pessoa casada é um adultério. A condição ou aborrecimento do mal cometido é condição essencial para que haja a remissão do erro. Implícita deve estar a resolução ou o propósito de lutar. Isto não quer dizer que o sacramento da Penitência confere a impecabilidade. Apenas Deus é imaculável. A fragilidade humana é uma realidade inegável. São Paulo deixou este alerta: “Aquele, pois, que crer estar de pé (possuindo a graça divina), veja não caia (no pecado)”.. Ao se confessar a declaração das culpas é necessária, conforme o ensinamento da Igreja. A 16 de junho de 1972 a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé recordava que “a confissão individual é íntegra, bem como a absolvição permanecem o único modo ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, a não ser que a impossibilidade física ou moral escuse de algum modo a confissão”. O sacerdote exerce um tríplice papel. Ele é Juiz e, na verdade quantos, às vezes, pensam estar numa triste situação espiritual e, no entanto, necessitam apenas de pequenos ajustamentos vivenciais. Médico ele cura enfermidades da alma. Nem sempre o mesmo remédio pode ser aplicado a idêntico tipo de doença, sendo morte para um o que é saúde para o outro. É o que se dá também na esfera religiosa e cumpre ao confessor, habilmente, diagnosticar o que se passa com quem o procura em busca de paz interior, oferecendo o medicamento adequado. Mestre, ele guia e aponta as veredas salvíficas. Eis por que as absolvições comunitárias, sem a confissão individual, a não ser em casos extraordinários, além de serem contrárias ás disposições da legislação eclesiástica, fazem um mal terrível, privando o fiel de benefícios que uma reta orientação lhe traz para sua vida cristã. A confissão que é cercada do mais rigoroso dos sigilos, é uma fonte de riqueza incalculável. Se teologicamente é a única via para se recuperar a graça santificante perdida, psicologicamente até mesmo um Voltaire, juntamente com inúmeros médicos e sábios, lhe reconhecem a valia. Vasquez de Melo declarou: “O sacramento penitencial é a primeira cátedra da psicologia e ética que se conheceu no mundo”. Tranqüilidade íntima é o que aufere quem, bem disposto, se aproxima deste manancial de salvação. O dom específico que dele advém é uma força medicinal que cura a ferida do pecado, é uma energia a fortificar para os embates futuros, levando à adesão ao bem e à verdade. Aquele que cometeu apenas faltas leves, muito lucra, participando das mercês da comiseração do Todo-Poderoso, pois recebe uma nova infusão do Espírito Santo e um conseqüente revigoramento para perseverar nas trilhas lucíferas da verdadeira nobreza. Tanto para os justos como para os pecadores é um apelo à perfeição, estímulo para que se busque a Deus, freio ao desregramento, guarida no instante de tempestade.Luzes e os favores de Deus, capazes de conduzir o homem aos páramos da mais inebriante eutimia é o que resulta de uma boa Confissão.Contudo, somente os que crêem podem, com gratidão e confiança, haurir tais benesses e compreender a magnitude de um sacramento que tanto engrandece quem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Decepcionado com a cultura hodierna, enganado pelo materialismo reinante, perplexo, dilemático, o homem que vive nesse paradoxal início de milênio precisa deste recurso sobrenatural. Nunca, como hoje, o Sacramento da Penitência é tão necessário, para libertar o pecador e impedir a destruição dele e da sociedade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
JESUS PLENITUDE DA REVELAÇÃO
JESUS, A PLENITUDE DA REVELAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca é demais recordar o que diz o Antigo Testamento sobre a preparação da vinda do Redentor a esta terra. Lemos na Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina do Concílio Vaticano II que “depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho (Heb. 1,1-2). Com efeito, enviou o Seu Filho, isto é, o Verbo eterno, que ilumina todos os homens, para habitar entre os homens e manifestar-lhes a vida íntima de Deus (cfr. Jo. 1,1-18). Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado «como homem para os homens» (3), «fala, portanto, as palavras de Deus» (Jo. 3,34) e consuma a obra de salvação que o Pai lhe mandou realizar (cfr. Jo. 5,36; 17,4)”. Deus, de fato, suscitou os Profetas, esses homens extraordinários que, iluminados pelas luzes divinas, desvendaram o futuro e descreveram os acontecimentos futuros. Inspirados por Deus eles alimentaram a fé na vinda do Messias que fôra prometido logo após o pecado original. Essas vozes que ecoaram dos vales profundos do passado e, muitos séculos antes, mostraram nos longínquos horizontes a figura grandiosa do Salvador da humanidade. Adão recebeu a promessa de um Libertador e a transmitiu aos seus descendentes. Abraão, separado de sua família para ser o pai do povo de Deus, sabia que o Messias sairia de sua raça e de seu sangue. Jacob, no leito da morte, saudou o Redentor na prole de seu filho Judá. Moisés, chefe e legislador do povo, contemplou o futuro onde vê a figura adorável daquele que seria maior que ele, e exclama: “Suscitar-vos-á o Senhor, vosso Deus, um profeta como eu, dentre os vossos irmãos, haveis de escutá-lo em tudo quanto vos disser” (Dt 18 ss; Atos 3,22). Depois apareceu Davi que cantou as glórias divinas e as grandezas do Esperado das nações. Ele mostrou Deus na magnificência de suas obras, nas maravilhas de sua providencia, nas riquezas de sua misericórdia, nos rigores de sua justiça e nas doçuras do seu amor. Ele contemplou o homem em sua baixeza e em sua grandeza, em sua enfermidade e em sua glória, em sua ruína e em sua reabilitação, em sua vida de um dia e em suas esperanças imortais. Mas ele vislumbrou, sobretudo, o grande Medianeiro entre Deus e o homem. Depois de Davi surge uma longa série de profetas a celebrarem a sua geração eterna como Filho de Deus; o seu nascimento de uma Virgem como Filho do homem. glória de Belém que o verá nascer, as cenas dolorosas de sua paixão. Nenhum dos motivos, Nenhuma das peculiaridades, nenhum dos frutos desse drama divino foi ignorado dos séculos que o precederam, Admirável e sublime este testemunho das profecias que, no passado, iluminaram a divina figura de Cristo, antes de ele aparecer no mundo. De Adão até o último dos Profetas, através dos séculos cresceu e se desenvolveu gradativamente o sublime vulto do Messias prometido. Em síntese, Adão nas portas do paraíso terrestre, Abraão, Isaac, e Jacob na tenda dos Patriarcas, Moisés no deserto, David sobre o trono, Daniel no exílio, Jeremias entre as ruínas de Jerusalém, Ezequiel e Amós no meio das nações idolatras, todos, os olhos fixos sobre o mesmo personagem, contemplaram, cantaram e descreveram o Salvador. Toda a antiguidade está repleta desta esperança. A Encarnação do Verbo que estava incluída no plano eterno de Deus para a elevação do gênero humano à ordem da graça foi a realização da promessa feita aos representantes do gênero humano no Paraíso perdido. Ensina o referido documento do Concílio Vaticano II: “Com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição, enfim, com o envio do Espírito de verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a revelação, a saber, que Deus está conosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte e para nos ressuscitar para a vida eterna”. A posse dessa felicidade perene depende da correspondência de cada um às graças redentoras e o alerta de Santo Agostinho não pode ser olvidado: “Aquele que te salvou sem ti, não te salvará sem ti”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca é demais recordar o que diz o Antigo Testamento sobre a preparação da vinda do Redentor a esta terra. Lemos na Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina do Concílio Vaticano II que “depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho (Heb. 1,1-2). Com efeito, enviou o Seu Filho, isto é, o Verbo eterno, que ilumina todos os homens, para habitar entre os homens e manifestar-lhes a vida íntima de Deus (cfr. Jo. 1,1-18). Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado «como homem para os homens» (3), «fala, portanto, as palavras de Deus» (Jo. 3,34) e consuma a obra de salvação que o Pai lhe mandou realizar (cfr. Jo. 5,36; 17,4)”. Deus, de fato, suscitou os Profetas, esses homens extraordinários que, iluminados pelas luzes divinas, desvendaram o futuro e descreveram os acontecimentos futuros. Inspirados por Deus eles alimentaram a fé na vinda do Messias que fôra prometido logo após o pecado original. Essas vozes que ecoaram dos vales profundos do passado e, muitos séculos antes, mostraram nos longínquos horizontes a figura grandiosa do Salvador da humanidade. Adão recebeu a promessa de um Libertador e a transmitiu aos seus descendentes. Abraão, separado de sua família para ser o pai do povo de Deus, sabia que o Messias sairia de sua raça e de seu sangue. Jacob, no leito da morte, saudou o Redentor na prole de seu filho Judá. Moisés, chefe e legislador do povo, contemplou o futuro onde vê a figura adorável daquele que seria maior que ele, e exclama: “Suscitar-vos-á o Senhor, vosso Deus, um profeta como eu, dentre os vossos irmãos, haveis de escutá-lo em tudo quanto vos disser” (Dt 18 ss; Atos 3,22). Depois apareceu Davi que cantou as glórias divinas e as grandezas do Esperado das nações. Ele mostrou Deus na magnificência de suas obras, nas maravilhas de sua providencia, nas riquezas de sua misericórdia, nos rigores de sua justiça e nas doçuras do seu amor. Ele contemplou o homem em sua baixeza e em sua grandeza, em sua enfermidade e em sua glória, em sua ruína e em sua reabilitação, em sua vida de um dia e em suas esperanças imortais. Mas ele vislumbrou, sobretudo, o grande Medianeiro entre Deus e o homem. Depois de Davi surge uma longa série de profetas a celebrarem a sua geração eterna como Filho de Deus; o seu nascimento de uma Virgem como Filho do homem. glória de Belém que o verá nascer, as cenas dolorosas de sua paixão. Nenhum dos motivos, Nenhuma das peculiaridades, nenhum dos frutos desse drama divino foi ignorado dos séculos que o precederam, Admirável e sublime este testemunho das profecias que, no passado, iluminaram a divina figura de Cristo, antes de ele aparecer no mundo. De Adão até o último dos Profetas, através dos séculos cresceu e se desenvolveu gradativamente o sublime vulto do Messias prometido. Em síntese, Adão nas portas do paraíso terrestre, Abraão, Isaac, e Jacob na tenda dos Patriarcas, Moisés no deserto, David sobre o trono, Daniel no exílio, Jeremias entre as ruínas de Jerusalém, Ezequiel e Amós no meio das nações idolatras, todos, os olhos fixos sobre o mesmo personagem, contemplaram, cantaram e descreveram o Salvador. Toda a antiguidade está repleta desta esperança. A Encarnação do Verbo que estava incluída no plano eterno de Deus para a elevação do gênero humano à ordem da graça foi a realização da promessa feita aos representantes do gênero humano no Paraíso perdido. Ensina o referido documento do Concílio Vaticano II: “Com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição, enfim, com o envio do Espírito de verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a revelação, a saber, que Deus está conosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte e para nos ressuscitar para a vida eterna”. A posse dessa felicidade perene depende da correspondência de cada um às graças redentoras e o alerta de Santo Agostinho não pode ser olvidado: “Aquele que te salvou sem ti, não te salvará sem ti”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
UMA VERDDE BÍBLICA FUNDAMENTAL
UMA VERDADE BÍBLICA FUNDAMENTAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
O primeiro homem, Adão, tendo transgredido o mandamento de Deus, perdeu a santidade e a justiça original em que tinha sido criado, e, tendo com esse falta provocado uma justa punição divina, como está bem claro no Livro do Gênesis.
Ficou sujeito aos sofrimentos, à ignorância e à morte. O apostolo S. Paulo resume esta doutrina em poucas palavras: “Por um só homem, diz ele, o pecado entrou no mundo e com o pecado a morte, de sorte que a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram em Adão” (Rm 5,12).
