BEM-VENTURADOS OS PERSEGUIDOS POR CAUSA
DA JUSTIÇA
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Deste
modo Jesus proclama a oitava Bem-aventurança: “Bem-aventurados os perseguidos
por causa da justiça, porque o reino dos céus é para eles”. Nesta beatitude
estão incluídos todos os que praticam qualquer virtude e por causa ela são objeto
de perseguição. São os que fazem o bem e vivem intensamente a lei de Deus. Estes
são uma proclamação profética do Reino eterno de Deus e sua vida é uma
contradição viva a todas as ilusões mundanas. Disto resulta uma luta interior e
exterior. Batalha interior diante de tudo que as aliciações satânicas
falsamente prometem e perante as quais é preciso perseverança invencível. Lutas
exteriores dado que a fidelidade a Cristo é combatida de mil formas, estando,
por exemplo, em nossos dias a serviço do mal os meios de comunicação social com
tantas mensagens deletérias visando desmoralizar o Evangelho. Jesus, porém, alertou:
“Surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos E, por se ter
multiplicado a iniquidade esfriar-se-á a caridade de muitos. Mas quem
perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mt 24,11-14). A conformidade com a
vontade de Deus torna o cristão um justo, aquele que almeja o Reino dos Céus
por causa do qual são perseguidos. Portanto, esta justiça a que se refere Jesus
nesta bem-aventurança não é nem a
justiça escatológica que consistirá no triunfo definitivo do bem e dos bons
oprimidos, nem a justiça transcendente de Deus que se manifestará no juízo
final com o castigo dos perversos e a glorificação dos probos. Trata da
observância constante dos mandamentos da lei divina, da perfeição moral cristã
que leva a conformar-se com a vontade profunda de Deus. Na trajetória dos
justos, porém, estão armadas todas as ciladas dos insensatos, resultado da
tirania dos embustes diabólicos. Felizes, contudo, os que não se deixam enredar
por tudo isto por causa da justiça do Reino de Deus. A vida dos justos está nas
mãos de seu Senhor e eles não sucumbem perante os ataques dos maus. O justo
tudo suporta porque sua existência se firma nos valores essenciais que emanam
do Criador ao qual dão uma adesão inabalável, sustentados pela graça de seu
Senhor. O que procura a justiça de Deus se torna assim um mártir, ou seja,
aquele que testemunha e mostra que a felicidade só se encontra no cumprimento
dos preceitos dados pelo Ser Supremo. Este testemunho deve durar até a morte e
isto exige determinação, coragem sem tréguas. Trata-se de uma tomada de posição
consciente baseada na fé, no sentido profundo da vida cristã. Isto leva ao
confronto com a mentalidade mundana que busca prazeres transitórios e menoscaba
a doutrina pregada pelo Filho de Deus. Extraordinária precisa ser a
determinação do seguidor de Cristo. É
uma direção na vida contrária aos ditames das paixões e desordens morais
daqueles que não creem na vida eterna. Claras as palavras de Jesus: “Se o mundo
vos odeia, ficai sabendo que, primeiro do que a vós, odiou a mim. Se fôsseis do
mundo, o mundo amaria o que é seu, mas, porque não sois do mundo, ao contrário,
eu vos separei do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia (,,,) Se
perseguiram a mim, também a vós hão de perseguir” (Jo 15,18-20).. A Timóteo,
que enfrentava perseguições, afirmou São Paulo: “Todos aqueles que querem viver
piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tim 3,12). A perseguição às
vezes é sutil, disfarçada, hipócrita, como também pode ser até violenta e são muitos os que
sofrem por ostentar o nome de cristão ou por adotar um comportamento exemplar,
execrando as injustiças ou práticas éticas condenáveis. Viver uma vida justa é
insuportável aos injustos. Os justos são essencialmente diferentes daqueles que
vivem segundo suas aberrações éticas. Há nos justos algo que condena o erro, a
desordem. O cristão autêntico é aquele que repete com São Paulo: “Já não sou eu quem vive é Cristo
quem vive em mim” (Gl 2,20) e porque o mundo vê nele Jesus, o mundo e seus
sequazes o perseguem. O mesmo Apóstolo advertiu: “As tendências da carne são
inimigas de Deus (Lc 6,26). O justo ostenta as disposições do Espírito e, por
isto exercem em tudo a justiça e os injustos o têm como inimigo. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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