01 COMO SER SEGUIDOR DE CRISTO
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho
Jesus deixou claramente três instruções para aquele que quer, de fato,
se tornar seu seguidor (Lucas 14,25-33). Primeiro colocar todos os liames afetivos,
sejam quais forem, sobre o eixo da referência a Ele, que deve ser a razão
última de todos os amores. Ninguém, nada neste mundo, a se sobrepor ao liame
que prende seu discípulo a seu Senhor absoluto. Depois, aceitar levar a cruz
pessoal de cada instante. Enfim, em terceiro lugar, um completo desapego de
tudo. Se estas clausulas não são observadas não se pode afirmar que se é adepto
do Filho de Deus. São elementos basilares que caracterizam essencialmente o
partidário do Evangelho. Do contrário, ostenta-se o nome de cristão e nada de
positivo se realiza. Com duas parábolas narradas nesta oportunidade Jesus
ratifica seu pensamento e propõe uma decisão sem limitações. De uma maneira
pedagógica o pensamento do Mestre divino fica transparente e exige uma reflexão
profunda. Trata-se de um programa de vida para religiosos ou leigos. Todos
engajados na aventura maravilhosa da fé. Radical dependência daquele que veio
estabelecer na terra um discipulado que não tinha nem teria exigências tão
rigorosas, exatamente porque Ele é, realmente, o único caminho, a única verdade
e a única vida verdadeira. É a lógica maravilhosa da inserção nele do que
resulta fatalmente o autêntico amor, a força sobrenatural para transformar os
espinhos da existência em joias para a eternidade, Amar a Deus com todas as
potências da alma não é algo facultativo, pois se trata da exclusiva e
imprescindível necessidade da vida do cristão. Esta dileção para com o Ser
Supremo leva evidentemente à observância de todos os seus preceitos e a um trabalho
evangelizador que visa a expansão de seu reino e a execução de sua vontade,
conforme se reza na oração que Cristo nos ensinou. A existência do seguidor de
Cristo é então impregnada pela realidade divina de tal forma que Deus passa a
agir integralmente em tidas as ações. É a tomada de consciência de que Ele
habita na alma de quem está em estado de graça. Disto resulta que nada numa
sociedade consumista e globalizante venha a afetar o liame com Ele e se dá
então uma independência dos bens materiais e de todas as ilusões terrenas. É
unicamente Deus que passa a dar sentido àquele que O coloca sobre todas as
coisas. Tal atitude é perfeitamente viável uma vez que Ele se encontra por toda
parte e basta um ato de afeto para usufruir de sua inefável presença. Isto se
torna tanto mais viável quando se sabe que é o próprio Jesus anda a procura de
cada um como se lê no Apocalipse: “Eis que
estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e
cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,:20) Quem para e reflete, percebe que as referidas condições
estabelecidas por Cristo para ser seu discípulo calham maravilhosamente com os
mais recrescentes anelos do ser humano que é levado a alçar voos altaneiros
além dos horizontes terrenos. É o que se deu com Santo Agostinho que assim se
dirigiu a Deus: “Inquieto está no nosso coração enquanto não repousa em Ti”.
Portanto, para se seguir as instruções de Jesus e se tornar seu autêntico
seguidor é estar unido a Deus e sempre O escutar. O poeta Kalil Gibran deixou este
conselho: “Esforçai-vos por procurar o Pai como o rio procura o mar”. Deste
modo, o amor a Deus estará acima de tudo, a cruz de cada dia será carregada com
total paciência e jamais o cristão será escravo das coisas materiais deste
mundo. As convenções terrenas não sufocarão jamais suas aspirações espirituais.
É deste modo que se entra na relação que precisa haver entre discípulo e mestre
nos três caminhos objetivos traçados pelo Mestre divino, nestas três maneiras
que levam a progredir no discipulado que faz de cada um o verdadeiro cristão.
Jesus exige, portanto, uma ruptura fecunda e criadora se libertando cada um das
categorias ou preconceitos das convenções humanas. Livre das preocupações
terrenas, o cristão permite que intuição de Deus o tome inteiramente e raia
assim a liberdade apesar da cruz que deve ser carregada seguindo os passos de
Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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