BEM-AVENTURADOS
OS PACÍFICOS, PORQUE SERÃO FILHOS DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
A
sétima bem-aventurança é um convite vibrante para a construção da paz, não
obstante os conflitos interiores e exteriores do ser humano nesta terra.
Trata-se de uma obra de conciliação e de concórdia. É preciso construir a paz
consigo mesmo e com os outros para poder estar em paz com Deus. Não é uma paz
estática, mas dinâmica, uma vez que “a vida do homem nesta terra é uma luta” (Jó 17,1 in
Vulgata). Cristo, aliás, asseverou: “Não vim trazer paz, mas a guerra”
(Mt 10,34). Se assim é, como ser artífice da paz? Num mundo dividido entre o bem e o mal a
batalha ininterrupta é contra o mal para que reine sempre o bem dentro de cada
um, irradiando esse bem para o próximo e caminhando persistentemente no amor do
Deus da Paz. Trata-se de um movimento contínuo e não de um mero repouso
existencial. A verdadeira paz não leva à imobilidade, mas conduz o seguidor de
Cristo a estar a desfazer sempre os nós da perversidade, da discórdia, da
divisão. Ser pacífico é, deste modo,
agir, edificando uma relação consciente que conduz à unidade interior e
exterior. Eis porque se deve pedir sempre a Deus: “Unifica meu coração para temer o teu
nome”
(Sl 86,11, pois num coração dividido não reina a paz. Esta, porém, reinando no
íntimo do fiel se expande na união com os irmãos. Lembra Davi: “Oh! como é belo, como é prazenteiro o
convívio de muitos irmãos juntos (Sl 133,1). Então o cristão pode se imergir
na serenidade divina. Dá-se o que preconizou São Paulo: “E a paz de Deus que
supera todo o conceito, guardará os vossos corações e as vossas mentes em
Cristo Jesus”. O cristão se torna deste modo um portador vivo da quietude
ativa. Esta beatitude traz consigo um vasto ensinamento na luta contra a
inquietação, a altercação e o afastamento de Deus. O caminho inverso ocorre
porque o cristão passa a reconhecer Deus no outro numa admirável reconciliação
a qual toma conta de todo o seu ser, tranquilo no amor ao próximo e ao Criador
de tudo. Isto acontece porque o cristão faz parte de um povo no qual o Espírito
divino é mais poderoso do que a guerra e em Cristo cada um se torna uma vinha que
traz consigo o fruto delicioso da paz pelo
qual todos se mostram irmãos. Os pacíficos, contudo, trilham um caminho de
sacrifício total, dado que não é fácil estar em paz consigo mesmo, com o
próximo e com o Criador, pois o orgulho é um obstáculo que deve ser removido.
Somente assim se anatematiza o agitamento pessoal e se passa a conviver com
sabedoria com o próximo e com o Senhor Onipotente. Deste modo, se conhece a
verdadeira paz em ação persistente, sem as oscilações nefastas que pode levar o
cristão a se martirizar e a ofender os outros e a Deus. Afastados os
óbices, o destino do pacífico é usufruir
a imperturbabilidade, entoando um poema de amor, um hino de vida para quem se
acha em seu derredor e percebendo ao vivo as maravilhas de Deus por toda parte.
Tal é o destino do artista da paz, ou seja, lançar onde estiver uma mensagem
luminosa de serenidades, erguendo a obra
da verdadeira dileção. Para cultivar a
paz consigo mesmo é necessário reservar momentos de silêncio interior,
colocando em ordem os pensamentos e desejos, longe do bulício exterior. No
relacionamento com o próximo é preciso estar consciente de que a paz se
constrói a cada dia no diálogo, com o coração aberto, com os ouvidos prontos a
escutar, saindo da emotividade mal ajustada, evitando tudo que possa ferir o
outro. Se este é quem nos ofende, deixar para dar explicações quando for
oportuno, perdoando imediatamente qualquer ofensa. Então se poderá dizer a
Deus: “Perdoai nossas ofensas como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido”. Cumpre repetir sempre: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o
meu coração semelhante ao vosso. Além disto, nunca querer enquadrar os outros nos próprios moldes
mentais, por vezes, tão estreitos. “Shalom Aleichem",
foi uma saudação frequentemente utilizada por Jesus e que significa "a paz
esteja convosco". Este deve ser também o desejo continuado de seu
seguidor, inebriado na paz de Seu coração amabilíssimo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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