BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO,
PORQUE VERÃO A DEUS.
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Hoje
mais do que nunca devem meditadas as palavras de Jesus: ”Bem-aventurados os
limpos se coração, porque verão a Deus”. Esta bem-aventurança lança então uma
mensagem vivificadora, iluminando quem a recebe e coloca em prática. Num
contexto erotizado no qual os meios de comunicação contribuem para a impureza
da mente, envolvendo o ser humano nas mais perniciosas cenas, induzindo ao
desprezo do sexto e nono mandamentos, o alerta de Cristo é um freio diante de
tanta impudicícia. Quem quiser a intimidade divina neste mundo e a visão
beatífica na eternidade precisa conservar-se puro, evitando tudo que pode
manchar sua alma. O coração impuro é um coração que se acha longe do Ser, três
vezes Santo, dado que não se resguarda das ondas do mal. É um coração
hesitante, facilmente presa das insídias diabólicas. Está completamente
dividido, porque as solicitações da carne se tornam insaciáveis,
incontroláveis. Quem, porém, está unido a Deus conhece a felicidade de uma
visão espiritual unificada que beatifica e oferece a unidade da consciência que
repousa em paz no seu Senhor. Isto resulta do sim dado ao Criador, imergindo o ser humano na luminosidade
celestial. Esta sublime adesão reveste o cristão de um total equilíbrio
psicossomático e aí também se acha o segredo de uma existência realmente feliz.
Todos os atos se tornam reflexos da santidade infinita do Ser Supremo, porque a
Ele se dá uma entrega completa, vivificante. A sinceridade interior leva ao crescimento na
perfeição, impedindo a desgraça do aprisionamento na sensualidade desenfreada,
lubricidade que degrada e rebaixa a dignidade humana. A volúpia impede o canto
da alegria da consciência em paz com Deus, o cântico do sim dado Àquele que é autor dos mandamentos que são o roteiro da
verdadeira ventura. Portanto, para ver a Deus é necessário dar um basta à
dualidade, oferecendo a Ele todos os pensamentos, todos os desejos. O modo como
cada um contempla a Deus através da conduta ilibada é a maneira pela qual Ele
também observa prazerosamente quem lhe é fiel. Não se deve colocar o impulso
pessoal carnal acima da vontade de Deus. Ele deseja se realizar em todo aquele
que realmente O ama. Ele propõe uma aliança com sua criatura racional e esta aliança
só é possível se o cristão unifica e
purifica seus pensamentos e volições. Esta é a única maneira de estar unido a
Deus constantemente, e permitir o agir divino sem óbices. Esta bem-aventurança é
assim uma inspiração que vem do céu para tocar o coração humano tornando-o
maleável às inspirações que lhe chegam
do alto. O discípulo de Jesus se torna aguerrido perante as insinuações
diabólicas, mas sabe também que na pugna espiritual vence quem foge das
ocasiões perigosas. Fugir delas é evitar
a dualidade mental e as indecisões que levam a quedas lamentáveis. Então, mais
do que nunca, o cristão percebe que, de fato, a carne é fraca e pode conduzir a
erros fatais. O Reino de Deus neste mundo não está ao abrigo das tentações que
precisam ser vencidas para se chegar ao Reino eterno. Ao entrar na dinâmica
desta bem-aventurança o cristão constrói a sua história que se torna uma marcha
vitoriosa sobre as paixões desregradas. Se o seguidor de Cristo vacila, não há
motivo para desespero, porque “errar é humano, mas perseverar no erro é que é
diabólico”. Penitenciando-se quem se
trasvia recupera a pureza interior e repete com fé a invocação: “Sangue de
Cristo, purificai-me”! /São Luis Gonzaga jamais perdeu a graça santificante,
mas continuamente se mortificava. Eis porque se reza na oração de sua
festividade: “Deus, fonte dos dons celestes, reunistes no jovem Luís Gonzaga a
prática da penitência e admirável pureza de vida. Concedei-nos imitá-lo na
penitência, se não o seguimos na inocência. Ser puro de coração deve ser o
ideal do autêntico cristão, pois a pureza interior é a beatitude
da coerência de uma vida encarnada nos atos que enobrecem e dignificam quem foi batizado. Rebrilha
na limpidez dos afetos, dos olhares, das atitudes. Abre as portas do céu, pois
só ao limpoa de coração é que verão a Deus.*
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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