BEM-AVENTURADOS
OS AFLITOS, PORQUE SERÃO CONSOLADOS
Com.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Por entre as
vicissitudes da vida há momentos de indizíveis tristezas. As mesmas lutas que
recomeçam cada dia. A maldade que campeia pelo mundo. A morte, as catástrofes e
tantas pessoas amadas que se vão, tudo isto causa pesar. Adite-se a exclusão, a
solidão e quando nada externo já não perturba, no mais profundo do ser humano,
que turbilhões, que fontes de aflição! É possível, porém, crescer
espiritualmente nestes instantes de amargura. Fulgurante a promessa de Cristo
de que há a possibilidade da consolação, o que é um arrimo a mais para o
cristão. Aquele que conforta é o Divino Espírito Santo. As palavras de Jesus
foram claras: “É preciso que eu parta para que venha o Consolador”. É
necessario, contudo, que haja uma aflição consciente para que se possa
transformar a provação numa oportunidade de crescimento na santidade pessoal.
Desenvolvimento é então um processo feito de perdas dolorosas, mas que ensejam
atitudes positivas. As lágrimas de si
não têm valor algum, não passam de amarga água, se um afeto que as chora não as
valoriza. É necessário
que Deus esteja sempre em nosso pensamento para que as lágrimas que sulcam as
faces, façam brotar dos espinhos da vida uma rosa celestial. Passa-se deste
modo de uma situação conhecida como dolorosa, para outra desconhecida, mas
firmada na fé pela presença do Paráclito. Ele oferece a inteligência que faz
ultrapassar a angústia, fazendo entrar numa realidade que se dará na
eternidade. É o ir além da amargura para o bálsamo do Reino de Deus. É plantar
no tempo, para colher na Casa do Pai. Não ocorre uma atitude estoica perante a
aflição, mas uma supervalorização através do oferecimento da mesma em reparação
das faltas cometidas ou aplicando-a para o bem do próximo e da Igreja. Isto
ainda que no meio de solicitações, muitas vezes até ilusórias, vindas do mundo
exterior, dos sofrimentos corporais, das emoções do coração, dos pensamentos
desordenados que criam miragens. É que, como asseverou São Paulo, “a esperança
não decepciona”. É aí que entra a ação do Consolador, firmando esta virtude
teologal. Com efeito, a existência do cristão não pode ser vista como peças
isoladas, destacadas, mas precisa ser contemplada no seu conjunto. O mesmo
Apóstolo asseverou: “O justo vive da fé”. Portanto, ele não desespera nunca dado
que os percalços estão inseridos num plano superior além-morte. O discípulo de
Cristo não se desliga das realidades perenes, escravizando-se àquilo que é
passageiro, ainda que possa perdurar certo tempo um estado de agonia. O
Paráclito, o Mestre interior que Jesus enviou de junto do Pai desperta no
íntimo de quem vive a Ele unido a convicção de que tudo é providencial na sua
vida até mesmo as aflições. A consolação que advém do Alto faz deixar de lado a
reação meramente humana para fazer entrar desde já no Reino da conversão sempre
renovada. Como se trata de uma conversão constante é natural que os desgostos se
sucedam. Com citado Apóstolo Paulo o cristão repete: “Eu tudo posso naquele que
é a minha fortaleza”. É desta maneira que nunca se perde vista o verdadeiro
sentido de uma existência dentro dos parâmetros do Evangelho que esclarecem
sempre os desígnios de Deus. A crença na vida eterna não é nunca alienante,
porque o cristão sabe que ele pertence ao Infinito e que na outra margem da
existência terrena Alguém está a sua espera. Deste modo, o Reino de Deus passa
a envolver todos os pensamentos, todas as emoções lançando o cristão numa
luminosidade que consola, redime e salva. O Paráclito transforma, fazendo do
homem terreno um ser totalmente voltado para o Reino Eterno, dando-lhe desta maneira
suporte para bem se comportar diante das angústias nesse vale de lágrimas.
Afasta o medo, a dubiedade, clareando o futuro.
O cristão compreende então que entre o que é do mundo e o que é de Deus,
entre a inteligência e a perfeição há um meio de aperfeiçoamento interior
graças à presença do Advogado que Jesus do céu enviou aos que O amam e
fielmente O seguem. Dá-se então a aliança perfeita entre o visível e o
invisível, mesmo porque Jesus é o Pontífice que estabeleceu esta ponte que faz
com que o seu discípulo possa atravessar o mar das tribulações, rumando
triunfante para junto dele apesar das mais variadas aflições. *Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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