Não foi somente a morte corporal a conseqüência da desobediência dos nossos primeiros pais, mas ainda a morte da alma, isto é, a perda da amizade de Deus, a privação da graça santificante, passando todas estas desventuras para a posteridade “porque todos pecaram em Adão.”
Adão e Eva foram os escolhidos por Deus como representantes da humanidade e, submetidos à prova, fracassaram, desobedecendo ao Criador.
Esta verdade é um dos dogmas fundamentais do Cristianismo, e sem ela a redenção do gênero humano por Cristo não teria razão de ser.
Tudo foi perturbado e desorganizado pelo pecado. Este estado de desordem em que caíram nossos primeiros pais passou a toda criatura saída do seu sangue. Tal é a transmissão do pecado original. No seu ato de desobediência de Adão e Eva que nos é imputado e transmitido, está a perda da graça santificante, a miséria.
Nascemos todos na situação em que se achava Adão depois do pecado, isto é, na situação de indigência e privado da amizade de Deus.
Os homens nascem sem a graça santificante, sem a inclinação normal de sua vontade para o bem, sem a bondade que deveriam ter conforme o plano divino.
Há no ser racional, desde então, até uma certa disposição para o mal que é como uma aprovação da rebeldia contra Deus, de que se tornou culpado o representante da humanidade.
É o pecado original, de fato, a causa das amarguras, das provações e da morte, da revolta dos instintos, da perturbação da harmonia da vida interior e conflitos com o mundo exterior. Santo Agostinho assim se exprimiu: “Adão arrastou à pena de morte e condenação eterna toda a sua descendência, tendo-a contaminado na origem, por seu pecado, em sua própria pessoa.
Desse modo todos os seus descendentes contraem o pecado original.
Por causa desse pecado deviam sofrer depois toda a sorte de erros e sofrimentos, uma punição como ocorreu com os anjos decaídos, seus sedutores”.
Todas as desordens da vida humana, só o pecado original as pode explicar. Somos vitimas desse grande mal. As nossas aflições, a nossa ignorância, a nossa malicia, os nossos erros, a nossa morte, não têm outra raiz.
Pelo batismo se recupera a graça santificante, mas as seqüelas do pecado permanecem.
Para regenerar o homem caído, um Salvador foi prometido por Deus, esperado pelos povos antigos e se tornou conhecido e adorado pelas gerações cristãs. Esse Salvador é o Filho de Deus feito Homem, nosso Senhor, nascido da Virgem Maria, a única pessoa, depois do pecado original, que nasceu sem esta mancha, possuindo a graça divina na sua alma desde o primeiro instante de sua concepção, por ser destinada a ser a Mãe do Deus humanado.
É que o pecado original acabou sendo o fundo sombrio sobre o qual Deus desenhou o quadro luminoso da Redenção. Acima de todos os terrores do pecado original, raiou a certeza da vitória final graças a Jesus Cristo, nosso único Salvador. São Paulo sentiu ao vivo as conseqüências da culpa original, mas sabia em quem confiar para ser libertado: “Eu sinto em meus membros uma lei que luta contra a lei da minha razão [...] Infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo mortal? Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, Nosso Senhor” (Rm 7, 23-25).
Cumpre ao cristão usufruir os frutos desta prodigiosa Redenção e levá-la a todos que desconhecem Aquele que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
O primeiro homem, Adão, tendo transgredido o mandamento de Deus, perdeu a santidade e a justiça original em que tinha sido criado, e, tendo com esse falta provocado uma justa punição divina, como está bem claro no Livro do Gênesis.
Ficou sujeito aos sofrimentos, à ignorância e à morte. O apostolo S. Paulo resume esta doutrina em poucas palavras: “Por um só homem, diz ele, o pecado entrou no mundo e com o pecado a morte, de sorte que a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram em Adão” (Rm 5,12).
Não foi somente a morte corporal a conseqüência da desobediência dos nossos primeiros pais, mas ainda a morte da alma, isto é, a perda da amizade de Deus, a privação da graça santificante, passando todas estas desventuras para a posteridade “porque todos pecaram em Adão.”
Adão e Eva foram os escolhidos por Deus como representantes da humanidade e, submetidos à prova, fracassaram, desobedecendo ao Criador.
Esta verdade é um dos dogmas fundamentais do Cristianismo, e sem ela a redenção do gênero humano por Cristo não teria razão de ser.
Tudo foi perturbado e desorganizado pelo pecado. Este estado de desordem em que caíram nossos primeiros pais passou a toda criatura saída do seu sangue. Tal é a transmissão do pecado original. No seu ato de desobediência de Adão e Eva que nos é imputado e transmitido, está a perda da graça santificante, a miséria.
Nascemos todos na situação em que se achava Adão depois do pecado, isto é, na situação de indigência e privado da amizade de Deus.
Os homens nascem sem a graça santificante, sem a inclinação normal de sua vontade para o bem, sem a bondade que deveriam ter conforme o plano divino.
Há no ser racional, desde então, até uma certa disposição para o mal que é como uma aprovação da rebeldia contra Deus, de que se tornou culpado o representante da humanidade.
É o pecado original, de fato, a causa das amarguras, das provações e da morte, da revolta dos instintos, da perturbação da harmonia da vida interior e conflitos com o mundo exterior. Santo Agostinho assim se exprimiu: “Adão arrastou à pena de morte e condenação eterna toda a sua descendência, tendo-a contaminado na origem, por seu pecado, em sua própria pessoa.
Desse modo todos os seus descendentes contraem o pecado original.
Por causa desse pecado deviam sofrer depois toda a sorte de erros e sofrimentos, uma punição como ocorreu com os anjos decaídos, seus sedutores”.
Todas as desordens da vida humana, só o pecado original as pode explicar. Somos vitimas desse grande mal. As nossas aflições, a nossa ignorância, a nossa malicia, os nossos erros, a nossa morte, não têm outra raiz.
Pelo batismo se recupera a graça santificante, mas as seqüelas do pecado permanecem.
Para regenerar o homem caído, um Salvador foi prometido por Deus, esperado pelos povos antigos e se tornou conhecido e adorado pelas gerações cristãs. Esse Salvador é o Filho de Deus feito Homem, nosso Senhor, nascido da Virgem Maria, a única pessoa, depois do pecado original, que nasceu sem esta mancha, possuindo a graça divina na sua alma desde o primeiro instante de sua concepção, por ser destinada a ser a Mãe do Deus humanado.
É que o pecado original acabou sendo o fundo sombrio sobre o qual Deus desenhou o quadro luminoso da Redenção. Acima de todos os terrores do pecado original, raiou a certeza da vitória final graças a Jesus Cristo, nosso único Salvador. São Paulo sentiu ao vivo as conseqüências da culpa original, mas sabia em quem confiar para ser libertado: “Eu sinto em meus membros uma lei que luta contra a lei da minha razão [...] Infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo mortal? Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, Nosso Senhor” (Rm 7, 23-25).
Cumpre ao cristão usufruir os frutos desta prodigiosa Redenção e levá-la a todos que desconhecem Aquele que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
ANGELOLOGIA
ANGELOLOGIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Denomina-se angelologia o tratado acerca de anjos, cuja existência aparece claro na Bíblia. A Igreja, firmada na palavra de Deus, afirma a existência de um mundo invisível mais belo e mais perfeito que o mundo visível. No início, antes da criação do homem, Deus criou os Anjos, puros espíritos, naturezas simples. Eles imaculados não somente na inteligência que não pode ser surpreendida pelo erro, mas ainda na vontade que não pode ser perturbada pela violência das paixões. Tudo neles comedido e justo, tanto o amor do bem como o ódio do mal. Não sujeitos às inconstâncias ou às hesitações, porque as suas inteligências, livres e desembaraçadas das formas sensíveis e corporais, são imensamente superiores às nossas, conhecendo diretamente a Deus, cuja imagem radiante se reflete como em um espelho crêem em seus raciocínios, só fazem o que querem, e pretendem poder viver sem Deus. Enquanto uma grande parte dos Anjos, guiados pelo arcanjo S. Miguel, reconheceu os direitos absolutos do Criador e a adoração que todas as criaturas lhe devem, muitos outros espíritos angélicos se deixaram arrastar pela revolta de Lúcifer. Com sua punição surgiram os abismos infernais, onde foram precipitados para sempre, e daí a origem dos demônios, ou seja, anjos decaídos. Deus fez o Anjo e alguns anjos se fizeram demônios. Deus, sendo o supremo Bem, não pode fazer senão o que é bom, e os Livros Sagrados afirmam que todas as obras divinas são boas e excelentes. Na aurora da vida, ao amanhecer da existência, todos os Anjos, como foi dito acima, eram puros, santos e felizes, e porque alguns abusaram da liberdade, desse dom divino que lhes foi dado, tornaram-se perversos. São malfeitores que, não se podendo igualar a Deus, se vingam no homem, que está destinado a ir gozar da glória desse reino celeste que eles perderam para sempre. A hostilidade do demônio contra o homem é uma verdade conhecida. O mau é naturalmente inimigo de tudo o que não se parece com ele. O maligno detesta a virtude; ele procura surpreendê-la; a observa, a persegue até que ela degenere e, se não consegue corrompê-la, procura fazê-la sofrer. Tal é a história antiga, a história moderna, a história dos homens e a história dos demônios. O perverso que arrasta os outros para o pecado, o libertino que dá escândalos, os pecadores públicos são o instrumento e os mensageiros do espírito mau. O demônio é um ente maléfico, é a causa primordial da desgraça e dos pecados humanos.
São Pedro deixou uma séria admoestação: “Sede sóbrios e vigiai! O vosso adversário, o diabo, rodeia-vos como o leão que ruge à procura de quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé” (1 Pd 5,2-3). Jesus nos fala sempre do espírito das trevas, cujo desejo é fazer mal aos homens. Inúmeras são as passagens da Bíblia que nos previne da existência desse ente maldito. Sim, é uma verdade e um dogma de nossa fé a existência dos demônios. Cumpre pedir a Deus que nunca sejamos vencidos por eles e que, nesta luta da virtude contra o vicio, do mal contra o bem, onde está em jogo a glória eterna, a coroa do reino dos céus, não sejamos seduzidos nem pelo orgulho, nem pela sensualidade, nem pelo prazer, a fim de que possamos entrar vitoriosos nessa bem-aventurança divina que os espíritos infernais perderam para sempre. É preciso, porém, confiar na proteção dos anjos bons, invocando sempre São Miguel e, também, o Anjo da Guarda.
