NÃO TENHAIS MEDO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Para encorajar seus discípulos Jesus deixou uma mensagem consoladora:
“Não tenhais medo” (Mt 10,26-33). Aqueles que O haveriam de testemunhar vivendo
sua doutrina e proclamando sua divindade passariam por muitas provações
exteriores e interiores, mas deveriam ter confiança para assim serem vitoriosos.
Para aqueles, porém, que O confessassem perante os homens Ele seria o grande
intercessor diante do Pai que está nos céus. Seus autênticos seguidores teriam
a força e a confiança de uma fé que luta contra os que querem matar o corpo e a
alma, os inimigos mortais. Combate contra tudo que pode mandar para a perdição na
geena, lugar de um castigo eterno. Trata-se, portanto, não de temores passageiros,
mas do medo que pode tomar conta do cristão quando tem que proclamar sua fé e
seu engajamento em Cristo e em tudo que Ele ensinou. Ele deixou o exemplo, dado
que foi perseguido e condenado à morte, mas ressuscitou imortal e impassível e
com Ele e por Ele seu seguidor também triunfa do mal. O que encoraja o cristão
e o imuniza contra o medo é o próprio Mestre divino. Ele deixou uma garantia,
pois “não há nada encoberto que não se deva tornar conhecido, nem oculto que
não se venha a saber”. De fato Deus acompanha o testemunho de seus filhos e
filhas e quer para eles uma recompensa eterna, pois no dia do juízo final todas
as boas ações virão a lume para glória dos que foram, realmente, fiéis. Àqueles
que se tornaram um reflexo entre os homens da bondade divina será patenteado um
reino de felicidade perene. Nem a violência dos poderosos, nem as doutrinas de
falsos profetas os impediram de penetrar os segredos de Deus. Nele encontraram
a fonte da verdadeira vida e pela Sua luz depararam luminosidade inefável. É
que Deus envolve em graças aqueles que O servem e que Lhe oferecem sua vida em
sacrifício santo numa adoração verdadeira. Colocaram em prática o que exortou São
Paulo, ou seja, não tomaram como modelo o mundo presente, mas se transformaram
e fizeram sempre a vontade de Deus. Procuraram tudo que é bom, que Lhe agradava
e que era perfeito (Rm 12,1-2). Portanto, aqueles que são portadores de tudo
que Deus revelou, nada têm a temer nem da opressão física, nem da solidão, nem
das transformações culturais. Com a graça divina o seguidor de Cristo é
invencível. O cristão possui, isto sim, o temor de Deus, não dos homens. O
temor de Deus, no sentido bíblico, é o respeito e a afeição profunda ao Criador
de tudo. É a reverência à sua majestade infinita e uma espontaneidade filial
para obedecê-lo. É a delicadeza humana em resposta à amabilidade de seu Senhor.
Ele se ocupa de cada um de seus filhos e conta até todos os cabelos de sua
cabeça, como afirma Jesus no Evangelho. O amor reverencial a Deus bane o temor
dos que querem matar o corpo e a alma e podem lançar nas trevas eternas. Não
obstante suas limitações e suas fraquezas os que temem a Deus se declaram por
Ele diante dos homens em qualquer circunstância. O combate é contínuo alerta
Jesus, mas enraizado nele o cristão não desvanece jamais. O testemunho, porém,
que o discípulo de Cristo oferece ao mundo não é nem agressivo, nem
constrangedor, mas não cede a nenhuma tentação de impaciência. Lança, porém,
por toda parte uma mensagem de doçura, envolta na mesma misericórdia que flui
do Coração amabilíssimo do Filho de Deus. Quem nele confia nada tem a temer das
forças do mal, perante as quais não se inquieta. É preciso proclamar corajosamente
as maravilhas de Deus sem recear a hostilidade de tudo que conspira contra a
salvação eterna do cristão. Nada o deve paralisar na conquista da felicidade
perene junto de Deus. Cumpre não duvidar da potência da Palavra deste Deus,
apesar das invectivas de seus inimigos. Esta Palavra permanece e permanecerá
sempre viva, atual, salvadora para os que não se deixam levar pelos embustes da
perversidade. Quem guarda a fé exorciza os fantasmas do medo perante as
calamidades causadas pelos profetas do erro e seus sequazes. A verdade que vem
de Deus liberta e salva. Com razão,
porém, Jesus está a dizer a seu seguidor: para se acautelar contra o Adversário
de sua alma, o Tentador, o Inimigo do Bem que conduz à perdição eterna. Nenhuma
tentação, contudo, levará de vencida quem é fiel a seu Senhor, que não
permitirá que quem deseja lhe pertencer seja tentado acima de suas forças.
Assim sendo, nada de medo, pois o seguidor de Cristo mora na casa da confiança
e da esperança e foge, isto sim, de todas as ocasiões que podem conduzir à
geena. Então cada um pode afastar todo temor e exclamar com São Paulo: “Se Deus
é por nós, quem estará contra nós?" (Rm 8,31). Louvores, portanto, a este
Deus que garante a vitória de todos que o temem e amam. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário