SIGNIFICADO DAS BEM-AVENTURANÇAS ( Mt 5,
1-12)
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As
Bem-aventuranças são um magnífico cântico de esperança. Lançam mensagens que
permitem o cristão a se reconciliar consigo mesmo. No cerne das oito beatitudes
se deparam ensinamentos preciosos para colocar o Reino de Deus no mundo,
promovendo a transformação do mesmo. Difundem um apelo à responsabilidade e
oferecem um programa de vida para o seguidor de Cristo. A extraordinária força
das Bem-aventuranças vem de sua admirável concisão e isto facilita com que cada
um seja dela um arauto. De todo o Sermão da Montanha elas são a quintessência,
um belíssimo exordio e podem ser arroladas entre as grandes doutrinas
espirituais da humanidade. São palavras de vida que conduzem a penetrar fundo
em todo o ensinamento do Filho de Deus. Ele, que fora concebido do Espírito
Santo no seio da Virgem Maria, é o Anunciador eterno da Verdade, o Verbo de
vida, o Consagrado a Deus, o Emanuel, o Deus conosco, Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade que se fez homem, o Mestre divino. Como ensinou São
Gregório Magno “pelo poder da divindade, possuía, o que nos ministrou pela inteireza.
de sua humanidade”. As Bem-aventuranças
por Ele proclamadas abrem então os corações e faz neles brilhar o esplendor da
eternidade . Elas nos subtraem da fascinação do mundo, fato a ser comunicado
aos outros, onde quer que se esteja, aqui e agora. É que Jesus é, de fato, a
compaixão personificada a norma de vida e o perdão cordial que esplendem nas
Beatitudes. Por isto mesmo, esta é a utopia das Bem-aventuranças, o deslumbramento
vivido da pobreza de espírito, da aflição sobrenaturalizada, da fome e sede de
justiça, da misericórdia sem limites, da pureza do corpo e da alma, da paz
consigo, com o próximo e com Deus, da perseguição sofrida em prol do Reino de
Deus. Eis por que na essência das Beatitudes se encontram os princípios para
uma evangelização eficiente. É preciso, contudo, ter sempre em mente as
inspirações afloradas e que devem ser recebidas com atenção, maleabilidade e
disponibilidade. Então o levedo oferecido pelo Espírito Santo que mana destas
Beatitudes produzirá maravilhas para si e para os outros. Ondas benéficas que
sobrenaturalizam, deificam. Surge deste modo uma mentalidade tocada por um fogo
vivo que ilumina, aquece, redime e salva. Esta é maneira mais fecunda para se
entrar em relação com o próximo e melhorar o ambiente no qual se vive. Dá-se
uma empatia inexaurível com os outros e não se corre o risco de temer uma existência
comunitária. A razão de ser, a análise, as modalidades do mistério do encontro se aprofundam dia a dia, tornando a
fraternidade uma realidade fulgurante e benfazeja. Desaparecem os preconceitos
fúteis, as meras opiniões, os julgamentos fortuitos.. Desta maneira se vê menos
a palha no olho do próximo, porque já se tirou a trava do próprio olho. Isto
significa trilhar o caminho de um coração semelhante ao de Cristo,
concretizando suas sublimes lições. É o
descer da montanha para endireitar as veredas tortuosas que levam tantos à
perdição. É a transmissão daquilo que cada um é e pratica, o que se torna
possível porque o próprio ser se metamorfoseou no próprio agir, tanto é verdade
que o bem é de si difusivo. Integrado este bem em si mesmo ele transborda e se
verifica o que disse Elisabeth Leseur “não sabemos o bem que fazemos, quando
fazemos o bem”. São os frutos opimos da vivência plena das Bem-aventuranças. O
cristão se torna então o fermento
contagioso do Reino de Deus. Tudo se torna bênçãos celestes para si e
para os outros. Aquele que tem sua mente clarificada pelas Beatitudes cantará sempre
a glória de Deus.. Impregnar-se das Bem-aventuranças é se tornar um poeta da eternidade,
porque os que têm um coração puro podem contemplar as maravilhas que o Criador
espalhou na natureza e, tendo um espírito de pobre, se sobrepõem às coisas materiais
e às aflições terrenas.. Irradiam mansidão, misericórdia, paz. Embora tendo
sempre mais fome e sede de justiça, podem até ser perseguidos, mas se alegram e
exultam, olhos fixos na recompensa lá no
céu. * Professor no Seminário de Mariana
durante 40 anos.
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