Lembremo-nos, portanto que os anjos são simples e indivisíveis, porque são espíritos. A morte que nos separa, o tempo que afeta os elementos do nosso corpo, não tem ação sobre eles, nem força alguma pode ferir a sua perfeita unidade. Se eles não podem igualar a imensidade de Deus pela universidade, eles a imitam pela agilidade de seus movimentos. A nossa alma pode nos dar uma idéia dessa agilidade dos espíritos angélicos. O nosso pensamento suprime as distâncias e se transporta instantaneamente de uma extremidade do mundo a outra. Assim os anjos. Eis porque os artistas os representam com asas, para indicar a prontidão e a rapidez em que executam as ordens do Eterno, e os representam com rostos infantis, para mostrar a inocência e a imortal juventude que lhes é própria. Os espíritos bons formam três ordens distintas, divididas em nove coros: os Serafins, os Querubins e os Tronos; as Dominações, as Virtudes e as Potências; os Principados, os Arcanjos e os Anjos. A angelologia mostra como Deus é admirável em suas obras, e como os céus cantam a Sua glória. Eis aí o conceito que devemos ter dos Anjos; tal é a doutrina da Igreja. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Denomina-se angelologia o tratado acerca de anjos, cuja existência aparece claro na Bíblia. A Igreja, firmada na palavra de Deus, afirma a existência de um mundo invisível mais belo e mais perfeito que o mundo visível. No início, antes da criação do homem, Deus criou os Anjos, puros espíritos, naturezas simples. Eles imaculados não somente na inteligência que não pode ser surpreendida pelo erro, mas ainda na vontade que não pode ser perturbada pela violência das paixões. Tudo neles comedido e justo, tanto o amor do bem como o ódio do mal. Não sujeitos às inconstâncias ou às hesitações, porque as suas inteligências, livres e desembaraçadas das formas sensíveis e corporais, são imensamente superiores às nossas, conhecendo diretamente a Deus, cuja imagem radiante se reflete como em um espelho crêem em seus raciocínios, só fazem o que querem, e pretendem poder viver sem Deus. Enquanto uma grande parte dos Anjos, guiados pelo arcanjo S. Miguel, reconheceu os direitos absolutos do Criador e a adoração que todas as criaturas lhe devem, muitos outros espíritos angélicos se deixaram arrastar pela revolta de Lúcifer. Com sua punição surgiram os abismos infernais, onde foram precipitados para sempre, e daí a origem dos demônios, ou seja, anjos decaídos. Deus fez o Anjo e alguns anjos se fizeram demônios. Deus, sendo o supremo Bem, não pode fazer senão o que é bom, e os Livros Sagrados afirmam que todas as obras divinas são boas e excelentes. Na aurora da vida, ao amanhecer da existência, todos os Anjos, como foi dito acima, eram puros, santos e felizes, e porque alguns abusaram da liberdade, desse dom divino que lhes foi dado, tornaram-se perversos. São malfeitores que, não se podendo igualar a Deus, se vingam no homem, que está destinado a ir gozar da glória desse reino celeste que eles perderam para sempre. A hostilidade do demônio contra o homem é uma verdade conhecida. O mau é naturalmente inimigo de tudo o que não se parece com ele. O maligno detesta a virtude; ele procura surpreendê-la; a observa, a persegue até que ela degenere e, se não consegue corrompê-la, procura fazê-la sofrer. Tal é a história antiga, a história moderna, a história dos homens e a história dos demônios. O perverso que arrasta os outros para o pecado, o libertino que dá escândalos, os pecadores públicos são o instrumento e os mensageiros do espírito mau. O demônio é um ente maléfico, é a causa primordial da desgraça e dos pecados humanos.
São Pedro deixou uma séria admoestação: “Sede sóbrios e vigiai! O vosso adversário, o diabo, rodeia-vos como o leão que ruge à procura de quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé” (1 Pd 5,2-3). Jesus nos fala sempre do espírito das trevas, cujo desejo é fazer mal aos homens. Inúmeras são as passagens da Bíblia que nos previne da existência desse ente maldito. Sim, é uma verdade e um dogma de nossa fé a existência dos demônios. Cumpre pedir a Deus que nunca sejamos vencidos por eles e que, nesta luta da virtude contra o vicio, do mal contra o bem, onde está em jogo a glória eterna, a coroa do reino dos céus, não sejamos seduzidos nem pelo orgulho, nem pela sensualidade, nem pelo prazer, a fim de que possamos entrar vitoriosos nessa bem-aventurança divina que os espíritos infernais perderam para sempre. É preciso, porém, confiar na proteção dos anjos bons, invocando sempre São Miguel e, também, o Anjo da Guarda.
Lembremo-nos, portanto que os anjos são simples e indivisíveis, porque são espíritos. A morte que nos separa, o tempo que afeta os elementos do nosso corpo, não tem ação sobre eles, nem força alguma pode ferir a sua perfeita unidade. Se eles não podem igualar a imensidade de Deus pela universidade, eles a imitam pela agilidade de seus movimentos. A nossa alma pode nos dar uma idéia dessa agilidade dos espíritos angélicos. O nosso pensamento suprime as distâncias e se transporta instantaneamente de uma extremidade do mundo a outra. Assim os anjos. Eis porque os artistas os representam com asas, para indicar a prontidão e a rapidez em que executam as ordens do Eterno, e os representam com rostos infantis, para mostrar a inocência e a imortal juventude que lhes é própria. Os espíritos bons formam três ordens distintas, divididas em nove coros: os Serafins, os Querubins e os Tronos; as Dominações, as Virtudes e as Potências; os Principados, os Arcanjos e os Anjos. A angelologia mostra como Deus é admirável em suas obras, e como os céus cantam a Sua glória. Eis aí o conceito que devemos ter dos Anjos; tal é a doutrina da Igreja. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
domingo, 16 de outubro de 2011
A REALIDADE HUMANA
A REALIDADE HUMANA
Côn .José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A dor e a morte acompanham o ser humano desde o seu nascimento. Estas duas realidades, ligadas entre si por traços comuns, para os que não têm fé, são causa de revolta e levam à angústia existencial. Em todas as idades, em todas as condições da vida humana, há lágrimas, tristezas e angustias. Tormentos físicos e morais imprevisíveis que a ciência mais avançada não consegue deter. Ainda que tenha uma inteligência vivaz, um coração magnânimo, uma saúde robusta não pode escapar aos aborrecimentos imponderáveis da existência e virá um dia em que a morte se apresentará e o lançará no fundo de uma sepultura. O cristão verdadeiro, à luz das verdades reveladas por Deus, sabe, porém, metamorfosear os sofrimentos em pérolas preciosas para a eternidade e, perante os padecimentos o acometem, implora a força divina e repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). Não se insurge contra a Providência e assim se dirige a seu Senhor: “Tua graça me basta, é ela que eu imploro”. Une-se ao Mártir do Calvário e enfrenta os dissabores com coragem, dando-lhes uma aplicação transcendental, vendo neles uma ocasião de purificação, de reparação das faltas próprias e alheias, cooperando na redenção da humanidade. O pecado original colocou o ser pensante, que se insurgiu contra seu Criador num vale de desgostos. Deus havia colocado nossos primeiros pais em um jardim de delícias, onde fruíam de toda a criação. Senhores da terra não permaneciam, entretanto, inativos, trabalhavam, diz a Bíblia, mas esse trabalho era desinteressado, executado por prazer e não por necessidade, era pacifico, sem suor, sem dor e sem fadigas. Foi somente depois do pecado que o labor humano se tornou cruciante. Criado à imagem de Deus, colocado em um paraíso, em um jardim delicioso, onde abundavam todos os bens, debaixo de um céu sempre puro, ameno e agradável, sem temer a morte, livre, feliz, tranqüilo, sem defeitos e sem enfermidades, tanto no espírito como no corpo, tal era a situação do homem primitivo na origem do mundo. A desobediência às ordens de Deus causou todo o transtorno que imperaria na História humana. Adão e Eva, contudo, não souberam conservar o estado glorioso em que foram criados. Deus, que os criara com o dom sublime da liberdade, lhes impôs um preceito simples e fácil de cumprir: «Podeis comer, disse ele ao primeiro homem, os frutos de todas as árvores do paraíso, mas não tocareis no fruto da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comerdes, morrereis», como se lê no Gênesis. Ele queria a livre homenagem da criatura. Era mais digno dele e dos seres pensantes que houvesse virtudes na terra, porque havendo virtudes, haveria merecimentos, haveria vitória, haveria glória. Este foi o motivo do teste ao qual os representantes do gênero humano foram submetidos. O homem, de fato, devia ter a honra de trabalhar para a sua própria grandeza e concorrer com a sua cooperação voluntária para o seu destino imortal. Para isso ele era livre. Adão e Eva não souberam, porém, corresponder aos dons do Criador. Desobedeceram, transgredindo suas ordens; tornaram-se culpados, atraíram sobre si o castigo merecido e arrastaram na punição de Deus todos os seus descendentes, arrastaram toda a raça humana, da qual eles são os pais. O demônio, simbolizado na serpente, afirmou insidiosamente: “Não, não morrereis. Deus sabe que, o dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, sereis semelhantes a Deus, conhecendo o bem e o mal.” O orgulho, a pretensão, a vaidade, começam a germinar pela primeira vez na alma até então inocente. Ser semelhante a Deus! Quanta pretensão! Conhecer o bem e o mal, ser senhor de tudo! Eis a empáfia a causa primordial da nossa desgraça e a causa ainda hoje de todas as nossas misérias individuais e sociais. O mundo seria um paraíso se esse pecado desaparecesse da terra, mas impossível é arrancá-lo do coração humano, onde o demônio depositou o primeiro germe, quando fez a nossa desgraça. Ao lado da justiça que castigou, apareceu a misericórdia que perdoou e prometeu a salvação. Dirigindo-se à serpente infernal, Deus lhe falou nestes termos: “Porei uma eterna inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua; ela um dia te esmagará a cabeça.” Foi assim que Deus prometeu ao homem um Salvador. Essa mulher misteriosa e ternamente prometida é a Virgem Maria, que esmagaria a cabeça da serpente infernal, graças a seu bendito Filho, que viria salvar a raça humana a qual Adão havia perdido. É sempre salutar firmar e meditar estas verdades. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn .José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A dor e a morte acompanham o ser humano desde o seu nascimento. Estas duas realidades, ligadas entre si por traços comuns, para os que não têm fé, são causa de revolta e levam à angústia existencial. Em todas as idades, em todas as condições da vida humana, há lágrimas, tristezas e angustias. Tormentos físicos e morais imprevisíveis que a ciência mais avançada não consegue deter. Ainda que tenha uma inteligência vivaz, um coração magnânimo, uma saúde robusta não pode escapar aos aborrecimentos imponderáveis da existência e virá um dia em que a morte se apresentará e o lançará no fundo de uma sepultura. O cristão verdadeiro, à luz das verdades reveladas por Deus, sabe, porém, metamorfosear os sofrimentos em pérolas preciosas para a eternidade e, perante os padecimentos o acometem, implora a força divina e repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). Não se insurge contra a Providência e assim se dirige a seu Senhor: “Tua graça me basta, é ela que eu imploro”. Une-se ao Mártir do Calvário e enfrenta os dissabores com coragem, dando-lhes uma aplicação transcendental, vendo neles uma ocasião de purificação, de reparação das faltas próprias e alheias, cooperando na redenção da humanidade. O pecado original colocou o ser pensante, que se insurgiu contra seu Criador num vale de desgostos. Deus havia colocado nossos primeiros pais em um jardim de delícias, onde fruíam de toda a criação. Senhores da terra não permaneciam, entretanto, inativos, trabalhavam, diz a Bíblia, mas esse trabalho era desinteressado, executado por prazer e não por necessidade, era pacifico, sem suor, sem dor e sem fadigas. Foi somente depois do pecado que o labor humano se tornou cruciante. Criado à imagem de Deus, colocado em um paraíso, em um jardim delicioso, onde abundavam todos os bens, debaixo de um céu sempre puro, ameno e agradável, sem temer a morte, livre, feliz, tranqüilo, sem defeitos e sem enfermidades, tanto no espírito como no corpo, tal era a situação do homem primitivo na origem do mundo. A desobediência às ordens de Deus causou todo o transtorno que imperaria na História humana. Adão e Eva, contudo, não souberam conservar o estado glorioso em que foram criados. Deus, que os criara com o dom sublime da liberdade, lhes impôs um preceito simples e fácil de cumprir: «Podeis comer, disse ele ao primeiro homem, os frutos de todas as árvores do paraíso, mas não tocareis no fruto da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comerdes, morrereis», como se lê no Gênesis. Ele queria a livre homenagem da criatura. Era mais digno dele e dos seres pensantes que houvesse virtudes na terra, porque havendo virtudes, haveria merecimentos, haveria vitória, haveria glória. Este foi o motivo do teste ao qual os representantes do gênero humano foram submetidos. O homem, de fato, devia ter a honra de trabalhar para a sua própria grandeza e concorrer com a sua cooperação voluntária para o seu destino imortal. Para isso ele era livre. Adão e Eva não souberam, porém, corresponder aos dons do Criador. Desobedeceram, transgredindo suas ordens; tornaram-se culpados, atraíram sobre si o castigo merecido e arrastaram na punição de Deus todos os seus descendentes, arrastaram toda a raça humana, da qual eles são os pais. O demônio, simbolizado na serpente, afirmou insidiosamente: “Não, não morrereis. Deus sabe que, o dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, sereis semelhantes a Deus, conhecendo o bem e o mal.” O orgulho, a pretensão, a vaidade, começam a germinar pela primeira vez na alma até então inocente. Ser semelhante a Deus! Quanta pretensão! Conhecer o bem e o mal, ser senhor de tudo! Eis a empáfia a causa primordial da nossa desgraça e a causa ainda hoje de todas as nossas misérias individuais e sociais. O mundo seria um paraíso se esse pecado desaparecesse da terra, mas impossível é arrancá-lo do coração humano, onde o demônio depositou o primeiro germe, quando fez a nossa desgraça. Ao lado da justiça que castigou, apareceu a misericórdia que perdoou e prometeu a salvação. Dirigindo-se à serpente infernal, Deus lhe falou nestes termos: “Porei uma eterna inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua; ela um dia te esmagará a cabeça.” Foi assim que Deus prometeu ao homem um Salvador. Essa mulher misteriosa e ternamente prometida é a Virgem Maria, que esmagaria a cabeça da serpente infernal, graças a seu bendito Filho, que viria salvar a raça humana a qual Adão havia perdido. É sempre salutar firmar e meditar estas verdades. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
A REALIDADE HUMANA
A REALIDADE HUMANA
Côn .José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A dor e a morte acompanham o ser humano desde o seu nascimento. Estas duas realidades, ligadas entre si por traços comuns, para os que não têm fé, são causa de revolta e levam à angústia existencial. Em todas as idades, em todas as condições da vida humana, há lágrimas, tristezas e angustias. Tormentos físicos e morais imprevisíveis que a ciência mais avançada não consegue deter. Ainda que tenha uma inteligência vivaz, um coração magnânimo, uma saúde robusta não pode escapar aos aborrecimentos imponderáveis da existência e virá um dia em que a morte se apresentará e o lançará no fundo de uma sepultura. O cristão verdadeiro, à luz das verdades reveladas por Deus, sabe, porém, metamorfosear os sofrimentos em pérolas preciosas para a eternidade e, perante os padecimentos o acometem, implora a força divina e repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). Não se insurge contra a Providência e assim se dirige a seu Senhor: “Tua graça me basta, é ela que eu imploro”. Une-se ao Mártir do Calvário e enfrenta os dissabores com coragem, dando-lhes uma aplicação transcendental, vendo neles uma ocasião de purificação, de reparação das faltas próprias e alheias, cooperando na redenção da humanidade. O pecado original colocou o ser pensante, que se insurgiu contra seu Criador num vale de desgostos. Deus havia colocado nossos primeiros pais em um jardim de delícias, onde fruíam de toda a criação. Senhores da terra não permaneciam, entretanto, inativos, trabalhavam, diz a Bíblia, mas esse trabalho era desinteressado, executado por prazer e não por necessidade, era pacifico, sem suor, sem dor e sem fadigas. Foi somente depois do pecado que o labor humano se tornou cruciante. Criado à imagem de Deus, colocado em um paraíso, em um jardim delicioso, onde abundavam todos os bens, debaixo de um céu sempre puro, ameno e agradável, sem temer a morte, livre, feliz, tranqüilo, sem defeitos e sem enfermidades, tanto no espírito como no corpo, tal era a situação do homem primitivo na origem do mundo. A desobediência às ordens de Deus causou todo o transtorno que imperaria na História humana. Adão e Eva, contudo, não souberam conservar o estado glorioso em que foram criados. Deus, que os criara com o dom sublime da liberdade, lhes impôs um preceito simples e fácil de cumprir: «Podeis comer, disse ele ao primeiro homem, os frutos de todas as árvores do paraíso, mas não tocareis no fruto da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comerdes, morrereis», como se lê no Gênesis. Ele queria a livre homenagem da criatura. Era mais digno dele e dos seres pensantes que houvesse virtudes na terra, porque havendo virtudes, haveria merecimentos, haveria vitória, haveria glória. Este foi o motivo do teste ao qual os representantes do gênero humano foram submetidos. O homem, de fato, devia ter a honra de trabalhar para a sua própria grandeza e concorrer com a sua cooperação voluntária para o seu destino imortal. Para isso ele era livre. Adão e Eva não souberam, porém, corresponder aos dons do Criador. Desobedeceram, transgredindo suas ordens; tornaram-se culpados, atraíram sobre si o castigo merecido e arrastaram na punição de Deus todos os seus descendentes, arrastaram toda a raça humana, da qual eles são os pais. O demônio, simbolizado na serpente, afirmou insidiosamente: “Não, não morrereis. Deus sabe que, o dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, sereis semelhantes a Deus, conhecendo o bem e o mal.” O orgulho, a pretensão, a vaidade, começam a germinar pela primeira vez na alma até então inocente. Ser semelhante a Deus! Quanta pretensão! Conhecer o bem e o mal, ser senhor de tudo! Eis a empáfia a causa primordial da nossa desgraça e a causa ainda hoje de todas as nossas misérias individuais e sociais. O mundo seria um paraíso se esse pecado desaparecesse da terra, mas impossível é arrancá-lo do coração humano, onde o demônio depositou o primeiro germe, quando fez a nossa desgraça. Ao lado da justiça que castigou, apareceu a misericórdia que perdoou e prometeu a salvação. Dirigindo-se à serpente infernal, Deus lhe falou nestes termos: “Porei uma eterna inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua; ela um dia te esmagará a cabeça.” Foi assim que Deus prometeu ao homem um Salvador. Essa mulher misteriosa e ternamente prometida é a Virgem Maria, que esmagaria a cabeça da serpente infernal, graças a seu bendito Filho, que viria salvar a raça humana a qual Adão havia perdido. É sempre salutar firmar e meditar estas verdades. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn .José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A dor e a morte acompanham o ser humano desde o seu nascimento. Estas duas realidades, ligadas entre si por traços comuns, para os que não têm fé, são causa de revolta e levam à angústia existencial. Em todas as idades, em todas as condições da vida humana, há lágrimas, tristezas e angustias. Tormentos físicos e morais imprevisíveis que a ciência mais avançada não consegue deter. Ainda que tenha uma inteligência vivaz, um coração magnânimo, uma saúde robusta não pode escapar aos aborrecimentos imponderáveis da existência e virá um dia em que a morte se apresentará e o lançará no fundo de uma sepultura. O cristão verdadeiro, à luz das verdades reveladas por Deus, sabe, porém, metamorfosear os sofrimentos em pérolas preciosas para a eternidade e, perante os padecimentos o acometem, implora a força divina e repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). Não se insurge contra a Providência e assim se dirige a seu Senhor: “Tua graça me basta, é ela que eu imploro”. Une-se ao Mártir do Calvário e enfrenta os dissabores com coragem, dando-lhes uma aplicação transcendental, vendo neles uma ocasião de purificação, de reparação das faltas próprias e alheias, cooperando na redenção da humanidade. O pecado original colocou o ser pensante, que se insurgiu contra seu Criador num vale de desgostos. Deus havia colocado nossos primeiros pais em um jardim de delícias, onde fruíam de toda a criação. Senhores da terra não permaneciam, entretanto, inativos, trabalhavam, diz a Bíblia, mas esse trabalho era desinteressado, executado por prazer e não por necessidade, era pacifico, sem suor, sem dor e sem fadigas. Foi somente depois do pecado que o labor humano se tornou cruciante. Criado à imagem de Deus, colocado em um paraíso, em um jardim delicioso, onde abundavam todos os bens, debaixo de um céu sempre puro, ameno e agradável, sem temer a morte, livre, feliz, tranqüilo, sem defeitos e sem enfermidades, tanto no espírito como no corpo, tal era a situação do homem primitivo na origem do mundo. A desobediência às ordens de Deus causou todo o transtorno que imperaria na História humana. Adão e Eva, contudo, não souberam conservar o estado glorioso em que foram criados. Deus, que os criara com o dom sublime da liberdade, lhes impôs um preceito simples e fácil de cumprir: «Podeis comer, disse ele ao primeiro homem, os frutos de todas as árvores do paraíso, mas não tocareis no fruto da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comerdes, morrereis», como se lê no Gênesis. Ele queria a livre homenagem da criatura. Era mais digno dele e dos seres pensantes que houvesse virtudes na terra, porque havendo virtudes, haveria merecimentos, haveria vitória, haveria glória. Este foi o motivo do teste ao qual os representantes do gênero humano foram submetidos. O homem, de fato, devia ter a honra de trabalhar para a sua própria grandeza e concorrer com a sua cooperação voluntária para o seu destino imortal. Para isso ele era livre. Adão e Eva não souberam, porém, corresponder aos dons do Criador. Desobedeceram, transgredindo suas ordens; tornaram-se culpados, atraíram sobre si o castigo merecido e arrastaram na punição de Deus todos os seus descendentes, arrastaram toda a raça humana, da qual eles são os pais. O demônio, simbolizado na serpente, afirmou insidiosamente: “Não, não morrereis. Deus sabe que, o dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, sereis semelhantes a Deus, conhecendo o bem e o mal.” O orgulho, a pretensão, a vaidade, começam a germinar pela primeira vez na alma até então inocente. Ser semelhante a Deus! Quanta pretensão! Conhecer o bem e o mal, ser senhor de tudo! Eis a empáfia a causa primordial da nossa desgraça e a causa ainda hoje de todas as nossas misérias individuais e sociais. O mundo seria um paraíso se esse pecado desaparecesse da terra, mas impossível é arrancá-lo do coração humano, onde o demônio depositou o primeiro germe, quando fez a nossa desgraça. Ao lado da justiça que castigou, apareceu a misericórdia que perdoou e prometeu a salvação. Dirigindo-se à serpente infernal, Deus lhe falou nestes termos: “Porei uma eterna inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua; ela um dia te esmagará a cabeça.” Foi assim que Deus prometeu ao homem um Salvador. Essa mulher misteriosa e ternamente prometida é a Virgem Maria, que esmagaria a cabeça da serpente infernal, graças a seu bendito Filho, que viria salvar a raça humana a qual Adão havia perdido. É sempre salutar firmar e meditar estas verdades. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
UM SER CONTINGENTE
UM SER CONTINGENTE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
De grande valia é a consideração sobre a condição humana como ser contingente, ou seja, existente, mas que poderia não existir, não tendo em si mesmo a razão de sua existência. Sua presença ou a sua ausência não causaria o menor abalo na ordem das coisas. Deus, ao contrário, é o Ser necessário, no qual a essência se confunde com a existência. Ele mesmo assim se revelou: “Eu sou o que sou” ( Ex 3,14). Ele é eterno e não criado como tudo mais que existe. Refletir nesta verdade filosófica e teológica é de suma importância, quando, num mundo materializado, divorciado de seu Criador, o homem quer se mostrar mais sábio do que o próprio Deus, desprezando acintosamente os preceitos divinos compendiados no Decálogo sagrado. Esquece-se que o domínio de Deus é universal, constante e irredutível, mas a empáfia humana quer sempre se sobrepor à sabedoria infinita e daí todas as desordens causadas pela rebelião contra o Ser Supremo. Entretanto, paciente exatamente por ser eterno, o Todo Poderoso não pune imediatamente os desvarios que campeiam por toda parte. Entretanto ninguém pode fugir do domínio de Deus, ninguém pode evitar a sua justiça, ninguém livrar-se-á do seu julgamento. Aliás, as conseqüências imediatas decorrentes do desprezo de qualquer um dos dez Mandamentos já mostram quão danoso é ir contra as ordens do Criador. A devassidão ocasionada, por exemplo, pelo abandono do sexto mandamento envolve quem a ela se entrega nos mais terríveis males do corpo e do espírito. O mesmo ocorre com a infração de todos os outros preceitos transmitidos pelo próprio Senhor e que se acham registrados na Bíblia. Transgredi-los é infalivelmente deparar desgraças, além de se colocar o homem no perigo de perder a felicidade eterna, se não se arrepender de seus desvarios. É uma insensatez, de fato, se julgar alguém mais sábio do que o Ser Supremo. É imprescindível, pois, evitar o pecado e conservar a alma limpa sem adesão, mínima que seja, a tudo que contraria os planos estabelecidos por quem só almeja a ventura de quem foi criado à sua imagem e semelhança. Tal o ideal sublime de quem tem bom senso e um mínimo de inteligência: praticar boas ações, dar bons exemplos e viver como filho de Deus na terra, fazendo o bem, aborrecendo os vícios. Em três palavras se podem sintetizar as obrigações para com Deus: obediência, adoração e amor. Ele pedirá rigorosas contas a cada um. Em compensação ele mesmo será a recompensa, a glória e felicidade daqueles que O obedecerem, adorarem, amarem e servirem: “Eu mesmo serei a tua recompensa (Gên 15,1). Todo cuidado é pouco porque a sedução dos prazeres, o deleite dos sentidos, exercem uma influência tão fascinante que muitos olvidam ser criaturas, e vivem como senhores absolutos, afrontando abertamente a Deus e postergando os valores que dignificam o ser pensante. Porque se despreza o Decálogo, todas as normas sociais são também violadas e se anarquiza toda a ordem. Tal é a causa das revoluções e das perturbações do ordenamento público; tal é a origem da desorganização da família e da insubordinação contra as autoridades constituídas. A humanidade parece procurar realizar o ideal de Satanás “não obedeço”, porque pensa ser semelhante ao Onipotente. Esse crime de Satanás foi, aliás, também o primeiro crime dos homens, quando Adão e Eva, gozando ainda todos os favores divinos, pretenderam ser iguais a Deus. Esqueceram que eram criaturas e quiseram colocar-se no lugar do Criador, desobedecendo as suas leis e violando os seus preceitos. As conseqüências dessa revolta é o que vemos e conhecemos por experiência própria, a miséria, os sofrimentos, a dor, a morte. Entretanto o homem, não obstante os transtornos trazidos pelo pecado, mostra-se ainda rebelde. É o orgulho infernal injetado nas veias da humanidade. E o homem esquece o seu verdadeiro lugar no universo, o lugar de criatura, esquecendo-se completamente do seu Criador. Entretanto, na sua infinita misericórdia Deus oferece oportunidade ao arrependimento e à correção de vida. Quem nele crê não pode abusar de sua clemência e jamais deve ratificar as abominações que surgem a cada passo na mídia, fugindo corajosamente de tudo que, ainda de longe o pudesse afastar de seu Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
De grande valia é a consideração sobre a condição humana como ser contingente, ou seja, existente, mas que poderia não existir, não tendo em si mesmo a razão de sua existência. Sua presença ou a sua ausência não causaria o menor abalo na ordem das coisas. Deus, ao contrário, é o Ser necessário, no qual a essência se confunde com a existência. Ele mesmo assim se revelou: “Eu sou o que sou” ( Ex 3,14). Ele é eterno e não criado como tudo mais que existe. Refletir nesta verdade filosófica e teológica é de suma importância, quando, num mundo materializado, divorciado de seu Criador, o homem quer se mostrar mais sábio do que o próprio Deus, desprezando acintosamente os preceitos divinos compendiados no Decálogo sagrado. Esquece-se que o domínio de Deus é universal, constante e irredutível, mas a empáfia humana quer sempre se sobrepor à sabedoria infinita e daí todas as desordens causadas pela rebelião contra o Ser Supremo. Entretanto, paciente exatamente por ser eterno, o Todo Poderoso não pune imediatamente os desvarios que campeiam por toda parte. Entretanto ninguém pode fugir do domínio de Deus, ninguém pode evitar a sua justiça, ninguém livrar-se-á do seu julgamento. Aliás, as conseqüências imediatas decorrentes do desprezo de qualquer um dos dez Mandamentos já mostram quão danoso é ir contra as ordens do Criador. A devassidão ocasionada, por exemplo, pelo abandono do sexto mandamento envolve quem a ela se entrega nos mais terríveis males do corpo e do espírito. O mesmo ocorre com a infração de todos os outros preceitos transmitidos pelo próprio Senhor e que se acham registrados na Bíblia. Transgredi-los é infalivelmente deparar desgraças, além de se colocar o homem no perigo de perder a felicidade eterna, se não se arrepender de seus desvarios. É uma insensatez, de fato, se julgar alguém mais sábio do que o Ser Supremo. É imprescindível, pois, evitar o pecado e conservar a alma limpa sem adesão, mínima que seja, a tudo que contraria os planos estabelecidos por quem só almeja a ventura de quem foi criado à sua imagem e semelhança. Tal o ideal sublime de quem tem bom senso e um mínimo de inteligência: praticar boas ações, dar bons exemplos e viver como filho de Deus na terra, fazendo o bem, aborrecendo os vícios. Em três palavras se podem sintetizar as obrigações para com Deus: obediência, adoração e amor. Ele pedirá rigorosas contas a cada um. Em compensação ele mesmo será a recompensa, a glória e felicidade daqueles que O obedecerem, adorarem, amarem e servirem: “Eu mesmo serei a tua recompensa (Gên 15,1). Todo cuidado é pouco porque a sedução dos prazeres, o deleite dos sentidos, exercem uma influência tão fascinante que muitos olvidam ser criaturas, e vivem como senhores absolutos, afrontando abertamente a Deus e postergando os valores que dignificam o ser pensante. Porque se despreza o Decálogo, todas as normas sociais são também violadas e se anarquiza toda a ordem. Tal é a causa das revoluções e das perturbações do ordenamento público; tal é a origem da desorganização da família e da insubordinação contra as autoridades constituídas. A humanidade parece procurar realizar o ideal de Satanás “não obedeço”, porque pensa ser semelhante ao Onipotente. Esse crime de Satanás foi, aliás, também o primeiro crime dos homens, quando Adão e Eva, gozando ainda todos os favores divinos, pretenderam ser iguais a Deus. Esqueceram que eram criaturas e quiseram colocar-se no lugar do Criador, desobedecendo as suas leis e violando os seus preceitos. As conseqüências dessa revolta é o que vemos e conhecemos por experiência própria, a miséria, os sofrimentos, a dor, a morte. Entretanto o homem, não obstante os transtornos trazidos pelo pecado, mostra-se ainda rebelde. É o orgulho infernal injetado nas veias da humanidade. E o homem esquece o seu verdadeiro lugar no universo, o lugar de criatura, esquecendo-se completamente do seu Criador. Entretanto, na sua infinita misericórdia Deus oferece oportunidade ao arrependimento e à correção de vida. Quem nele crê não pode abusar de sua clemência e jamais deve ratificar as abominações que surgem a cada passo na mídia, fugindo corajosamente de tudo que, ainda de longe o pudesse afastar de seu Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
O SIGNIFICADO DA CRUZ DE JESUS
O SIGNIFICADO DA CRUZ DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Cruz foi a consumação de um ato eterno do amor de um Deus. Ela se tornou o sinal da invencibilidade dos que triunfariam na vida, vencendo o Maligno e seus sequazes. Nada poderia abalar a consistência daquele gesto de Jesus, braços abertos, chamando todos à reconciliação com Deus. Por mais durável que fosse a influência de homens poderosos, por mais forte que fosse uma idéia a gerar um Hitler ou um Stalin, por mais potentes que fossem as forças que dominariam Pan e Tor, tudo foi decidido naquele instante único nos anais das gentes, quando Cristo expirou se fazendo o perene referencial da infinita bondade de Deus. A Cruz na qual Cristo deu a sua vida pela salvação da humanidade ficou sendo o definitivo divisor de águas: os que a aceitassem cantariam vitória, mas os que se lançassem contra ela conheceriam sempre revés amargo. Ela é a explicação do eterno problema da dor na existência humana. No Calvário não se execrou o sofrimento. Este se tornou bendito, pois purifica, santifica, une a Deus. No Gólgota a amargura se sublimou para dignificar a criatura. Esta ao perceber na sua aflição a sombra de Jesus é capaz de suportar com dignidade as contrariedades do dia. À luz do Calvário a dor se faz remédio salutar. A Cruz daria aos que a acatam um equilíbrio perfeito e seria doravante uma escola de santidade. A figura de Jesus Crucificado figura vem polarizando as atenções da humanidade há mais de dois milênios, suscitando heróis, forjando santos, plasmando os campeões da fé, inoculando entusiasmo incontido em milhares de discípulos, subjugando a pusilanimidade de um sem número de indecisos. O amor escreveu na Cruz o capítulo mais grandioso que jamais caiu de seu estro portentoso. Cenas épicas, pintalgadas de sangue e sangue de um Deus com quadros trágicos que fez até a natureza lastimar. Tudo isto, tanta dor, tanta humilhação por nossa causa! Fatos positivamente inacreditáveis, só aceitáveis porque vivos numa demonstração de imenso afeto por todos os homens. Os gigantes mitológicos no intuito de escalar o céu e reaver o paraíso perdido andaram longo tempo colocando serras sobre serras. Afinal, expiraram sua estultícia soterrados no Ossa ou no Pélion, depois de feridos pelos raios de Júpiter. Para ascender ao céu era necessária uma Cruz e nela um Deus morto por amor. O homem recebeu por esta Cruz sua exaltação definitiva. O alerta de São Pedro deve ecoar então bem no íntimo de nossos corações: “Não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo” (1 Pd 1,18).Cumpre valorizar os sofrimentos de Nosso Senhor, operando cada um a própria salvação para que o sangue divino não lhe torne inútil. É preciso ainda que cada um abra inteiramente as portas de seu coração para receber a Jesus como seu salvador pessoal. Além disto, cumpre levar a redenção de Cristo por toda parte, trazendo as ovelhas desgarradas para o redil daquele que tanto nos amou. O Redentor nos convida a aceitarmos sua Cruz, penhor de nossa felicidade.
Amor com amor se paga e será carregando cada um a sua cruz, unidos a Jesus crucificado, fazendo de sua dor uma só dor com as que Ele padeceu que se estará correspondendo a tudo que Ele suportou para abrir para todos as portas do céu.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Cruz foi a consumação de um ato eterno do amor de um Deus. Ela se tornou o sinal da invencibilidade dos que triunfariam na vida, vencendo o Maligno e seus sequazes. Nada poderia abalar a consistência daquele gesto de Jesus, braços abertos, chamando todos à reconciliação com Deus. Por mais durável que fosse a influência de homens poderosos, por mais forte que fosse uma idéia a gerar um Hitler ou um Stalin, por mais potentes que fossem as forças que dominariam Pan e Tor, tudo foi decidido naquele instante único nos anais das gentes, quando Cristo expirou se fazendo o perene referencial da infinita bondade de Deus. A Cruz na qual Cristo deu a sua vida pela salvação da humanidade ficou sendo o definitivo divisor de águas: os que a aceitassem cantariam vitória, mas os que se lançassem contra ela conheceriam sempre revés amargo. Ela é a explicação do eterno problema da dor na existência humana. No Calvário não se execrou o sofrimento. Este se tornou bendito, pois purifica, santifica, une a Deus. No Gólgota a amargura se sublimou para dignificar a criatura. Esta ao perceber na sua aflição a sombra de Jesus é capaz de suportar com dignidade as contrariedades do dia. À luz do Calvário a dor se faz remédio salutar. A Cruz daria aos que a acatam um equilíbrio perfeito e seria doravante uma escola de santidade. A figura de Jesus Crucificado figura vem polarizando as atenções da humanidade há mais de dois milênios, suscitando heróis, forjando santos, plasmando os campeões da fé, inoculando entusiasmo incontido em milhares de discípulos, subjugando a pusilanimidade de um sem número de indecisos. O amor escreveu na Cruz o capítulo mais grandioso que jamais caiu de seu estro portentoso. Cenas épicas, pintalgadas de sangue e sangue de um Deus com quadros trágicos que fez até a natureza lastimar. Tudo isto, tanta dor, tanta humilhação por nossa causa! Fatos positivamente inacreditáveis, só aceitáveis porque vivos numa demonstração de imenso afeto por todos os homens. Os gigantes mitológicos no intuito de escalar o céu e reaver o paraíso perdido andaram longo tempo colocando serras sobre serras. Afinal, expiraram sua estultícia soterrados no Ossa ou no Pélion, depois de feridos pelos raios de Júpiter. Para ascender ao céu era necessária uma Cruz e nela um Deus morto por amor. O homem recebeu por esta Cruz sua exaltação definitiva. O alerta de São Pedro deve ecoar então bem no íntimo de nossos corações: “Não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo” (1 Pd 1,18).Cumpre valorizar os sofrimentos de Nosso Senhor, operando cada um a própria salvação para que o sangue divino não lhe torne inútil. É preciso ainda que cada um abra inteiramente as portas de seu coração para receber a Jesus como seu salvador pessoal. Além disto, cumpre levar a redenção de Cristo por toda parte, trazendo as ovelhas desgarradas para o redil daquele que tanto nos amou. O Redentor nos convida a aceitarmos sua Cruz, penhor de nossa felicidade.
Amor com amor se paga e será carregando cada um a sua cruz, unidos a Jesus crucificado, fazendo de sua dor uma só dor com as que Ele padeceu que se estará correspondendo a tudo que Ele suportou para abrir para todos as portas do céu.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
DIANTE DO CRUCIFIXO
DIANTE DO CRUCIFIXO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Diante do Crucifixo cumpre uma reflexão sobre a morte do Filho de Deus. Morrer é sempre um instante decisivo na vida de cada um, mas morrer de amor, banhado em sangue, é uma apoteose digna, de fato, de um Deus! O Calvário se tornou pela morte de Jesus o vértice imponente do Universo, o ponto sagrado e culminante onde as gerações de todos os tempos se encontram. Aí as duas alianças se realizaram. Do altar propiciatório, no qual, num torvelinho de dor e aflição, a Vítima divina foi imolada, sobiu ao Todo-Poderoso a oblação daquela vítima que saldou a dívida da humanidade pecadora. Ante a morte de um Deus a natureza toda se comoveu, enchendo-se o mundo todo de pavoroso assombro. A terra se viu abalada nos seus fundamentos estremeceu. Mortos ressuscitaram, marulhou o mar, erguendo vagalhões. Coriscaram os raios, trovões seguiram um relampejar insistente. Um Deus, enquanto homem agonizou e morreu. Processou-se a grande guinada na embarcação da humanidade. Soou a hora da liberdade. Ao longo ecoaram os fragores estridentes de cadeias injuriosas que se despedaçaram para humilhação do inimigo da linhagem humana. Raiou a redenção! Personagens tem havido em todos os tempos que deixaram sua marca na História. São os grandes benfeitores nos mais diversos campos de atividade que contribuíram para o progresso da humanidade. Homens e mulheres de prol que fundiram seus atos nos bronzes da virtude, do saber, da benemerência. Eles se fazem contemporâneos de todas as gerações. O nome deles se perpetua (Ecl 46,150). Há na vida destes gênios momentos que perduram na memória dos pósteros pela grandiosidade de um gesto decisivo e nobre. Quando lançava na longínqua Grécia sua teoria do princípio da liberdade do pensamento acima da conveniência pessoal, do conforto e da reputação, Sócrates era admirável. No instante, porém, em que estendido num leito, enquanto o veneno lhe ia paralisando o corpo ele fica firme em suas idéias aquele foi um momento importantíssimo para a civilização e a cultura. É que a razão enfrentava a morte e triunfava! Mais tarde no dia 14 de março de 44, quando em pleno senado romano Júlio César morria assassinado o mundo vivia momentos dramáticos. Com efeito, a grande obra política de um estadista eminente era interrompida e quinze anos de guerras ensangüentariam as crônicas do mundo antigo. Na estrada de Damasco fulge um raio. Cai por terra um homem valoroso. Momento decisivo para a História. Saulo o perseguidor dos cristãos se torna Paulo, o apaixonado por Jesus Cristo, o doutor das gentes. O Evangelho iria ser difundido mundo todo por um Apóstolo incansável. Dia 4 de outubro de 1226, aos quarenta e cinco anos de idade, estendido no chão, coberto com uma túnica velha, cingido por uma corda grosseira, braços abertos morria o poeta da natureza, Francisco de Assis. A morte ganhava foros de irmã e perdia toda sua terribilidade, pois entre cânticos de seus epígonos era recebida por Francisco com júbilo e alegria. 1430 foi o ano em que ardia numa fogueira o corpo de uma jovem chamada Joana d’Arc. Modifica-se a Europa. O entusiasmo pela vitória da pátria de que ela fora uma paladina indomável e agora mártir, levaria a França a domínio de conseqüências perenes na vida do mundo. No fundo de um gabinete um homem sagaz se envolve nas teorias da vontade de Nietszche e Schopenhauer, na geopolítica de Hashofer, nas histórias cíclicas de Spengler. Ele mergulha nestas idéias e, instante triste para as gerações de então, porque surge o diabólico Hitler que desencadearia uma conflagração mundial e uma perseguição ignominiosa aos judeus. Naquela época já soara para o mundo outro momento decisivo quando um personagem estranho fazia dos textos de Karl Marx sua Bíblia. Surge ante todos Lenin impregnado de idéias atéias e o comunismo durante décadas desgraçaria o Leste europeu e outras partes do globo.Estes alguns dos momentos decisivos para a humanidade. Entretanto, nenhum deles, apesar de todas as suas conseqüências, superou o que se deu um dia na Cruz, num drama singular que se tornou o fato mais importante da História, porque naquela hora se realizou a redenção humana. É que Jesus Cristo por entre a convulsão da natureza expirou e nele o Pai recapitulou todas as coisas. Tudo que é por Ele, tudo que participa da vitória de que sua Cruz seria símbolo perpétuo, perduraria. Tudo que O contradissesse, mais dia menos dia, ruiria por terra. Passariam os grandes homens, dar-se-iam as grandes transformações sociais, operar-se-iam progressos científicos inimagináveis e Cristo crucificado e morto permaneceria e permanecerá sempre. Eis a realidade grandiosa de que nos fala o Crucifixo! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Diante do Crucifixo cumpre uma reflexão sobre a morte do Filho de Deus. Morrer é sempre um instante decisivo na vida de cada um, mas morrer de amor, banhado em sangue, é uma apoteose digna, de fato, de um Deus! O Calvário se tornou pela morte de Jesus o vértice imponente do Universo, o ponto sagrado e culminante onde as gerações de todos os tempos se encontram. Aí as duas alianças se realizaram. Do altar propiciatório, no qual, num torvelinho de dor e aflição, a Vítima divina foi imolada, sobiu ao Todo-Poderoso a oblação daquela vítima que saldou a dívida da humanidade pecadora. Ante a morte de um Deus a natureza toda se comoveu, enchendo-se o mundo todo de pavoroso assombro. A terra se viu abalada nos seus fundamentos estremeceu. Mortos ressuscitaram, marulhou o mar, erguendo vagalhões. Coriscaram os raios, trovões seguiram um relampejar insistente. Um Deus, enquanto homem agonizou e morreu. Processou-se a grande guinada na embarcação da humanidade. Soou a hora da liberdade. Ao longo ecoaram os fragores estridentes de cadeias injuriosas que se despedaçaram para humilhação do inimigo da linhagem humana. Raiou a redenção! Personagens tem havido em todos os tempos que deixaram sua marca na História. São os grandes benfeitores nos mais diversos campos de atividade que contribuíram para o progresso da humanidade. Homens e mulheres de prol que fundiram seus atos nos bronzes da virtude, do saber, da benemerência. Eles se fazem contemporâneos de todas as gerações. O nome deles se perpetua (Ecl 46,150). Há na vida destes gênios momentos que perduram na memória dos pósteros pela grandiosidade de um gesto decisivo e nobre. Quando lançava na longínqua Grécia sua teoria do princípio da liberdade do pensamento acima da conveniência pessoal, do conforto e da reputação, Sócrates era admirável. No instante, porém, em que estendido num leito, enquanto o veneno lhe ia paralisando o corpo ele fica firme em suas idéias aquele foi um momento importantíssimo para a civilização e a cultura. É que a razão enfrentava a morte e triunfava! Mais tarde no dia 14 de março de 44, quando em pleno senado romano Júlio César morria assassinado o mundo vivia momentos dramáticos. Com efeito, a grande obra política de um estadista eminente era interrompida e quinze anos de guerras ensangüentariam as crônicas do mundo antigo. Na estrada de Damasco fulge um raio. Cai por terra um homem valoroso. Momento decisivo para a História. Saulo o perseguidor dos cristãos se torna Paulo, o apaixonado por Jesus Cristo, o doutor das gentes. O Evangelho iria ser difundido mundo todo por um Apóstolo incansável. Dia 4 de outubro de 1226, aos quarenta e cinco anos de idade, estendido no chão, coberto com uma túnica velha, cingido por uma corda grosseira, braços abertos morria o poeta da natureza, Francisco de Assis. A morte ganhava foros de irmã e perdia toda sua terribilidade, pois entre cânticos de seus epígonos era recebida por Francisco com júbilo e alegria. 1430 foi o ano em que ardia numa fogueira o corpo de uma jovem chamada Joana d’Arc. Modifica-se a Europa. O entusiasmo pela vitória da pátria de que ela fora uma paladina indomável e agora mártir, levaria a França a domínio de conseqüências perenes na vida do mundo. No fundo de um gabinete um homem sagaz se envolve nas teorias da vontade de Nietszche e Schopenhauer, na geopolítica de Hashofer, nas histórias cíclicas de Spengler. Ele mergulha nestas idéias e, instante triste para as gerações de então, porque surge o diabólico Hitler que desencadearia uma conflagração mundial e uma perseguição ignominiosa aos judeus. Naquela época já soara para o mundo outro momento decisivo quando um personagem estranho fazia dos textos de Karl Marx sua Bíblia. Surge ante todos Lenin impregnado de idéias atéias e o comunismo durante décadas desgraçaria o Leste europeu e outras partes do globo.Estes alguns dos momentos decisivos para a humanidade. Entretanto, nenhum deles, apesar de todas as suas conseqüências, superou o que se deu um dia na Cruz, num drama singular que se tornou o fato mais importante da História, porque naquela hora se realizou a redenção humana. É que Jesus Cristo por entre a convulsão da natureza expirou e nele o Pai recapitulou todas as coisas. Tudo que é por Ele, tudo que participa da vitória de que sua Cruz seria símbolo perpétuo, perduraria. Tudo que O contradissesse, mais dia menos dia, ruiria por terra. Passariam os grandes homens, dar-se-iam as grandes transformações sociais, operar-se-iam progressos científicos inimagináveis e Cristo crucificado e morto permaneceria e permanecerá sempre. Eis a realidade grandiosa de que nos fala o Crucifixo! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
CIVILIDADE
CIVILIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No momento em que se multiplicam os maiores absurdos dentro das Escolas e, recentemente, no mês de setembro um aluno a dar uma “voadora”, ou seja, golpe violento com os dois pés, numa professora e outro de dez anos assassinando sua mestra e se suicidando em seguida, é de bom alvitre que se reveja a noção de educação, cortesia, gentileza, boas maneiras; civilidade; cavalheirismo.
Multiplicam-se as explicações dadas pelos experts em ciências psicológicas para apontar as causas dos desvarios juvenis, mas se esquece, muitas vezes, por parte dos educadores, em casa e nos colégios, de perceber os primeiros sintomas de anomalia na falta de sensibilidade da criança, do adolescente e do jovem em geral.
Esta ausência de sensibilidade se reflete na conduta incivil, desaforada. Com efeito, a maneira selvagem pode sinalizar algo irregular que se passa lá no íntimo daquele ser humano cuja agressividade se desdobrará em atos incoerentes, bestiais, brutais, cruéis. Até mesmo, se for devidamente corrigida, impedir que se desencadeie uma série de atitudes bruscas. A delicadeza é sempre, de fato, sinal de quietude interior.
Quantas vezes nas entradas dos colégios, antes que sejam abertas as portas, alunos se aglomeram, como se fossem donos do passeio, obrigando os transeuntes a passarem pela rua, podendo estes ser atropelados e isto acontecendo inclusive com pessoas idosas. A algazarra é, outrossim, indício de desequilíbrio e os gritos irritantes molestam e incomodam.
Quantas casas têm suas paredes avariadas pelos riscos de lápis e outros objetos escolares, mostrando que a violência está lá dentro de quem prática tais atos condenáveis. É certo que muitos levam para as Escolas os defeitos adquiridos ou não corrigidos em casa, mas cabe aos pedagogos orientar as mentes em formação.
Quem traceja estas linhas ficou apavorado quando certo dia uma mãe veio se queixar: “Cuidei com tanto carinho de minha filha agora adolescente. Pedi a ela para me lavar um copo e ela me disse: “Não sou sua empregada”! (sic) Uma outra a clamar: “Hoje fui dar uma orientação a meu filho e ele me respondeu: “Cuide de tua vida que eu cuido da minha” (sic).
Estes são aqueles que depois na sociedade vão praticar os crimes que aterrorizam os que vivem no contexto atual. Incutir desde a mais tenra idade no espírito dos jovens a necessidade do respeito aos valores que dignificam a pessoa humana é de suma importância. Isto leva ao aperfeiçoamento no modo de pensar, de ser e de agir. Não se trata de transformar em robôs seres humanos, mas de se formar um cidadão livre e consciente.
Como bem se expressou a renomada pedagoga Vera Rudge Wemeck “A educação conduz ao respeito pela pessoa, à posse de si mesmo, à autodeterminação. É necessário não apenas um aprimoramento do processo racional para o conhecimento da verdade, mas também um aperfeiçoamento da sensibilidade e do sentimento para a apreensão correta do valor”. Merece reflexão também o que disse o notável cientista social Luis Fernando Bernardes Vidigal: “Vivemos em contexto histórico que precisa urgentemente de um choque de civilidade. Um verdadeiro absurdo o desrespeito de alunos para com os professores e para com os pais. O mundo lamentavelmente se transformou e as estratégias de abordagem do novo aluno são condenáveis. A resposta a esse novo aluno, que não possui valores ou respeito para com os outros, não está sendo adequada em muitas Escolas. É preciso uma combinação de orientação, acompanhamento e corretivo da parte dos profissionais da educação, mas também é necessário o envolvimento direto dos pais, que muitas vezes não sabem o que fazer e precisam ser também orientados. Enfim, a Escola e o Lar devem responder à nova realidade de forma mais eficaz, visando manter os valores perenes, pois, estes sim, não devem nunca ser postergados”.
Isto significa patentear a dignidade do ser humano que, seja aonde for, deve ser reverenciado.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No momento em que se multiplicam os maiores absurdos dentro das Escolas e, recentemente, no mês de setembro um aluno a dar uma “voadora”, ou seja, golpe violento com os dois pés, numa professora e outro de dez anos assassinando sua mestra e se suicidando em seguida, é de bom alvitre que se reveja a noção de educação, cortesia, gentileza, boas maneiras; civilidade; cavalheirismo.
Multiplicam-se as explicações dadas pelos experts em ciências psicológicas para apontar as causas dos desvarios juvenis, mas se esquece, muitas vezes, por parte dos educadores, em casa e nos colégios, de perceber os primeiros sintomas de anomalia na falta de sensibilidade da criança, do adolescente e do jovem em geral.
Esta ausência de sensibilidade se reflete na conduta incivil, desaforada. Com efeito, a maneira selvagem pode sinalizar algo irregular que se passa lá no íntimo daquele ser humano cuja agressividade se desdobrará em atos incoerentes, bestiais, brutais, cruéis. Até mesmo, se for devidamente corrigida, impedir que se desencadeie uma série de atitudes bruscas. A delicadeza é sempre, de fato, sinal de quietude interior.
Quantas vezes nas entradas dos colégios, antes que sejam abertas as portas, alunos se aglomeram, como se fossem donos do passeio, obrigando os transeuntes a passarem pela rua, podendo estes ser atropelados e isto acontecendo inclusive com pessoas idosas. A algazarra é, outrossim, indício de desequilíbrio e os gritos irritantes molestam e incomodam.
Quantas casas têm suas paredes avariadas pelos riscos de lápis e outros objetos escolares, mostrando que a violência está lá dentro de quem prática tais atos condenáveis. É certo que muitos levam para as Escolas os defeitos adquiridos ou não corrigidos em casa, mas cabe aos pedagogos orientar as mentes em formação.
Quem traceja estas linhas ficou apavorado quando certo dia uma mãe veio se queixar: “Cuidei com tanto carinho de minha filha agora adolescente. Pedi a ela para me lavar um copo e ela me disse: “Não sou sua empregada”! (sic) Uma outra a clamar: “Hoje fui dar uma orientação a meu filho e ele me respondeu: “Cuide de tua vida que eu cuido da minha” (sic).
Estes são aqueles que depois na sociedade vão praticar os crimes que aterrorizam os que vivem no contexto atual. Incutir desde a mais tenra idade no espírito dos jovens a necessidade do respeito aos valores que dignificam a pessoa humana é de suma importância. Isto leva ao aperfeiçoamento no modo de pensar, de ser e de agir. Não se trata de transformar em robôs seres humanos, mas de se formar um cidadão livre e consciente.
Como bem se expressou a renomada pedagoga Vera Rudge Wemeck “A educação conduz ao respeito pela pessoa, à posse de si mesmo, à autodeterminação. É necessário não apenas um aprimoramento do processo racional para o conhecimento da verdade, mas também um aperfeiçoamento da sensibilidade e do sentimento para a apreensão correta do valor”. Merece reflexão também o que disse o notável cientista social Luis Fernando Bernardes Vidigal: “Vivemos em contexto histórico que precisa urgentemente de um choque de civilidade. Um verdadeiro absurdo o desrespeito de alunos para com os professores e para com os pais. O mundo lamentavelmente se transformou e as estratégias de abordagem do novo aluno são condenáveis. A resposta a esse novo aluno, que não possui valores ou respeito para com os outros, não está sendo adequada em muitas Escolas. É preciso uma combinação de orientação, acompanhamento e corretivo da parte dos profissionais da educação, mas também é necessário o envolvimento direto dos pais, que muitas vezes não sabem o que fazer e precisam ser também orientados. Enfim, a Escola e o Lar devem responder à nova realidade de forma mais eficaz, visando manter os valores perenes, pois, estes sim, não devem nunca ser postergados”.
Isto significa patentear a dignidade do ser humano que, seja aonde for, deve ser reverenciado.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Preparar-se para o encontro com Deus
PREPARAR-SE PARA O ENCONTRO COM DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Feliz o homem que nos extremos limites de sua existência pode repousar tranqüilo nas mãos de seu Pai do céu. Para isto é preciso que se viva o belo e significativo epitáfio do grande filósofo franciscano Duns Scoto: “Semel sepultus, bis mortuus”, ou seja, uma vez sepultado, mas duas vezes morto. Com efeito, é preciso estar em vida morto para os prazeres ilícitos, para o vício, para o pecado, para o mal. Como muito bem disse o poeta, “mortos não são aqueles que jazem numa tumba fria, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. Estes foram sepultados duas vezes e não uma, pois já jaziam na catacumba de seus delíquios, de sua maldade, de sua perversidade. Bem diz o ditado: “Tal vida, tal fim”. A revelação da boa morte é a boa vida. Cristo tracejou o destino afortunado de quem viveu com sabedoria: o regresso ditoso ao seio do Pai. A vida deve ser uma preparação consciente para a morte. Aqueles que se apartaram renitentemente do Pai no final de sua carreira dificilmente terão bom senso para dizer: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Estes como castigo de seus voluntários desvarios se verão lançados longe da eterna beleza naquele lugar, onde, segundo o próprio Jesus, haverá choro e ranger de dentes ( Mt 8,12; Lc 13,28).
A morte para os que não seguiram a Cristo é terrível: uma vida que se acaba e uma eternidade infeliz que se inicia! Que aflição, que angústia para quem não correspondeu aos desígnios divinos e não cumpriu sua missão neste mundo! No momento da morte o que vai dar desgosto a cada um é o que buscou por seu próprio gosto e, muitas vezes, com tanto sacrifício inútil em busca de gozos passageiros, ilusórios. Quantos gostariam de voltar no tempo para refazer seus atos, mas já é tarde. Só então se compreenderá como se inutilizou a existência nesta terra e por todo o sempre. Entretanto para quem cumpriu o seu dever, para o pecador arrependido sinceramente, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os pórticos luminosos da Jerusalém celeste. O que causou pena, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará alegria, Morrer em graça e ver garantida a salvação, eis o que mais deve preocupar quem tem bom senso neste mundo, pois tudo mais é secundário e só vai causar ansiedade ao se deixar esta terra. Com razão o Livro do Eclesiástico ensina que é a morte que define quem cada um é: “Antes da morte não beatifiques a ninguém, pois em seu fim é que se conhece o homem”( Ec 11,28).
Preparemo-nos, pois, durante todos os momentos desta trajetória terrena para o instante solene de nossa morte. Este pensamento, longe de ser negativo, é altamente construtivo. Deve enfronhar todas as nossas ações, decisões, aspirações; iluminar todas as nossas atividades; aclarar todos os nossos ideais; impregnar todas as nossas lides; fortificar todas as nossas resoluções; dourar todas as nossas afeições; alicerçar todos os nossos anelos; fundamentar todos os nossos desejos; enflorar todas as nossas aspirações. Aliás este foi o conselho de Jesus: “Vigiai, portanto, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” ( Mt 24,42). Diante da morte encarada com seriedade os prazeres mundanos não passam de um divertimento danoso e indesejável; o pecado o maior de todos os males; o tempo empregado em futilidades uma perda irreparável. A morte pervaga, dia e noite, o palacete luxuoso do rico, ela desce a todas as horas ao tugúrio desprotegido do pobre, ela não conhece classes nem títulos, idade ou condição social, galardões ou insígnias. Sem ruído e sem cicio, como um ladrão à noite, na correta comparação de Cristo, ela surpreende o pecador no fundo caliginoso de seus crimes e de suas reincidências no vício e torna perene a inimizade para com o Pai. Do mesmo modo ela vem ao encontro do justo e o convida para as Bodas do Cordeiro. Sua visita não tem hora, nem lugar. A incerteza marca terrivelmente o mais certo dos fatos. Não sabemos o lugar, as circunstâncias, o momento em que ela virá. Daí a sapientíssima advertência do Apóstolo Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem!” (Gl 6,10). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Feliz o homem que nos extremos limites de sua existência pode repousar tranqüilo nas mãos de seu Pai do céu. Para isto é preciso que se viva o belo e significativo epitáfio do grande filósofo franciscano Duns Scoto: “Semel sepultus, bis mortuus”, ou seja, uma vez sepultado, mas duas vezes morto. Com efeito, é preciso estar em vida morto para os prazeres ilícitos, para o vício, para o pecado, para o mal. Como muito bem disse o poeta, “mortos não são aqueles que jazem numa tumba fria, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. Estes foram sepultados duas vezes e não uma, pois já jaziam na catacumba de seus delíquios, de sua maldade, de sua perversidade. Bem diz o ditado: “Tal vida, tal fim”. A revelação da boa morte é a boa vida. Cristo tracejou o destino afortunado de quem viveu com sabedoria: o regresso ditoso ao seio do Pai. A vida deve ser uma preparação consciente para a morte. Aqueles que se apartaram renitentemente do Pai no final de sua carreira dificilmente terão bom senso para dizer: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Estes como castigo de seus voluntários desvarios se verão lançados longe da eterna beleza naquele lugar, onde, segundo o próprio Jesus, haverá choro e ranger de dentes ( Mt 8,12; Lc 13,28).
A morte para os que não seguiram a Cristo é terrível: uma vida que se acaba e uma eternidade infeliz que se inicia! Que aflição, que angústia para quem não correspondeu aos desígnios divinos e não cumpriu sua missão neste mundo! No momento da morte o que vai dar desgosto a cada um é o que buscou por seu próprio gosto e, muitas vezes, com tanto sacrifício inútil em busca de gozos passageiros, ilusórios. Quantos gostariam de voltar no tempo para refazer seus atos, mas já é tarde. Só então se compreenderá como se inutilizou a existência nesta terra e por todo o sempre. Entretanto para quem cumpriu o seu dever, para o pecador arrependido sinceramente, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os pórticos luminosos da Jerusalém celeste. O que causou pena, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará alegria, Morrer em graça e ver garantida a salvação, eis o que mais deve preocupar quem tem bom senso neste mundo, pois tudo mais é secundário e só vai causar ansiedade ao se deixar esta terra. Com razão o Livro do Eclesiástico ensina que é a morte que define quem cada um é: “Antes da morte não beatifiques a ninguém, pois em seu fim é que se conhece o homem”( Ec 11,28).
Preparemo-nos, pois, durante todos os momentos desta trajetória terrena para o instante solene de nossa morte. Este pensamento, longe de ser negativo, é altamente construtivo. Deve enfronhar todas as nossas ações, decisões, aspirações; iluminar todas as nossas atividades; aclarar todos os nossos ideais; impregnar todas as nossas lides; fortificar todas as nossas resoluções; dourar todas as nossas afeições; alicerçar todos os nossos anelos; fundamentar todos os nossos desejos; enflorar todas as nossas aspirações. Aliás este foi o conselho de Jesus: “Vigiai, portanto, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” ( Mt 24,42). Diante da morte encarada com seriedade os prazeres mundanos não passam de um divertimento danoso e indesejável; o pecado o maior de todos os males; o tempo empregado em futilidades uma perda irreparável. A morte pervaga, dia e noite, o palacete luxuoso do rico, ela desce a todas as horas ao tugúrio desprotegido do pobre, ela não conhece classes nem títulos, idade ou condição social, galardões ou insígnias. Sem ruído e sem cicio, como um ladrão à noite, na correta comparação de Cristo, ela surpreende o pecador no fundo caliginoso de seus crimes e de suas reincidências no vício e torna perene a inimizade para com o Pai. Do mesmo modo ela vem ao encontro do justo e o convida para as Bodas do Cordeiro. Sua visita não tem hora, nem lugar. A incerteza marca terrivelmente o mais certo dos fatos. Não sabemos o lugar, as circunstâncias, o momento em que ela virá. Daí a sapientíssima advertência do Apóstolo Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem!” (Gl 6,10). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
A VOLTA PARA JUNTO DO PAI
A VOLTA PARA JUNTO DO PAI
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais que as últimas palavras no alto da Cruz foram síntese de uma existência consagrada à redenção da humanidade e esboço da trajetória de todos os homens de todos os tempos. Lemos em São Lucas o que Ele proferiu antes de expirar no Lenho Sagrado:“Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Ele saíra do Pai, voltava ao Pai. O homem também que é uma criação da divindade tem idêntico destino. Um dia deverá ele voltar para junto do seu Criador. Cristo salvou o homem de pé como vencedor que domina o campo de batalha. Ele se voltou então vitorioso para se entregar Àquele do qual viera. Estas derradeiras palavras do Mestre são uma lição perene para todos os homens. Ele rasgou o mistério do destino humano e fez penetrar luz sobre todas as filosofias antigas e do porvir. Iluminou o pensamento dos egípcios. Penetrou os segredos das Sibilas. Lançou luminosidade pirâmides a dentro. Rasgou o Livro dos Mortos, segundo o qual a vida futura é um pesado sono, pois ninguém sabia o que resultava do julgamento de Osiris. Alumiou a Mesopotâmia onde as famílias dos falecidos lhes ofereciam sacrifícios para que sua sombra não saísse das regiões subterrâneas, vindo atormentá-las como um gênio malfazejo, até que consumissem com o corpo. No Calvário novo destino, e para sempre, foi anunciado para a humanidade. Sina sublime a do ser racional, pois ele caminha para a casa do Pai. Para cada homem que vem a este mundo se realiza a sentença inexorável assim expressa na Carta aos Hebreus: “É um fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem o julgamento” (Hb 9,27). Cientistas, filósofos, estadistas, enfim, todo aqueles que se entregaram, até então, a uma cogitação mais profunda sobre si mesmo pararam quedos e confusos ante a morte, desviando-se de seu semblante austero. Ó enigma para Sócrates, Platão e Aristóteles! Ananda o famoso discípulo de Buda indagou deste que morria o que pensar do além e nenhuma esperança fagueira lhe foi dada pelo mestre. Ao vir a este mundo o ser racional inicia também sua viagem para deixar um dia esta terra. Nesta caminhada ele luta pela preservação da vida e muitos os instantes críticos que se lhe surgem através dos anos até que um dia ele percebe que suas forças se exaurem. Em qualquer momento, até em plena juventude, uma doença maligna pode cortar sua trajetória terrena. No mundo conturbado de hoje os desastres se multiplicam e quem sai numa viagem pode não retornar ao lar e, por culpa do próprio homem, as enfermidades se multiplicam por força inclusive da agressão à própria natureza. Com o passar do tempo lá se vai a mocidade, a saúde e os entes queridos que desaparecem! Nos últimos dias de uma vida longa o homem poderia parecer uma flor que murchou, uma árvore sem folhas. O cansaço, as desilusões, os achaques, as indisposições, as moléstias, tudo o faz parecer uma sombra que vai penetrar as paragens das sombras. Ventura divina com que as últimas palavras de Cristo envolvem o homem: “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito”! É nesta volta feliz para junto do Criador que gera esta certeza de que somente depois da morte que haverá luz, descanso, recompensa, gozo, a ventura sem fel. É lá no reino do Pai que imperará a justiça para sempre. Lá haverá a colheita abundante dos atos virtuosos. Na visão beatífica uma alegria sem fim. O homem anoitece no sepulcro para amanhecer numa eternidade feliz, se ele soube amar a Deus e seguir os seus preceitos. A morte não derrota o cristão verdadeiro, mas, pelo contrário, é sua vitória, pois ela abre uma porta para uma existência ditosa junto do Ser Supremo. Para além da sepultura horizontes lucentes se estendem. Para aquele que foi bom, justo, misericordioso, temente a Deus é o momento sublime da recompensa, de receber o galardão pelos atos bons de sua vida terrena. É o instante de receber o tesouro acumulado no céu, conforme orientara o próprio Cristo (Lc 12,33). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais que as últimas palavras no alto da Cruz foram síntese de uma existência consagrada à redenção da humanidade e esboço da trajetória de todos os homens de todos os tempos. Lemos em São Lucas o que Ele proferiu antes de expirar no Lenho Sagrado:“Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Ele saíra do Pai, voltava ao Pai. O homem também que é uma criação da divindade tem idêntico destino. Um dia deverá ele voltar para junto do seu Criador. Cristo salvou o homem de pé como vencedor que domina o campo de batalha. Ele se voltou então vitorioso para se entregar Àquele do qual viera. Estas derradeiras palavras do Mestre são uma lição perene para todos os homens. Ele rasgou o mistério do destino humano e fez penetrar luz sobre todas as filosofias antigas e do porvir. Iluminou o pensamento dos egípcios. Penetrou os segredos das Sibilas. Lançou luminosidade pirâmides a dentro. Rasgou o Livro dos Mortos, segundo o qual a vida futura é um pesado sono, pois ninguém sabia o que resultava do julgamento de Osiris. Alumiou a Mesopotâmia onde as famílias dos falecidos lhes ofereciam sacrifícios para que sua sombra não saísse das regiões subterrâneas, vindo atormentá-las como um gênio malfazejo, até que consumissem com o corpo. No Calvário novo destino, e para sempre, foi anunciado para a humanidade. Sina sublime a do ser racional, pois ele caminha para a casa do Pai. Para cada homem que vem a este mundo se realiza a sentença inexorável assim expressa na Carta aos Hebreus: “É um fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem o julgamento” (Hb 9,27). Cientistas, filósofos, estadistas, enfim, todo aqueles que se entregaram, até então, a uma cogitação mais profunda sobre si mesmo pararam quedos e confusos ante a morte, desviando-se de seu semblante austero. Ó enigma para Sócrates, Platão e Aristóteles! Ananda o famoso discípulo de Buda indagou deste que morria o que pensar do além e nenhuma esperança fagueira lhe foi dada pelo mestre. Ao vir a este mundo o ser racional inicia também sua viagem para deixar um dia esta terra. Nesta caminhada ele luta pela preservação da vida e muitos os instantes críticos que se lhe surgem através dos anos até que um dia ele percebe que suas forças se exaurem. Em qualquer momento, até em plena juventude, uma doença maligna pode cortar sua trajetória terrena. No mundo conturbado de hoje os desastres se multiplicam e quem sai numa viagem pode não retornar ao lar e, por culpa do próprio homem, as enfermidades se multiplicam por força inclusive da agressão à própria natureza. Com o passar do tempo lá se vai a mocidade, a saúde e os entes queridos que desaparecem! Nos últimos dias de uma vida longa o homem poderia parecer uma flor que murchou, uma árvore sem folhas. O cansaço, as desilusões, os achaques, as indisposições, as moléstias, tudo o faz parecer uma sombra que vai penetrar as paragens das sombras. Ventura divina com que as últimas palavras de Cristo envolvem o homem: “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito”! É nesta volta feliz para junto do Criador que gera esta certeza de que somente depois da morte que haverá luz, descanso, recompensa, gozo, a ventura sem fel. É lá no reino do Pai que imperará a justiça para sempre. Lá haverá a colheita abundante dos atos virtuosos. Na visão beatífica uma alegria sem fim. O homem anoitece no sepulcro para amanhecer numa eternidade feliz, se ele soube amar a Deus e seguir os seus preceitos. A morte não derrota o cristão verdadeiro, mas, pelo contrário, é sua vitória, pois ela abre uma porta para uma existência ditosa junto do Ser Supremo. Para além da sepultura horizontes lucentes se estendem. Para aquele que foi bom, justo, misericordioso, temente a Deus é o momento sublime da recompensa, de receber o galardão pelos atos bons de sua vida terrena. É o instante de receber o tesouro acumulado no céu, conforme orientara o próprio Cristo (Lc 12,33). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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